segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Palavrinha de Carolina
«Hoje vou-vos ensinar uma palavrinha: low price.»
Carolina Patrocínio, num anúncio de rádio
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Revista «human» de Setembro
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Nas bancas a partir de hoje, 27.08. Na capa, os responsáveis por um projecto de mudança na gestão de recursos humanos do Benfica. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Gestão RH também no desporto
Nos últimos anos o desporto tem servido de exemplo para as empresas, que nele encontram ensinamentos para as suas pessoas e as suas equipas. Veja-se uma das entrevistas desta edição, com um professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), a propósito de uma pós-graduação denominada «Treino de Liderança e Desenvolvimento de Equipas». A certa altura, pode ler-se: «Cada vez mais as empresas recorrem a conhecimentos de especialistas da área desportiva – técnicos, atletas ou consultores –, porque reconhecem que estes agentes possuem um leque de competências e de conhecimentos que podem ser transpostos para o contexto empresarial.»
É realmente o que tem vindo a acontecer. Mas o contrário também, com o mundo das empresas a fornecer ao do desporto muito do seu conhecimento. No caso dos clubes de futebol, com a profissionalização crescente das suas estruturas, isso tem sido bem evidente.
Nesta edição, o principal destaque vai para um desses casos, em que a gestão – e em particular a gestão de recursos humanos – entra no universo de um clube de futebol, anda por cima um dos de topo em Portugal, o Benfica. Através de uma entrevista com a directora de recursos humanos, Luísa Ramos, e de um texto do consultor João Ferreira Bogalho, é possível ficar a conhecer as mudanças que nos últimos quatro anos têm vindo a acontecer no clube da águia, ou melhor, no Grupo Benfica, que actualmente é constituído por várias empresas: o Sport Lisboa e Benfica, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD, a Benfica Estádio, a Benfica TV, a Clínica do Benfica e a Benfica Seguros, além da recente Fundação Benfica. Mudanças tendo em vista chegar a uma gestão estratégica das pessoas de todo este universo, Tomando sempre em conta, é claro, a sua especificidade. Porque, como afirma Luísa Ramos, «o ambiente emotivo que se vive diariamente num clube como o Benfica condiciona estratégias, tomadas de decisão e estados de espírito».
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Gestão RH também no desporto
Nos últimos anos o desporto tem servido de exemplo para as empresas, que nele encontram ensinamentos para as suas pessoas e as suas equipas. Veja-se uma das entrevistas desta edição, com um professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), a propósito de uma pós-graduação denominada «Treino de Liderança e Desenvolvimento de Equipas». A certa altura, pode ler-se: «Cada vez mais as empresas recorrem a conhecimentos de especialistas da área desportiva – técnicos, atletas ou consultores –, porque reconhecem que estes agentes possuem um leque de competências e de conhecimentos que podem ser transpostos para o contexto empresarial.»
É realmente o que tem vindo a acontecer. Mas o contrário também, com o mundo das empresas a fornecer ao do desporto muito do seu conhecimento. No caso dos clubes de futebol, com a profissionalização crescente das suas estruturas, isso tem sido bem evidente.
Nesta edição, o principal destaque vai para um desses casos, em que a gestão – e em particular a gestão de recursos humanos – entra no universo de um clube de futebol, anda por cima um dos de topo em Portugal, o Benfica. Através de uma entrevista com a directora de recursos humanos, Luísa Ramos, e de um texto do consultor João Ferreira Bogalho, é possível ficar a conhecer as mudanças que nos últimos quatro anos têm vindo a acontecer no clube da águia, ou melhor, no Grupo Benfica, que actualmente é constituído por várias empresas: o Sport Lisboa e Benfica, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD, a Benfica Estádio, a Benfica TV, a Clínica do Benfica e a Benfica Seguros, além da recente Fundação Benfica. Mudanças tendo em vista chegar a uma gestão estratégica das pessoas de todo este universo, Tomando sempre em conta, é claro, a sua especificidade. Porque, como afirma Luísa Ramos, «o ambiente emotivo que se vive diariamente num clube como o Benfica condiciona estratégias, tomadas de decisão e estados de espírito».
