segunda-feira, 29 de março de 2010

Revista «human» de Abril

(clicar na imagem para aumentar)
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Nas bancas a partir desta terça-feira. É o número 16, de Abril de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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A liderança de Fernando Nobre
Já ouvi por diversas vezes profissionais ligados à gestão das pessoas apresentarem como exemplo em Portugal de um gestor de recursos humanos de excelência o líder da AMI – Assistência Médica Internacional, Fernando Nobre. Durante a entrevista que lhe fiz, e que publicamos nesta edição, falei-lhe do assunto e perguntei-lhe se isso o surpreendia. Não me respondeu nem que sim, nem que não, disse-me foi que isso talvez advenha do facto de ter sido desde há mais de 30 anos um mobilizador de vontades e ter de algum modo sido – e aqui frisou que o dizia com humildade – um paradigma de liderança.
Mais do que a gestão de recursos humanos, foi exactamente a questão da liderança que sobressaiu na entrevista. Tanto que ao lê-la não é difícil encontrar exemplos de verdadeiros ensinamentos sobre a matéria de um homem que ao longo de um quarto de século soube construir em Portugal um projecto para o mundo. Antecipo já alguns a seguir:
«A liderança advém da exemplaridade que se dá no exercício das funções, da perseverança, do espírito de sacrifício, do esforço e da motivação e do incentivo que se dá aos colaboradores.»
«Nunca fui alguém que prometeu sem cumprir. Isso para mim é fundamental na liderança, eu costumo dizer, e é sabido, pode-se enganar uma pessoa toda a vida, pode-se enganar mil pessoas um dia, mas mil pessoas toda a vida é muito difícil, por isso devemos ir sempre pelo discurso da verdade, pela frontalidade.»
«Liderança é ter deveres; deveres, deveres, deveres, e alguns, mas poucos, direitos. Se as lideranças não entenderem isto, acho que há um enorme equívoco.»
«Em todas as missões de alto risco, eu, como líder, tenho de estar no terreno; é esse o papel do líder, se manda pessoas que trabalham consigo para a linha da frente, ele próprio tem de estar na linha da frente, para partilhar com elas os riscos inerentes ao projecto ou à missão.»
Quatro exemplos da liderança de Fernando Nobre. Mas o melhor mesmo é ler a entrevista.
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sábado, 27 de março de 2010

Seis milhões e meio de euros

Marítimo 3, Sporting 2 (João Pereira, Pongolle), vigésima quarta jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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Seis milhões e meio de euros. Foi o que custou o ponta-de-lança escolhido (não se sabe bem por quem, mas algum incompetente foi) para «reforçar» a equipa a meio da época, depois do desvario, do desleixo e do desinteresse que caracterizaram a preparação dessa mesma época, a actual, tão negra, tão negra que até assusta. O mesmo ponta-de-lança marcou depois um golo, de grande penalidade, e assim já tem o saldo a zero, um golo a favor e um golo contra. Mas o auto-golo… Já dava para desconfiar que isto poderia acontecer, depois da ameaça no jogo de estreia em que só uma defesa muito boa do guarda-redes do Sporting impediu que marcasse contra nós. Seis milhões e meio de euros… Talvez o Sporting devesse ter gasto esses euros todos para se desfazer do presidente (indiscutivelmente o pior das últimas três ou quatro décadas da história do Sporting, contando inclusive com Jorge Gonçalves), que os pagasse a algum clube distraído que aceitasse ficar com ele.
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António Souto – Crónica (22)

