Vai para um ano. O João Villalobos na «Pessoal», a falar daquilo que fazia (algumas coisas mudaram entretanto, por exemplo da página dos livros da «Blitz» passou para uma do «Diário de Notícias», onde agora assina uma crónica). O texto a seguir foi escrito por ele, o título demos nós.
(foto: Alexandre Moreira)
João Villalobos
Intérprete entre linguagens
Há profissões mais simples de explicar do que a minha. Por exemplo, a de físico quântico ou a de professor de literatura mesopotâmica pré-diluviana. Quando me perguntam «o que fazes?» a minha resposta – acompanhada de gráficos, bonecos e abundantes metáforas – termina inevitavelmente com outra interrogação: «Ah! (pausa) Então para que jornal é que escreves»?
Não deixa de ser triste deitar-me todos os dias, após horas e horas de labuta, com a consciência de que os meus filhos não percebem como o pai se arranja para pagar-lhes a mesada. Nem sequer a minha mulher sabe o que faço ao certo ou, se já percebeu, gosta de fingir que não para escapulir-se à penosa descrição do meu dia-a-dia no escritório.
Esta incapacidade geral de compreensão foi a grande razão por que aceitei o convite para responsável da página de livros da revista «Blitz», praticamente de borla. Facilitou-me imenso a vida e, agora, posso responder que sou crítico literário. O que sempre dá alguma panache. Para além disso, recebo convites para aparecer em todos os lançamentos com direito a croquete (e olhem que são muitos, nem imaginam a quantidade de livros que se edita neste país; o que me safa é não ter tempo para comparecer).
A verdade, no entanto, é outra. «Sou» consultor de comunicação (sempre achei responder que se «é» uma profissão algo pessoalmente redutor). Assim uma espécie de assessor de imprensa mas em mais chique, o que também não explica muito. O meu cartão de visita diz «Director de Projectos Especiais», críptica designação que corresponde ao cargo ninja que me atribuíram na ipsis – consultores de comunicação, a empresa em que trabalho.
Vocês que me lêem, e que devem ser responsáveis de recursos humanos ou directores de outras áreas de negócio, já com certeza lidaram com um consultor de comunicação em alguma parte da vossa vida profissional. Basicamente, somos intérpretes entre várias linguagens: Fazemos a ponte entre uma empresa ou uma instituição e os meios de comunicação social, adequando a informação a divulgar à especificidade de cada jornal, revista, ou programa de televisão ou rádio. Basicamente é isto (Ufa! Fiquei sem fôlego!).
Há, no entanto, muito trabalho para além do básico. E trabalho que gratifica e recompensa para além do material como, no momento em que escrevo, a minha responsabilidade pela comunicação da visita a Portugal de S. S. o Dalai Lama. Tentarei que os jornalistas estejam receptivos a difundir mensagens de paz e de luz, numa altura em que só as desgraças parecem fazer as manchetes.
Voltando à explicação daquilo que faço… Em Portugal, estima-se que cerca de 70% das notícias têm como base fontes indirectas. As agências de comunicação são uma delas, mas também os gabinetes governamentais ou autárquicos, os departamentos de comunicação das empresas, etc e etc. Uma «fonte» é qualquer entidade que forneça um determinado conteúdo a um órgão de comunicação. Até chegar aí, no entanto, há muito trabalho importante a fazer.
Vamos imaginar (a minha imaginação delirante ao ataque) que gostam tanto da leitura deste texto que uma ansiedade toma conta de vós e não descansam enquanto não pegam no telefone. Querem que a vossa empresa seja conhecida e, obviamente, da melhor forma. Querem chegar aos vossos clientes actuais e potenciais, parceiros de negócios, entidades oficiais, por aí fora. Ver o vosso trabalho reconhecido. Então ligam-me, marcamos uma reunião e começa o meu trabalho. O nosso trabalho.
Aí, sentamo-nos e olhamos de fora para aquilo que a empresa faz. Para vós, que estão dentro dela e a respiram, tudo é interessante: A qualidade das pessoas, as boas práticas, a responsabilidade social e ambiental, a forma única de abordar a vossa actividade, os novos negócios, os novos mercados… Tudo.
E às pessoas? Pessoas como vós que compram um jornal de manhã com poucos minutos para folheá-lo, ouvem a rádio com atenção ao trânsito, surfam a toda a velocidade pelos sites informativos na Internet ou ligam a televisão, cansados, após um dia cheio de preocupações? O que pode interessar-lhes a vossa empresa? Mais ainda… Como conseguir que vos dêem mais atenção do que aos milhares de outras notícias sobre milhares de outras empresas?
E aos jornalistas que são bombardeados todos os dias com e-mails, telefonemas, convites… Como explicar que a vossa empresa é diferente das outras, melhor do que as outras, mais interessante do que as outras?
Esse é o meu trabalho. Chamo-lhe às vezes ingrato, mas gosto muito dele e por isso sou bom a fazê-lo, sem modéstias tontas. De ser um filtro que depura o que não tem interesse geral, ser um intérprete entre três linguagens, ser um diapasão que afina o som emitido com o ouvido dos receptores. Ser um consultor de comunicação. Obrigado pela vossa paciência. É sinal de que mereço o que me pagam.
