quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010

Para todos visitantes deste blog, um excelente 2010, o ano de «O Sorriso Enigmático do Javali».
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A velha oliveira

O jornal «Sol» publicou na semana passada uma reportagem sobre árvores antigas de Portugal. Ficou de fora esta oliveira aqui de casa, provavelmente com um bocadinho de injustiça.
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Revista «human» de Janeiro

(clicar na imagem para aumentar)
Nas bancas a partir de hoje. É o número 13, de Janeiro de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Um novo ano
Começamos com este número da «human» um novo ano, o segundo do projecto editorial da Just Media para o universo dos recursos humanos e da gestão. E começamos regressando ao alinhamento habitual, depois de em Dezembro passado termos feito a nossa edição especial de 2009. Nesse alinhamento, contudo, introduzimos duas novidades, uma coluna de opinião sobre o tema do coaching (inaugurada por Ana Karina Milheiros, que preside a uma associação de profissionais da área) e uma secção sobre responsabilidade social (em que o primeiro artigo apresenta o exemplo do Grupo Luís Simões, com um projecto que visa reduzir o impacto ambiental da sua frota de camiões).
Uma curiosidade: o tema de capa (como uma empresa procura envolver os seus colaboradores, no caso a Vodafone Portugal), no arranque deste novo ano tem algumas semelhanças com a escolha que fizemos no início de 2009, no lançamento do projecto da «human»; na altura, destacámos também uma instituição de referência, o Banco Santander Totta, e o enfoque foi na valorização das pessoas, algo que nos pareceu ser aí uma realidade. Outra curiosidade: para ambos os casos entrevistámos a responsável pelos recursos humanos, agora Cecília João Bom, há 12 meses Isabel Viegas (duas das mais prestigiadas profissionais da área no nosso país); isto para além de também em ambos os casos termos tido a colaboração dos respectivos presidentes, Nuno Amado e António Coimbra.
Não se fica obviamente por aqui a edição. Liderança (com uma reportagem sobre o que nesse campo se pode aprender com os cavalos), recrutamento e selecção (com as perspectivas de especialistas sobre a actividade este ano) ou a forma como as empresas podem ajudar os colaboradores a realizar os seus sonhos (com um caso bem feliz, da Altitude Software) são alguns exemplos dos trabalhos que preparámos. Mas há outros, para que este possa ser um mês de boas leituras.
Votos de um excelente 2010!

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O pequeno construtor de searas