Março de tresvarios
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Pior do que isto, neste momento, só ser português, ou ser gente.
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Este mês de Março ameaça fazer jus ao ditado «Março marçagão, de manhã Inverno e de tarde Verão». Mas só ameaça mesmo, que a chuva, quando se quer libertar das alturas, não está com meias medidas e cai a qualquer hora. E agora que entra Abril, as águas mil hão-de chegar com a mesma teimosia, uma bênção para a natureza e para as árvores, para os milhares de árvores que, no seu dia, e em ano de centenário da República, foram por toda a parte fincadas na terra, com mais ou menos cerimónia, com mais ou menos parcimónia. Mas que a chuva nos dá cabo da paciência, a nós, gente citadina e pouco dada a molhas imprevistas, lá isso dá, e o pior é que nos faz andar um pouco macambúzios e desacordados com a vida e com os outros.
A tal ponto tem andado este mês de Março que os tresvarios, quando vêm ao de cima, resvalam para uma espécie de incontinência colectiva.
Quem não assistiu ao congresso do PSD, todo cheiinho de líderes e ex-líderes e anónimos de base (ou de bases) apoiantes de todos os quadrantes, assim numa espécie de telenovela barata cuja imprevisibilidade se deixa adivinhar nos primeiros episódios, e não se divertiu com um autarca, daqueles consolidados, que discursou e excursou animadamente com a sede à mercê de um copo de vinho que não veio, por não ser suposto rociar a goela com o néctar dos deuses, mas com um copo de água cristalina? O mesmo autarca que apregoou, em jeito de graça (muito aplaudida) ser um mentiroso ganhador de escrutínios, qualidade elementar para uma boa e continuada vitória. Um gracejo, pois então. E no final do dito consílio, arrastados pela verve encantatória de um ex-quase-tudo, as bases votaram uma proposta de alteração estatutária prevendo, ou determinando, um silenciamento pré-eleitoral que os candidatos a líderes, à saída, disseram todos enjeitar. Com acólitos destes…
E quem não assistiu um destes dias, num acto oficial de pompa e circunstância, a um mestre-de-cerimónias contratado para a ocasião anunciando com marcação a preceito: «E agora vai usar da palavra o senhor primeiro-ministro, engenheiro José Trócrates»? E o senhor primeiro-ministro, não se fazendo rogado, ignorou a deixa e usou da palavra, por não poder usar certamente nada mais à mão de semear. Isto há trocas…
E quem não assistiu, em directo ou em diferido, ao senhor presidente do hemiciclo insistindo na necessidade de um secretário de Estado se dirigir à assembleia com a fórmula regimental «senhor presidente, senhores deputados»? O problema é que o orador – ou porque pouco devotado a estas vãs etiquetas, ou porque pouco adestrado nestes protocolos, ou porque muito o nervosismo de debutante – não havia maneira de atinar com a maldita fórmula regimental, e o senhor presidente a dar-lhe com ela, e ela a enrodilhar-se na língua, e o senhor presidente a ameaçar retirar-lhe a palavra, e o orador que ainda não a tinha tomado, e a algazarra no plenário, e…
Melhor do que tudo isto, neste mês de Março, só mesmo o folhetim da comissão de ética agora revirada em comissão de inquérito, com chamadas e desfiles e audições e relatórios, cada um a seu tempo, que muito relatam e pouco concluem, como se viu e como se verá.
Melhor do que isto, só mesmo o PEC, um programa qualquer que dez milhões e seiscentos e cinquenta mil portugueses não sabem o que é, um programa que no dia um de Abril os restantes portugueses já terão esquecido.
Pior do que isto, neste momento, só ser português, ou ser gente.
Eu, pelo sim pelo não, e enquanto me não livro da crise, vou tentar livrar-me da chuva, e havendo uns raios de sol rumarei à beira-mar, entre Oeiras e Cascais, e anónimo tentarei confundir-me entre invernantes serôdios, como aconteceu já num ou noutro fim-de-semana soalheiro, como se para aquelas bandas por ali parisse a galega a meio da tarde…
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Crónica de Março de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21.
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quinta-feira, 25 de março de 2010

