segunda-feira, 30 de junho de 2008

O meu incrível fantasma de Pessoa

Provavelmente não vão acreditar nisto, mas o meu pequeno e incrível fantasma de Fernando Pessoa, cuja primeira fotografia mostrei pela primeira vez aqui, continua cá por casa, de um lado para o outro. Só que agora é uma carga de trabalhos para conseguir fotografá-lo, porque passou a andar só à noite e em paredes de divisões com as luzes apagadas. Apanhá-lo é uma questão de sorte. Esta noite foi isso que aconteceu; de repente, acendi uma lanterna bem apontada para um dos sítios onde sei que ele gosta de aparecer e zás… Quando o minorca (um centímetro e meio da altura, não mais) desapareceu, já eu o tinha apanhado com a máquina fotográfica. Ficou assim a fotografia.
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domingo, 29 de junho de 2008

Luís Graça cria entrevista de Margarida Rebelo Pinto

Ver aqui. A propósito, eu pensava que tinha todos os livros do Luís Graça, mas não tinha. Na edição deste ano da feira do livro (Lisboa, entenda-se), ele foi lá levar-me as aventuras do seu detective Dick Hard, autografado e tudo. Só há uns dias é que peguei nele e tenho lido história após história, nalguns casos a rir até às lágrimas, sem conseguir parar (coisa que não me acontecia desde uma vez em que na praia tive de guardar na mochila um livro de Eduardo Mendoza porque de contrário não haveria de demorar muito a que toda a gente se pusesse a olhar para mim). O conto com a aventura editorial do detective foi dos que mais problemas me causou, mas os outros não lhe ficaram muito atrás. Ou seja, é um livro para ler em casa, e sem ninguém por perto. Querem um verdadeiro escritor? Leiam o Luís Graça.
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O que vou escrevendo

Um pouco do que vou escrevendo…
Com gigantes, se houvesse por ali gigantes a viver, seria diferente, porque esses gigantes haveriam de usar as cordas para estender a roupa, se fossem dos de usar roupa e não daqueles que apenas punham à cintura uma pele de vaca, gigante como eles.
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sábado, 28 de junho de 2008

Aquela porcaria dos tipos que avacalharam o nome do Algarve

Aquela porcaria dos tipos que avacalharam o nome do Algarve está de regresso com a chegada do Verão. Hoje, no saco do «Expresso», dei com uma brochura cuja distribuição é paga por toda a gente que paga impostos. Mandei aquela porcaria para o lixo.
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Algumas imagens do fim da tarde


Uma dúvida

Já não me lembro onde foi, mas li algures uma frase em que alguém se interrogava sobre se o senhor Scolari ia treinar o Chelsea de Roman Abramovitch ou a filha de Bill Clinton.
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Vai para um ano

Vai para um ano. O João Villalobos na «Pessoal», a falar daquilo que fazia (algumas coisas mudaram entretanto, por exemplo da página dos livros da «Blitz» passou para uma do «Diário de Notícias», onde agora assina uma crónica). O texto a seguir foi escrito por ele, o título demos nós.
(foto: Alexandre Moreira)
João Villalobos
Intérprete entre linguagens

Há profissões mais simples de explicar do que a minha. Por exemplo, a de físico quântico ou a de professor de literatura mesopotâmica pré-diluviana. Quando me perguntam «o que fazes?» a minha resposta – acompanhada de gráficos, bonecos e abundantes metáforas – termina inevitavelmente com outra interrogação: «Ah! (pausa) Então para que jornal é que escreves»?
Não deixa de ser triste deitar-me todos os dias, após horas e horas de labuta, com a consciência de que os meus filhos não percebem como o pai se arranja para pagar-lhes a mesada. Nem sequer a minha mulher sabe o que faço ao certo ou, se já percebeu, gosta de fingir que não para escapulir-se à penosa descrição do meu dia-a-dia no escritório.
Esta incapacidade geral de compreensão foi a grande razão por que aceitei o convite para responsável da página de livros da revista «Blitz», praticamente de borla. Facilitou-me imenso a vida e, agora, posso responder que sou crítico literário. O que sempre dá alguma panache. Para além disso, recebo convites para aparecer em todos os lançamentos com direito a croquete (e olhem que são muitos, nem imaginam a quantidade de livros que se edita neste país; o que me safa é não ter tempo para comparecer).
A verdade, no entanto, é outra. «Sou» consultor de comunicação (sempre achei responder que se «é» uma profissão algo pessoalmente redutor). Assim uma espécie de assessor de imprensa mas em mais chique, o que também não explica muito. O meu cartão de visita diz «Director de Projectos Especiais», críptica designação que corresponde ao cargo ninja que me atribuíram na ipsis – consultores de comunicação, a empresa em que trabalho.
Vocês que me lêem, e que devem ser responsáveis de recursos humanos ou directores de outras áreas de negócio, já com certeza lidaram com um consultor de comunicação em alguma parte da vossa vida profissional. Basicamente, somos intérpretes entre várias linguagens: Fazemos a ponte entre uma empresa ou uma instituição e os meios de comunicação social, adequando a informação a divulgar à especificidade de cada jornal, revista, ou programa de televisão ou rádio. Basicamente é isto (Ufa! Fiquei sem fôlego!).
Há, no entanto, muito trabalho para além do básico. E trabalho que gratifica e recompensa para além do material como, no momento em que escrevo, a minha responsabilidade pela comunicação da visita a Portugal de S. S. o Dalai Lama. Tentarei que os jornalistas estejam receptivos a difundir mensagens de paz e de luz, numa altura em que só as desgraças parecem fazer as manchetes.
Voltando à explicação daquilo que faço… Em Portugal, estima-se que cerca de 70% das notícias têm como base fontes indirectas. As agências de comunicação são uma delas, mas também os gabinetes governamentais ou autárquicos, os departamentos de comunicação das empresas, etc e etc. Uma «fonte» é qualquer entidade que forneça um determinado conteúdo a um órgão de comunicação. Até chegar aí, no entanto, há muito trabalho importante a fazer.
Vamos imaginar (a minha imaginação delirante ao ataque) que gostam tanto da leitura deste texto que uma ansiedade toma conta de vós e não descansam enquanto não pegam no telefone. Querem que a vossa empresa seja conhecida e, obviamente, da melhor forma. Querem chegar aos vossos clientes actuais e potenciais, parceiros de negócios, entidades oficiais, por aí fora. Ver o vosso trabalho reconhecido. Então ligam-me, marcamos uma reunião e começa o meu trabalho. O nosso trabalho.
Aí, sentamo-nos e olhamos de fora para aquilo que a empresa faz. Para vós, que estão dentro dela e a respiram, tudo é interessante: A qualidade das pessoas, as boas práticas, a responsabilidade social e ambiental, a forma única de abordar a vossa actividade, os novos negócios, os novos mercados… Tudo.
E às pessoas? Pessoas como vós que compram um jornal de manhã com poucos minutos para folheá-lo, ouvem a rádio com atenção ao trânsito, surfam a toda a velocidade pelos sites informativos na Internet ou ligam a televisão, cansados, após um dia cheio de preocupações? O que pode interessar-lhes a vossa empresa? Mais ainda… Como conseguir que vos dêem mais atenção do que aos milhares de outras notícias sobre milhares de outras empresas?
E aos jornalistas que são bombardeados todos os dias com e-mails, telefonemas, convites… Como explicar que a vossa empresa é diferente das outras, melhor do que as outras, mais interessante do que as outras?
Esse é o meu trabalho. Chamo-lhe às vezes ingrato, mas gosto muito dele e por isso sou bom a fazê-lo, sem modéstias tontas. De ser um filtro que depura o que não tem interesse geral, ser um intérprete entre três linguagens, ser um diapasão que afina o som emitido com o ouvido dos receptores. Ser um consultor de comunicação. Obrigado pela vossa paciência. É sinal de que mereço o que me pagam.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Animais de «O que Entra nos Livros» (13)

Um dos cães ladrou, o mais novo, mas calou-se logo a seguir; se calhar tinha sentido algum intruso por perto…
Excerto do romance «O que Entra nos Livros»; foto tirada em meados de 2005, por aqui.
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O convidado 66

Há um texto meu no «Corta-fitas», mais propriamente aqui (rubrica «convidado de honra», número 66, 25-06-08).
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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Atenção

