Ver aqui, texto de Francisco Duarte Mangas hoje no «Diário de Notícias»; coloco-o também a seguir.
Por um livro autografado vai de Bragança a Lisboa
Joaquim Oliveira. Professor de Química reformado, bibliófilo, sempre que um escritor da sua preferência aparece em sessão pública, mete-se no autocarro em Bragança, cidade onde reside, e vai ao encontro dele, seja no Porto, Braga ou em Lisboa, com um saco de cheio de livros para autografar. Nunca esteve nos Estados Unidos, mas daí, graças a um amigo, também lhe chegam obras literárias dedicadas
Persistente. Atento à movimentação dos homens e mulheres de letras. Por um livro autografado de escritor de que "goste muito" vai de Bragança ao Porto ou a Lisboa, de autocarro, outras vezes à boleia. Da sua biblioteca, entre primeiras edições do padre António Vieira e outros livros raros, orgulha-se da obra completa de Agustina - tem todos os livros com dedicatória. No último, a autora de Sibila, com toque de ironia, inverteu os papéis: "Para Joaquim Oliveira, lembrança da sua admiradora", escreveu.Professor de Química, reformado, Joaquim Oliveira cultiva a paixão dos livros com a marca pessoal do autor. Livros em vários idiomas. Nunca foi aos Estados Unidos, mas, amiúde, recebe em casa, na cidade de Bragança, primeiras edições de escritores de língua inglesa e respectiva dedicatória. É um generoso americano que trata do assunto: vai aos lançamentos literários e pede a dedicatória em nome do amigo português.Em território nacional é Joaquim Oliveira, sem ajuda de terceiros, a perseguir a "presa". Ele própria afirma que "a época" (palavra que os caçadores usam) começa em Fevereiro, no Correntes d'Escritas, Póvoa de Varzim. Passa por Matosinhos, pelo encontro de literatura de viagem, e feiras do livro de Braga, Porto e Lisboa. O antigo docente de Química não esquece os leilões de bibliotecas particulares nem as visitas a alfarrabistas portuenses e da capital.O nome do bibliófilo de Bragança já apareceu nas páginas do jornal ABC. J. J. Armas Marcelo, escritor espanhol, veio ao Correntes d'Escritas e terá ficado impressionado com a quantidade de livros que um leitor luso lhe dera para assinar. Escreveu, então, uma crónica a contar o episódio vivido com Joaquim Oliveira na Póvoa de Varzim. Mas, pelos visto, cobriu-se se brios e exagerou: "Ele diz que apareci com os livros todos para assinar, é mentira: só levei seis ou sete e ele escreveu mais de 15."Lê muito. Admira a escrita de Raul Brandão e tem quase tudo de Cecília Meireles. Detesta a pobreza de certas dedicatórias de : "Para Joaquim Oliveira, António Lobo Antunes"; ou "cordialmente, José Saramago".
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