quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (10)

Javier Cercas, Espanha
Vi o meu livro inteiro e verdadeiro, o meu relato real e completo, e soube que só me faltava escrevê-lo, passá-lo a limpo, porque estava na minha cabeça do princípio («Foi no Verão de 1944, faz agora mais de seis anos, que ouvi falar pela primeira vez do fuzilamento do mágico velhinho»)…
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 176)

O QI

O QI, do anterior post sobre o Sporting (jogo com o Setúbal)… Pode ser que não seja mesmo um problema de QI; Paulo Bento parece ter percebido que é preciso entrar em campo com onze jogadores, coisa impossível de fazer quando se recorre a puroviques e farnerudes. Em Guimarães ( Guimarães 0, Sporting 0) não caiu na asneira de entregar a vitória de bandeja ao adversário, bem complicado, por sinal. Talvez por isso a sorte nos tenha acompanhado no fim, nos penalties. Gostei da atitude da equipa, apesar de ter dado para ver que temos muitos problemas para resolver. Mesmo assim, houve um ameaço de recaída na parte final (recaída de Paulo Bento, com uns minutinhos dados a Purovic – ainda pensei que poderia ir marcar um dos penalties, como fez no desempate da pré-temporada em Albufeira, falhando, como seria de esperar). Outra coisa: depois deste jogo, se Paulo Bento tirar o Tiago da equipa para voltar a meter o sérvio do frango com o Setúbal (que, tipo Scolari, se desculpou com a relva, que no sítio onde a bola bateu estava em condições), se Paulo Bento tirar o Tiago volto à confusão do QI. Obviamente. E mais outra coisa… O penalty de Polga, marcado de forma impecável (e sem olhar nem para a baliza, nem para a bola); é de artista, por isso se calhar tenho de repensar os comentários sobre a sua falta de jeito para o futebol.

Pergunta discreta

Pinto da Costa costuma levar a equipa a Fátima quando vem jogar ao Sul. O que terá pedido desta vez?

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (9)

Santiago Gamboa, Colômbia
– Peguei no livro e verifiquei o romance do escritor colombiano, esse Santiago que disse…
– Gamboa – completei. – Santiago Gamboa, um escritor absolutamente fabuloso.
– Pois, o António lá saberá...
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 174)

Um caso muito sério

É mesmo um caso muito sério. O Sporting por estes tempos. Escrevo isto depois do jogo com o Setúbal e já em dia de novo jogo, e complicado, em Guimarães. Mas o jogo com o Setúbal… Sporting 2 (João Moutinho, Purovic), Setúbal 2. Percebeu-se logo de início que as coisas não iriam correr bem; a confirmar até alguns sinais que vêm sendo dados de outros jogos. O Sporting, neste momento, tem inúmeros problemas na equipa e, digamos assim, nos arredores. As coisas são bem mais graves do que no ano passado. Mas o principal problema parece ser alguma incapacidade de Paulo Bento para ver esses problemas. Eu não encontro explicação para essa incapacidade… Só mesmo se for uma limitação ao nível do quociente de inteligência (QI) para não conseguir ver no que se estava a meter com a equipa que entrou com o Setúbal, por exemplo; espero que não seja, e que o QI seja elevadíssimo. Purovic (inacreditavelmente marcou um golo, e hoje se calhar inacreditavelmente pode até ser que marque mais), Purovic, dizia, deverá ser considerado um jogador de futebol? Tirando a altura e por isso algum lance que ganhe de cabeça, o que esperar dele ao metê-lo numa equipa (e num plantel)? Um passe como o que fez para Liedson na Amadora, no primeiro golo (dificuldade menos 200)… E Farnerud? Não será jogar com menos um metê-lo entre os tituares? E depois, a dupla de centrais… Juntar Polga ao jogador dos livros de cowboys não poderá resultar numa mistura explosiva? (veja-se o primeiro golo do Setúbal, com Polga de longe a observar e Gladstone de perto também a observar; e o penalty que o árbitro perdoou naquela entrada maluca de Gladstone, ao estilo de Polga, sobre um jogador do Setúbal…) Paulo Bento não vê isto e outras coisas, e eu não consigo perceber a razão para não ver. QI? Será? Ou será uma coisa passageira esta incapacidade para ver o óbvio.
Temos no Sporting um treinador com capacidade de liderança, com personalidade, sem medo de apostar nos jovens, mas depois não vê coisas óbvias. A juntar a isto, mais coisas que na volta ele até vê mas não saberá bem como resolver: o guarda-redes, afinal, pode ser um problema (Ricardo II), Izmailov até é bom mas não se compara a Nani e a equipa ressente-se disso, Vukcevic também tem algum valor mas a maior parte das vezes é desastrado… E mais uns pozinhos para compor o cenário preocupante.
Receio que a época possa estar comprometida. Responsabilidades? Pedir a quem? Aos gestores? E eles quererão saber disso? Falharam redondamente (em futebol talvez seja o adjectivo adequado) nas contratações, mas talvez isso fosse de esperar, se até nas sucessivas «contratações» de relva têm falhado. Só que não deviam falhar, pelas condições (salários) que imagino devem ter (a julgar pelo que se falou sobre o salário de Rui Meireles, pode-se facilmente imaginar).