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O milagre

De repente, sem que se percebesse como, dos raios de sol apareceu um vitelo branco, com um ar muito surpreendido. E ao mesmo tempo, no chão, desenhou-se sozinho um risco vermelho, e nem para um lado nem para o outro era possível passar (a menos que houvesse disposição para enfrentar a força esverdeada que no milagre fazia as vezes de sargento da GNR). Se não foi assim, andou lá perto...
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Apanhado a ouvir

Foi na semana passada, quarta-feira. Regressava a casa depois de uma noitada na revista, ainda a tempo de apanhar um pouco de uma conversa, na «Antena 1», de Francisco José Viegas com Mário de Carvalho, a propósito do romance «A Sala Magenta», bem recente. A primeira coisa que ouvi do Francisco, poucos segundos depois de ligar o rádio, foi algo como imaginar sempre as pessoas a conduzirem à noite, pela auto-estrada, enquanto ouviam o programa. Naquele momento, senti que tinha sido apanhado. Lá ia eu, pela auto-estrada, a ver se passava despercebido, e de repente o próprio autor do programa a sair-se com aquilo… Ainda estava a muitos quilómetros de casa, a passar ao lado de Palmela, como a certa altura do meu romance «O que Entra nos Livros»: (...) Avançando pela auto-estrada, com as luzes de Palmela à minha direita – umas luzes altas que por vezes faziam lembrar uma armada de naves espaciais a aproximar-se (…)
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Mais animais…

Ainda mais um bocadinho do meu livro de histórias «Políticos, Esses Animais».

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Num certo dia europeu sem carros, um responsável público bem colocado – colocado mesmo no sentido de ter sido colocado, entenda-se –, nesse dia, o tal responsável fez o habitual percurso entre a residência e a instituição que superiormente dirigia a pé. Quer dizer, pela opção de não carregar ainda mais nas vírgulas na frase anterior, importa clarificar as coisas, o senhor não dirigia a instituição a pé, embora também não a dirigisse exactamente de pé, pois geralmente até se apresentava um pouco curvado; ainda que, considerando que as grandes decisões vêm sempre de patamares mais arejados do que o seu (seu dele, responsável), não fosse difícil justificar tal deficiência, mesmo sem recorrer a um médico conhecido ou até assíduo frequentador da casa. O que o senhor fez a pé, ou melhor, fez a pé naquele dia europeu sem carros, foi o percurso da residência até ao gabinete. Colaborou, ou melhor, aderiu, sem que isso signifique que foi preciso desdobrar-se (o mais correcto, no caso dele, até seria dizer dobrar-se, coisa que implica menores esforços) em planeamentos, mobilizações e comunicados justificativos.
Bom, o que é certo é que o senhor aderiu ao dia sem carros por essas europas – e por estas do oeste, já agora – e lá se pôs a andar a pé. Aliás, por morar e «trabalhar» em zona interdita a automóveis (não dos oficiais, como o seu, mas usá-lo no referido dia seria provocação a mais para o povo), por causa disso teve mesmo que ser. De nada serviu a vantagem de não morar nos arrabaldes, onde, com dia sem trânsito ou não no centro da cidade, circular seria um teste complicado para o sistema nervoso, e também para o sistema de embraiagem da nova viatura – ainda que com a pertença ao Estado o arranjo só aos respectivos serviços interessasse, e mesmo isso com tendência para desaparecer, com as novas modas de agilização e, sobretudo, «desburrocatrização». E então o senhor bem colocado na hierarquia lá se meteu a fazer o percurso a pé, a palmilhar ruas e avenidas, para cima e para baixo, dado que logo por azar a cidade capital assenta em sete colinas. Às onze da manhã, quase uma hora depois de sair da residência, já transpirava por tudo quanto era poro. Poderia ter usado os transportes públicos – o metropolitano, os autocarros ou algum eléctrico dos dos turistas –, mas e depois, o que é que diriam de um quadro dirigente tão superior, ainda por cima da administração pública, a fazer aquelas figuras? Se fosse um ministro, vá que não vá, o sacrifício seria compensado com as câmaras das televisões a segui-lo por entre apertos, encontrões e amparos de assessores, e com as secretárias sempre atentas para as maquilhações (que não maquinações, que isso é coisa mais para as oposições). Agora ele, apenas dirigente, ou responsável, mesmo que superior, rodeado de povo por todos os lados, e sem ser em época de eleições, aquela em que o apoio a quem o nomeou fica sempre bem e até se recomenda… Fora disso, o mínimo que poderiam dizer era que se tratava de um sacrilégio.
(…)
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terça-feira, 24 de junho de 2008

Esses animais...

Um bocadinho do meu livro de histórias «Políticos, Esses Animais».

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Uma vez, ainda nos primeiros tempos, fui mais cedo jantar, por isso demorei-me a fazer o percurso pela rua fora. Para minha grande surpresa, mais uma, cruzei-me com um político conhecido, António Guterres. Nessa altura ele não me parecia o tipo sorridente e bem-falante que acabaria por ser depois como primeiro-ministro. O que eu via na televisão, mesmo sendo a televisão de 1986, era um deputado em permanente guerra com tudo e com todos, quase ameaçando cuspir fogo pela boca a cada três palavras. Era a imagem que eu tinha de Guterres e que facilmente teria quem lhe visse as actuações em S. Bento. Nesse fim de tarde, porém, ao cruzar-me com ele, a caminho do jantar na cantina dos gatos, não me pareceu que fosse capaz de lançar chamas a partir das goelas. Caminhava pela rua fora, com passada curta e pachorrenta, provavelmente na direcção da sede do partido. Ia todo metido consigo próprio, com um sorrisinho mal disfarçado por baixo do bigode que ainda teimava em usar. Fiquei um bocado a pensar no que teria dado origem a tão grande metamorfose, mas depois disse para comigo que as coisas eram mesmo assim e apressei o passo em direcção à cantina, não fosse algum dos gatos ficar-me com o jantar.
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O regresso do viajante

Depois destas primeiras viagens, um novo livro com mais. É o regresso do Tiago, o viajante. Miguel Sousa Tavares refere no prefácio: «Neste livro, o Tiago Salazar mostra de que matéria é feito o seu sonho de viajante. Um homem sozinho na Casa do Mundo, sem nenhuma outra profissão de fé que não a de conhecer o mundo e nele se sentir em casa.» (ed. Oficina do Livro)
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A guerra da «champions»

Ver aqui.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A não perder

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Agualusa, Cristiano Ronaldo

Via blog da revista «Ler»

Crítica de Anderson Tepper ao The Book of Chameleons, de José Eduardo Agualusa (trata-se da tradução de O Vendedor de Passados), na Time Out de Nova Iorque, desta semana:
«How to describe José Eduardo Agualusa, the young, award-winning Angolan author of The Book of Chameleons? An African Kafka? A more tropical Borges? Like the Mozambican writer Mia Couto, he blends elements of Latin American–style magic realism with political satire. He’s a genre-shifter, an iconoclast and one of the most inventive new voices coming from Africa today. Just consider this new novel: Narrated by a gecko, it’s a book of both energetic ideas and thrillerlike drama.
The main character, Félix Ventura, is a man very much in demand with Angola’s newly rich—the various “businessmen, ministers, landowners, diamond smugglers, generals” and others out to take advantage of the boom after decades of civil war. It’s his job to reinvent their personal histories and retouch their brutal pasts in order to brighten their future. His motto is “Give your children a better past,” and his career allows Agualusa to cleverly tease out the themes that drive the book: the elasticity of memory and history, and the power of personal and national identities to become self-perpetuating myths. Angola, “a fantasy country,” reimagines itself daily.
But don’t think for a moment this is an arid, overly cerebral text. The book springs to life in short, eccentric vignettes, mostly told from the ceiling-eye view of Eulalio, a gecko who appears to be the reincarnation of a famous, Borges-like writer. This lizard quietly watches as Felix becomes entangled with his nefarious clients, who include a mysterious photojournalist and a former government Marxist who now lives underground. Not surprisingly, none of them will be able to entirely transform themselves enough to escape the violent secrets of their pasts.»
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Também o Los Angeles Times destaca o livro de José Eduardo Agualusa:
«This novel is narrated by a gecko, that's to say by a lizard, who also happens to be the reincarnated spirit of Argentine writer Jorge Luis Borges. Well: Some writers like to play for high stakes. From this conceit Agualusa weaves a gorgeous and intricate story about a man who trades in memories, selling people pasts to help reinvent their futures. Set in Angola, the tale darts to and fro with the swiftness of a step over by soccer player Cristiano Ronaldo. There's a murder mystery here, and not only a meditation on the nature of memory. Agualusa's deftness and lightness of touch means we buy into the strange setup with scarcely a blink. He's a young master.»
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Já agora, sobre o romance eu em tempos escrevi isto.
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O que vou escrevendo

