quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Não vale a pena exagerar


Estamos mal no Sporting. Muito mal. Godinho Lopes é uma desgraça de um nível em que mesmo quem o julgava pouco indicado para o cargo de presidente do clube dificilmente poderia acreditar há cerca de um ano. Como eu. Mas também não vale a pena exagerar. Em rodapé, passa na TVI24 que o Sporting está a ter «o pior arranque de sempre da história». Não é, obviamente. É o pior arranque de sempre. E é o pior arranque da história. Pode-se dizer uma coisa ou outra, mas não as duas ao mesmo tempo. Só se for por causa do acordo ortográfico, que dá para tudo e privilegia a asneira. O presidente é mau. E também se pode dizer que é péssimo. Porque é verdade. Mas não é um mau/ péssimo. Ou é mau ou é péssimo – embora o péssimo, de certa forma, aplicando um raciocínio matemático, englobe o mau. Já o mau não pode englobar o péssimo. Não chega a tanto. Godinho Lopes é péssimo. Acho que isso basta. Mau/ péssimo talvez só se aplique ao caso extremo de José Eduardo Bettencourt. Que é – ou foi, felizmente –, que foi, dizia, um caso especial. Esse foi tudo. De sempre, da história, mau, péssimo, o que se queira. Godinho Lopes, agora, já se vê, persegue-o. Infelizmente, acredito que consiga apanhá-lo.

Nota: na foto, tomada de posse de Godinho Lopes como presidente do Sporting.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A maneira de escrever

«Os meus amigos do sportem (sim, tenho vários) devem estar como eu com o PSD. É morder a bala e deixar passar. De família não se muda...» Isto escreve o advogado e antigo deputado do PSD José Eduardo Martins no «Facebook». Não consigo perceber como pode escrever o nome do Sporting de forma adulterada e ao mesmo tempo escrever PSD de forma correcta. Ainda por cima quando o PSD é que está adulterado, como o país infelizmente tem comprovado, enquanto o Sporting se mantém na sua essência como um grande clube, apenas com maus resultados na equipa principal de futebol, situação que certamente irá mudar mais cedo ou mais tarde.

Abri o portão, para ver se apanhava o arco-íris


sábado, 3 de novembro de 2012

Senhor presidente



O presidente da Comissão Europeia no mais recente livro de José Rodrigues Miguéis, perdão, de José Rodrigues dos Santos:
«…atirou um olhar lúbrico para a cama. A loura vaporosa gemia baixinho com as dores. Como habitualmente, aquilo excitou-o. Deixou o roupão cair na alcatifa, foi buscar o chicote e, nu e erecto de desejo, abeirou-se da cama.
            ‘Anda, minha cabra’, rosnou, desenrolando o chicote. ‘Prepara-te para o segundo assalto.’»

Nervos, muitos nervos

Uma conferência em Lisboa. Eu tinha de falar logo a seguir à abertura, tanto que saí de casa bem cedo, para não me atrasar no trânsito num dos acessos à cidade. Passava pouco das seis e meia da manhã, mas com a mudança de hora já havia alguma luz no montado. Talvez por isso, ao sair de casa, os cães e os gatos tenham percebido que a minha roupa – um fato escuro, uma camisa branca e uma gravata azul – era diferente da habitual. Ficaram a uma certa distância, indecisos, sem saberem se brindar-me com as brincadeiras do costume ou se com um ataque rápido em que eu não tivesse outra hipótese a não ser fugir o mais depressa que conseguisse. Decididamente, não tinham a certeza de quem eu era, vestido daquela forma.
Olhei para o relógio e senti a pressão do tempo. Por isso fiz um gesto de despedida, sem dizer nada, não fosse a minha voz ser capaz de entrar em casa e acordar os miúdos. Fui até ao portão, saí com cuidado para que não batesse e meti-me no carro. Depois da estrada de terra, que me demorou uns dez minutos a percorrer, conduzi depressa até Lisboa, e a verdade é que não me atrasei. Só que cheguei à conferência numa pilha de nervos. Tive até de parar um pouco na entrada do edifício onde ia decorrer – respirei fundo, durante dois ou três segundos, e só depois é que subi a escadaria que levava ao auditório. Havia uma pessoa a indicar o caminho, e até me perguntou se eu me sentia bem. Disse-lhe que sim, agradeci o cuidado e continuei.
Tinham-me avisado de que o auditório estaria cheio, e além disso eu sabia da presença dos presidentes das associações nacionais que integravam a confederação que promovia a conferência. Estavam representados seis países, todos de língua portuguesa. Vi logo as bandeiras mal entrei no auditório, ainda vazio. Faltava uns quinze minutos para começar o registo de participantes e por isso o movimento era pouco. Dava para preparar as minhas coisas à vontade. Ou seja, tinha valido a pena o esforço de sair de casa bem cedo. À noite – pensei –, ia voltar sem gravata e com o casaco debaixo do braço; de certeza que assim não haveria problema com os cães e os gatos. Por agora, o importante era afastar o nervosismo que ainda subsistia.
Admito que se pense que eu estava naquele estado por causa de ir falar na conferência. Mas não, não era nada disso. Eu estava assim por causa do sítio, que ficava pertíssimo da sede de um dos partidos da coligação que apoia o governo. Lembro-me de que só ao estacionar o carro reparei na sede, mesmo à minha frente. Só aí é que comecei a pensar na roupa que levava. Assim vestido, receei, havia o risco de ao sair do carro despertar a atenção de alguma das pessoas que passavam, ou de alguém que aparecesse à janela. Podiam confundir-me com um político da coligação, na volta até com algum secretário de Estado metido no governo pelo partido que ali tinha a sede.
Saí do carro com muito cuidado, a olhar para um lado e para outro. Podia ser atingido por alguma pedra, ou pior, por um ovo podre ou por um tomate bem maduro. Uma pedra, se conseguisse evitar que me acertasse na cabeça, era o menos, pois numa perna ou num braço poderia fazer no máximo uma nódoa negra. Mas o ovo ou o tomate haveriam de levar-me a desistir de aparecer na conferência. Ia dizer o quê? Peço desculpa, atiraram-me um ovo (ou um tomate, conforme o caso) depois de me terem confundido com um secretário de Estado, e pronto, deu nisto...
Fiz o caminho entre a zona da sede do partido e a entrada do edifício da conferência sem saber bem onde me enfiar. Não era a minha cara... Isso podia eu esconder olhando para baixo ou passando uma mão pelos olhos a fingir que tentava afastar o sono. Era a roupa. Eu só pensava na roupa. E daí os nervos. Cada metro até chegar ao edifício pareceu um quilómetro. Mas finalmente cheguei, e sem ser atingido. Na volta, algum milagre…

quinta-feira, 1 de novembro de 2012