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Dificuldades

Estou com muitas dificuldades em escrever sobre o Sporting - Setúbal, tal o pessimismo que me trouxe. Mas acho que consigo. Provavelmente vou falar de um problema de QI.

domingo, 23 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (8)

Alicia Giménez Bartlett, Espanha
«Rituais de Morte», leu, só para si, ao ver o livro da escritora espanhola que surgia primeiro na ordenação seguida na prateleira; depois estava um chamado «Dia de Cães», depois outro com o título «Os Mensageiros da Escuridão» e finalmente aparecia o quarto, «Mortos de Papel».
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 125)

Só umas referências

Só umas referências, para os dois jogos do Sporting nos últimos dias. Estrela da Amadora 0, Sporting 2 (Liedson e Vukcevic) e Sporting 0, Manchester United 1. O primeiro acabou por ser fácil de mais para estar com grandes desenvolvimentos, já o segundo pareceu-me bem frustrante, apesar de se ter instalado logo a seguir uma espécie de clima (dos antigos) de vitória moral; achei piada a algumas coisas que li em que o realce era dado a uma suposta falha de Abel no golo de Cristiano Ronaldo – a cabeçada de Ronaldo foi bem no centro da área, com o tão aplaudido Polga ausente em parte incerta (não reparei onde estava; na volta tinha-se convencido de que era preciso marcar o Tonel).

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

No ponto mais alto do Algarve

Apresentação do romance «O que Entra nos Livros», dia 29, na minha terra.
(clicar na imagem para aumentar)

De regresso

Regresso depois de alguns dias por sítios onde não chegam as internetes. Em breve o blog retomará o ritmo habitual.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Em observação


A Padeira – XV, XVI e XVII

Os três capítulos finais (XV, XVI e XVII) de «Brites e as Gaivotas» (início aqui).

Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota

»»» Cap. XV
Os castelhanos eram mais de trinta mil, o que deixava D. João muito pessimista.
- Somos nós só seis mil e quinhentos!
Mas Brites meteu-se logo a oferecer os seus serviços. Ou por pena do rei, ou então porque não estavam completamente apagados dentro de si os instintos de peleja.
- Seis mil e quinhentos e um, meu rei e senhor! Pode contar comigo para ajudar na batalha!
Daí a pouco, com a aproximação dos castelhanos, as coisas começaram a aquecer. D. Nuno Álvares Pereira ordenou que formassem um quadrado, para melhor resistirem às investidas do inimigo. Só que Brites não se quis meter nisso, preferindo actuar por conta própria.
- E o marido dela lá continua na lavoura…
- Sim, daqui a pouco os castelhanos tomam conta de Portugal e o homem nem sabe que muda de nacionalidade.
- O que é a nacionalidade? É como aquilo do outro dia, da curiosidade, ou da idade curiosa?!
- Não, não é bem isso
- ...
- Olha, e se tu voasses até lá para avisá-lo?!
- Não, eu fico aqui a ver a batalha.
- Pois aí está um bom exemplo de curiosidade.
- Sim, mas o que eu queria saber era o que é a nacionalidade.
O quadrado de D. Nuno Álvares Pereira surpreendeu mesmo os castelhanos, tanto que os seis mil e quinhentos portugueses chegaram e sobraram para os mais de trinta mil malucos que se tinham metido a atravessar a fronteira. E Brites, na sua actividade solitária, também se saiu em grande. De pá na mão, e com o desembaraço dos velhos tempos, lá foi fazendo os seus estragos.
- Quantos castelhanos é que Brites já pôs fora de combate?
- Olha, eu, para dizer a verdade, já perdi a conta.

»»» Cap. XVI
Fugiam espavoridos pelos campos de Aljubarrota os castelhanos que tinham escapado da batalha. Andavam perdidos de um lado para outro. Até o rei, meio zonzo, já nem sabia bem onde estava. E fartava-se de gritar.
- Donde es Castilla?!!
Mas ninguém lhe dizia. Nem Brites, que se cruzou com ele e ainda lhe acertou com a pá no dorso do cavalo. E depois foi para casa, para ver se o marido já tinha chegado da lavoura.
- Ele continua a lavrar lá adiante.
- É um bocado distraído, lá isso é.
- Ou se calhar não liga muito a batalhas.
Quando Brites chegou à padaria, estava tudo calmo. Até demasiado calmo, e isso fê-la logo ficar de sobreaviso e agarrar a pá ainda com mais força.
- Daqui de longe, por cima do campo de batalha, até custa a ver a padaria.
- Pois é.
Brites parecia indecisa em entrar.
- Por que é que será?
- Andarão ainda alguns castelhanos por lá?!
As gaivotas não conseguiam ver bem o que se passava. Queriam bisbilhotar a desgraça que ia pelo campo de batalha, mas ao mesmo tempo sentiam-se intrigadas com o que Brites estava a fazer. Tanto mais que era por causa dela que estavam ali, bem afastadas do mar e do peixe que como nenhuma outra coisa as deliciava.
- A comida aqui no campo é mesmo uma porcaria.
- Sim, tirando os ratos e os grilos, não se encontra nada de interesse.

»»» Cap. XVII
Brites finalmente foi até ao forno, sempre preparada para fazer uso da pá. O silêncio era de desconfiar. Nem uma mosca se ouvia. As gaivotas não deixavam de tentar perceber-lhe os movimentos.
- Será que ela tinha pão no forno?!
- Por quê? Por lá estar a meter a pá?!
- Sim. Mete, tira. Mete, tira. Não achas estranho?
- Pois, é estranho, e daqui nem dá para ver bem. O melhor é mesmo irmos até lá.
- Mas olha… Agora estão castelhanos a sair de dentro do forno.
- Tinham-se escondido lá, aqueles tristes!
- E ela está a abatê-los à medida que saem. Não consigo é contar quantos são.
- Por que é que será que ainda não inventaram os binóculos?
- O quê?!
- Nada, esquece.
Brites ia continuando a festa com grande desembaraço.
- E aquele que agora vem a aproximar-se por trás! Se calhar vai surpreendê-la!
- Qual quê!! Não vês que é o marido dela que regressa da lavoura?!
- Ah, pois é!!
- Distraído, como sempre.
- E a gente?
- A gente o quê?
- Ora o quê!... Voltamos para o mar ou ficamos por cá?

Escritores no meu romance (7)

Paulo Coelho, Brasil
Paulo Coelho parecia em bom estado, tanto que meteu-o às costas e passou aos restantes dois…
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 138)

O voo

E então, nesse dia, para espanto geral, algumas flores começaram subitamente a voar. Vivas. Com as raízes cravando-se na aragem.

domingo, 9 de setembro de 2007

O gafanhoto

Andava ontem aqui pela rua, cheio de confiança. Parecia sentir-se protegido entre as pedras e as folhas secas das oliveiras.