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O início
O início do primeiro conto do meu primeiro livro (livro de contos «Quando o Presidente da República Visitou Monchique por Mera Curiosidade», conto «A Bruxa do Bairro Alto de São Roque»).
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O século ainda ia novo, mas a vida – que às idades não parecia ligar muito – já andava outra vez agitada por Lisboa. Ele era milagres de Santo António dia sim dia não, ele era as pessoas a falarem do anjo que alguém tinha avistado no alto da torre da igreja de Nossa Senhora da Graça, ele era ainda outras criaturas, talvez mandadas por Deus e observadas por quem jurava a pés juntos que não eram foliões mascarados. E o bispo inquisidor, enquanto tão grandes maravilhas tinham relato, lá se ia entretendo a mandar queimar hereges e judeus, uns por coisas vistas, outros porque, bem vistas as coisas, não haveria no reino deles necessidade.
Tudo isto, que já não era pouco, ia acontecendo ao mesmo tempo que os castelhanos arranhavam por terra a toda a hora e os franceses picavam por mar de vez em quando. E para ajudar à festa, el-rei todo poderoso, o quinto João com que o reino alombava, ainda se punha a morder dentro das próprias fronteiras com impostos tais que a riqueza de jóias e vestes que à corte se via nunca antes tinha sido assim notada. Mas o povo não era tão desligado como deixava parecer a quem o observava das varandas reais, e por isso nem a desculpa do ouro de Terras de Santa Cruz o convencia de que nesses altos enxovais não figurava moeda plebeia.
Tudo isto, que já não era pouco, ia acontecendo ao mesmo tempo que os castelhanos arranhavam por terra a toda a hora e os franceses picavam por mar de vez em quando. E para ajudar à festa, el-rei todo poderoso, o quinto João com que o reino alombava, ainda se punha a morder dentro das próprias fronteiras com impostos tais que a riqueza de jóias e vestes que à corte se via nunca antes tinha sido assim notada. Mas o povo não era tão desligado como deixava parecer a quem o observava das varandas reais, e por isso nem a desculpa do ouro de Terras de Santa Cruz o convencia de que nesses altos enxovais não figurava moeda plebeia.
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Os casos de admirar eram tantos que os novos logo abafavam outros já bem repisados. E conseguiam-no mais pela força que tinham do que pela falta dela nos anteriores, pois cada um que surgia deixava três ou quatro para trás no que respeitava a falatórios. Nunca se tinha pensado que no reino pudessem vir a caber todos, mas eles iam cabendo, e isso era uma coisa que ninguém desmentia, tanto mais que Deus também não dava sinais de querer fazê-lo.
Foi por esses tempos que se começou a falar na bruxa do Bairro Alto de São Roque. Inês Duarte, que era o nome que ao baptismo lhe tinha calhado, apareceu de repente aos olhos de todos como uma criatura destinada a tornar ainda mais notável aquele ano de 1706. Deu-se isso de forma tão espantosa que o bispo inquisidor se encarregou de a levar assim que o caso lhe chegou aos ouvidos. E decerto que não iria tardar muito a mandar queimá-la no Rossio, de bruxas e feiticeiros acompanhada, numa fogueira bem grande, que assim era ao gosto do povo, assim Dom João aprovava, assim Deus não se opunha, tão-pouco o Diabo, que esse toda a gente dizia ser das chamas apreciador certo.
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Foi por esses tempos que se começou a falar na bruxa do Bairro Alto de São Roque. Inês Duarte, que era o nome que ao baptismo lhe tinha calhado, apareceu de repente aos olhos de todos como uma criatura destinada a tornar ainda mais notável aquele ano de 1706. Deu-se isso de forma tão espantosa que o bispo inquisidor se encarregou de a levar assim que o caso lhe chegou aos ouvidos. E decerto que não iria tardar muito a mandar queimá-la no Rossio, de bruxas e feiticeiros acompanhada, numa fogueira bem grande, que assim era ao gosto do povo, assim Dom João aprovava, assim Deus não se opunha, tão-pouco o Diabo, que esse toda a gente dizia ser das chamas apreciador certo.
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As ordens do presidente
«Tá calado, pá! Tá calado!»