Um pouco do que vou escrevendo…
Vistas de longe, no entanto, como eu tinha experimentado antes, formavam apenas um volume, o tal que tantas imagens me tinha feito chegar à cabeça, a da lâmpada gigante, a do sinal para os barcos, a do aviso para os aviões, até a do próprio inferno cheio de gente a respirar o ar trémulo do fogo.
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«Efeito Borboleta»

O livro «Efeito Borboleta e outras histórias», de José Mário Silva, tem tido uma campanha de promoção na blogosfera, com o apoio da editora (Oficina do Livro), nomeadamente através de passatempos e pré-publicações. Um bocadinho do livro…
«Um polícia romeno dá um pontapé numa porta em Bucareste e causa um sismo na Gronelândia; uma mulher beija o amante e acelera o ataque cardíaco do marido; reguadas numa escola primária do Cairo originam bátegas em Auckland; um dos seus gatos mata uma mosca e cai um avião na Patagónia.»
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A «Pessoal» de Julho terá esta capa

(clicar na imagem para aumentar)

Uma ASAE para o acordo ortográfico

Ver aqui.

O novo seleccionador

O mais que se ouve sobre o novo seleccionador nacional de futebol é que não será português mas saberá falar português. E se fosse ao contrário? Se o critério fosse ser português mas não saber falar português? Haveria nomes a sugerir? Claro que sim. Eu deixo já aqui o de Manuel Machado. Aguardo outras propostas.
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(de qualquer forma, como escrevi num post abaixo, depois das declarações de Gilberto Madail fiquei com a ideia de que o escolhido poderá ser José António Camacho, que é estrangeiro e fala portunhol)
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O congresso

O congresso do PSD visto por Pedro Correia no «Corta-fitas».
«Manuela Ferreira Leite veio para ficar? É óbvio que não. É uma ‘líder’ tão precária e tão provisória como os ‘líderes’ precedentes. Por muito que alguns dos seus gurus pretendam convencer-nos do contrário. O interregno começou. Mais um.»

Quanto a mim, se Manuela Ferreira Leite chegar às eleições eu nem vou aparecer para votar.
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domingo, 22 de junho de 2008

Pergunta discreta

Se Ronaldo é o melhor jogador do mundo, o russo Arshavin é o melhor de onde?
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Uma coisa inacreditável

Mais de meio século depois do final da Segunda Guerra Mundial, o Parlamento Europeu aprovou uma directiva de tendência nazi, sobre imigração. Nunca pensei que isto pudesse acontecer, inclusive com eurodeputados portugueses a votarem a favor. Um imigrante em situação ilegal pode ir durante um ano e meio para a prisão. Nem sei como não apareceu alguém a lembrar-se de incluir no texto uma referência a instalação de câmaras de gás nas prisões e nos centros de detenção.

sábado, 21 de junho de 2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

José António Camacho é o novo seleccionador nacional?

Pelo que disse hoje o presidente da Federação Portuguesa de Futebol em conferência de imprensa, o novo seleccionador nacional pode muito bem ser José António Camacho. Deixo abaixo um texto de hoje do «Record» (os destaques são meus; no texto não está, mas Gilberto Madail também falou em não ser necessário ter «ascendência portuguesa», apesar de «ter de falar português», como desde há dias foi tornado público).
Gilberto Madaíl adiantou que o novo seleccionador nacional terá de ser "escolhido até meados de Julho", tendo em conta o arranque da fase de qualificação para o Mundial'2010.
Na próxima semana serão apresentadas em reunião da direcção da FPF as alternativas a Scolari, que "já tinha o ciclo esgotado antes do Europeu", e "até pode haver uma surpresa".
Para Madaíl o novo seleccionador nacional tem de "ter ambição" e "ser alguém que os jogadores respeitem não tanto pelo que ganhou mas pela sua personalidade".
Quanto ao anúncio da saída de Scolari para o Chelsea, considerou que "não tinha forma de o evitar". "O momento do anúncio dependeu do clube. Não foi um momento oportuno mas não tínhamos como controlar isso. Quando viemos já tinha a certeza absoluta que Scolari não ia continuar".
"Não falhou nada. A vida tem ciclos. O ciclo de Scolari, na perspectiva que queria uma experiência de clubes, já estava esgotado", continuou.
Madaíl deixou votos de "felicidade" a Scolari. "Estou seguro que sempre que Portugal precisar do seu apoio estará disponível", referiu.
Deixo também um texto da Agência Lusa (mais uma vez, destaques meus).
O novo seleccionador é "alguém ganhador e com ambição" e capaz de "comunicar com os jogadores em português", revelou hoje o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Gilberto Madaíl.
"Pode não ter sido ganhador no passado, mas quer ser ganhador e tem de ter ambição. Será alguém, que os jogadores respeitam pela sua personalidade, não tanto pelo que fez, mas sim pela sua personalidade", defendeu Madaíl.
O presidente da FPF falou ainda da necessidade do novo técnico saber falar português, mesmo que isso não implique nacionalidade lusa e reconheceu que, em "meados de Julho", tudo estará definido: "Tenho-me debatido com este assunto ao longo das últimas noites. Terá de ser alguém que se imponha pela sua personalidade. É nesse sentido que vou expor as minhas ideias à direcção, na reunião da próxima semana".
"Talvez até haja alguma surpresa nessa matéria. É fundamental que quem venha saiba falar português, mas isso não significa que seja português. Tem de falar português para se exprimir com os nossos jogadores. Desde o princípio do europeu que estou a pensar nisso".
Madaíl disse também que tem vivido com "essa angústia" diariamente e reiterou a ideia que a substituição de Luiz Felipe Scolari "não é fácil".