E a cada final de ano, quando se aproximava o Natal, quando começava a construir searas, ele pensava no que fazer para que os outros dois reis aparecessem.
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Houve um tempo em que ele construía searas. Na casa da tia, em Novembro, logo em fins de Novembro. Usava latinhas de conserva, sem o papel à volta com a marca, sem que depois se percebesse que vinham de acondicionar filetes de cavala, ou lulas, ou sardinhas, ou carapaus, ou até bocados de atum. Punha água e trigo nas latinhas anónimas e esperava que as searas crescessem, dia após dia, para que no Natal pudesse tê-las no presépio, os verdes campos de trigo, bem viçosos, já com as latinhas escondidas pelo musgo apanhado nas pedras do cerro por cima da fazenda.
Nunca falhou com uma seara, uma só que fosse. A cada ano dos natais em que construiu searas para representar no presépio os campos de cultivo, nunca falhou. Punha-as sempre à beira do caminho, do risco de areia que arranjava em cima do musgo desde os ladrilhos da sala até à cabana onde colocava o menino, a mãe e o carpinteiro que estava casado com ela. A cabana da estrela de prata de chocolate, do burro cinzento e da vaca cor-de-laranja com um dos chifres partidos.
Ele usava as figuras que já vinham do tempo da avó. O menino, do mesmo tamanho da mãe, do carpinteiro, do burro e da vaca cor-de-laranja, cinco ou seis ovelhas, um músico de Viena, dois patos e um rei solitário, negro, bem negro, sempre montado num camelo a meio caminho entre os ladrilhos e a cabana, todos do tamanho do menino.
Na igreja da vila, no presépio que o prior mandava fazer todos os anos, havia tantas outras figuras, até um pastor para as ovelhas, como o que depois ele conseguiu comprar na loja onde se entregava o totobola. Um pastor para as ovelhas, de capote amarelo e com um ar tão novo entre as figuras do presépio que ele fazia na casa da tia; foi o pastor que acabou por ser a única novidade em tantos anos no presépio das searas. Mas o presépio da igreja... Aí havia pontes, todas do tamanho do menino e das ovelhas, e castelos, também do tamanho do menino e das ovelhas, e do carpinteiro e da mãe do menino. E poços, desse tamanho também, e fontes, e camponeses, e os três reis magos, e cães, e cavalos, e carros-de-besta (com as bestas), todos do tamanho do menino. Na igreja da vila.
Todas essas figuras, ou umas parecidas, os poços, os camponeses, os cães, os carros-de-besta, os castelos, uma ponte, pelo menos uma, todas ele desejava ter para colocar no presépio da casa da tia. Mas apenas conseguiu o pastor. O rei negro ficava sozinho a meio do risco de areia que levava à cabana do menino, ano após ano. E era apenas disso que ele tinha vergonha, de ter um viajante de terras longínquas sem os dois companheiros de visita, como no presépio da igreja da vila. E a cada final de ano, quando se aproximava o Natal, quando começava a construir searas, ele pensava no que fazer para que os outros dois reis aparecessem. Mas nunca apareceram, nunca, em nenhuma das vezes em que foi buscar a velha caixa de sapatos com as figuras embrulhadas em papel vegetal.
Um dia, na cidade, viu uns presépios diferentes, apenas com o menino, a mãe e o carpinteiro que era o marido da mãe do menino. Nem a cabana aparecia nesses presépios, e do burro e da vaca nem sinal. Só uma caminha de palha para o menino. Nem a estrela que indicava a direcção do menino. Talvez por isso não aparecesse ninguém de visita, nem ovelhas, nesses presépios, talvez por falta da estrela. Foi o que ele pensou, mas aí já não era uma criança; e tinha havia muito tempo deixado de construir searas.
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A primeira frase (7)

«Promessas de que não haveria de ficar atrapalhado, isso tinha o jovem escritor feito muitas.»
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Primeira frase do livro de contos «O Amor por Entre os Dedos» (e do conto que dá o título ao livro).
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Esperar por 2010

O Sporting na Figueira da Foz – Naval 0, Sporting 1 (Saleiro). Por este ano chega de comentários. Vamos esperar que 2010 possa ser completamente diferente (não sei como, mas vamos esperar).
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Nas Canárias

Uma antologia, em castelhano, com autores portugueses e das Canárias, da editora Baile del Sol. Chama-se «De la Saudade a la Magua». Além de mim, participam A. M. Pires Cabral, Maria do Rosário Pedreira, Fernando Esteves Pinto, Filomena Marona Beja, Gonçalo M. Tavares, José Carlos Barros, Lídia Jorge, Miguel Real, Maria Antonieta Preto, Paulo Bandeira Faria, Paulo Kellerman, Rui Costa, José Rivero Vivas, Eduvigis Hernández Cabrera, Anelio Rodríguez Concepción, José Manuel Hernández, Gabriel Cruz, Víctor Ramírez, Roberto Cabrera, Quintín Alonso Méndez, Javier Hernández Velázquez, José Manuel Brito, Eduardo Delgado Montelongo, Alicia Llarena, Agustín Díaz Pacheco. Coordenação de Agustín Díaz Pacheco e Fernando Esteves Pinto. Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho. O que eu escrevi começa assim: «Junto a la alambrada de la Hacienda del Convento, muy cerca de donde liberó los pinchos del alambre de espino del cuerpo de una garza…»
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

António Souto – Crónica (19)