Günter Grass

Isto começou aqui.

O empate da selecção com a Polónia

É o que dá não ler os jornais desportivos com atenção, e não ligar muito aos noticiários (também desportivos) da televisão. Nem sabia que o Caneira estava nos convocados para o jogo de hoje. Estava e só dei por isso quando o vi em campo. Saiu cedo, lesionado, como se calhar entrou. Achei que foi um mau presságio a presença de Caneira. Ainda por cima tendo o seleccionador bons jogadores para meter, em vez de um jogador completamente desqualificado para o futebol. De resto, a selecção pareceu-me bem definida, à parte a inevitável presença de Ricardo, que tanto pode dar para ir aguentando as coisas como pode dar para enterrar uma equipa (já conheço a histórias das desilusões que Ricardo causou no Sporting ano após ano). Esta noite deu para enterrar a equipa, principalmente no frango do primeiro golo polaco (em vez de uma defesa enérgica para a lateral ou para canto, uma coisa inexplicável de braços flectidos), e também com uns pozinhos no segundo. Mas o grupo de qualificação é uma tremenda confusão, pior ainda do que a cabeça do senhor Scolari quando tem de pensar numa táctica que fuja àquela história da confiança e do acreditar, em que – reconheça-se – é especialista. Ou seja, continuamos na luta. Podíamos estar lá muito à frente. Infelizmente não estamos, e por isso continuamos na luta.

sábado, 8 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (6)

Ondjaki, Angola
– Bom, nada de especial. Apenas isso da entrevista e do texto sobre o livro. Sabe que o escritor Ondjaki até pode vir cá?
– Sim?!
– Estou a ver se é possível. Eu vi-o ali em Montemor…
– Viu-o em Montemor?! – estranhei.
– Exactamente! Ele estava num debate sobre viagens, com muita gente – explicou o senhor Sapinho Júnior.
– Eu assisti a esse debate – disse-lhe, enquanto tentava recordar-me do público, na esperança de chegar à imagem de alguma pessoa que correspondesse ao livreiro.
Mas não me recordei de ninguém. Só dos participantes, que estavam numa espécie de palco onde tinham colocado uma fila de cadeiras, bem juntas, para caberem todos. De Ondjaki, com quem na altura eu ainda nunca tinha falado, eu lembrava-me de o ver a descobrir durante o debate que era primo de um dos outros participantes, o médico Fernando Nobre, da Assistência Médica Internacional.
(excerto de «O que Entra nos Livros», páginas 86 e 87)

Começos prometedores - 8

«Ora muito bem, eu sou um gajo com uma data de problemas, e a maior parte deles sou eu quem os cria, quer dizer, com as mulheres, e o jogo, e essa coisa de sentir hostilidade por certos grupos de pessoas e quanto maiores os grupos mais hostilidade sentir.»
Início do conto «Dr. Nazi», incluído no livro «A Sul de Nenhum Norte», de Charles Bukowski, 1973 (ed. portuguesa Relógio d’Água, s/ indic. data)

Isto só revisto

Isto. Ou melhor, este «momemto».

Azeitonas

Desde que as azeitonas não saibam a Segafredo, ou Buondi…

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (5)

Xavier Queipo, Espanha
– Está bem. Não te preocupes. Vou ficar aqui até ao fim do filme – respondeu o mágico velhinho…
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 113)

A Padeira – XIII e XIV

Mais dois capítulos (XIII e XIV) de «Brites e as Gaivotas» (início aqui).

Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota

»»» Cap. XIII
Quando a patroa morreu, Brites chorou. Era uma coisa que já não fazia havia tanto tempo que até as gaivotas ficaram a olhar uma para a outra.
- Ela, afinal, além de ter coração, também produz lágrimas!
- Sim, e agora fica a ser a padeira de Aljubarrota.
- Quer dizer que já podemos regressar?!
- Não, muitas coisas ainda podem acontecer.
- Pronto, pronto, ficamos mais uns tempos então.
Algum herdeiro da padaria que houvesse não chegou mesmo a dar as caras. Quem um belo dia resolveu visitar Brites foi um honesto lavrador, e descomprometido, como fez logo questão de deixar bem claro, para não haver confusões.
- Aquele não vai comprar pão…
- Pois, pela cara vê-se logo que não.
Convidou Brites para um passeio. E daí a uns dias para outro, e depois para mais outro. E Brites começou a aparecer cada vez mais arranjada. Ainda que nela poucos trabalhos de aparelhamento houvesse a fazer. Mas o lavrador lá sabia as linhas com que cosia o seu pobre coração solitário.
- As pessoas às vezes mudam.
- Sim, Brites nunca ligou muito a coisas de paixão, mas agora está diferente.
- Lá isso é verdade...
O lavrador acabou por pedir a mão à padeira, durante um dos passeios. E sem que as gaivotas percebessem a conversa, os dois desapareceram a correr para o meio de uns arbustos.
- Para onde será que vão tão apressadas aquelas criaturas?
- Sabe-se lá, até a gente as perde de vista!
- Sim, no meio daqueles matos, quem é que pode ver o que está a acontecer?!

»»» Cap. XIV
Brites manteve a padaria, pois não era mulher para viver às custas do marido, por mais rico lavrador que ele fosse. E as gaivotas foram observando a nova família. Finalmente, a padeira parecia andar em paz.
- Só que a paz, até uma gaivota o sabe, nunca dura muito.
De repente, assim sem mais nem menos, apareceu nas redondezas D. João, mais o condestável D. Nuno Álvares Pereira, os dois à frente do exército de Portugal.
- Será que vêm todos para prender Brites?
- Não, nada disso! Não vês lá adiante, bem ao longe, o exército de Castela?!
- Ah, aqueles artolas são os castelhanos!
- Sim, devem vir à conquista de Portugal.
- Trazem o Saramago ou esqueceram-se dele?
- Esse não vejo… Na volta vem disfarçado….
Brites recebeu o melhor que pôde D. João e o condestável.
- Quanta honra tê-los em minhas terras, senhores!
Só não os convidou para entrarem porque eram muitos, à volta de seis mil e quinhentos, contando com o exército inteiro.
- Nem todos podem ter palácios grandes.
- Sim, os pobres cometem sempre estas indelicadezas.
- Mas Deus não há-de levar a mal.
- Qual?! O deles ou o das gaivotas.

Luís Graça

Luís Graça na revista «Os Meus Livros». Cronista. A crónica de Setembro («Mau Tempo no Bacanal») é fantástica. Outra coisa não seria de esperar do Luís.

Adivinhem quem poderia estar neste jantar

Coloco a seguir três curtíssimos excertos do romance «Estranha Forma de Vida», de Carlos Ademar (Oficina do Livro, 2007) – são de uma conversa que decorre durante um jantar na Torre Vasco da Gama, em Lisboa, no qual participam um «empresário da noite» (nestes excertos não fala) o líder de uma organização criminosa (Alberto, sócio do empresário), um vereador de um executivo municipal (Afonso) e o assessor deste (Gustavo). O autor diz que todos os factos referidos no romance são fruto da sua imaginação.