Frases soltas

Algumas frases soltas a propósito do jogo de despedida da selecção nacional do «Euro 2008»...
- Scolari voltou a falhar, desta vez inclusive por falta de liderança (onde até confiávamos nele) e não apenas por pouco ou nada perceber de futebol (ou por ser «futebolisticamente burro», como em tempos escreveu Francisco José Viegas, naquela que talvez seja a melhor caracterização de Scolari).
- A equipa por vezes deu a sensação de que estava desorientada (e descomandada, ou «des-sargentada»).
- Cheguei a sentir saudades de há vinte anos, quando os bons eram os alemães e os mais-ou-menos éramos nós mas fartávamo-nos de lutar (agora, um bocado com as coisas a inverterem-se, foi o que se viu).
- Mesmo assim, depois de uma entrada completamente apática, Portugal dominou o jogo e construiu oportunidades de golo, que foi falhando nalgumas vezes de forma incrível.
- Se não tivéssemos «o melhor jogador do mundo», será que o resultado em vez de três a dois teria sido sete a dois?
- E se Ronaldo é «o melhor jogador do mundo», como classificar Deco, da nossa equipa, e da adversária, por exemplo, Schweinsteiger? Como os melhores jogadores do Universo?
- Deixando as interrogações… Ricardo voltou a fazer das dele (dois frangos) e provavelmente, com a saída de Scolari, vai deixar a baliza da selecção (deixando-nos um pouco mais descansados sempre que haja jogo).
- Ainda Ricardo… Voltou a sofrer um golo de Schweinsteiger, desta vez sem culpa, ao contrário do que tinha acontecido no jogo para o terceiro lugar do «Mundial de 2006» (dois frangos) e na visita do Bayern de Munique a Alvalade logo a seguir (um frango).
- Os dois centrais, que me pareceram a melhor dupla de sempre na selecção, tiveram muitas falhas, parece-me que mais por falta de trabalho da equipa técnica no jogo defensivo do que por culpa própria.
- Antes do primeiro golo (de Schweinsteiger), João Moutinho teve uma oportunidade parecida mas em vez de chutar como o alemão acertou com o joelho na bola.
- Os remates de longe de Petit. Raul Meireles, Ronaldo, Simão e mais um ou outro jogador português foram sempre quase em câmara lenta; em contrapartida, na segunda parte Podolski fez um remate de bem longe que saiu a rasar o poste e em que a bola parecia um pequeno OVNI a cortar velozmente os ares.
- Não sendo isto desculpa para a derrota, tal como no jogo contra a Suiça árbitro roubou-nos (validou o terceiro golo alemão, que foi ilegal; não expulsou na segunda parte um tal de Friedrich, que pisou Ronaldo depois de o ter rasteirado; e fiquei com dúvidas sobre um lance da primeira parte em que Nuno Gomes poderá ter sido derrubado na área e outro na segunda em que um alemão poderá ter posto a mão à bola também dentro da área).
- Era para ver o jogo na Sport TV, mas ao dar com Fernando Santos a comentar mudei para a TVI, com receio de que a presença dele pudesse atrair a derrota.
- Ao mudar para a TVI, fiquei a saber que o observador do árbitro era aquele verme francês (Marc Batta) que nos afastou do «Mundial de 1998», em França, ao expulsar Rui Costa no jogo na Alemanha, que então estávamos a ganhar com um golo de Pedro Barbosa; achei a presença de Batta um mau presságio.
- Há quem peça a demissão de Gilberto Madail, mas se ele não saiu depois da bandalheira de 2002 no Oriente ia sair agora só por causa de termos feito má figura no campo e de certa forma no hotel (empresários para cá e para lá, negociatas, anúncios de idas para o Chelsea e por aí adiante…) e no estágio de Viseu (Roberto Leal uma vez mais, tipo carraça)?
- Se mesmo assim Gilberto Madail sair, poderia suceder-lhe Filipe Soares Franco; a selecção pelo menos passava a lutar sempre para o segundo lugar e o Sporting livrava-se de um grande problema.
- Nani, uma vez mais, deu a ideia de que deveria ter tido mais tempo para jogar e Nuno Gomes voltou a mostrar que ainda é a melhor solução para o ataque (mas talvez com tempo tivesse sido bom experimentar o que dava Yannick Djaló).
- Deco é um jogador fantástico (talvez tenha sido o grande contributo de Scolari para a selecção).
- Scolari de grande motivador passou a mau agoiro neste europeu; apesar de continuar a meter mensagens retiradas de livros de auto-ajuda por baixo das portas dos quartos dos jogadores, deu-lhe para ir para as conferências de imprensa dizer que não éramos tão bons como se apregoava, que os outros eram todos mais altos do que nós (vá lá que não se lembrou de mandar naturalizar à pressa o Purovic…) e mais uma série de disparates.
- Consta que depois do terceiro golo alemão Pepe perdeu a cabeça com Ricardo; mas quem é que não perdia?
- A ideia que fica, em resumo, é que Scolari não trabalhou como devia, desleixando completamente a preparação da equipa (neste jogo, enquanto os alemães pareciam ter tudo planeado, no caso de Portugal a impressão que deu foi a de que Scolari disse aos jogadores para ocuparem as posições habituais e jogarem, sem que nada tivesse sido preparado).
- Outra ideia que fica é a de que houve um «antes» do anúncio da ida de Scolari para o Chelsea e um «depois» (um «depois» em que a selecção já pouco ou nada interessava, a Scolari, ao Murtosa de sempre e ao resto da equipa técnica).
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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Portugal, Portugal, Portugal


O mesmo digo eu

«Estou apenas à espera dos Jogos Olímpicos para dizer mal da China.»
Francisco José Viegas, hoje no seu blog «A Origem das Espécies».
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O senhor Scolari quando era novo

O blog da revista «Ler» publica aqui esta fotografia do senhor Scolari, em novo, durante a Guerra Civil de Espanha.

(Pronto, é uma brincadeira, mas lá que dá ares...)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

De guarda ao carrinho do bebé

O Lito e a Tecla, de guarda ao carrinho do bebé.
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Recordações do Jaiminho Corvo

Tenho acompanhado os relatos do Pedro Correia das suas férias algarvias no «Corta-fitas». Por vezes, fazem-me lembrar de um dos contos do meu primeiro livro, um conto chamado «O Corvo que Ia Fazer a Praça a Portimão». Começa com o protagonista, um homem de Monchique chamado Jaiminho Corvo, a chegar à praça de Portimão…

O Jaiminho Corvo chegava à praça ainda de madrugada. E sempre um bocado ensonado, porque não dormia tudo o que queria dormir. Tinha-lhe calhado a vida assim, deitar-se tarde e levantar-se cedo.
– E a minha mulher, ainda por cima, é das que gostam da festa!
Quase todas as que o Jaiminho Corvo conhecia gostavam da festa. (…)

Acaba com o Jaiminho Corvo na Praia da Rocha, envolvido numa grande disputa por causa de uma mulher. Disputa com um cão e três gaivotas…

(…) Exactamente, haveria de ser mesmo aquela. Uma mulher cuidadosa que parecia preocupar-se com o perigo dos raios solares. Mas que tinha tido um descuido, quando ao comprar um gelado tinha agradecido com uma voz muito alta.
– Thank you! – tinha ela dito, de gelado na mão.
E o Jaiminho Corvo, que ia passando na altura, tinha-a ouvido bem. E dessa maneira confirmado que servia perfeitamente.
Foi então que chegaram as gaivotas, e o cão não demorou dez segundos. Ficou em quarto lugar na lista dos bichos, por causa de as gaivotas serem três, mas não se deixou abater por isso. Afinal, bem vistas as coisas, tinha sido o primeiro dos cães, o primeiro dos que ladravam e o primeiro dos que roíam ossos. Tudo vitórias importantes. Pelo menos era o que ele pensava, ele o cão, que tinha jeito de ser um bicho convencido e até parecia estar com ganas de se antecipar ao Jaiminho Corvo. Ia-se aproximando pela esquerda, enquanto o Jaiminho Corvo o fazia pela direita. Do objectivo, como é lógico. Portanto, os ataques iriam ser pelos flancos. Entre homem e cão, escolhesse o Diabo o campeão.

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terça-feira, 17 de junho de 2008

Ondjaki

Está de parabéns ao meu amigo Ondjaki, que ganhou o «Grande Prémio do Conto» da APE. Ondjaki tem uma pequena participação no meu romance «O que Entra nos Livros», assim tipo actor convidado. Coloquei uma entrevista que fiz com ele aqui e um pequeno texto que escrevi sobre um livro dele aqui.
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Vestidas de Portugal

As malvas, aqui mesmo à porta, vestidas de Portugal. Acaba por nem ser preciso colocar as bandeiras do senhor Scolari.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cinco ideias sobre o jogo da selecção com a Suíça

Cinco ideias sobre o jogo da selecção com a Suíça…
- Portugal, apesar de se apresentar com as segundas escolhas, poderia ter ganho o jogo facilmente, se tivesse tido sorte (duas bolas nos postes, um penalty que o árbitro deixou por marcar e um golo mal anulado, tudo ainda com o jogo empatado a zero).
- Mesmo assim, a exibição foi uma vergonha, como é uma vergonha a derrota frente a uma equipa medíocre (nem o facto de esta estar a jogar em casa constitui desculpa).
- É um mistério o facto de certos jogadores (Quaresma, por exemplo) pouca ou nenhuma aplicação demonstrarem.
- Scolari mostrou uma vez mais que, tendo muitos méritos (sobretudo a capacidade de liderança e também a de ter construído uma selecção que parece imune às poucas vergonhas que até há uns anos sempre aconteciam), pouco percebe de futebol. Não apresentou uma equipa mas sim vários jogadores (onze, no número não se enganou), e isso percebeu-se logo no início. O único jogador que levou para o europeu com capacidade para ser o maestro é Deco, que não jogou; de resto, tinha poucas alternativas (Carlos Martins, Hugo Viana, por exemplo, mas esses não foram seleccionados). Segundo percebi, neste jogo o papel de maestro estava destinado a Raul Meireles, o que equivale mais ou menos a colocar o João Moutinho a defesa central, o Cristiano Ronaldo à baliza, o Murtosa a lateral direito, o Eusébio em porta-voz ou o Quaresma a fazer de psicólogo.
- A história do anúncio da ida de Scolari para o Chelsea, e também a cobertura que o mesmo Scolari tem dado às negociatas de novos contratos (jogadores, empresários, representantes de clubes…), mas sobretudo a história do anúncio da ida para o Chelsea, podem vir a ter efeitos negativos no desempenho da selecção (se é que contra a Suíça não foi já o que em parte aconteceu).
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domingo, 15 de junho de 2008

Portugal, Portugal, Portugal


Começos prometedores - 14

«Tínhamos entrado a matar; podíamos ter ganho. A táctica, passe a imodéstia, por mim concebida, o treino duro a que tinha submetido os rapazes, o brio que lhes tinha inculcado à força de ameaças eram outros tantos elementos a nosso favor. Tudo ia bem; estávamos quase a marcar…»
Início de «O Mistério da Cripta Assombrada», de Eduardo Mendoza (primeiro de uma série de três romances com um detective que está internado num manicómio de Barcelona – este excerto é da tradução de uma velhinha edição da Afrontamento; o autor agora é editado em Portugal pela Casa das Letras, depois de uma passagem de alguns anos pela Dom Quixote).

