Coloquei aqui onze bocadinhos de um dos dois livros de histórias que acabei de escrever (um bocadinho por cada história). Faço agora o mesmo para o segundo livro (dezasseis histórias).
1. Já o «pára-quedista», o «prestidigitador», a «amélia» e o «tachista», por exemplo, não costumam requerer acompanhamento, assim como estranhamente não o tiveram «barata tonta», «mosca morta», «picareta falante» e «adiantado mental». Pelo contrário, «deserdado», «dependente» e «desempregado» tiveram («deserdado da política», «político-dependente», «desempregado da política»). E «boy» não teve, ao contrário do que julgo deveria acontecer com «boi», como adiante referirei.
2. Ao lado do condutor ia um detestável figurão chamado Fernando Eduardo da Silva Pais, o director da PIDE, a polícia política do regime. Assim que o viu, o sinaleiro pareceu ficar sem voz. «Avance! Avance!», terá ordenado Silva Pais.
3. Um amigo meu, antigo Capitão de Abril e na altura da conferência a trabalhar como gestor numa grande empresa portuguesa, comentava comigo uns dias depois: «Aquele tipo, ministro ainda por cima, é o que lá na minha terra, ao pé de Leiria, se costuma chamar um burgesso!»
4. Tinha arranjado o meu próprio golpe. Daí que a meio da tarde – já com Marcello Caetano a dizer que se ia embora, mas para o tratarem com dignidade, e que o deixassem levar a biblioteca – eu andasse de um lado para o outro todo contente a mostrar o polegar ferido, como um precioso troféu.
5. E ao mesmo tempo deu uma palmada no ombro da estrela, palmada essa também de concordância, sem saber que ia atingi-la precisamente no ponto mais fraco. Foi assim que o Júlio Isidro levantou voo.
6. A verdade é que o tal homem, o charlatão, jurou fazer do burro um brilhante orador, mas só ao fim de dez anos de aturados exercícios e também de alguma teoria, que fica sempre bem nos conteúdos programáticos, nem que seja só para fazer vista perante o rei.
7. Era o Mário Soares e eu por pouco não o atropelava, embora me tenha parecido que nem ele nem a rapariga se aperceberam da situação. Depois da pequena travagem que tive de fazer, meti a primeira e conduzi apressadamente até casa, porque ia dar um jogo do Sporting na televisão.
8. Nos meus tempos finais da faculdade, houve uma ocasião em que estive quase a receber um prémio das mãos de um secretário de Estado; calhou-me logo o Santana Lopes.
9. Quem vê o Drácula a conduzir as coisas daquela maneira, não pode deixar de se lembrar de figuras como Júlia Pinheiro, Jorge Gabriel, Herman José e outros que a seguir foram surgindo nos ecrãs das televisões portuguesas.
10. Entretanto as coisas evoluíram, com os fantasmas, principalmente o do gato bravo, a tornarem-se atracções turísticas (coisa que a autarquia encorajava).
11. «Lúcio!!», gritou a professora. «Faz-me um retrato físico e psicológico do gigante Adamastor!!» Eu pensei logo que ia haver confusão.
12. O assunto foi a discussão durante uma boa meia hora, e acabou por realizar-se mesmo uma nova votação. Aí, Saramago ficou a ver navios.
13. Disse, claro que disse, mas apesar dos meus esforços não consegui convencer o professor Carvalho Rodrigues da genuinidade da tasca do balde da serradura. Nem a ele, nem a uma pessoa que acabou por apanhar a conversa a meio. Essa pessoa até me disse que aquilo do «pitroil» não era por causa de estar escrito como se calhar a dona da tasca dizia, mas antes por causa da palavra inglesa «oil», que o mais certo era estar escrita no depósito do camião que fazia a entrega do petróleo.
14. Eu conhecia-o de vê-lo na televisão. Era um actor, ainda por cima um que ultimamente andava a aparecer nalgumas séries e em telenovelas. Como é que eu não me tinha lembrado antes? «É teu vizinho?», perguntei ao dono do Farrusco, que continuava entretido a segurar na trela, enquanto os dois animais se divertiam. Ele respondeu-me secamente, sem sequer olhar para mim. «Mora aí.»
15. «Você, que eu ouvi já só na parte final a falar tão apaixonadamente da língua portuguesa e da língua castelhana, diga-me, de que país é?» Respondi-lhe que era de Portugal. «Hum!... É de Portugal...», pareceu ela estranhar. E eu confirmei: «Sim, sou de cá.»
16. Também a opção pelo cavalo não haveria de ser a melhor e o popularucho burro na volta ainda propiciava anedotas e até escárnios (além dos sempre inconvenientes zurros), apesar de ele próprio, o senhor, não o burro, já em tempos ter dado o seu aplauso a uma entrada na cidade de um burro em competição com um Ferrari.