José Eduardo Bettencourt para um adepto do Sporting, hoje, à chegada a Lisboa depois da eliminação da equipa da Liga dos Campeões
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José Eduardo Bettencourt,
Sporting
Será que estamos na presença de um potencial Dias Loureiro?
Ouvi e nem queria acreditar. Paulo Rangel, ontem, na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide: «A política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política. E essa é a grande lição de 'O Príncipe’.»
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O presidente do Sporting é ambicioso em relação ao seu salário, falta-lhe é ambição para o clube
Eu tinha esperanças de que o jogo – Fiorentina 1, Sporting 1 (João Moutinho) – pudesse correr bem. Não correu, a eliminação é uma tristeza, mas tendo em conta tudo o que temos visto desde o início desta época do Sporting até que a imagem deixada pela equipa não foi nada má. O Sporting está fora da Liga dos Campeões, por culpa da arbitragem trapaceira do jogo da primeira mão, mas também – é preciso reconhecê-lo – pelas debilidades que vem apresentando. Mesmo jogando bem nesta eliminatória com a Fiorentina, ficou bem à vista no jogo de hoje que o problema nem sempre está nos erros de Paulo Bento ou na falta de aplicação dos jogadores. No jogo de Florença deu para ver a certa altura que a equipa queria mais e não conseguia. É o resultado de uma época mal preparada pelos dirigentes, com tudo arranjado em cima do joelho, denotando um enorme desinteresse pelo clube. Percebe-se que não há disponibilidade financeira (mesmo depois de tanto dinheiro que entrou da Liga dos Campeões, de algumas vendas de jogadores e de venda do património – para onde terá ido tanto dinheiro?); mas se tivesse havido trabalho, mesmo com essa condicionante teria sido possível arranjar um plantel mais forte. Mas não… Foi um absoluto desinteresse. Coisa que aliás já se adivinhava, ainda no tempo de Filipe Soares Franco, que dizia que era preferível ficar em segundo lugar no campeonato em vez de ficar em primeiro, para poupar nos prémios aos jogadores; ou como Ernesto Ferreira da Silva, para quem perder em casa por cinco a dois com o Barcelona foi aceitável (imagino que os doze a um com o Bayern terão sido, sei lá, um resultado não muito bom, ou pouco satisfatório, ou ligeiramente desagradável). Curiosamente, toda esta falta de ambição, pela condicionante financeira, acontece quando no Sporting se começa a pagar, e muito, ao presidente. Que neste aspecto, no seu próprio salário, revelou ambição; já para o Sporting, infelizmente, não sobrou nem um bocadinho.
Foto: «A Bola»
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quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Sempre o BPN
«Portugal hoje é um grande BPN.»
Henrique Medina Carreira, na SIC Notícias
«Portugal é uma holding de rapinagem que faz o que se passou no BPN parecer a contabilidade de uma igreja mórmon.»
Mário Crespo, no Jornal de Notícias
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Portugal
Políticos
Acontece neste livro.
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– Pai, por que é que os políticos são mentirosos?
Antes de tentar responder, corrigiu mentalmente a pergunta do filho:
«Por que é que os políticos são uma cambada de mentirosos?»
E depois começou a ensaiar a resposta.
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– Pai, por que é que os políticos são mentirosos?
Antes de tentar responder, corrigiu mentalmente a pergunta do filho:
«Por que é que os políticos são uma cambada de mentirosos?»
E depois começou a ensaiar a resposta.
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Políticos
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Cansou-se depressa
Apesar de ser profissional (e bem pago), há mais de uma semana que o presidente do meu clube não escreve no Twitter.
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As capas dos livros (9)
Do romance «Uma Noite com o Fogo», de 2009 (edição Quetzal).
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O que eu esperava era encontrar um enorme corrupio por ali, carros de bombeiros, ou de particulares que andassem também no combate às chamas; até algumas viaturas distintas de políticos nem por sonhos dignos de distinção, ou algum helicóptero mais destemido para se aventurar à noite pelos ares pintados de vermelho. E jornalistas, também jornalistas, sobretudo se houvesse políticos. Mas não. Nada. Ninguém. Por mais que forçasse a vista, eu não descobria nenhum sinal capaz de contrariar a ideia que entretanto tinha ido formando ao percorrer a estrada nova: estava sozinho.