Um poema de presente
Em Dezembro todos os gestos têm um sentido diferente. Todos os gestos passam a significar mais, tocam mais no coração da gente: ou porque nos ferem mais, ou porque nos seduzem mais.
A cultura do Natal, entre nós, fala mais alto, e o frio que enregela os corpos por fora arroga-se o milagre de os aquecer por dentro. Quando há coração nos corpos da gente. Quando há pessoas ainda por dentro dos corpos da gente.
Na azáfama das compras, compra-se de tudo, compra-se tudo, compra-se o Natal inteiro e o que sobra dele. O Natal para nós e as sobras para os outros, quando os outros se confundem com os restos e já não têm direito a compras.
No alvoroço natalício, a gente derrete-se de bondade, a gente desbarata-se de generosidade, a gente desfigura-se. A gente enche-se de pessoas com coração dentro.
Em Dezembro todos os gestos têm um sentido diferente. Todos os gestos sabem a prendas. E as prendas são bem oferecidas ou mal oferecidas, são bem acolhidas ou mal acolhidas. Todas as prendas são os gestos que vão dentro delas. São os laços de intenções amarrados por dentro e que se desapertam com o deslumbramento da primeira vez. Por isso todas as prendas devem prender quando são prendas. Mas nem todas as prendas prendem, nem todas as prendas têm nós nos laços.
Porque o Natal não se compra, nem se compram os dezembros, nem se compram as pessoas, nem se compram os corações, nem se compram os gestos.
Na azáfama das compras só se compra o que tem preço. E o que tem preço não tem valor.
Em Dezembro o Natal dá-se de presente, como um poema que se libertou do dono.
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Não digo do Natal – digo da nata/ do tempo que se coalha com o frio/ e nos fica branquíssima e exacta/ nas mãos que não sabem de que cio
nasceu esta semente; mas que invade/ esses tempos relíquidos e pardos/ e faz assim que o coração se agrade/ de terrenos de pedras e de cardos
por Dezembros cobertos. Só então/ é que descobre dias de brancura/ esta nova pupila, outra visão,
e as cores da terra são feroz loucura/ moídas numa só, e feitas pão/ com que a vida resiste, e anda, e dura.
(Pedro Tamen)
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Crónica de Dezembro de 2009 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18.
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O sportinguismo feliz das derrotas

Há já não sei quantos dias que foi o jogo do Sporting em Berlim (Hertha Berlim 1, Sporting 0), para a Liga Europa, mas só agora ponho aqui alguma coisa. Por razões de trabalho não consegui ver o jogo. Soube depois que foi uma espécie de tragédia, com mediocridade de um lado e do outro, com a diferença de que os alemães foram um golo menos medíocres do que o Sporting. O espanto, para mim, veio depois, quando comecei a ouvir jogadores e treinador a falarem de ter sido tudo muito bom, positivo, encorajador e por aí adiante. Nem queria acreditar. Lembrei-me logo do síndroma Ferreira da Silva, cuja origem remonta ao triste dia da goleada do Barcelona ao Sporting em Alvalade (cinco a dois), quando Ernesto Ferreira da Silva se saiu com o comentário de que perder por cinco a dois em casa com o Barcelona era um resultado aceitável (talvez tenha dito depois, na altura dos doze a um do Bayern em dois jogos, que foram umas escorregadelas, ou algo assim, e talvez agora a derrota por um a zero em Berlim lhe tenha parecido tipo uma vitória na final da Liga dos Campeões por grandes penalidades). É incompreensível este sportinguismo feliz das derrotas (e das goleadas), absolutamente incompreensível, mas a verdade é que os comentários após o jogo de Berlim deram-me a ideia de que o síndroma Ferreira da Silva está mesmo a propagar-se.
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um livro

Passei pela editora ontem e ofereceram-me. A primeira coisa que ensina é a «cozinhar um bife e fazê-lo parecer uma obra-prima». Percorrendo as páginas ao acaso fiquei a saber que ensina também a «fingir que [se] gosta de dançar», «fazer anéis de fumo com o cigarro», «pagar a conta do restaurante», «falar com ex-namoradas», «reconhecer seios naturais», «fumar marijuana», «denegrir um rival», «comprar flores para oferecer a uma senhora», «falar de assuntos de sociedade» ou «guiar uma retroescavadora». Se descobrir lá qualquer coisa sobre como gerir um clube de futebol (ou, vá lá, a porcaria de uma sade…), talvez compre um exemplar para mandar pelo correio ao cuidado do senhor ali de baixo.
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O presidente mais distante