Formspring

Mais algumas perguntas a que respondi no Formspring.
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Está convencido de que a política em Portugal é feita por bandidos. Igual convencimento é o de inúmeros portugueses que nem por isso deixam de disciplinadamente visitar as assembleias de voto em cada acto eleitoral que se realiza. Vale a pena votar?
Uma parte significativa é feita por bandidos, alguns até de fora da política, ou que andam com um pé fora e outro dentro. Vale a pena votar, claro, tentar perceber quais são os bandidos e quais é que não são e fazer escolhas.
Li há pouco os livros «A Velocidade da Luz», de Javier Cercas, e «A Louca da Casa», de Rosa Montero. Ambos têm algumas afinidades com os que escreve, pois são ficções sobre a vida do autor. Acha eticamente admissível que o autor se reinvente a si mesmo?
Acho que sim. E tenho de acrescentar duas notas: primeira, eu nos meus livros não exagerei muito na reinvenção, pelo menos em relação a mim próprio; segunda, no livro do Cercas (um grande livro, já o da Rosa Montero não li) tenho de confessar que algumas das reinvenções dele são perturbantes (por exemplo, o terrível acidente que acontece depois de a mulher do narrador descobrir uma traição).
Quando refere autores e livros é no presente, não lê o que eu chamo erradamente de intemporais (não deviam ser todos?). Leu aqueles a que chamam clássicos? Passa-me pela cabeça «O Véu Pintado», «O Monte dos Vendavais», «Anna Karenina», sei lá? Sor
Leio também autores que não os do presente, obviamente. E de entre esses há para mim alguns inesquecíveis (basta ver os que coloquei no meu romance «O que Entra nos Livros»). Já destes três exemplos, li «O Monte dos Vendavais».
Vi no Facebook que apoia Manuel Alegre para presidente da República. Mas na sua terra foi vereador da câmara e esteve na assembleia municipal pelo PSD. Isso tem lógica? (JMS)
O que diz é verdade: fui vereador da câmara da minha terra e também fiz parte da assembleia municipal, sempre eleito em listas do PSD, como independente. Nas últimas eleições presidenciais votei em Manuel Alegre, e nas próximas farei o mesmo. Nunca votaria em Cavaco, fosse lá para o que fosse. Já agora, na minha terra, o meu combate foi contra um dinossauro com grandes dificuldades de convivência com a democracia, e que era companheiro de partido de Manuel Alegre. Não vejo isto como uma espécie de matemática da política, escolho quem me parece ser melhor, apenas isso.
Acha que o futebol educa? JBS
O futebol por si só não educa nem deixa de educar. Depende acima de tudo dos educadores, e muitos dos do nosso futebol são maus, mas também há os que são bons. Como em tudo. Por exemplo, se me lembrar das aulas de português, encontro facilmente um bom exemplo (o do meu professor de português do primeiro ano do ciclo, em Monchique) e um absolutamente mau (o da professora de português que apanhei durante vários anos em Portimão, antes de ir para a faculdade). No caso desta professora, nunca deveria ter sido permitido que entrasse num estabelecimento de ensino, a não ser como aluna.
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terça-feira, 23 de março de 2010

Apenas o começo

Um dia isto será uma grande história.
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Pensou num pequeno exército, só que perigoso, muito perigoso, não porque lhe parecesse organizado, ou dono de armas especiais, mas apenas pelo modo como avançava. Decidido, perto de ser brutal, desconsiderando quase tudo o que pudesse surgir-lhe pela frente. O mundo àquela hora devia parecer tranquilo por ali, nem que para formar tal ideia fosse preciso pôr de parte a correria de algum coelho se uma águia se elevasse bem acima dos sobreiros à cata de alimento. Ou pôr de parte o esvoaçar de um pássaro menos experiente depois de ver essa mesma águia e sobretudo depois de ouvir os gritos que soltava, bem espaçados, como se alguma coisa a deixasse um pouco inibida. Nem que fosse preciso pôr de parte tudo isso… Mas o mundo não estava tranquilo, ele via que não e continuava a pensar no pequeno exército, cada vez mais próximo e com um chefe maior do que qualquer dos seus elementos. Verde, o chefe era verde, médio, assim como se estivesse a meio caminho entre o tom de uma alface e o de uma couve, já o exército andava pelo castanho-claro.
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Inveja

Uma capa muito, mesmo muito bonita. Que inveja!... Não me importava de ter escrito algumas histórias misteriosas para depois aparecerem num livro assim apresentado. Agora, com a foto escolhida para este («A Noite e o Sobressalto», de Pedro Medina Ribeiro, ed. Oficina do Livro, 2010), infelizmente já é tarde demais.
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sexta-feira, 19 de março de 2010

