sábado, 4 de abril de 2009

António Souto – Crónica (10)

Décima crónica de António Souto, depois desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta e desta. O António mantém uma crónica («Ex-abrupto») no jornal da sua terra («Jornal D’Angeja»). Esta é a da edição de Março de 2009.
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Dias marcantes
O mês de Março é rico em dias especiais, quero dizer, em dias nacionais, europeus, internacionais, mundiais e outros mais…
Uma amostra: dia um, Dia Internacional para a Abolição da Pena de Morte; dia oito, Dia Internacional da Mulher; dia onze, Dia Europeu pelas Vítimas do Terrorismo; dia doze, Dia Mundial do Rim; dia quinze, Dia Mundial dos Direitos do Consumidor; dia dezanove, Dia Internacional do Pai e Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos; dia vinte e um, Dia Mundial da Poesia, Dia Mundial da Árvore, Dia Mundial da Floresta, Dia Mundial do Sono e Dia Mundial para a Eliminação da Descriminação Racial; dia vinte e dois, Dia Mundial da Água; dia vinte e três, Dia Mundial da Meteorologia; dia vinte e quatro, Dia do Estudante e Dia Mundial da Tuberculose; dia vinte e seis, Dia do Livro Português; dia vinte e sete, Dia Internacional do Circo e Dia Mundial do Teatro; dia vinte e oito, Dia da Juventude (nacional e mundial); dia trinta e um, Dia Mundial do Não-Tabagismo.
Como se vê, e ainda que me tenham falhado certamente alguns, praticamente todos os dias são importantes, por um qualquer especial evento, ou por vários.
Mas se neste mês de Março muitos destes dias passaram despercebidos ou, se lembrados, vergonhosamente celebrados (como aconteceu com o «5º Fórum Mundial da Água», no qual se reconheceu que muito pouco se tem feito em favor das cerca de «400 milhões de pessoas que vivem em regiões onde a água é um bem escasso»), houve pelo menos um dia que foi copiosa e directamente registado para memória futura, o dia vinte e três, não o da Meteorologia, mas o do doutoramento honoris causa de José Mourinho (actual treinador do Inter de Milão), pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. Este, sim, foi um dia grande, à grande e à portuguesa, um dia de orgulho nacional, um dia que faz deslembrar a indisciplina e as agressões cada vez mais frequentes nas nossas escolas, um dia que faz deslembrar o desabar de alguns degraus nos escadórios históricos das nossas senhoras dos remédios das nossas vilas e cidades, um dia que faz deslembrar o pedido de insolvência das quimondas do nosso país. Um dia de encher a temperança de um atleta, a alma de um povo, a glória de uma universidade.
Findo o mês de Março falta-me a primavera e vem-me à memória, não sei por quê, aquele admirável filme italiano de Ettore Scola, «Feios, Porcos e Maus» («Brutti, Sporchi e Cattivi»), vencedor do prémio para melhor realização no «Festival de Cannes» de 1978. Um filme que nos põe a nu a miserável condição humana, com os seus interesses e proveitos, as suas intrujices, as suas vaidades, as suas indiferenças. Um filme que, pela sua oportunidade, nos deveria obrigar a reflectir sobre nós e os outros, a relação que a todos nos une e nos anima, independentemente do mês ou do dia. Porém, um filme é um filme, e não mais do que isso…
E para que Março fique ainda mais prenhe de acontecimentos memoráveis, proponho – despretensioso contributo – que o dia vinte e dois deste mês doravante se engrandeça como o Dia Nacional do Salto Mário Pardo, personalidade de incontestável faculdade que, em plena «19ª Meia Maratona de Lisboa», ousou lançar-se do alto dos 190 metros de altura da Ponte 25 de Abril. O primeiro-ministro estava lá e pode comprovar o salto que deu para a liberdade.
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