Mais dois capítulos (XIII e XIV) de «Brites e as Gaivotas» (início aqui).
Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota
»»» Cap. XIII
Quando a patroa morreu, Brites chorou. Era uma coisa que já não fazia havia tanto tempo que até as gaivotas ficaram a olhar uma para a outra.
- Ela, afinal, além de ter coração, também produz lágrimas!
- Sim, e agora fica a ser a padeira de Aljubarrota.
- Quer dizer que já podemos regressar?!
- Não, muitas coisas ainda podem acontecer.
- Pronto, pronto, ficamos mais uns tempos então.
Algum herdeiro da padaria que houvesse não chegou mesmo a dar as caras. Quem um belo dia resolveu visitar Brites foi um honesto lavrador, e descomprometido, como fez logo questão de deixar bem claro, para não haver confusões.
- Aquele não vai comprar pão…
- Pois, pela cara vê-se logo que não.
Convidou Brites para um passeio. E daí a uns dias para outro, e depois para mais outro. E Brites começou a aparecer cada vez mais arranjada. Ainda que nela poucos trabalhos de aparelhamento houvesse a fazer. Mas o lavrador lá sabia as linhas com que cosia o seu pobre coração solitário.
- As pessoas às vezes mudam.
- Sim, Brites nunca ligou muito a coisas de paixão, mas agora está diferente.
- Lá isso é verdade...
O lavrador acabou por pedir a mão à padeira, durante um dos passeios. E sem que as gaivotas percebessem a conversa, os dois desapareceram a correr para o meio de uns arbustos.
- Para onde será que vão tão apressadas aquelas criaturas?
- Sabe-se lá, até a gente as perde de vista!
- Sim, no meio daqueles matos, quem é que pode ver o que está a acontecer?!
»»» Cap. XIV
Brites manteve a padaria, pois não era mulher para viver às custas do marido, por mais rico lavrador que ele fosse. E as gaivotas foram observando a nova família. Finalmente, a padeira parecia andar em paz.
- Só que a paz, até uma gaivota o sabe, nunca dura muito.
De repente, assim sem mais nem menos, apareceu nas redondezas D. João, mais o condestável D. Nuno Álvares Pereira, os dois à frente do exército de Portugal.
- Será que vêm todos para prender Brites?
- Não, nada disso! Não vês lá adiante, bem ao longe, o exército de Castela?!
- Ah, aqueles artolas são os castelhanos!
- Sim, devem vir à conquista de Portugal.
- Trazem o Saramago ou esqueceram-se dele?
- Esse não vejo… Na volta vem disfarçado….
Brites recebeu o melhor que pôde D. João e o condestável.
- Quanta honra tê-los em minhas terras, senhores!
Só não os convidou para entrarem porque eram muitos, à volta de seis mil e quinhentos, contando com o exército inteiro.
- Nem todos podem ter palácios grandes.
- Sim, os pobres cometem sempre estas indelicadezas.
- Mas Deus não há-de levar a mal.
- Qual?! O deles ou o das gaivotas.
Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota
»»» Cap. XIII
Quando a patroa morreu, Brites chorou. Era uma coisa que já não fazia havia tanto tempo que até as gaivotas ficaram a olhar uma para a outra.
- Ela, afinal, além de ter coração, também produz lágrimas!
- Sim, e agora fica a ser a padeira de Aljubarrota.
- Quer dizer que já podemos regressar?!
- Não, muitas coisas ainda podem acontecer.
- Pronto, pronto, ficamos mais uns tempos então.
Algum herdeiro da padaria que houvesse não chegou mesmo a dar as caras. Quem um belo dia resolveu visitar Brites foi um honesto lavrador, e descomprometido, como fez logo questão de deixar bem claro, para não haver confusões.
- Aquele não vai comprar pão…
- Pois, pela cara vê-se logo que não.
Convidou Brites para um passeio. E daí a uns dias para outro, e depois para mais outro. E Brites começou a aparecer cada vez mais arranjada. Ainda que nela poucos trabalhos de aparelhamento houvesse a fazer. Mas o lavrador lá sabia as linhas com que cosia o seu pobre coração solitário.
- As pessoas às vezes mudam.
- Sim, Brites nunca ligou muito a coisas de paixão, mas agora está diferente.
- Lá isso é verdade...
O lavrador acabou por pedir a mão à padeira, durante um dos passeios. E sem que as gaivotas percebessem a conversa, os dois desapareceram a correr para o meio de uns arbustos.
- Para onde será que vão tão apressadas aquelas criaturas?
- Sabe-se lá, até a gente as perde de vista!
- Sim, no meio daqueles matos, quem é que pode ver o que está a acontecer?!
»»» Cap. XIV
Brites manteve a padaria, pois não era mulher para viver às custas do marido, por mais rico lavrador que ele fosse. E as gaivotas foram observando a nova família. Finalmente, a padeira parecia andar em paz.
- Só que a paz, até uma gaivota o sabe, nunca dura muito.
De repente, assim sem mais nem menos, apareceu nas redondezas D. João, mais o condestável D. Nuno Álvares Pereira, os dois à frente do exército de Portugal.
- Será que vêm todos para prender Brites?
- Não, nada disso! Não vês lá adiante, bem ao longe, o exército de Castela?!
- Ah, aqueles artolas são os castelhanos!
- Sim, devem vir à conquista de Portugal.
- Trazem o Saramago ou esqueceram-se dele?
- Esse não vejo… Na volta vem disfarçado….
Brites recebeu o melhor que pôde D. João e o condestável.
- Quanta honra tê-los em minhas terras, senhores!
Só não os convidou para entrarem porque eram muitos, à volta de seis mil e quinhentos, contando com o exército inteiro.
- Nem todos podem ter palácios grandes.
- Sim, os pobres cometem sempre estas indelicadezas.
- Mas Deus não há-de levar a mal.
- Qual?! O deles ou o das gaivotas.
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