– Pois é assim, temos que ser nós, os empresários, a fazer avançar o país – proferiu Alberto, enquanto bebia da sua água.
– E cabe ao poder político criar as condições para que este progresso se dê com sustentabilidade – respondeu Afonso Fontelo.
– Bem que os senhores podiam facilitar um pouco mais este nosso trabalho – continuou Alberto.
– Acredite, senhor Alberto, que, no que me diz respeito, tudo faço e farei para que essa ajuda seja concreta. Só que temos, e ainda bem, regras para cumprir. A sociedade assim o exige.
(…)
– Muito bem! – disse com gentileza Gustavo, em jeito de remate.
– Então, e o senhor, que fazia antes de chegar à Câmara? – devolveu Alberto a pergunta.
– Era deputado. Fui eleito nas últimas eleições. Antes disso, fiz o estágio de advocacia.
– Então, e o senhor vereador? – continuou Alberto.
– Eu e o doutor Gustavo temos um percurso quase paralelo. Entrámos para o partido ainda miúdos. Ali nos conhecemos. Depois fomos para a faculdade, fizemos o curso juntos. Com o canudo na mão foi o estágio, dei umas aulas na universidade, depois veio o Parlamento, durante dois anos, e finalmente a Câmara. Quando ganhámos as eleições autárquicas, convidei o meu amigo Gustavo para me ajudar a organizar a papelada do gabinete.
– Os amigos são exactamente para isso – exclamou Alberto, não poupando no sarcasmo. Depois, tentando remediar: – Houve uma altura em que pensei dedicar-me à política. Mas com os poucos estudos que tenho não ia longe.
– Os estudos não são tudo. A vontade de fazer coisas pela sociedade com total desprendimento é o mais importante – retorquiu Gustavo, pedagógico.
– Pois, pois! Não, isso tenho, faltam-me apenas os estudos.
(…)
– O jantar estava óptimo e a companhia também, mas eu tenho aqui um envelope. Gostava de contribuir para a próxima campanha eleitoral do partido. Sabemos quanto custam essas campanhas e que o dinheiro que recebem do Estado não chega para nada.
– Infelizmente é verdade, senhor Alberto caro vizinho. Se não fossem os financiamentos particulares, não sei o que seria da política portuguesa – concordou Afonso, parecendo reconciliado com o anfitrião.
– O senhor Alberto não ignora que este tipo de operação se reveste de uma grande discrição? – lembrou Gustavo, preocupado.
– Com certeza, doutor. Como pretende fazer?
– Sugiro que desçamos juntos, e dentro do seu carro, que é menos referenciável que o nosso… – aventou o chefe de gabinete.
– Pois muito bem! Assim seja! – anuiu Alberto. – Já agora, o senhor vereador vai-nos resolver a questão da discoteca, não vai?
– Ó senhor Alberto, dito assim até parece que o senhor nos está a comprar! – reparou Afonso.

O jogador dos livros de cowboys

Tenho estado desatento às notícias. É o Carlos Leone que me avisa por e-mail da convocação para a selecção brasileira do defesa central do Sporting que me lembra pistoleiros e jogadores de póquer que apareciam em muitos livros de cowboys – como este defesa central, tinham o nome de Gladstone. A notícia é tanto mais curiosa quanto nos últimos dias se andava por aí a apregoar o regresso de Polga à selecção brasileira. Foi Gladstone em vez do jogador-macaco das falhas inacreditáveis. Pelo menos por agora, Dunga não perdeu a cabeça.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (4)

Naguib Mahfouz, Egipto
… como se em Portugal tivessem editado a história contada por Naguib Mahfouz num livro a pilhas, ou como se o próprio livro fosse algo vivo que de repente estivesse a sentir um arrepio, e depois outro, e outro, sempre assim…
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 159)

Cerveja e literatura

Luís Carmelo iniciou no «Miniscente» uma série de posts sobre «cerveja e literatura».

Dez livros que não mudaram a minha vida

Aqui estão dez livros dos que não mudaram a minha vida, depois do pedido que referi no post ali abaixo, logo a seguir àquele sobre o Rui Meireles. Um destes dias conto referir mais dez, mas de outro tema (pior): dez livros que atrapalharam a minha vida (explicarei por quê).
- «Viagens na Minha Terra», Almeida Garrett
- «Timbuktu», Paul Auster
- «O Pequeno Mundo», Luísa Costa Gomes
- «Lolita», Vladimir Nabokov
- «O Ano da Morte de Ricardo Reis», José Saramago
- «Estranhos Perfumes», Marie Darrieussecq
- «Cronicando», Mia Couto
- «Vamos Todos Matar Constance», Ray Bradbury
- «Tudo o que Não Escrevi – I», Eduardo Prado Coelho
- «Money», Martin Amis
A ideia começou aqui (blog de Manuel A. Domingos, «meia-noite todo o dia»).

