sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Revista «human» de Fevereiro

(clicar na imagem para aumentar)
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Nas bancas a partir de hoje. É o número 14, de Fevereiro de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Responsabilidade social
Desde o início deste projecto que a responsabilidade social das organizações tem vindo a suscitar a nossa atenção. Ao longo dos primeiros números da «human», várias foram as empresas – assim como outras instituições – às quais dedicámos trabalhos de alguma forma relativos a este tema. Com plena justificação, acreditamos. Essa convicção foi sempre tão forte que para 2010 resolvemos que a responsabilidade social teria na revista ainda maior destaque, com a sua própria secção. Na primeira edição do ano, abrimos essa secção com um caso do Grupo Luís Simões, escolhido de entre vários que identificámos. Desta vez, a nossa escolha recaiu sobre a IKEA, nomeadamente sobre a sua presença no nosso país e sobre aquilo que são as grandes linhas orientadoras da sua responsabilidade social, perante os próprios colaboradores e também perante a comunidade.
É a responsabilidade social na IKEA que faz a nossa capa deste mês de Fevereiro, com a directora de recursos humanos da empresa em Portugal, Catarina Tendeiro. Quando no dia-a-dia, tantas vezes, nos confrontamos com instituições que têm práticas que mostram um alheamento da sociedade, até das suas próprias pessoas, ou com instituições absolutamente irresponsáveis em termos sociais, é bom ver casos como este da multinacional sueca, que vale mesmo a pena conhecer.
Depois, os outros temas da edição, que é marcada sobretudo pela diversidade. O empreendedorismo, com uma entrevista ao responsável por um projecto extremamente mobilizador da autarquia de Cascais; o coaching, com diversas perspectivas de especialistas, portugueses e de outros países, sobre os caminhos que está a seguir; os softwares de gestão de recursos humanos, ilustrados com casos concretos de aplicação em empresas e noutro tipo de instituições; o «dia na empresa», desta vez com a visita a um atelier de arquitectura criado por quatro jovens de carreiras bem promissoras. Além das secções habituais, dos espaços de opinião que mês a mês apresentamos. Uma edição que gostámos verdadeiramente de fazer.
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Angola, por José Eduardo Agualusa

Notável artigo de José Eduardo Agualusa sobre Angola, hoje no jornal «i».
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«José Eduardo dos Santos decidiu fazer-se eleger pelo parlamento, por mais cinco anos, por mais dez anos, troçando da democracia, por uma razão muito simples: porque pode. Porque já nem sequer precisa de fingir que acredita nas virtudes do sistema democrático. Enquanto Angola der dinheiro a ganhar, aos de fora e aos de dentro, e mais aos de fora [do] que aos de dentro, como sempre aconteceu, ninguém o incomodará. Para isso, para que Angola continue a dar dinheiro, exige-se alguma estabilidade social, sim, mas não democracia. Democracia é um luxo.»


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domingo, 24 de janeiro de 2010

A referência e uma nódoa para esquecer

Trofense 0, Sporting 1 (Liedson) , terceiro e último jogo da fase de grupos da Taça da Liga 2009/ 2010
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Um jogo especial, por ser o que se seguia à pouca vergonha da passada quarta-feira à noite. Uma vitória tranquila, com um golo de Liedson, que é e será sempre uma referência do Sporting. Quanto a Sá Pinto, resta fazer de conta que nunca passou pelo clube – apenas fazer de conta, porque a verdade é que a sua passagem não se apaga; ficará para sempre como uma nódoa na história do Sporting, não só pelo comportamento indigno que teve a seguir ao jogo de quarta-feira, mas também por tantas outras poucas vergonhas de que foi protagonista.
José Eduardo Bettencourt devia ter reflectido um bocadinho aquando da nomeação de Sá Pinto como director desportivo do clube, para ver se percebia a enormidade do que estava a fazer, algo comparável, por exemplo, a Jorge Nuno Pinto da Costa nomear Fernando Madureira, o líder da claque Super Dragões, para director desportivo do Futebol Clube do Porto. Infelizmente não reflectiu, coisa que já começa a tornar-se um hábito.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Recordar o «DN Jovem»