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O que eu esperava era encontrar um enorme corrupio por ali, carros de bombeiros, ou de particulares que andassem também no combate às chamas; até algumas viaturas distintas de políticos nem por sonhos dignos de distinção, ou algum helicóptero mais destemido para se aventurar à noite pelos ares pintados de vermelho. E jornalistas, também jornalistas, sobretudo se houvesse políticos. Mas não. Nada. Ninguém. Por mais que forçasse a vista, eu não descobria nenhum sinal capaz de contrariar a ideia que entretanto tinha ido formando ao percorrer a estrada nova: estava sozinho.
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Romance «Uma Noite com o Fogo»
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O futuro
«Odeio perder. Prefiro fazer batota.»
Carolina Patrocínio, 22 anos, mandatária do Partido Socialista para a juventude
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Bettencourt parece ser ainda menos profissional do que os outros presidentes, que não tinham ordenado, nem pequeno, nem grande, nem principesco
Nem precisava o jogo com o Braga – Sporting 1 (Yannick), Braga 2 – para se perceber. Mas o jogo, ou antes, a derrota (tal como a exibição vergonhosa) veio ajudar. O Sporting vive um momento dramático, com a sua equipa principal de futebol completamente à deriva. Custa ver o que se paga a tantos técnicos e agora até a um presidente para o resultado ser este. Há tempos, quando ainda estava no clube Filipe Soares Franco, parecia-me que era impossível descer tão baixo em ambição, mas agora, com José Eduardo Bettencourt – e o seu patético entusiasmo, misturado com um enervante alheamento do que historicamente são os objectivos do Sporting nas competições em que participa –, as coisas ainda estão piores. Não me agradou a sua eleição, mas a verdade é que nunca esperei tanto desleixo, tanta leviandade, tanta falta de espírito de conquista. Já sabia que a gente que o rodeia não dava para grande coisa, mas no caso dele tinha esperanças de que pelo menos fizesse melhor do que Filipe Soares Franco – que se limitou a empobrecer o clube. Essas esperanças tenho vindo a perdê-las. José Eduardo Bettencourt, que custa muito dinheiro ao Sporting, parece ser ainda menos profissional do que os outros presidentes, que não tinham ordenado, nem pequeno, nem grande, nem principesco. Nem sei o que diga mais do que tenho visto acontecer ao meu clube.
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Foto: «A Bola»
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sábado, 22 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
As capas dos livros (8)
Do romance «O que Entra nos Livros», de 2007 (edição Ambar).
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Dei uma volta pelo monte. As agulhas dos arqueiros do vento frio não paravam de me acertar. Passei perto dos cães, que já estavam a dormir, os três em cima das mantas que de dia carregavam entre os dentes para se exibirem. Só um dos gatos apareceu, o branco, rebolando-se junto de mim. Os restantes três deviam andar na caça, ou em disputas no montado com alguma gineta. Voltei para casa e com a tenaz afastei os troncos que ardiam na lareira, para que as chamas fossem morrendo. Se piasse uma coruja àquela hora não seria de admirar. Esperei um pouco, mas não piou nenhuma. Vi o gato branco a passar pelo parapeito de uma das janelas, aos saltos, como se fosse com pressa em direcção a alguma coisa, talvez juntar-se aos outros na contenda com a gineta. Sim, podia ser isso, se houvesse mesmo gineta, e contenda. Um dos cães ladrou, o mais novo, mas calou-se logo a seguir; se calhar tinha sentido algum intruso por perto, um javali, ou um texugo, ou simplesmente um rato a aventurar-se por um monte onde havia gatos, ou um ouriço-cacheiro. Entrei no quarto, com a luz ténue de uma lâmpada colocada junto ao chão a permitir-me andar sem tropeções. Havia um meio sorriso dentro do berço, tranquilo, a iluminar um sono profundo. Fui tirando a roupa em silêncio, ou no silêncio que consegui manter, e aconcheguei-me na cama. Pouco depois senti cócegas, pequenas cócegas da respiração de uma flor, bem perto, quase a tocar-me o rosto.