Um excerto de «O Bilhete do Senhor Scolari»

Um excerto do meu livro de crónicas «O Bilhete do Senhor Scolari».

(…)
Era preciso pensar nalguma coisa que pudesse resolver o problema. Foi então que reparei no que estava escrito no envelope de cima: «Senhor Luiz Felipe Scolari». Bilhetes… Aquilo era uma pilha de bilhetes de convidados para o jogo, só podia ser. De imediato me chegou uma nova ideia, tipo aquela de perguntar à mastodonta do «ciao» se não tinham em Lisboa ninguém que falasse português; lembrei-me de pegar no envelope do senhor Scolari e em mais uns quantos e ir-me embora sem dizer nada. Durou uns segundos a ideia, ou melhor, a tentação; acabou por perder-se quando pensei no grande sarilho que se calhar iria arranjar, não sei se à Federação Portuguesa de Futebol se à UEFA, assim que o seleccionador de Portugal chegasse e descobrisse que não tinha bilhete. Eu estava longe de imaginar que dois anos depois o senhor Scolari, ainda a fazer de seleccionador cá por estas bandas, iria agredir um jogador sérvio com um murro mal calculado no final de um jogo desastroso, mas a verdade é que já na altura não me fiava muito na sua capacidade de contenção.
Ou seja, continuei sem bilhetes. E como não aparecia mais ninguém da UEFA com jeito de resolver o assunto, e além disso a mastodonta continuava lá com os papéis dela, resolvi ir tentar a sorte noutras zonas do hotel. Daí a pouco, nem cinco minutos, enquanto andava nas minhas deambulações, dei com uma cara conhecida; não era minha conhecida, era conhecida de muita gente, ou de quase toda a gente. Enfim, uma figura pública – um homem, todo despachado, de fato e gravata, assim a descair para o executivo mas sem telemóvel à vista. Veio logo falar comigo, e eu nem tive tempo de estranhar tal atitude; quando dei por ele já estava a ensaiar um sorriso, a pedir-me desculpa e a perguntar-me se sabia onde se levantava os bilhetes. Eu disse-lhe que tinha comprado dois e que andava à procura deles. O homem contrapôs: «Não, eu venho é buscar bilhetes dos dos convidados!» Compreendi logo e por isso indiquei-lhe como chegar até à pilha onde estava o envelope com o nome do seleccionador nacional de futebol em cima, no secretariado da federação. E acrescentei: «Aí deve-se desenrascar!»
(…)

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sábado, 14 de junho de 2008

Pelo fim da tarde

Ontem, ao fim da tarde, por aqui.
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Coisas que eu escrevia há sete anos

Mais precisamente há sete anos e uns dias. Coisas que eu escrevia no dia oito de Junho de 2001. Estava a época futebolística ainda a acabar, por não ser ano nem de mundial nem de europeu, e entretanto não havia certezas sobre se teríamos o «Euro 2004» por cá. Cavaco Silva não era nem primeiro-ministro nem presidia à nossa República, mas mesmo assim ia dizendo umas coisas.

E agora que...
E agora que a época futebolística está a acabar, o que dizer? Quase nada, se calhar, porque também quase nada falta resolver. Não há-de demorar muito e estará aí outra época, bem fresquinha, como convém, mas só durante algumas jornadas. Mal chegue o Inverno, por prodígios que só algumas pessoas do futebol conhecem, as coisas voltarão a aquecer? E o mundo do pontapé na bola poderá então assobiar de contente.
Quantos treinadores terá o Sporting? E o que dirá de novo o presidente Dias da Cunha? E o Benfica, lutará por novos lugares, ainda um bocadinho mais abaixo? Ou lutará mais acima, seja com Vilarinho, seja com outro qualquer, ou seja sozinho? E o Porto? O que é que fará o Porto? Ou melhor, o que é que farão do Futebol Clube do Porto? Convencê-lo-ão a aceitar ser parceiro do Boavista no novo Estádio do Bessa, suportando o custo das bancadas que falta construir? E o Boavista, desculpará alguém que faça essa proposta, só para a cidade do Porto ser diferente da de Lisboa?
E se entretanto perdermos o «Euro 2004», nem que seja pelas figas de Cavaco Silva? E se os árbitros se amuarem, não com a perda da organização do campeonato da Europa, mas com tudo o que lhes cai em cima? E se lhes caírem ainda mais coisas, mesmo que não se amuem? E se Cavaco Silva também começar a falar mal dos árbitros?
E as televisões, contentar-se-ão com os jogos e com os falatórios, ou tentarão reunir os intervenientes mais apetecíveis em vivendas à maneira? Ou farão telenovelas? E se fizerem, colocarão gémeos? E de que clube? Do Benfica? Do Sporting? Do Porto? Ou será que arranjarão um gémeo para cada clube? E as criadas, de que clubes serão? De alguns da Divisão de Honra, ou terão os melhores árbitros de fazer de criadas? E Cavaco Silva, será convidado para apresentar alguma das sagas das vivendas? Ou preferirá antes um papel de relevo num filme de
cowboys?
O melhor, o melhor mesmo, é esperar para ver.
t

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pessoa, aqui pelas paredes

O pequeno fantasma de Fernando Pessoa, que já mostrei duas vezes neste blog, aqui e aqui, por cá anda de um lado para o outro. Nesta imagem, avança decidido numa das paredes da cozinha, bem rentinho ao chão. Hoje, como é um dia importante, pode muito bem estar a preparar alguma.

Apanhada de surpresa


Promete

Parte das crónicas escritas por Francisco José Viegas nos últimos anos. Pela capa, o livro promete; pelo que se conhece das crónicas, a mesma coisa.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A iliteracia emocional

Acabei de editar a crónica do meu amigo Luís Bento, para a revista. Não resisto a colocar aqui um bocadinho.
(…)
Modernamente, uma classe tecnopolítica (verdadeiros tecnocratas da política) emergente, é completamente incapaz de expressar emoções perante o sofrimento alheio. Reduz tudo a estudos e a análises económico-financeiras, cobrindo-se com o manto (não) diáfano do poder.
São os novos iletrados emocionais:
- conseguem dizer que são sensíveis ao problema e nada fazer;
- conseguem olhar com distanciamento o sofrimento alheio;
- conseguem persistir em ideias do passado quando vem aí o futuro;
- conseguem esconder-se dentro de uma redoma protectora;
- conseguem viver não vivendo e não deixando os outros viver.
Estes novos iletrados emocionais (que pululam por aqui e por ali) reconhecem-se facilmente não por aquilo que fazem mas, acima de tudo, pelo que não fazem, autoproclamando-se proprietários da razão, e os outros (os que sofrem, os que vivem com imensas dificuldades, os que não têm que comer) são sempre referidos como tendo dificuldades de entendimento e de análise das circunstâncias.
E até já se chegou ao cúmulo de classificar os dados sobre a pobreza e sobre as desigualdades na distribuição do rendimento em Portugal como «empiricamente falsos».
(…)

Mais valia não ter regressado

Uma pessoa de outro tempo, pelo menos de há uns vinte e cinco anos, regressa para dizer esta frase extraordinária.