Uma sessão sobre o «DN Jovem», o suplemento do «Diário de Notícias» em que participei de 1988 a 1993, na época em que andava na faculdade. Foi no passado dia 14, no Liceu Camões, em Lisboa, no âmbito das comemorações dos cem anos da instituição. Seis antigos colaboradores do «DN Jovem» na mesa: Luís Graça, José Carlos Barros, Helena de Sousa Freitas, António Souto (professor no Liceu Camões e organizador da sessão), Rita Taborda Duarte e eu. Não se vê na foto, mas o auditório estava praticamente cheio, de estudantes e professores.
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António Souto – Crónica (20)

Desconsolos
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Que raio, estas coisas mexem
com a gente, assim tanto dinheiro
à solta há-de vir de algum lado,
ou há-de faltar nalgum outro.
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Ando desconsolado com a pátria. Alguma coisa não corre bem nesta herança de Henriques o conquistador.
No «mercado de inverno», isto na gíria do desporto, duas equipas portuguesas, apenas duas, espante-se, gastaram em contratações mais de dezassete milhões de euros. O Benfica e o Sporting, num afã de renovar o plantel, não olharam a meios, abriram os cordões à bolsa e venham daí as grandes estrelas do esférico. Diz o presidente do Porto que para já a equipa está bem, que o treinador se sente confortável, que para aquelas bandas não há petróleo. Quer dizer, disse, que acabou agora mesmo de comprar sessenta por cento de um passe por três milhões de euros, e ainda a procissão vai no adro. Que raio, estas coisas mexem com a gente, assim tanto dinheiro à solta há-de vir de algum lado, ou há-de faltar nalgum outro.
Ainda há uns anos, não há muitos, a Segurança Social e o fisco se queixavam das dívidas dos clubes, clubes que pediam desculpa pelos atrasos nos compromissos, clubes que suplicavam por um perdão, por um qualquer santo, por um mateus que veio e perdoou e reduziu as dívidas e os compromissos.
E no entanto o dinheiro sobrava e milagrosamente se multiplicava e continua multiplicando.
E no entanto o dinheiro continua a faltar para uns compromissos e a sobejar para outros.
E os incumprimentos, coisa natural, vão para a justiça, que é lá sempre o seu lugar, que enquanto o pau vai e vem folgam as costas.
E a liga e a federação, sábias na arte de jogar e de driblar, de recurso em recurso, de instância em instância, folgam também agora de alívio pelo milagre das prescrições.
No «mercado de inverno», as faltas não se assinalam nem comprometem a partida. Fiquem tranquilos os adeptos e conformados os contribuintes que quando o desafio acabar de vez, se acabar, não será por faltas, mas por excessos delas, de transgressões, descomedimentos, como o de se mandarem fazer a esmo campos relvados e esmeradas bancadas em nome de um desenfado europeu, quase desígnio.
As câmaras de muitos municípios pugnaram na altura pela grandeza da polis, pela imagem de marca, pela abastança das receitas. E criaram-se empresas municipais para gerir estes enormes complexos, mais complexos do que então se previa.
Hoje, é ver Coimbra e Faro andarem às aranhas com os seus muito seus estádios, poços sem fundo de despesas insuportáveis. Este último, sem gerar quaisquer proventos (e com juros e amortizações de cinco mil euros por dia, custos de manutenção na ordem dos seiscentos euros por dia, despesas com pessoal de cerca de meio milhão de euros por ano), vê-se na eminência de «dispensar» funcionários a breve trecho.
E também é ver Leiria, hoje, a querer livrar-se do seu a qualquer preço.
E o mesmo com Aveiro, hoje também, a imaginá-lo já em escombros.
No «mercado de inverno» parece não haver lugar a conquistas, nem a crises, nem a vergonhas.
Ando desconsolado com a pátria. Alguma coisa não corre bem nesta herança de Diniz o lavrador.
Já o chão queimado perdeu o cheiro a cinza, e na terra despida não há lugar a lavouras, nem a cultivos, nem a nada. As raízes de antanho tornaram-se lendárias e as novas tardam em medrar. Dizem que há projectos e que há dinheiro e que há vontades e um enorme parque florestal ansioso por se ver renovado. E há viveiros apinhados de arvorezinhas prontas a adolescer. Mas não há quem as compre, que falham os fundos abonados pelo Estado e pela Europa. Os fundos existem, é certo, como as pequeninas árvores, mas a burocracia impede-os de serem aplicados em devido tempo, em tempo de vida, e por isso elas morrem, matam-se, destroem-se às centenas, aos milhares (entre elas sobreiros), porque nos viveiros não podem ficar para além de um ano, e normas são normas. A florestação que espere, insignificâncias, que o dinheiro é muito e há-de sobrar sempre, e não pode arder mais o que não existe.
Ando desconsolado com a pátria. Um bocadinho arreliado, só isso.
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Crónica de Janeiro de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19.
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Nos golos, mas também noutras coisas, Liedson resolve

