segunda-feira, 23 de junho de 2008

Agualusa, Cristiano Ronaldo

Via blog da revista «Ler»

Crítica de Anderson Tepper ao The Book of Chameleons, de José Eduardo Agualusa (trata-se da tradução de O Vendedor de Passados), na Time Out de Nova Iorque, desta semana:
«How to describe José Eduardo Agualusa, the young, award-winning Angolan author of The Book of Chameleons? An African Kafka? A more tropical Borges? Like the Mozambican writer Mia Couto, he blends elements of Latin American–style magic realism with political satire. He’s a genre-shifter, an iconoclast and one of the most inventive new voices coming from Africa today. Just consider this new novel: Narrated by a gecko, it’s a book of both energetic ideas and thrillerlike drama.
The main character, Félix Ventura, is a man very much in demand with Angola’s newly rich—the various “businessmen, ministers, landowners, diamond smugglers, generals” and others out to take advantage of the boom after decades of civil war. It’s his job to reinvent their personal histories and retouch their brutal pasts in order to brighten their future. His motto is “Give your children a better past,” and his career allows Agualusa to cleverly tease out the themes that drive the book: the elasticity of memory and history, and the power of personal and national identities to become self-perpetuating myths. Angola, “a fantasy country,” reimagines itself daily.
But don’t think for a moment this is an arid, overly cerebral text. The book springs to life in short, eccentric vignettes, mostly told from the ceiling-eye view of Eulalio, a gecko who appears to be the reincarnation of a famous, Borges-like writer. This lizard quietly watches as Felix becomes entangled with his nefarious clients, who include a mysterious photojournalist and a former government Marxist who now lives underground. Not surprisingly, none of them will be able to entirely transform themselves enough to escape the violent secrets of their pasts.»
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Também o Los Angeles Times destaca o livro de José Eduardo Agualusa:
«This novel is narrated by a gecko, that's to say by a lizard, who also happens to be the reincarnated spirit of Argentine writer Jorge Luis Borges. Well: Some writers like to play for high stakes. From this conceit Agualusa weaves a gorgeous and intricate story about a man who trades in memories, selling people pasts to help reinvent their futures. Set in Angola, the tale darts to and fro with the swiftness of a step over by soccer player Cristiano Ronaldo. There's a murder mystery here, and not only a meditation on the nature of memory. Agualusa's deftness and lightness of touch means we buy into the strange setup with scarcely a blink. He's a young master.»
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Já agora, sobre o romance eu em tempos escrevi isto.
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3 comentários:

Anónimo disse...

António:

Muito bem! Refiro-me ao seu comentário escrito em Abril de 2007.

Nós, por cá, temos tido "vendedores de ilusões". Cá, existe o péssimo costume de vender o que não se tem.

Tempo houve em que vendiam "eléctricos", em plena via pública, e a estátua do Marquês de Pombal. Mais modernamente vendem-se diplomas do ensino básico para "tirar a carta", uma expressão popular que encerra mais filosofia "que comer chocolates"!

Um abraço.

P.S. Outros, ainda mais empreendedores, vendem diplomas de cursos superiores, para quem tem sede de grandeza.

Manuel Nunes disse...

Caro António,
Li o seu comentário ao romance.Para mim, até nem é dos melhores do José Eduardo Agualusa. Gostei mais de "A Conjura" e de "Nação Crioula". Em "O Vendedor de Passados" ele volta aos grandes temas, ou motivos, da sua obra: a crioulidade, o problema da identidade nacional, a repressão que se seguiu ao golpe de Nito Alves (27 de Maio de 1977), e, claro, à sátira política no estilo de Eça de Queirós, autor onde Agualusa aprendeu a ironia.
De diferente aparece aquela encarnação do Borges na osga Eulálio, um pouco como Lygia Fagundes Telles faz em "As Horas Nuas", em que um dos narradores, o gato Rahul, tem uma alma transmigrada de humanos.
Mas gostei de ler. Os diálogos entre o Ministro e Félix Ventura são deliciosos.
É uma visão desencantada dos caminhos da nacionalidade angolana. Ainda por cima com um crime sem castigo. Repare que é Ângela Lúcia, a jovem
que corria o mundo a fotografar a
luz - e que uma vez, em Cachoeira, uma pequena cidade do Recôncavo Baiano, viu o rosto de Deus num raio de sol -,é ela quem mata Edmundo Barata, o antigo agente de segurança.
Acho que nem a evocação de Martin Luther King no final da narrativa consegue apagar a falta de esperança que há neste livro.
Um abraço,

Anónimo disse...

Manuel (d.e.)

Para mim, os grandes romances dele são «Nação Crioula», «Um Estranho em Goa» e «Estação das Chuvas». E nalgumas das crónicas ele conseguiu atingir a mesma grandeza.

Um abraço,

António