A saída de Rui Meireles do Sporting

Rui Meireles saiu do Sporting. Depois de alguns anos discretos no clube, teve uma ascensão meteórica. Voltaria a seguir aos tempos da discrição, para finalmente sair agora. Entrevistei-o em 2003 com o jornalista Humberto Simões. A entrevista está aqui.

A minha lista

Depois do comentário a um dos posts ali de baixo («Uma excelente ideia»), vou procurar fazer também uma lista de dez livros que não mudaram a minha vida. O desafio para fazerem o mesmo é para o Luís Graça, o Fernando Sobral, a Isabel Ramos, o José Carlos Barros e o Fernando Venâncio.

Os perigos da literatura

Mais um escritor com pouca imaginação. Este. Deve ter percebido agora que a literatura é uma coisa bem perigosa.

Vale mesmo a pena ler

Sobre os livros que não mudaram a vida, vale mesmo a pena ler isto e isto e mais isto.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (3)

Clara Pinto Correia, Portugal
Era bom mergulhar de mão dada com ele num tempo muito breve assim desprovido de formas, um mar cego, pensou. Estou navegando. Que grande pedrada.
– Anda, mágico. Estamos quase no patamar.
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 120)

A solução das corujas


Solução, já se vê, para isto.

Boas notícias

Pedro Correia começou no «Corta-fitas» uma segunda série de cidades que jamais esquecerá.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Escritores no meu romance (2)

Paul Auster, Estados Unidos
Reparou num dos títulos, lembrava-se de que tinha saído havia uns anos… Uma só palavra, «Timbuktu». Pensou que no livro Auster contaria uma história africana e por isso decidiu levá-lo para ler. Desceu do escadote e desligou a luz. Já no quarto, deixou-se dormir em pouco tempo, desiludido, depois de perceber que «Timbuktu» era apenas a história de um cão e de um vagabundo, nos Estados Unidos. Depois não se podia esquecer de devolvê-lo ao lugar que ocupava na tal prateleira alta.
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 126)

Começos prometedores - 7

«Numa quarta-feira de cinzas de há muitos anos, pelo menos duzentos anos, o cavaleiro Michael Percival, o Agachadiço, encarou a sua própria silhueta e, desembainhando o cutelo do monte, o de rematar javalis, cortar cajados de cerejeira, sabina ou faia e gravar corações e flechas nas cascas dos freixos, falou-lhe com alguma estudada serenidade e a meia voz.»
Início do romance «O Assassínio do Perdedor», de Camilo José Cela, 1994 (ed. portuguesa DIFEL, 1994)

Uma excelente ideia

Esta, de Manuel A. Domingos (blog «meia-noite todo o dia»).

A Padeira – XI e XII

Mais dois capítulos (XI e XII) de «Brites e as Gaivotas» (início aqui).

Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota

»»» Cap. XI
Assim Brites chegou a Portugal, depois de dois dias e duas noites no mar, sem sequer reparar nas gaivotas que a seguiam de perto.
- A puta nem nos liga!
Mas não foi no Algarve que deu à costa. Os ventos de sul impeliram-na bem mais para cima, além de onde se avistava os montes de Sintra, e levaram-na até uma pequena praia deserta. E como era uma mulher decidida, sempre pronta para as lutas da vida, nem perdeu tempo a respirar de alívio por assentar os pés em terra firme. Abandonou o barco do mouro enganado e afogado e fez-se ao caminho à cata de um rumo para a sua existência. As gaivotas, mesmo contra a natureza que tinham, decidiram segui-la.
- Eu, por mim, não ia.
- Não, temos que ver no que isto dá.
E depois de muitas terras e terriolas, pedindo esmola nuns lados e fazendo biscates noutros, e dormindo nalgum palheiro mais acolhedor, chegou ao ponto do mundo que, sem ela saber, o destino lhe tinha marcado.
- Isto chama-se como, senhor?
- Aljubarrota, meu rapaz!