Enquanto o Sporting se afunda, José Eduardo Bettencourt passeia lá bem longe, em Nova Iorque. Parece tranquilo. Com as dezenas de milhares de euros que leva todos os meses (sem apresentar resultados), não é de admirar.
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Foto: Pedro Simões (Record)
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Mais um excerto

Mais um excerto de «O Sorriso Enigmático do Javali».
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O pai do pequeno Tuki estava a pensar nisso, nos anões da escritora espanhola, de repente transformados em gigantes e a terem uns braços capazes de envolver o tronco de uma oliveira que de certeza estava ali havia séculos. Com buracos, fendas, recantos, aquilo nem era bem um tronco, era uma enorme massa de madeira com muitas, muitas histórias, de certeza. Podia dizer isso ao filho, começar a falar do tronco, de coisas a que ele, tronco, talvez tivesse assistido, das pessoas que por perto teriam estado, de quem o teria limpado ao longo dos anos como agora estava a fazer. Ia mesmo falar disso ao filho, que continuava junto da fogueira a puxar o pasto com o ancinho. Ia-lhe dizer, mas algo o impediu de fazê-lo. Não foi uma lembrança, uma coisa diferente em que pensar, talvez em que falar. Não, não foi isso.
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domingo, 13 de dezembro de 2009

Aos poucos, José Eduardo Bettencourt está a acabar com o Sporting

Aos poucos, José Eduardo Bettencourt está a acabar com o Sporting. O jogo de ontem ao fim da tarde, com o Leiria (Sporting 0, Leiria 1), foi mais uma prova disso. Todo o futebol do clube tem sido pensado e gerido de forma desleixada, incompetente e até, arriscaria a dizer, muito pouco sportinguista.
Já se sabia que esta derrota poderia acontecer, porque com o actual estado de coisas a derrota pode surgir em qualquer jogo. Dá-me a ideia de que Carlos Carvalhal ainda não percebeu naquilo em que se foi meter; nem com a gente que se deixou misturar. Pelo meio, tenta mudar algumas coisas, mas com um plantel feito tendo como inspiração o desleixo e como foco o desinteresse, nunca pode mudar tanto como seria desejável. Se bem que talvez já tivesse sido altura de pôr outro guarda-redes (Rui Patrício hoje apesar de só ter sofrido um golo deu dois frangos, o golo propriamente dito e a bola que bateu na barra), de arranjar um júnior qualquer para o lugar de Caneira (que parece apostado em recuperar) e de ter posto definitivamente de lado o medíocre Polga. E outra coisa: eu que tenho muita consideração por Carlos Carvalhal, fiquei espantado com as declarações que fez no final do jogo, das oportunidades perdidas, do domínio exercido e por aí adiante; ele deve ter visto outro jogo, porque as oportunidades não foram tantas como isso e o Leiria ainda por cima foi prejudicado porque anularam-lhe um golo legal, que deixaria o resultado em dois a zero.
Se houvesse uma época de reabertura de mercado para presidentes, talvez se pudesse pensar em construir alguma coisa no Sporting. Infelizmente não há, daí que nos reste ir pagando mês a mês um dinheirão a José Eduardo Bettencourt para ele, também mês a mês, ir acabando com o clube. Ao menos que acabasse com a sade…
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sábado, 12 de dezembro de 2009

A primeira frase (6)

«Há dezoito anos, talvez dezanove, fugi.»
Primeira frase do romance «O Medo Longe de Ti».
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Enfim...