No castelo

Vi o jogo dos três a um aos checos dentro de um castelo. O castelo de Montemor. Tivemos sorte nalguns momentos, poucos, porque fomos bem superiores a um adversário perigoso mas que nem com aquele trambolho de dois metros que entrou na parte final conseguiu equilibrar o jogo. É bom ver uma selecção dominadora, sem os complexos de há quinze ou vinte anos e sem os desentendimentos de há dois ou três meses. E é bom ter uma selecção em que a maior parte dos jogadores (até os defesas) sabe jogar à bola (passar, chutar, fintar, essas coisas que os caneiras e os polgas da vida futebolística têm uma certa dificuldade em entender).
Algumas notas soltas… Ricardo continua igual a si próprio (umas defesas apertadas, umas fintas, a ideia de que tem uma forte personalidade, mas cruzamentos não apanha um); Ronaldo é muito bom, dá a sensação de que meteu na cabeça que é o maior, mas não é; Deco, esse sim, apetece dizer que é o melhor jogador do mundo; o esforçado Petit teve um lance, apenas um, em que não se esforçou e isso custou-nos um golo (fez-se à bola à moda de Caneira e quando deu por ela já ia a caminho da baliza – vai para dois anos o Porto empatou em Alvalade por causa de uma asneira do género); Pepe e Ricardo Carvalho fazem mesmo a melhor dupla de centrais da história da selecção nacional; Bozingwa é muito, mas mesmo muito bom; Simão a titular e Quaresma de reserva para entrar e fazer das dele parece ser uma boa opção; e Nuno Gomes, como eu esperava (não creio que muita gente esperasse) está a ser a melhor solução para o ataque (foi mesmo uma sorte o Pauleta ter abandonado a selecção, senão lá andávamos a engonhar no ataque como há dois e há quatro anos).
Quanto à saída de Scolari para o Chelsea, é uma péssima notícia. Scolari, já se sabe, não percebe de futebol assim por aí além, mas a verdade é que fez da selecção uma equipa de alto nível, sobretudo em fases finais. A sua substituição vai ser muito complicada, por causa da capacidade de liderança que sempre demonstrou. Imagine-se a selecção nacional comandada, por exemplo, por um treinador tipo José Peseiro… Para onde o mandaria Quaresma se não entrasse, ou até o próprio Ronaldo num jogo em que fosse substituído? E os brasileiros naturalizados, onde o mandariam ir «tomá»? (Provavelmente no mesmo sítio em que Rochemback mandou.) Talvez Paulo Bento, que é parecido com Scolari (melhor na liderança do que nas tácticas e nas estratégias), pudesse ser uma solução, o problema é que eu acho bem que continue no Sporting.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Portugal, Portugal, Portugal

O «DN Jovem»

A história de um projecto extraordinário, o inesquecível «DN Jovem», do Manuel Dias, pode ser lida aqui; um texto da jornalista Helena de Sousa Freitas, na revista «JJ», do Clube de Jornalistas. Sem esse projecto, não sei o que teria sido de mim como escritor, nem sei se teria alguma vez publicado, ou até escrito, um livro que fosse. O projecto nasceu há 25 anos. Há 20 escrevia eu por lá quase todas as semanas, coisas como esta...
(...)
O Senhor São Romão foi encontrado na Umbria, dentro de uma sementeira de favas. É um achado tão velho que até a mulher que o fez já morreu e agora ninguém se lembra de como se chamava ou de como era a sua figura. Diz o povo que a ela Deus se encarregou de lhe arranjar um lugar bom para a alma, e isso deve ser certo, porque os sacrifícios em favor do divino têm fama de vir a receber compensações depois da morte. O Céu, como apregoa o senhor abade Simão Agostinho, é só para quem o merece, e da mulher que um dia deu com o Senhor São Romão pode-se dizer à confiança que está nessa conta.
Sempre tem sido muito falado o que ela passou com o santo, depois de o ter trazido aqui para a igreja do Alferce e de o ter colocado no altar maior. Ele desapareceu em menos de nada, e isso foi uma coisa que deixou toda a gente de boca aberta e sem saber o que pensar. Mas passado um tempo a mulher voltou a encontrá-lo nas ditas favas e tudo voltou ao princípio. De novo o levou para a igreja, de novo ele fugiu, e assim foi de novo em novo até que um belo dia assilhou. Da igreja não mais saiu, descansou a mulher, comeram-se as favas e o povo orou.
(...)

A espuma de um destes dias

O que vou escrevendo

Um pouco do que vou escrevendo…
– Um doido?! – estranhou o pequeno Chuckie. – Um homem doido?!
O pai respondeu-lhe que não. Não era um homem doido, era um javali doido.

Um momento único

Ver aqui.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Pequenos textos para a selecção

Não vou tão longe; romances para a selecção nacional, como aqui e aqui se recomenda… O mais certo seria perdermos o Europeu se os jogadores ficassem a ler pela noite dentro. Talvez apenas uns contos, ou umas crónicas, pequenos textos que não roubam muito tempo de sono, talvez isso fique melhor. Deixo aqui algumas sugestões para os jogadores…
. Ricardo – «O timbre da tua voz», de Ana Nobre de Gusmão (do livro «Até que a Vida nos Separe»)
. Nuno – «Vai feliz no ar voando», de Maria Antonieta Preto (do livro «A Ressurreição da Água»)
. Rui Patrício – «Saída em falso», de Gonzalo Torrente Ballester (do livro «Memória de Um Inconformista»)
. Bruno Alves – «Quem é o assassino?», de Istvan Örkény (do livro «Histórias de 1 Minuto»)
. Fernando Meira – «Repouso», de Miguel Torga (do livro «Novos Contos da Montanha»)
. Jorge Ribeiro – «O desconhecido», de Gabriel García Márquez (do livro «Textos do Caribe»)
. Bosingwa – «A mudança de velocidade», de Clara Pinto Correia (do livro «Deus ao Microscópio»)
. Pepe – «A minha pátria é a Amazónia Portuguesa», de Luís Graça (do livro «Quinze Desatinónimos para Fernando Pessoa»)
. Miguel – «Que noite, meu velho!», de Dalton Trevisan, (do livro «O Grande Deflorador»)
. Paulo Ferreira – «O invento ou a salvação do mundo», de António Telmo (do livro «Contos Secretos»)
. Ricardo Carvalho – «Ganhar o Jogo», de Rubem Fonseca (do livro «Pequenas Criaturas»).
. Deco – «A alegria de ser estrangeiro», de Enrique Vila-Matas (do livro «Da Cidade Nervosa»)
. Petit – «O dia da besta», de Panos Karnezis (do livro «Pequenas Grandes Infâmias»)
. João Moutinho – «O homem que corria», de Juan José Millás (do livro «Contos de Adúlteros Desorientados»)
. Miguel Veloso – «Os anos confusos da juventude», de Isabel Allende (do livro «O Meu País Inventado»)
. Raul Meireles – «O misterioso bípede», de Bill Bryson (do livro «Breve História de Quase Tudo»)
. Cristiano Ronaldo – «Tira lá os olhos das mamas, ó manjerico!», de Charles Bukowski, (do livro «A Sul de Nenhum Norte»)
. Nani – «Vou dizer às mulheres que vamos sair», de Raymond Carver, (do livro «De que Falamos Quando Falamos de Amor»)
. Quaresma – «O sangue no cavalo», de Ondjaki (do livro «E Se Amanhã o Medo»)
. Simão – «O vermelho», de Jack London (do livro «Contos Fantásticos»)
. Hélder Postiga – «A Espera», de Manuel Jorge Marmelo (do livro «O Silêncio de Um Homem Só»)
. Hugo Almeida – «Fechado até Setembro», de Camilo José Cela (do livro «As Companhias Convenientes e Outros Fingimentos e Cegueiras»)
. Nuno Gomes – «Uma segunda oportunidade», de José Eduardo Agualusa (do livro «A Substância do Amor e outras crónicas»)
***
Deixo ainda mais algumas sugestões, para a equipa técnica, para alguns jogadores que achavam que deviam ter sido convocados e para mais algumas figuras que acompanham a selecção…
. Scolari – «O homem bestialmente holligan», de Luís Graça (do livro «O Homem que Casou com Uma Estrela Porno e outros contos perversos»)
. Murtosa – «A estória de Metão, o pequeno», de Gonçalo M. Tavares (do livro «Histórias Falsas»)
. Darlan Schneider – «Apenas um subalterno», de Rudyard Kipling (do livro «O Homem que Queria Ser Rei e outros contos»)
. Brassard – «O silêncio», de Maria Teresa Horta (do livro «Ambas as Mãos Sobre o Corpo»)
. Quim – «As desilusões suportáveis», de Fernando Venâncio (do livro «Último Minuete em Lisboa»)
. Maniche – «O deita-fora», de Heinrich Böll, (do livro «Contos Irónicos»)
. Caneira – «A arte de não saber», de Luis Sepúlveda (do livro «O Poder dos Sonhos»)
. Figo – «O galo de ouro», de Juan Rulfo (do livro «O Galo de Ouro e outros textos dispersos)
. Fernando Couto – «Gostava de ter um botão para rebentar com isto», de Joel Neto (do livro «O Citroën que Escrevia Novelas Mexicanas»)
. Eusébio – «Agora sou eu a falar», de Pedro Paixão (do livro «A Noiva Judia»)
. Gilberto Madail – «Crónica escrita depois de ter bebido dois copos de vinho tinto ao almoço», de António Lobo Antunes (do «Livro de Crónicas»).