Leiria 1, Sporting 2 (João Pereira, Miguel Veloso) , segundo jogo da fase de grupos da Taça da Liga 2009/ 2010
Sporting 3 (Miguel Veloso, Liedson 2), Nacional 2, décima sexta jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
Sporting 4 (Matías Fernández, Daniel Carriço, Saleiro, Yannick,), Mafra 3, oitavos de final da Taça de Portugal 2009/ 2010
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Pouco tempo para escrever aqui, de forma que já se acumularam três jogos do Sporting sem eu dizer nada sobre eles. Lembro-me, é claro, de algumas coisas: por exemplo, a sonolência do jogo de Leiria (embora com resultado positivo) ou o jogo de certa forma empolgante com o Nacional, pelo regresso de Liedson (e pelos seus golos) e também pela presença em Alvalade de Ruben Micael (ainda sem se saber que ia para o Porto, desconfio que uma vez mais pela incapacidade de alguns dirigentes do Sporting para os cargos que ocupam). Quanto ao jogo de ontem, com o Mafra, dois factos bem positivos, a passagem à eliminatória seguinte e a confusão que colocou Sá Pinto (uma escolha absolutamente despropositada de José Eduardo Bettencourt) fora da estrutura do futebol do Sporting; até aqui, na correcção de aberrações de gestão, se pode dizer que Liedson resolve.
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sábado, 16 de janeiro de 2010

Há muito tempo


Descobri há pouco esta foto, publicada pela Isabel e tirada no dia 28 de Novembro de 2002. Foi na apresentação do livro «As Segundas Palavras da Tribo», no B.Leza, em Lisboa, com centenas de pessoas a assistirem.
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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O grande negócio

O grande negócio do TGV vai ser daqui a alguns anos, quando uma das empresas do senhor Manuel Godinho for desmantelar as linhas.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Uma bola pequena

«Acabou por descer do escadote, depois de ter deixado a lâmpada na posição inicial. Foi arrumá-lo na arrecadação. E quando saiu é que reparou. Só aí, depois daquela labuta toda. Junto ao tronco de uma oliveira, a que ficava mais perto da porta de casa. Uma bola pequena, talvez do tamanho dos seus dois punhos fechados se os juntasse. Com a luz dava para perceber a cor, cinzento acastanhado. Fez-lhe lembrar uma bola daquelas contra o stress, mas ao mesmo tempo percebeu que isso era só a imagem que tinha, que o contacto com ela seria bem diferente.»
Excerto de «O Sorriso Enigmático do Javali»
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