O fim da semana a chegar, o Sporting jogou na segunda-feira – Setúbal 0, Sporting 2 (Liedson 2) – e eu nem escrevi nada. Lembro-me de que no segundo golo (uma situação patética) disse para comigo que o miserável Caicedo de certeza que haveria de falhar, se estivesse no lugar de Liedson. Enfim…
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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dois guardas

Ontem, aqui à porta de casa, o Sol e o Lito, de guarda.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Uma apresentação

Ascenso Simões, secretário de Estado do anterior governo de José Sócrates, publica na última edição do «Expresso» um artigo não me lembro agora sobre o quê. O jornal apresenta-o como «dirigente nacional socialista».
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domingo, 6 de dezembro de 2009

António Souto – Crónica (18)

Crises de crença
1)
Como se diz numa linguagem de rés-do-chão, a coisa está preta. A crise veio e instalou-se, embora haja por vezes um ou outro Pangloss que afirme que ela está de partida ou que até já se foi. Mas a gente sabe que ela anda por aí, como a gripe A1N1, e que faz ou pode fazer estragos, aos outros ou a nós, e o que mais nos aflige é não sabermos se a vacina actua ou não, se chega ou não para todos. Com a crise galopa o desemprego, sem freio, por todos os montes e vales, campos e cidades do país, e dos que passam por ele, pelo desemprego, quase 250 mil não acedem, porque não podem, a contas bancárias – cerca de 30% deles porque cometeu alguma infracção, os restantes 70%, dizem-nos, porque não têm rendimentos que permitam quaisquer movimentos. São parcos os euros para justificarem a ilusão de um cartão de crédito na carteira, sequer um de débito, e os poucos que lhes passam pelos bolsos matam-lhes a dignidade, dizem-lhes que não são gente, ou que não passam disso mesmo, de gente de indigentes numa pátria do norte, rica e desenvolvida. E parte deste povo que há pouco partiu, volta a partir, ainda mais para norte, onde a crise é menos crise e as pessoas ainda são pessoas para além de gente. A pena que me faz, agora que se evoca Ary dos Santos, não haver quem cante este infortúnio, não haver vozes que se indignem.
2) O tecido produtivo (fica bem de vez em quando falar como quem fala bem) está abalado, isto é, como todos os outros, em crise. Crêem os entendidos que o problema reside sobretudo nas pequenas e médias empresas (PME, também para impressionar), que é quem mais produz e anima o mercado (mais uma expressão a mais), que estão em sufoco e que o estado as não apoia como seria sua obrigação, que não rendem como podiam e que por isso as exportações não cobrem as importações. Cá para mim estou em crer que andamos todos às avessas – para que havemos de impulsionar (mais um palavrão bonito e à la mode) a indústria se somos é mesmo bons no comércio, na charlatanice, sempre fomos, de resto, desde que vencemos Baco nos idos de quinhentos. O que a gente gosta é de negociar e de negócios, seja com quem for e venha quem vier. Não espanta, portanto, que apesar da crise haja alguns (negócios) que vão de vento em popa, principalmente daqueles de encher o olho, daqueles de fausto mercado, como carros de alta gama, roupa de alta-costura, jóias de alto valor. Pelo menos a fazer fé nos registos que nos asseveram que o mercado de luxo está em alta e, pasme-se, que cerca de 30% desse mercado se faz com cidadãos angolanos. É tudo questão de regressar às origens, de descobrir novas índias e de nos convertermos em mercadores de um novo tempo.
3) A crise é crise. Financeira, de estímulo ou de fé. A todo o momento pode ela chegar à porta de um qualquer insuspeito e entrar, sem bater, e instalar-se no seu bolso ou no seu coração. Pelos vistos, ninguém lhe é imune, nem mesmo quem por vocação se apartou dos bens terrenos poderá dar graças a Deus por estar a salvo. Soube-se há pouco que um padre, jovem ainda, tendo esperado pacientemente que a sua amada atingisse os dezoito anos, fugiu depois com ela das bandas de Celorico (de Basto) para parte incerta. Os pais da moçoila não assentiam com estes desatinos de eros, mas ela sim, que era para além de vacinada já maior, e a crise, a haver, seria a do seu abençoado amador.
4) Tomara que fossem todas as crises como esta, de crença!
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Crónica de Novembro de 2009 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17.
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sábado, 5 de dezembro de 2009