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O verde, por aqui

Um pequeno pardal, depois da feira do livro

Estive esta tarde na Feira do Livro de Lisboa. Para uma sessão de autógrafos. Ainda deu para uma espreitadela à Praça Leya, de onde saí com um autógrafo do Francisco («Longe de Manaus»). Cento e tal quilómetros depois, ao abrir o portão do monte, dei com um vulto pequenino no chão do alpendre. Era um pardal caído de um dos ninhos do telhado. Não se mexia. A poucos metros, em cima de um banco, um dos gatos, o amarelo, observava-o. Não sei por que é que terá esperado. Fui apanhar o pequeno pardal, que parecia assustadíssimo mas que aparentemente não tinha nada partido. Assim que o agarrei fechou os olhos, como se não quisesse ver as desgraças que imaginava que eu pudesse fazer-lhe. Andei com ele de um lado para o outro, primeiro para ir buscar um escadote, depois uma tenaz, depois mais um apoio para o escadote. Ele de vez em quando abria um olho, a espreitar. O gato estava que nem parvo a ver aquilo. Prendi o passarito na ponta da tenaz, sem apertar muito para não o magoar, subi pelo escadote e fiquei um bocado a pensar, a ver se descobria o ninho dele. Estavam seis ou sete ninhos por cima de mim. Escolhi um, à sorte, e meti lá o pequeno pardal, por um buraco muito apertado. Quando me afastei regressaram os pardais adultos, que estavam todos a ver a operação empoleirados no portão e nos muros. Há bocado fui ver se estava tudo bem e pareceu-me que sim. Devo ter acertado no ninho. Se morasse uns quilómetros mais longe da feira do livro, ou se fosse um escritor famoso e tivesse ficado a dar autógrafos até tarde, agora já não havia pardal. E teria um dos gatos todo contente da vida.
(a imagem é de há uns dias, de um dos pardais em cima de uma chaminé que fica em frente dos ninhos)

domingo, 8 de junho de 2008

O orgulho

Gostei muito, mas mesmo muito, do jogo da selecção nacional com a Turquia. Quem não terá ficado orgulhoso pela forma como aqueles jogadores nos representaram esta noite? Sem entrar em grandes euforias, a ideia que dá é a de que estamos no campeonato da Europa com uma equipa muito forte, coisa que ainda há pouco tempo se podia recear que pudesse não acontecer. Algumas notas…
- Pepe foi provavelmente o melhor em campo; devo aqui recordar que não fui dos que estiveram a favor da sua entrada na selecção por via da naturalização (ao contrário do que aconteceu no caso de Deco), e isso pela quantidade de bons defesas centrais que tínhamos, mas a verdade é que ele tem feito por merecer representar o nosso país, e a sua presença no onze inicial é indiscutível (tal como a de Ricardo Carvalho) – provavelmente é a melhor dupla de centrais de toda a história da selecção nacional.
- João Moutinho de certeza que não sai mais da equipa, e de certeza que o Sporting (infelizmente) vai ficar sem ele depois do europeu.
- Nuno Gomes, apesar do mal que dele se diz, é o ponta-de-lança da selecção (tivemos sorte em Pauleta ter decidido renunciar, assim como tivemos sorte em 2000, quando o açoriano se lesionou e Humberto Coelho resolveu meter Nuno Gomes, que acabou por ter um desempenho notável).
- Deco parece mais à vontade no papel de patrão da equipa sem a presença de estrelas de outros tempos (Figo, por exemplo).
- Raul Meireles é um bom jogador, mas eu tenho sempre a sensação (não sei por quê) de que para a equipa nacional não adianta muito – só que entrou e marcou logo um golo.
- Paulo Ferreira é claramente o mais desconfortável da equipa-base, pela adaptação feita por Scolari, mas demonstrou sempre estar à altura (duvido que Caneira, que sem que se perceba por quê tanta gente queria na selecção, fizesse a décima parte do que faz Paulo Ferreira).
- Bozingwa – para o seu lugar estávamos muito bem servidos com Miguel, mas ele prova constantemente que ainda é melhor do que Miguel.
- Ricardo – não há volta a dar, eu não me sinto seguro com ele na baliza; no entanto, nos momentos antes de o jogo começar notei mais uma vez o papel que tem no grupo, pela forma como encorajava os companheiros (pode muito bem acabar por ser importante).
- Ronaldo – é o Ronaldo, que na selecção é diferente do do Manchester, mas qualquer outra selecção gostaria de tê-lo; continua com a mania de se justificar depois de cada falhanço, parece que pensando no que as pessoas nas bancadas ou as que o vêem pela televisão estarão a dizer.
- Nani não deverá ser titular, mas é capaz de ser dos que vai entrar muitas vezes, e contra os turcos demonstrou que a qualquer momento pode partir tudo.
- Quaresma – um problema, uma coisa quase incompreensível; é bem melhor do que Simão, mas só de vez em quando, não sei se quando se lembra se quando calha, e por isso Scolari prefere jogar pelo seguro e coloca Simão na equipa (eu talvez tomasse a mesma decisão).
- Dos jogadores que Scolari fez alinhar, falta referir Fernando Meira e Petit. Meira entrou com o jogo a acabar, mas será sempre útil, quanto a Petit talvez tenha sido uma boa escolha, apesar do que também dele se dizia.

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal, Portugal, Portugal

Feira do livro

Amanhã, domingo, estarei na Feira do Livro de Lisboa para uma sessão de autógrafos. Será entre as 16 e as 18 horas, no stand da Ambar (número 78); livro de contos «O Amor por entre os Dedos» e romance «O que Entra nos Livros».

Uma frase

«Não queremos batoteiros, queremos um futebol limpo!»
Michel Platini, hoje na capa do jornal «A Bola»

Triste país sem grande futuro

Os Estados Unidos. Ver aqui.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

As flores vermelhas apanham sol

Hoje, a meio da tarde, por aqui.