É ficar a ver…

Sporting 1 (Tonel), Leixões 0, décima quinta jornada do campeonato nacional.
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Agora que já não lutamos para nada as coisas começam a estar um bocadinho melhores. Demasiado tarde. É ficar a ver se algum cataclismo deixa os outros mal para nós nos aproximarmos. Ter dirigentes incompetentes e desleixados dá nestas dependências.
Sobre o jogo propriamente dito, algumas notas:
- o golo de Tonel, importante por ter significado a vitória e importante por ajudar a consolidar de novo na equipa um jogador com valor e que marca golos, e por ajudar a consolidar fora da equipa uma das mais incompreensíveis aberrações que o futebol do Sporting conheceu nos últimos anos (Polga);
- tal como está a fazer com Polga, Carvalhal parece estar a afastar o medíocre Caneira das opções para jogar, o que é uma excelente notícia;
- João Pereira fez o que se esperava, uma boa exibição, condizente com o seu valor, mas sem conseguir refrear uma certa tendência para o jogo violento;
- Pongolle, não sei, vê-se que não é nenhum susto tipo os puroviques e os caicedos que custa a acreditar que alguma vez alguém no seu perfeito juízo tenha contratado, mas o melhor é esperar para ver (nem quero pensar no que poderia ter significado um golo na própria baliza na cabeçada de Pongolle salva por Rui Patrício, seis milhões e meio de euros por um avançado para levar com um auto-golo ao fim de alguns minutos haveria de ser um caso único);
- Rui Patrício, em quem não confio lá muito para a baliza do Sporting, desta vez esteve bem.
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domingo, 10 de janeiro de 2010

Primeiras respostas

Coloco a seguir as respostas que dei às primeiras perguntas colocados no «formspring», aqui.
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Diga três dos seus escritores preferidos?
Esta é fácil. Santiago Gamboa, Javier Cercas e Roberto Ampuero. Mas há uns bons anos teria certamente respondido Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Camilo José Cela.
Que livro anda a ler? (Luísa Duarte)
«A Ignorância do Sangue», de Robert Wilson (o quarto e último volume da saga do inspector sevilhano Javier Falcón).
Sérgio Figueira - Além de escritor, sei que também é jornalista. Quem foi a primeira pessoa que entrevistou?
Um antigo presidente do Sporting chamado José Sousa Cintra.
Acha mesmo que o presidente do seu clube é «incompetente» e «desleixado», como tem escrito no seu blog?
Pelo que tenho visto desde que foi eleito, acho que é.
Quem é o narrador do romance UMA NOITE COM O FOGO?
A mesma pessoa que o escreveu, e a mesma pessoa que viveu os acontecimentos, há meia dúzia de anos.
O que sente quando falam mal dos seus livros?
Depende de quem fala; nuns casos fico triste, noutros estou-me nas tintas, noutros até fico contente.
Tem algum tique literário que se note mais? JAP
Talvez eu não seja a pessoa mais indicada para responder, de qualquer maneira arrisco a dizer que é usar a expressão «na volta».
Alguma escritora o inspira, ou só lê autores?
Se pensar em quem escreveu os livros que mais recordo, encontro mais homens do que mulheres. Mas há muitas mulheres: Elly Welt, Lídia Jorge, Clara Pinto Correia, Alícia Giménez Bartlett ou Maria Antonieta Preto, por exemplo.
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Só um bocadinho, já se vê

As voltas que a vida dá… Este senhor vai cantar no meu próximo livro; mas só um bocadinho.
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Era a voz do cantor, que ouviam no rádio da empregada. A voz que agora soava dentro das flores.
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O próximo

Era para escrever umas coisas sobre o jogo do Sporting com o Braga – Sporting 2 (Saleiro, Miguel Veloso), Braga 1 –, para a Taça da Liga, mas agora já passaram não sei quantos dias. Esperemos pelo próximo.
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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma passagem de ano