Dia do Pai

No Dia do Pai, mais três excertos de «O Sorriso Enigmático do Javali» (depois destes).
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«Escolheram a noite para a viagem, e essa noite acabou por chegar. O pequeno Tuki ia dormir mais tarde. Tinha prometido que aguentaria umas horas além do habitual, e para consegui-lo tinha inclusive dormido a sesta depois de chegar da escola, a meio da tarde. Saíram a seguir ao jantar, em silêncio, como se fossem para uma missão muito importante.»
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«Foi então que parou, decidido a não dar explicações que o mais certo seria originarem perguntas mais difíceis. E quando voltou às palavras foi para falar da borboleta. A que estava ali, na soleira da porta. Falou sem grandes esperanças de que o filho aceitasse ficar sem resposta sobre os políticos e a sua especial característica que os prendia à mentira como um cão feroz, de preferência rafeiro, a uma corrente das fortes. Mas o filho não insistiu em saber dos políticos.
'Essa malandragem’, pensou o pai do pequeno Tuki.»

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«Talvez. Podia ser mesmo uma explicação. O lagarto pareceu sorrir. Foi só nesse momento que o pai do pequeno Tuki reparou nele, agarrado à manga direita da camisa. Nem era agarrado, era preso. Uma camisa inutilizada. Um buraco. A ponta da cauda do lagarto, a ponta da clave de sol cravada na manga, e o lagarto pendurado. Sorria. Parecia um sorriso atrapalhado, embaraçado. Não tinha ar de querer arranjar problemas, mas a verdade é que tinha arranjado. Aquela camisa... Umas dezenas de euros, pensou o pai do pequeno Tuki. Uma camisa quase nova. Lembrou-se de muitos anos antes, de ver nos livros de cowboys do Tex Willer os chapéus inutilizados… Muitas vezes acontecia, uma bala furava o chapéu, num tiroteio, a um dos companheiros do Tex Willer, que tinha o famoso nome de Kit Carson. Costumava acontecer, e ele, sem ligar a que a bala lhe tivesse passado a uns milímetros da cabeça, limitava-se a dizer, em tom de lamento: ‘Um chapéu quase novo...’
Lembrou-se também de outro sorriso, o do javali.»
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O fim

Sporting 2 (Liedson, Miguel Veloso), Atlético de Madrid 2, segundo jogo dos oitavos de final da Liga Europa 2009/ 2010
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Fim da linha também na Europa, num jogo em que ficou demonstrado que, apesar de a equipa estar bem melhor por estes tempos, a época teve uma preparação incompetente, como aliás se esperava de uma direcção incompetente. Polga e Caneira juntos no centro de defesa, já se sabia, é uma mistura explosiva (e explode sempre contra nós); um júnior, ou mesmo dois, pior não teriam feito. De resto, o caso Izmailov, que ficou de fora, parece muito estranho, por mais explicações que agora surjam. Das claques, é melhor nem falar, depois do que se viu e das entrevistas dos responsáveis na televisão…
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quinta-feira, 18 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Pai