»»» Cap. XII
Nessa altura, Brites andava vestida com trajes masculinos, ainda com medo de que a lei se lembrasse dela.
- Brites é boa na arte do disfarce.
Mas o tempo tinha passado, e as guerras com Castela tudo faziam a lei esquecer. Era por isso altura de arranjar uma vida fixa. Tanto que, como até gostou do nome da terra, não esteve com meias medidas, despiu as calças.
- Não vale a pena aproximarmo-nos, que ela fê-lo atrás daquela moita.
- Eu tenho é saudades do mar.
- Um dia voltamos, é só vermos a sorte de Brites.
De trás da moita saiu novamente uma mulher, feia e grande, mas uma mulher. Brites voltava a usar saia. Depois meteu-se à procura de trabalho, coisa que conseguiu na padaria de uma velhota da terra. Logo se mostrou tão esforçada que a pouco e pouco a patroa lhe foi entregando a direcção do negócio. E acabou por deixar-lho, a troco de bons cuidados, assim que viu aproximar-se a morte. Herdeiros, pelos vistos, não havia, ou então nenhum se atreveu a aparecer. E Brites foi tão atenciosa com a infeliz velhota que ainda lhe conseguiu amenizar o sofrimento dos últimos dias.
- Brites, afinal, tem coração.

Escritores no meu romance (1)

Roberto Ampuero, Chile
Parecia ser o protagonista do romance. Em páginas ao acaso, lá estava… «Nessa altura o mágico ocupava-se em despir a volumosa mulher com lentidão e habilidade, enquanto do gira-discos chegava a voz do Bárbaro del Ritmo, que o induzia a ensaiar as posições mais arrevesadas e singulares, desde as que eram próprias da cama, até às mais atrevidas, inspiradas no Kamasutra ou no antigo teatro chinês de Havana.»
(excerto de «O que Entra nos Livros», página 131)

domingo, 2 de setembro de 2007

Pergunta discreta

Mau sinal

Sporting 1 (Liedson), Belenenses 0. Pouco consegui ver do jogo, apenas dez minutos, mas nesse período Liedson marcou o golo. Já li algures que foi uma vitória do sofrimento. E que João Moutinho falhou uma grande penalidade com o resultado ainda em branco (mais um indicador de que tem tanto de bom jogador como, por vezes, de desastrado; falha grandes penalidades e falha muitos remates). Desta vez fico-me por aqui nos comentários (nem podia ser outra coisa). O Sporting ganhou com alguma dificuldade, enquanto Porto e Benfica passearam, ou deixaram-nos passear. Mau sinal.

Invasão iminente - 2

A crónica pode ser lida aqui.

Invasão iminente

Sobre a invasão iminente do nosso país por parte de milhões de ratos espanhóis, Vasco Pulido Valente escreveu na edição deste Sábado do «Público» uma crónica absolutamente genial. Não coloco aqui o link porque está fechada a sete chaves. Mas quem ainda não viu, vale a pena procurar a edição em papel. (...) De qualquer maneira, o futuro dos ratos não parece prometedor. Se não apanharem um processo disciplinar, nem os puserem no quadro de excedentes, voltam para Espanha com menos 15 gramas das 30 com que atravessaram a fronteira. (...)

sábado, 1 de setembro de 2007

Saramago hoje

De José Saramago, que bem me desiludiu com aquela história da união com (absorção por?) Espanha, li hoje três frases de que gostei bastante. No longo trabalho da revista do «Expresso», que só agora estou a folhear, vêm em destaque… «Não quero nada com Cavaco Silva. Onde ele estiver eu não estarei. E nunca o cumprimentaria.»