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Dei uma volta pelo monte. As agulhas dos arqueiros do vento frio não paravam de me acertar. Passei perto dos cães, que já estavam a dormir, os três em cima das mantas que de dia carregavam entre os dentes para se exibirem. Só um dos gatos apareceu, o branco, rebolando-se junto de mim. Os restantes três deviam andar na caça, ou em disputas no montado com alguma gineta. Voltei para casa e com a tenaz afastei os troncos que ardiam na lareira, para que as chamas fossem morrendo. Se piasse uma coruja àquela hora não seria de admirar. Esperei um pouco, mas não piou nenhuma. Vi o gato branco a passar pelo parapeito de uma das janelas, aos saltos, como se fosse com pressa em direcção a alguma coisa, talvez juntar-se aos outros na contenda com a gineta. Sim, podia ser isso, se houvesse mesmo gineta, e contenda. Um dos cães ladrou, o mais novo, mas calou-se logo a seguir; se calhar tinha sentido algum intruso por perto, um javali, ou um texugo, ou simplesmente um rato a aventurar-se por um monte onde havia gatos, ou um ouriço-cacheiro. Entrei no quarto, com a luz ténue de uma lâmpada colocada junto ao chão a permitir-me andar sem tropeções. Havia um meio sorriso dentro do berço, tranquilo, a iluminar um sono profundo. Fui tirando a roupa em silêncio, ou no silêncio que consegui manter, e aconcheguei-me na cama. Pouco depois senti cócegas, pequenas cócegas da respiração de uma flor, bem perto, quase a tocar-me o rosto.
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Literatura,
Romance «O que Entra nos Livros»
Os adeptos do Sporting mereciam mais consideração e empenho das pessoas que agora gerem o clube
Terça à noite – Sporting 2 (Vukcevic, Miguel Veloso), Fiorentina 2 –, mais uma desilusão. E também uma confirmação, a de uma época mal preparada, de forma pouco profissional, não se sabendo bem como se podem repartir as culpas entre a direcção do Sporting e a equipa técnica liderada por Paulo Bento. Os adeptos do Sporting mereciam mais consideração e empenho das pessoas que agora gerem o clube.
Confirmou-se o pouco profissionalismo de quem preparou a época – talvez até mais do que pouco profissionalismo, o desleixo –, mesmo num jogo em que a equipa fez a melhor exibição até agora, com alguns momentos em que chegou a mostrar um certo brilho. Isto aconteceu principalmente porque os bons jogadores (Liedson, João Moutinho, Miguel Veloso, Daniel Carriço ou Matías Fernández, por exemplo) estão a subir de rendimento. O problema é que a par de bons jogadores, e de uns quantos assim-assim, integram o plantel (e fazem normalmente parte da equipa titular) outros de péssima qualidade (Polga e Caneira são dois exemplos, e as indicações deixadas para já por André Marques também fazem recear o pior). Com tal desequilíbrio, que a equipa técnica e a direcção do clube ou não conseguem ou não querem ou não podem ver, é muito difícil que as coisas corram bem.
Depois, neste jogo, a juntar aos problemas próprios, o árbitro, que favoreceu de forma escandalosa a Fiorentina. Não é possível que os erros cometidos a favor da equipa italiana tenham sido fruto do acaso. Alguma coisa aconteceu para o árbitro ter agido como agiu, perdoando por exemplo várias expulsões à Fiorentina, coisa que não fez quando lhe surgiu a oportunidade de expulsar um jogador do Sporting. Em casos tão óbvios, e já que existe uma polícia europeia, devia haver uma investigação dessa mesma polícia. Já uma investigação da UEFA não me parece que faça sentido, por esta ser parte interessada no assunto – não tanto por organizar a competição mas pelo facto de ter nomeado o árbitro (e se ele se apresentou daquela maneira em Alvalade, a própria UEFA deveria assumir-se como co-responsável nos actos que ele praticou, de tão incompreensíveis que foram).