Dezasseis bocadinhos

Coloquei aqui onze bocadinhos de um dos dois livros de histórias que acabei de escrever (um bocadinho por cada história). Faço agora o mesmo para o segundo livro (dezasseis histórias).
1. Já o «pára-quedista», o «prestidigitador», a «amélia» e o «tachista», por exemplo, não costumam requerer acompanhamento, assim como estranhamente não o tiveram «barata tonta», «mosca morta», «picareta falante» e «adiantado mental». Pelo contrário, «deserdado», «dependente» e «desempregado» tiveram («deserdado da política», «político-dependente», «desempregado da política»). E «boy» não teve, ao contrário do que julgo deveria acontecer com «boi», como adiante referirei.
2. Ao lado do condutor ia um detestável figurão chamado Fernando Eduardo da Silva Pais, o director da PIDE, a polícia política do regime. Assim que o viu, o sinaleiro pareceu ficar sem voz. «Avance! Avance!», terá ordenado Silva Pais.
3. Um amigo meu, antigo Capitão de Abril e na altura da conferência a trabalhar como gestor numa grande empresa portuguesa, comentava comigo uns dias depois: «Aquele tipo, ministro ainda por cima, é o que lá na minha terra, ao pé de Leiria, se costuma chamar um burgesso!»
4. Tinha arranjado o meu próprio golpe. Daí que a meio da tarde – já com Marcello Caetano a dizer que se ia embora, mas para o tratarem com dignidade, e que o deixassem levar a biblioteca – eu andasse de um lado para o outro todo contente a mostrar o polegar ferido, como um precioso troféu.
5. E ao mesmo tempo deu uma palmada no ombro da estrela, palmada essa também de concordância, sem saber que ia atingi-la precisamente no ponto mais fraco. Foi assim que o Júlio Isidro levantou voo.
6. A verdade é que o tal homem, o charlatão, jurou fazer do burro um brilhante orador, mas só ao fim de dez anos de aturados exercícios e também de alguma teoria, que fica sempre bem nos conteúdos programáticos, nem que seja só para fazer vista perante o rei.
7. Era o Mário Soares e eu por pouco não o atropelava, embora me tenha parecido que nem ele nem a rapariga se aperceberam da situação. Depois da pequena travagem que tive de fazer, meti a primeira e conduzi apressadamente até casa, porque ia dar um jogo do Sporting na televisão.
8. Nos meus tempos finais da faculdade, houve uma ocasião em que estive quase a receber um prémio das mãos de um secretário de Estado; calhou-me logo o Santana Lopes.
9. Quem vê o Drácula a conduzir as coisas daquela maneira, não pode deixar de se lembrar de figuras como Júlia Pinheiro, Jorge Gabriel, Herman José e outros que a seguir foram surgindo nos ecrãs das televisões portuguesas.
10. Entretanto as coisas evoluíram, com os fantasmas, principalmente o do gato bravo, a tornarem-se atracções turísticas (coisa que a autarquia encorajava).
11. «Lúcio!!», gritou a professora. «Faz-me um retrato físico e psicológico do gigante Adamastor!!» Eu pensei logo que ia haver confusão.
12. O assunto foi a discussão durante uma boa meia hora, e acabou por realizar-se mesmo uma nova votação. Aí, Saramago ficou a ver navios.
13. Disse, claro que disse, mas apesar dos meus esforços não consegui convencer o professor Carvalho Rodrigues da genuinidade da tasca do balde da serradura. Nem a ele, nem a uma pessoa que acabou por apanhar a conversa a meio. Essa pessoa até me disse que aquilo do «pitroil» não era por causa de estar escrito como se calhar a dona da tasca dizia, mas antes por causa da palavra inglesa «oil», que o mais certo era estar escrita no depósito do camião que fazia a entrega do petróleo.
14. Eu conhecia-o de vê-lo na televisão. Era um actor, ainda por cima um que ultimamente andava a aparecer nalgumas séries e em telenovelas. Como é que eu não me tinha lembrado antes? «É teu vizinho?», perguntei ao dono do Farrusco, que continuava entretido a segurar na trela, enquanto os dois animais se divertiam. Ele respondeu-me secamente, sem sequer olhar para mim. «Mora aí.»
15. «Você, que eu ouvi já só na parte final a falar tão apaixonadamente da língua portuguesa e da língua castelhana, diga-me, de que país é?» Respondi-lhe que era de Portugal. «Hum!... É de Portugal...», pareceu ela estranhar. E eu confirmei: «Sim, sou de cá.»
16. Também a opção pelo cavalo não haveria de ser a melhor e o popularucho burro na volta ainda propiciava anedotas e até escárnios (além dos sempre inconvenientes zurros), apesar de ele próprio, o senhor, não o burro, já em tempos ter dado o seu aplauso a uma entrada na cidade de um burro em competição com um Ferrari.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Uma frase

«Achei saudável, como abrir uma janela e entrar ar puro, a vitória da doutora Manuela Ferreira Alves, leite!»
José Pacheco Pereira, esta noite na SIC Notícias (programa «Quadratura do Círculo»)

A irracionalidade do acordo

No «Corta-fitas», Pedro Correia com frases sobre o acordo ortográfico que tentam impingir-nos. Para já, duas frases, de Miguel Sousa Tavares e Vasco Graça Moura, que mostram bem até onde pode ir a irracionalidade do acordo.

Propriedade comutativa

Títulos de hoje: «Porto fora, Benfica dentro» (jornal «O Jogo»); «Benfica dentro, Porto fora» (jornal «Record»).

O reverso da medalha

Nos últimos anos passei algumas tardes na feira do livro, sentado ao sol, sentado à chuva, sentado a ver as pessoas a subirem e a descerem o parque, sentado a assinar livros e procurando evitar aquelas dedicatórias às três pancadas, como as que são referidas no final deste post («Para Joaquim Oliveira, António Lobo Antunes», «Cordialmente, José Saramago»). Ontem, durante umas horas (final da tarde, princípio da noite), foi o reverso da medalha; por razões profissionais, dei por mim a contemplar os pavilhões estranhamente minúsculos da feira desde a varanda do Eleven, com empregados que nunca mais acabavam, sempre de um lado para o outro, de bandejas a abarrotar. Não vi nenhum escritor conhecido (e desconfio que dos desconhecidos a mesma coisa) – já políticos, empresários e aproximados havia com fartura. À saída deram-me uma caixa que tinha dentro uma garrafa de vinho e ainda, imagine-se, um livro (sem autógrafo mas com cartão).
(foto: Eleven)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Os meus animais

Uma revista on-line («Animalia»). Escrevi aqui sobre os meus animais.

Quase contradições

Os Livros Ardem Mal
»»» Título deste blog, por sinal excelente, sobre «actualidade editorial»
***
– Quanto tempo passou desde que queimou o livro ali no grelhador?
– Cerca de um mês e meio.

»»» Excerto de um diálogo no meu romance «O que Entra nos Livros»

terça-feira, 3 de junho de 2008

Onze bocadinhos

Terminei recentemente dois livros de histórias. Coloco a seguir onze bocadinhos de um deles (um bocadinho por cada história).
1. A moderadora, uma escritora mais velha do que nós e com ar entediado, a certa altura tinha-se lembrado de perguntar aos «escritores para o futuro» se se imaginavam, nesse futuro, a escrever os próprios livros em inglês.
2.
Poderia ter-me lembrado de Américo Tomás, o almirante que na ditadura lambia as botas a Salazar e depois também um bocado a Marcello Caetano, ou do arquitecto Tomás Taveira, ou talvez até de São Tomás de Aquino, mas não, lembrei-me do velho livro.
3.
Durante um debate numa sala de um hotel da Avenida da Liberdade, em Lisboa, o jurista Fernando Seara, bem conhecido nos meios desportivos, afirmou que a questão do novo treinador do Sporting, que parecia envolta em grandes mistérios, afinal não tinha nada de misterioso.
4.
Onde é que já se tinha visto uma coisa assim, um barrete verde, vermelho e amarelo e com o escudo nacional com as cinco chagas de Cristo numa pessoa de fato e gravata, ainda por cima ministro da nação?
5.
Mas na manhã do jogo, como que esquecendo-me do que anos antes tinha acontecido, levado por um estranho instinto de imitação, fiz asneira. Comprei um cachecol.
6. A ele tudo parecia tolerar-se; afinal, Cadete era «o capitão Jorge Cadete», não era nem o Capitão América, nem o Capitão Nemo, nem o Capitão Tormenta, nem sequer o Capitão Roby. Era o ponta-de-lança da equipa, ainda por cima bem diferente de um qualquer tony-sealy
inglês, ou até do polaco Juskowiak, a que muitos preferiam chamar Juskofiasco.
7.
Terá sido Guterres que deu azar ao Sporting? Ou terá sido o Sporting, e quem sabe até o próprio Real Madrid, terão sido os dois clubes a dar azar a Guterres? A verdade é que nunca cheguei a uma conclusão.
8.
Devia ser nalguma cave, foi o que pensei, ou então nalgum descampado urbano onde a rede não chegasse. Quem sabe poderia haver ali no meio do casario a cair uma planície municipal à espera de alguém, eventualmente de Braga, que lhe pusesse as unhas sem o vereador Sá Fernandes dar por isso…
9.
Por exemplo, o daquele jornalista que arranjou gravações de um seleccionador nacional de futebol a dizer com a maior das naturalidades que o que era preciso era matar dois ou três fulanos.
10.
Fui ouvindo o que ele contava, as histórias de Madjer, umas que eu conhecia, outras que nem imaginava, até que a certa altura não me contive e interrompi-o.
11. Haveria de ser uma bela cerimónia, a da entrega do Grande Prémio do Romance e da Novela ao futebol português, de certeza representado ainda por Gilberto Madail...

Uma frase

«Isso seria deixarmos os Rádio Macau e voltarmos ao José Mário Branco!»
Carlos Abreu Amorim, a propósito de uma possível intervenção do Estado na formação do preço dos combustíveis (num debate com João Teixeira Lopes esta noite na RTPn)