Na semana do Dia do Pai, três excertos de «O Sorriso Enigmático do Javali».
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«O pai do pequeno Tuki costumava falar de uma mulher a quem chamavam a Perdizinha, uma mulher de tempos já passados. Tratavam-na assim porque era muito baixa, mas sobretudo por andar depressa. Uma mulher desembaraçada e pequenina, um verdadeiro contraste com outra desses tempos, a Pata Larga, forte, alta e sempre a gabar-se de que calçava o quarenta e três. A Pata Larga, tinha-lhe o pai contado, falava como se carregasse na boca dois torrões de terra, um de cada lado, quem sabe se por causa dos equilíbrios, embora ela não precisasse muito de equilíbrios, principalmente por causa dos pés alongados.»
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«O pai do pequeno Tuki estendeu a pá para a zona do grelhador. A motosserra do estômago da gineta parecia que ia explodir a qualquer momento. A pá avançava muito devagar, entre a parede e o corpo da gineta. Era preciso forçar um pouco, mas sem precipitações, com paciência. O tempo parecia não passar. A gineta tinha os olhos de um lado para o outro, como que à procura do melhor sítio para escapar. Agora via-se que ela percebia a urgência de arranjar forças para sair dali. O pequeno Tuki pensou que o pai deveria ter calçado botas de borracha, umas que tinha e que lhe chegavam quase aos joelhos, não fosse a gineta atirar-se-lhe às pernas e dar-lhe alguma dentada. Mas não, as botas não seriam suficientes. A gineta era capaz de dar uns altos enormes, ele já tinha visto ginetas aos saltos no montado. Saltavam muito alto. Talvez o pai devesse ter calçado umas luvas e colocado a máscara de proteger o rosto que usava com a máquina de cortar erva.»
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«A cobra também não se mexia, tirando o nervoso que lhe tinha tomado conta da língua. E o pai do pequeno Tuki naquilo, parado, a pensar, em tantas coisas, mas sem se mexer. Ouvia o filho atrás com o ancinho, de volta das ervas, e nem se conseguia virar para ver se ele estava a uma distância segura da fogueira. Mas também a fogueira já não ardia muito, era uma coisa pequena, à espera de mais ramagem para tomar outras proporções. A ramagem das oliveiras que limparia a seguir. O pai do pequeno Tuki conseguia pensar normalmente, só não se conseguia mexer. Compreendia que por desconhecer se a cobra era venenosa estava a correr riscos ali, tão perto dela. Mas o facto de compreender isso não fazia com que se protegesse. Conseguia até pensar na imagem das cobras a hipnotizarem as presas antes de atacarem, e pensava que isso podia estar a acontecer com ele, aquela cobra a hipnotizá-lo, mas mesmo assim não se mexia. Ou seria ele, inadvertidamente, que estava a hipnotizar a cobra? Ele não se mexia, mas ela, à parte a língua, também não se mexia.»
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segunda-feira, 15 de março de 2010

Uma certa vergonha

Apesar de o ter feito como independente, fui duas vezes candidato em listas do PSD a eleições autárquicas. Como resultado, acabei por ser vereador da câmara da minha terra e depois membro da assembleia municipal. Por este percurso – não muito relevante, reconheço –, não posso deixar de sentir uma certa vergonha pelo que foi aprovado no último congresso do partido. No sábado, por estar em viagem, acompanhei muito do que aconteceu pelo rádio do carro. Já no domingo não soube de nada; até que ao fim da tarde vi a notícia sobre a lei da rolha. A princípio custou-me a acreditar que fosse possível uma tal aberração, mas depois pensei melhor e concluí que pelo andar da carruagem neste país já nada me deve espantar. Havia quem falasse em Jesus Cristo descer à terra, em Mafra, mas afinal quem desceu foi o camarada Joseph Stalin (quem sabe se com a ajuda do Sean Penn). Agora, por curiosidade, vou pegar na calculadora e ver quantas vezes me poderiam expulsar do partido, se eu lá estivesse e se a lei pudesse ser aplicada para trás. Isto por tudo o que já disse e escrevi sobre algumas lideranças(?), a menos de sessenta dias de eleições ou a mais do que isso, nem sei, nunca me preocupei em consultar o calendário antes de dar uma opinião.
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Tarde

Atlético de Madrid 0, Sporting 0, primeiro jogo dos oitavos de final da Liga Europa 2009/ 2010
Sporting 3 (Grimi, Liedson, Saleiro), Guimarães 1, vigésima terceira jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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Os últimos dois jogos confirmaram. Agora estamos bem, o problema é que já vamos tarde na época. A ver o que ainda pode acontecer…
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terça-feira, 9 de março de 2010

Imagens daqui (8)

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Ainda o verdadeiro Sporting

Belenenses 0, Sporting 4 (Liedson 4), vigésima segunda jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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Parece que continuamos a ter em campo a equipa do Sporting e não a da Sporting sade, e ainda bem. Uma nota para a força demonstrada pelo treinador, que faz o seu trabalho tentando alhear-se ao anúncio que vai sendo feito do seu sucessor. Outra nota, obviamente, para Liedson e para o seu enorme valor.
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sábado, 6 de março de 2010

Os bandidos

Cada vez mais me vou convencendo disto.
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sexta-feira, 5 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Imagens daqui (7)

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É sempre bom saber que temos o verdadeiro Sporting a jogar

