quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre o acordo



Um livro do meu amigo Pedro Correia. Apresentação na terça-feira, dia 21, a partir das 18H30, na Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

António Souto – Crónica (58)


O escritor João Tordo, num encontro com jovens estudantes do secundário, discorreu um pouco sobre a génese dos seus romances e, a propósito, desvendou o modo como se inspirou para iniciar dois deles, e quando a plateia esperava por uma prelecção que pusesse a tónica numa divina fonte de inspiração ou num minucioso labor geométrico, ficou sabendo que muitas vezes tudo acontece por obra de um acaso, de um auspicioso abrir e fechar de olhos…

A deixa
Uma história pode começar como a gente a bem quiser contar. Isto sou eu a dizê-lo, bem entendido, que uma coisa é o mote e outra coisa é glosá-lo, dar-lhe as voltas necessárias e concertadas. O escritor João Tordo, há escassos dias, num encontro com jovens estudantes do secundário, discorreu um pouco sobre a génese dos seus romances e, a propósito, desvendou o modo como se inspirou para iniciar dois deles, e quando a plateia esperava por uma prelecção que pusesse a tónica numa divina fonte de inspiração ou num minucioso labor geométrico, ficou sabendo que muitas vezes tudo acontece por obra de um acaso, de um auspicioso abrir e fechar de olhos, como surgir diante do escritor uma criatura a correr, tal como veio ao mundo, por uma pista de aviões fora. Nem sempre é assim, como se sabe, mas que permite à criação levantar voo, lá isso permite, e a nós dá-nos agora jeito esta visão acidental.
Não tenho pretensões a ficcionista, mas o episódio do meu sapato que perdeu a sola poderia igualmente dar origem a uma narrativa interessante, isto por mãos hábeis, que eu para excursos longos não tenho jeito nenhum, cada um no seu ofício, variante nem sempre ajustada de cada um é para o que nasce. Passo a contar.
Um destes dias, vinha eu a pé com a cachopinha mais nova, que fora buscar à escola, e começo a notar qualquer coisa de esquisito num dos sapatos. Parei, olhei e descobri que a sola se começava a descolar de um dos lados. Nada de estranho, que isto é o que mais acontece ao comum dos mortais que não anda a mudar de sapatos como quem muda de camisa e nem sempre a examinar-lhes os contornos. O insólito da coisa foi eu ter dado mais dois ou três passos e, de súbito, soltar-se literalmente a dita. Nada a fazer. Ali mesmo ficou, a sola, entalada entre o passeio e a roda dianteira do primeiro carro estacionado. Entretanto, a estrada molhada, cheia de poças de água, a cachopa rindo e achando ter já assunto para contar aos colegas e à professora na manhã seguinte, e eu caminhando ao pé-coxinho, de mochila pendurada num dos ombros, mirando ao redor e discretamente assobiando para o lado.
É patente que não sou muito favorecido em altura, assim mais tipo Marques Mendes – embora, para que se perceba, não faça parte da memória colectiva nem nunca tenha tido direito a boneco no Contra Informação –, e tal como ele nunca tenha recorrido aos tacões altos, e por isso, com sola ou sem ela, o caminhar fez-se até casa sem grandes sobressaltos, embora com o calcante, que só levava sapato por cima, molhadinho até quase ao tornozelo.
Agora o divertido, e este é o ponto, foi ter-me vindo à fantasia a estampa de Sarkozy, em vésperas de eleições presidenciais, se um dos seus sapatos perdesse tacão e sola e o deixasse inesperadamente apeado num qualquer lugarejo do país profundo sem sapataria à mão, sem telemóvel e a léguas da viatura, e da humilhação do homem ao ver-se marchando, como se amputado de uma perna, amparado pelas risadas burlescas de Carla e Giulia.
Desventuradamente, não tenho mesmo nenhuma queda para protagonismos de largos enredos, quando muito para personagem secundária ou figurante. A deixa, contudo, aqui fica, para a eventualidade de algum escritor a querer apanhar, ou algum artista da sétima arte, como o Almodôvar. Afinal, uma história pode começar como a gente a bem quiser contar.

Crónica de António Souto para o blog «Floresta do Sul» (número 58); crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34; 35; 36; 35; 37; 38; 39; 40; 41; 42; 43; 44; 45; 46; 47; 48; 49; 50; 51; 52; 53;54; 55; 56; 57.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Reformados


Um grupo de reformados é expulso do Parlamento, por ordem de uma reformada sem vergonha e contribuinte líquida para o défice (conseguiu reformar-se ao 41 anos, apenas com mais dois do que Duarte Lima).