Leio aqui, no blog «Casario do Ginjal», uma referência a uma mulher da minha terra, a célebre Padeira de Aljubarrota. Eu não sou de Aljubarrota, sou de bem longe, do Algarve; a mulher, que se chamava Brites de Almeida, nasceu na cidade de Faro (e as voltas da vida é que a levaram até Aljubarrota, onde encontraria, digamos assim, a fama). Em tempos escrevi um conto que acaba por ser a história da padeira Brites de Almeida. Faz parte do livro «O Velho que Esperava por D. Sebastião», publicado em 1999. Vou publicar esse conto aqui, em pequenos capítulos. Chama-se «Brites e as Gaivotas».
Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota – Cap. I
Puseram-lhe o nome de Brites, que era mesmo um nome um bocado estranho para uma mulher.
- Brites de Almeida.
E ninguém sabia se o Almeida era da parte do pai, se da parte da mãe. De algum haveria de ser, ou se calhar até seria dos dois.
- Sim, vá lá a gente dar palpites! Só aparecerão os cartórios daqui a muitos anos, e serão bem demorados, tanto os anos como os cartórios. Por isso, fica já avisado quem estiver à espera para ver ou quem estiver pensando em lá ir.
- Bem, adiante.
Os desvios do caminho principal eram coisas que não interessavam. Coisas que alguns se punham a dizer para aumentarem a conversa.
- Há quem goste muito de falar.
A verdade é que o facto de a mulher ser Almeida gerava um grande burburinho. Não sobre a veracidade do apelido, que era garantida, mas sobre a proveniência, que como se disse ninguém sabia. Seria do pai, como de costume? Seria da mãe? Seria dos dois?
- É esta a fé de quase toda a gente. Casa-se um Almeida com uma Almeida, se calhar até são primos, e depois nasce uma criatura capaz de deixar o Diabo de boca aberta. Pode muito bem acontecer.
- Mas o melhor é esquecermos isso. Ainda estamos todos enganados, para aqui a conversarmos, ora um ora outro…
- Sim, sabe lá a gente o que diz!
- Exactamente, vizinho! Vamos é para acontecidos vistos e deixemos de fazer figuras tristes de gente alcoviteira.
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