Intérprete entre linguagens
Há profissões mais simples de explicar do que a minha. Por exemplo, a de físico quântico ou a de professor de literatura mesopotâmica pré-diluviana. Quando me perguntam «o que fazes?» a minha resposta – acompanhada de gráficos, bonecos e abundantes metáforas – termina inevitavelmente com outra interrogação: «Ah! (pausa) Então para que jornal é que escreves»?
Não deixa de ser triste deitar-me todos os dias, após horas e horas de labuta, com a consciência de que os meus filhos não percebem como o pai se arranja para pagar-lhes a mesada. Nem sequer a minha mulher sabe o que faço ao certo ou, se já percebeu, gosta de fingir que não para escapulir-se à penosa descrição do meu dia-a-dia no escritório.
Esta incapacidade geral de compreensão foi a grande razão por que aceitei o convite para responsável da página de livros da revista «Blitz», praticamente de borla. Facilitou-me imenso a vida e, agora, posso responder que sou crítico literário. O que sempre dá alguma panache. Para além disso, recebo convites para aparecer em todos os lançamentos com direito a croquete (e olhem que são muitos, nem imaginam a quantidade de livros que se edita neste país; o que me safa é não ter tempo para comparecer).
A verdade, no entanto, é outra. «Sou» consultor de comunicação (sempre achei responder que se «é» uma profissão algo pessoalmente redutor). Assim uma espécie de assessor de imprensa mas em mais chique, o que também não explica muito. O meu cartão de visita diz «Director de Projectos Especiais», críptica designação que corresponde ao cargo ninja que me atribuíram na ipsis – consultores de comunicação, a empresa em que trabalho.
Vocês que me lêem, e que devem ser responsáveis de recursos humanos ou directores de outras áreas de negócio, já com certeza lidaram com um consultor de comunicação em alguma parte da vossa vida profissional. Basicamente, somos intérpretes entre várias linguagens: Fazemos a ponte entre uma empresa ou uma instituição e os meios de comunicação social, adequando a informação a divulgar à especificidade de cada jornal, revista, ou programa de televisão ou rádio. Basicamente é isto (Ufa! Fiquei sem fôlego!).
Há, no entanto, muito trabalho para além do básico. E trabalho que gratifica e recompensa para além do material como, no momento em que escrevo, a minha responsabilidade pela comunicação da visita a Portugal de S. S. o Dalai Lama. Tentarei que os jornalistas estejam receptivos a difundir mensagens de paz e de luz, numa altura em que só as desgraças parecem fazer as manchetes.
Voltando à explicação daquilo que faço… Em Portugal, estima-se que cerca de 70% das notícias têm como base fontes indirectas. As agências de comunicação são uma delas, mas também os gabinetes governamentais ou autárquicos, os departamentos de comunicação das empresas, etc e etc. Uma «fonte» é qualquer entidade que forneça um determinado conteúdo a um órgão de comunicação. Até chegar aí, no entanto, há muito trabalho importante a fazer.
Vamos imaginar (a minha imaginação delirante ao ataque) que gostam tanto da leitura deste texto que uma ansiedade toma conta de vós e não descansam enquanto não pegam no telefone. Querem que a vossa empresa seja conhecida e, obviamente, da melhor forma. Querem chegar aos vossos clientes actuais e potenciais, parceiros de negócios, entidades oficiais, por aí fora. Ver o vosso trabalho reconhecido. Então ligam-me, marcamos uma reunião e começa o meu trabalho. O nosso trabalho.
Aí, sentamo-nos e olhamos de fora para aquilo que a empresa faz. Para vós, que estão dentro dela e a respiram, tudo é interessante: A qualidade das pessoas, as boas práticas, a responsabilidade social e ambiental, a forma única de abordar a vossa actividade, os novos negócios, os novos mercados… Tudo.
E às pessoas? Pessoas como vós que compram um jornal de manhã com poucos minutos para folheá-lo, ouvem a rádio com atenção ao trânsito, surfam a toda a velocidade pelos sites informativos na Internet ou ligam a televisão, cansados, após um dia cheio de preocupações? O que pode interessar-lhes a vossa empresa? Mais ainda… Como conseguir que vos dêem mais atenção do que aos milhares de outras notícias sobre milhares de outras empresas?
E aos jornalistas que são bombardeados todos os dias com e-mails, telefonemas, convites… Como explicar que a vossa empresa é diferente das outras, melhor do que as outras, mais interessante do que as outras?
Esse é o meu trabalho. Chamo-lhe às vezes ingrato, mas gosto muito dele e por isso sou bom a fazê-lo, sem modéstias tontas. De ser um filtro que depura o que não tem interesse geral, ser um intérprete entre três linguagens, ser um diapasão que afina o som emitido com o ouvido dos receptores. Ser um consultor de comunicação. Obrigado pela vossa paciência. É sinal de que mereço o que me pagam.
1 comentário:
O fotógrafo é, realmente e como se pode comprovar, um mago :)
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