Sporting 3 (Yannick, Izmailov, Miguel Veloso), Porto 0, vigésima primeira jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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Como escrevi aqui, agora é mesmo o Sporting que anda a jogar e não a equipa anterior, representante da Sporting sade. A época já está mais do que estragada, mas é sempre bom saber que temos o verdadeiro Sporting a jogar. Resta ver até quando, ou até quando é que a sade deixa. Mais uma vez, foi fantástico ter a dupla Liedson/ Yannick em campo. Assustador, mesmo assustador, foi dar com o casal Bettencourt/ Pinto da Costa, os dois muito juntinhos, na tribuna de honra, ou lá como lhe chamam.
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terça-feira, 2 de março de 2010

Portugal, hoje

Uma reflexão sobre Portugal, do meu amigo Carlos Antunes, publicada inicialmente aqui.
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Os salteadores da pátria perdida
«Portugal não tem dimensão para se roubar tanto.» Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade e ex-líder da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), «Expresso» de 15.08.09
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Os casos recentes ou mais antigos que retratam as redes de corrupção que abrangem agentes políticos do Estado e executivos da alta finança (Operação Furacão, Portucale, Freeport, BPN, Submarinos, Face Oculta, etc) são realmente a visibilidade do estado a que chegou o regime democrático instituído no pós-25 de Abril.
À sombra da ética republicana, assistiu-se a um conúbio entre o poder político e económico, que propiciou um quadro de oportunidades para um acumular súbito de riqueza por parte de políticos como não há memória de presenciar.
Esses políticos, de um modo geral, chegaram ao exercício da política sem grandes recursos que não fosse o sentido de oportunidade, a esperteza prática, a determinação e a dedicação dos ambiciosos, e também a resistência e o facto de pouco ou nada terem a perder.
À sombra dos poderes instituídos, tiveram um sucesso para além de tudo o que podiam imaginar. E tiveram sorte: a cornucópia de fundos comunitários; os novos grupos económicos saídos das privatizações à procura de contactos, de acessos, de respeitabilidade; e a acumulação de riqueza na bolsa, ainda por cima – numa época de media não submetidos aos ditames da falta de vendas que os não sujeitavam a escrutínio – abriu portas a riquezas suspeitas e a futuros insuspeitos.
Na fase formativa da sua vida política, de um modo geral jovens, vindos da província, formatados politicamente nas juventudes partidárias, provaram o fruto encantador e embriagante do poder e de tudo a que ele se liga. Ganharam eleições, destruíram oposições, comandaram legiões, conspiraram, foram recebidos nos salões da alta burguesia renascida e nos «montes» senhoriais da velha aristocracia, acreditaram que Portugal mudara, que era um país novo e diferente do que lhes fora legado, e que se encontravam predestinados – bafejados pelas deusas da Oportunidade e da Fortuna – a ser a nova elite que se perpetuaria no poder e nos poderes.
No fundo, quais caçadores da arca perdida do Indiana Jones, estes salteadores da pátria perdida (e sem rumo) têm vindo ao longo dos anos a roubar as nossas parcas riquezas, sequestrando e escravizando os cidadãos.
Agora, no momento de terem de responder pelos valores do património nacional que lhes foram confiados e que se entretiveram a delapidar num universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça, tiveram mais uma vez sorte: a sorte de contar com a lentidão de uma Justiça inepta e incapaz de investigar, julgar e punir devidamente tais crimes; a sorte de se apoiarem num Jornalismo que de verdadeiro quarto poder – em que só pela sua acção se sabia a verdade sobre os «podres» forjados pelos poderes político e judicial – passaram a esconder as verdadeiras notícias e a «prostituir-se» na sua dignidade profissional com a transmissão dos «recados» daqueles poderes, sentando-se à mesa dos corruptos e com eles partilhando os despojos.
Tudo isto lhes deu tempo.
Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes de corrupção por parte dos agentes políticos do Estado e dos executivos da alta finança se torne habitual e seja por isso desconsiderada.
Tempo para que estas práticas sejam toleradas, para que nada se esteja a fazer para lhes pôr termo.
Tempo, enfim, para se protegerem uns aos outros com o envio de uma mensagem cada vez mais interiorizada pelo comum dos cidadãos: «nos grandes ninguém toca».
Depois de salteadores, tornaram-se eles próprios intocáveis.

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