1. Já o «pára-quedista», o «prestidigitador», a «amélia» e o «tachista», por exemplo, não costumam requerer acompanhamento, assim como estranhamente não o tiveram «barata tonta», «mosca morta», «picareta falante» e «adiantado mental». Pelo contrário, «deserdado», «dependente» e «desempregado» tiveram («deserdado da política», «político-dependente», «desempregado da política»). E «boy» não teve, ao contrário do que julgo deveria acontecer com «boi», como adiante referirei.
2. Ao lado do condutor ia um detestável figurão chamado Fernando Eduardo da Silva Pais, o director da PIDE, a polícia política do regime. Assim que o viu, o sinaleiro pareceu ficar sem voz. «Avance! Avance!», terá ordenado Silva Pais.
3. Um amigo meu, antigo Capitão de Abril e na altura da conferência a trabalhar como gestor numa grande empresa portuguesa, comentava comigo uns dias depois: «Aquele tipo, ministro ainda por cima, é o que lá na minha terra, ao pé de Leiria, se costuma chamar um burgesso!»
4. Tinha arranjado o meu próprio golpe. Daí que a meio da tarde – já com Marcello Caetano a dizer que se ia embora, mas para o tratarem com dignidade, e que o deixassem levar a biblioteca – eu andasse de um lado para o outro todo contente a mostrar o polegar ferido, como um precioso troféu.
5. E ao mesmo tempo deu uma palmada no ombro da estrela, palmada essa também de concordância, sem saber que ia atingi-la precisamente no ponto mais fraco. Foi assim que o Júlio Isidro levantou voo.
6. A verdade é que o tal homem, o charlatão, jurou fazer do burro um brilhante orador, mas só ao fim de dez anos de aturados exercícios e também de alguma teoria, que fica sempre bem nos conteúdos programáticos, nem que seja só para fazer vista perante o rei.
7. Era o Mário Soares e eu por pouco não o atropelava, embora me tenha parecido que nem ele nem a rapariga se aperceberam da situação. Depois da pequena travagem que tive de fazer, meti a primeira e conduzi apressadamente até casa, porque ia dar um jogo do Sporting na televisão.
8. Nos meus tempos finais da faculdade, houve uma ocasião em que estive quase a receber um prémio das mãos de um secretário de Estado; calhou-me logo o Santana Lopes.
9. Quem vê o Drácula a conduzir as coisas daquela maneira, não pode deixar de se lembrar de figuras como Júlia Pinheiro, Jorge Gabriel, Herman José e outros que a seguir foram surgindo nos ecrãs das televisões portuguesas.
10. Entretanto as coisas evoluíram, com os fantasmas, principalmente o do gato bravo, a tornarem-se atracções turísticas (coisa que a autarquia encorajava).
11. «Lúcio!!», gritou a professora. «Faz-me um retrato físico e psicológico do gigante Adamastor!!» Eu pensei logo que ia haver confusão.
12. O assunto foi a discussão durante uma boa meia hora, e acabou por realizar-se mesmo uma nova votação. Aí, Saramago ficou a ver navios.
13. Disse, claro que disse, mas apesar dos meus esforços não consegui convencer o professor Carvalho Rodrigues da genuinidade da tasca do balde da serradura. Nem a ele, nem a uma pessoa que acabou por apanhar a conversa a meio. Essa pessoa até me disse que aquilo do «pitroil» não era por causa de estar escrito como se calhar a dona da tasca dizia, mas antes por causa da palavra inglesa «oil», que o mais certo era estar escrita no depósito do camião que fazia a entrega do petróleo.
14. Eu conhecia-o de vê-lo na televisão. Era um actor, ainda por cima um que ultimamente andava a aparecer nalgumas séries e em telenovelas. Como é que eu não me tinha lembrado antes? «É teu vizinho?», perguntei ao dono do Farrusco, que continuava entretido a segurar na trela, enquanto os dois animais se divertiam. Ele respondeu-me secamente, sem sequer olhar para mim. «Mora aí.»
15. «Você, que eu ouvi já só na parte final a falar tão apaixonadamente da língua portuguesa e da língua castelhana, diga-me, de que país é?» Respondi-lhe que era de Portugal. «Hum!... É de Portugal...», pareceu ela estranhar. E eu confirmei: «Sim, sou de cá.»
16. Também a opção pelo cavalo não haveria de ser a melhor e o popularucho burro na volta ainda propiciava anedotas e até escárnios (além dos sempre inconvenientes zurros), apesar de ele próprio, o senhor, não o burro, já em tempos ter dado o seu aplauso a uma entrada na cidade de um burro em competição com um Ferrari.
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