A minha passagem de ano costuma ser por aqui, com as luzes da rua acesas a fazerem com que se calhar o monte, visto de cima, dos aviões que passam bem distantes, pareça uma aldeia perdida no meio do montado Desta vez não, nada de luzes acesas. A gripe chegou aqui ao monte e a passagem da meia-noite foi logo bem cedo deixada para segundo plano; ou terceiro, ou quarto, ou quinquagésimo sétimo, nem sei. Talvez para ajudar à festa, a operadora de telemóveis desligou (não sei se é o verbo correcto para a situação) a rede. A barrinha que aparecia sempre num espaço de cerca de dez centímetros de um determinado móvel de uma determinada divisão de uma das casas, essa nem vê-la. Como já tinha mandado as mensagens do novo ano não me preocupei, e além disso tinha o telefone fixo para alguma eventualidade. Mas pouco antes da meia-noite lembrei-me de mais duas ou três mensagens que ainda devia enviar. Como não ia haver passagem, com a família a tentar dormir, ou mesmo a dormir, meti-me no carro e lá fui pelo montado, atento ao caminho, às vacas e aos bezerros recém-nascidos e também ao telemóvel. Ao fim de mais de um quilómetro, uma barrinha de rede, uma indiscutivelmente capaz de se intrometer pelos ramos dos sobreiros e das azinheiras. Eu ia para travar para ficar com ela, mas no último segundo lembrei-me de que com a chuva e o caminho enlameado o carro haveria de fugir-me contra uma árvore. Então fui abrandando e ao fim de uns dez metros adeus barrinha. Não desesperei – pior era a gripe –, fiz marcha atrás e em menos de nada a barrinha reapareceu. Pus-me a escrever as mensagens, com pressa de enviá-las antes que a ramagem acabasse com a barrinha de rede. Mas acabei por não escrever depressa. Uns vinte metros à frente, talvez nem isso, pareceu-me avistar uma lebre, com os olhos a brilharem e as orelhas espetadas. Era onde chegavam as luzes do carro (máximos e faróis de nevoeiro, para iluminar as bermas, por causa dos animais). Eu olhava para a lebre e pelo meio para o telemóvel, para escrever («2010», «tudo de bom», «que se realizem» e por aí adiante), até que percebi que não era uma lebre, porque o que me parecia as orelhas, afinal, eram dois pequenos matos lado a lado. Mas vi duas orelhas, mesmo assim vi, só que bem mais pequenas. Uma raposa… Era uma raposa, de pêlo acinzentado. Fui-a observando, e fui tratando das mensagens. Quando as enviei, a raposa já estava muito perto do carro, de focinho no chão, para um lado e para outro. Pensei em sair, para ver se ela se assustava comigo, mas depois lembrei-me do frio que fazia do lado de fora e desisti. Continuei a observá-la, até que ao fim de um bocado ela assustou-se mesmo, quando algumas vacas se aproximaram também do carro, curiosas. A raposa, mal as viu, desapareceu, sem que eu tivesse percebido o que procurava, se é que procurava alguma coisa. Apitei às vacas para se desviarem e avancei com o carro umas centenas de metros até encontrar um sítio onde podia dar a volta, e então regressei a casa. Quando abri o portão do monte, iluminei o ecrã do telemóvel para ver as horas e descobri surpreendido que já era mais de meia-noite e dez. Percebi que tinha passado o ano a observar a raposa, dentro do carro, no meio do montado escuro, a mais de um quilómetro de casa, onde a minha família dormia. Voltei a interrogar-me sobre se a raposa procuraria alguma coisa, e se realmente procurasse sobre o que poderia ser. Já estava a entrar em casa nessa altura. Um dos meus filhos tossiu, muito atrapalhado. Corri para o quarto, para ajudá-lo antes que acabasse por acordar a mãe. Deixei de pensar na raposa. Só voltei a pensar nela mais tarde, enquanto dormitava à lareira. Já tinha ido acudir a outros ataques de tosse, mas agora dormitava… Acordei de repente, com mais um ataque de tosse num dos quartos. Antes de correr para lá, vi a raposa na lareira. Estava deitada, e pareceu-me morta. Uns segundos… Eu a tentar regressar ao mundo. A raposa ali, a pouco mais de um metro de mim… A tosse intensificou-se e isso acabou por despertar-me completamente. O fogo tinha acabado na lareira, todos os troncos entretanto ardidos, e no lugar deles apenas um monte de cinza. Nem tinha a forma da raposa esse monte, mas por uns segundos eu tinha visto a raposa da passagem de ano. Levantei-me e corri para o quarto de onde me chegava o barulho da tosse. Um barulho que parecia agora menos atrapalhado, o que achei que podia ser um bom sinal.
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As bibliotecas, os estádios

O Francisco escreve aqui que «em Portugal há mais estádios do que bibliotecas». É bem capaz de ser verdade. Outra coisa que é bem capaz de ser verdade é esta: há bibliotecas que conseguem ter mais pessoas do que certos estádios.
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Sem título

«Tirem-me daqui!»
Desabafo da enfermeira que fazia a triagem na urgência do Hospital Distrital de Évora (ontem, por volta das 23 horas)
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domingo, 3 de janeiro de 2010