O Sporting, a escrita, o sorriso da Mona Lisa, o sorriso de um javali

Desta vez não vi o jogo – Sporting 1 (Grimi), Heerenveen 1. Já há uns tempos tinha recebido um convite para ir a uma das sessões do curso de escrita criativa de José Couto Nogueira no El Corte Inglés, em Lisboa. O dia marcado era três de Dezembro, e então lá perdi o jogo. Pelo que soube depois, não devo ter perdido grande coisa.
Cheguei à sala do curso às oito, a hora marcada, cinco minutos antes de o jogo começar em Alvalade (jogo às oito e cinco, tipo superstição). Encontrei a porta fechada, o que me deixou um bocado surpreendido. Abri a porta, pensando que o mais certo era ainda ninguém ter chegado, e para minha surpresa dei com a sala cheia de gente (umas sessenta ou setenta pessoas). Era o curso, que – como me explicaram depois – decorria das sete às nove (primeira hora lá com as matérias deles, segunda eu a falar dos meus livros, do que escrevia, e a responder a perguntas).
Acabou por ser muito divertido. Contei as minhas coisas dos livros e da escrita, dei por mim a rir montes de vezes e com as pessoas também a rirem, e interessadas, participativas. Ou seja, correu bastante bem. A pergunta que me deixou mais atrapalhado foi a de uma participante que queria saber se o livro que acabo de terminar, «O Sorriso Enigmático do Javali», tinha alguma coisa a ver com a Mona Lisa e o seu sorriso (seu, já se vê, da Mona Lisa). Não tinha, ou melhor, não tem. Se tivesse até seria fácil a resposta, assim lá tive de explicar o sorriso do javali. Expliquei, e como bónus contei a história que me levou a escrever o livro… Um dia de manhã, bem cedo, eu de regresso a casa depois de uma directa a trabalhar, e no meio do montado aqui à volta cinco javalis numa correria maluca, talvez para ver se não eram apanhados de dia fora dos esconderijos. Um deles acabou por ir contra um sobreiro e ficou a dormir. Quando me aproximei, esse javali parecia sorrir, de forma enigmática. E mais não conto aqui. No curso contei um bocadinho mais.
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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O desequilibrista

«Tirando este desequilíbrio, o Benfica tem um plantel mais ou menos equilibrado.»
Jorge Baptista, comentador da SIC (referindo-se a problemas na defesa do Benfica, no comentário ao último jogo europeu)
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Revista «human» de Dezembro

(clicar na imagem para aumentar)
Nas bancas a partir de hoje. É a edição Premium, que assinala o primeiro aniversário do projecto. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Um ano
Com este número 12, a revista «human» completa o primeiro ano de vida. Fazendo parte de um projecto mais vasto para o mundo dos recursos humanos e da gestão, é agora uma aposta ganha, por tudo aquilo que ao longo de 2009 fomos construindo; nós próprios – as pessoas mais directamente ligadas ao projecto –, mas também tantas outras pessoas, dos mais variados quadrantes. O que sentimos, mês após mês, foi um permanente apoio, e é esse apoio que agora agradecemos. Leitores, anunciantes, colaboradores, assinantes, parceiros, tanta gente que nos tem ajudado a levar em frente este projecto, sempre com uma enorme naturalidade.
Este número é especial. A nossa edição «Premium» do nosso primeiro ano. Saindo do alinhamento habitual, o que apresentamos são 36 perspectivas portuguesas sobre a gestão das pessoas nas organizações, que dividimos em diversas áreas. Não se trata de uma escolha exaustiva, procurando abarcar todas as áreas que possam incluir-se num campo tão vasto como o da gestão das pessoas. Escolhemos apenas algumas, às quais pela sua importância fomos dando atenção ao longo do ano. São as seguintes: Consultoria, Recrutamento e Selecção, Formação, Coaching, Trabalho Temporário, Tecnologias de Informação, Saúde e Segurança no Trabalho e ainda Planos de Pensões. No caso das últimas duas, aparecem juntas, com uma abertura única, pelo facto de publicarmos apenas dois contributos para cada, e também por alguma ligação que vemos entre ambas; ou melhor, entre a ideia de prevenção das condições em que o trabalho é desenvolvido e a ideia de prevenir o futuro (no sentido de assegurar que na reforma as pessoas possam ter condições financeiras que lhes permitam manter o nível de vida conhecido ao longo da sua carreira profissional).
Na edição de Janeiro, voltaremos ao formato habitual.
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