Confirmou-se o pouco profissionalismo de quem preparou a época – talvez até mais do que pouco profissionalismo, o desleixo –, mesmo num jogo em que a equipa fez a melhor exibição até agora, com alguns momentos em que chegou a mostrar um certo brilho. Isto aconteceu principalmente porque os bons jogadores (Liedson, João Moutinho, Miguel Veloso, Daniel Carriço ou Matías Fernández, por exemplo) estão a subir de rendimento. O problema é que a par de bons jogadores, e de uns quantos assim-assim, integram o plantel (e fazem normalmente parte da equipa titular) outros de péssima qualidade (Polga e Caneira são dois exemplos, e as indicações deixadas para já por André Marques também fazem recear o pior). Com tal desequilíbrio, que a equipa técnica e a direcção do clube ou não conseguem ou não querem ou não podem ver, é muito difícil que as coisas corram bem.
Depois, neste jogo, a juntar aos problemas próprios, o árbitro, que favoreceu de forma escandalosa a Fiorentina. Não é possível que os erros cometidos a favor da equipa italiana tenham sido fruto do acaso. Alguma coisa aconteceu para o árbitro ter agido como agiu, perdoando por exemplo várias expulsões à Fiorentina, coisa que não fez quando lhe surgiu a oportunidade de expulsar um jogador do Sporting. Em casos tão óbvios, e já que existe uma polícia europeia, devia haver uma investigação dessa mesma polícia. Já uma investigação da UEFA não me parece que faça sentido, por esta ser parte interessada no assunto – não tanto por organizar a competição mas pelo facto de ter nomeado o árbitro (e se ele se apresentou daquela maneira em Alvalade, a própria UEFA deveria assumir-se como co-responsável nos actos que ele praticou, de tão incompreensíveis que foram).
Foto: «A Bola»
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terça-feira, 18 de agosto de 2009
As capas dos livros (7)
Do livro de contos «O Amor por entre os Dedos», de 2005 (edição Ambar).
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Kate estava com a cara tapada. Tinha conseguido tapar quase toda a superfície da cara, com as mãos ao lado uma da outra, as duas tocando o nariz. O jovem escritor pensou que ela de repente ia começar a chorar, se calhar de raiva. Ou a gritar. O que é que ele faria se isso acontecesse? E se ela estivesse a pensar numa forma de sair dali a correr, se nesse preciso momento se estivesse a perguntar como poderia fazê-lo o mais depressa possível, sem que ele a pudesse impedir? O jovem escritor pensava em tudo aquilo, pensava em tantas coisas, e tremia. Não sabia o que fazer, nem se sentia com coragem para dizer uma palavra que fosse. Nada, apenas tremia. Agarrou as flores com mais força e olhou para o marinheiro, na outra mão. O velho lobo-do-mar estava sereno, como sempre, com o cachimbo na boca e as mãos na cintura.
Kate estava com a cara tapada. Tinha conseguido tapar quase toda a superfície da cara, com as mãos ao lado uma da outra, as duas tocando o nariz. O jovem escritor pensou que ela de repente ia começar a chorar, se calhar de raiva. Ou a gritar. O que é que ele faria se isso acontecesse? E se ela estivesse a pensar numa forma de sair dali a correr, se nesse preciso momento se estivesse a perguntar como poderia fazê-lo o mais depressa possível, sem que ele a pudesse impedir? O jovem escritor pensava em tudo aquilo, pensava em tantas coisas, e tremia. Não sabia o que fazer, nem se sentia com coragem para dizer uma palavra que fosse. Nada, apenas tremia. Agarrou as flores com mais força e olhou para o marinheiro, na outra mão. O velho lobo-do-mar estava sereno, como sempre, com o cachimbo na boca e as mãos na cintura.
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domingo, 16 de agosto de 2009
Agora o meu medo é que no Sporting esta falta de profissionalismo seja «forever»
Já se sabia que as coisas não iam correr bem. Refiro-me ao Nacional 1, Sporting 1 (auto-golo), um jogo onde o Sporting voltou a apresentar uma gritante fragilidade. No fim, lá apareceu o empate à custa de mais um auto-golo e, justiça seja feita, à custa de alguma pressão que não se sabe como a equipa conseguiu fazer nos últimos vinte minutos. A pouco profissional preparação da época (ainda por cima logo na primeira em que temos um presidente profissional) só podia dar mesmo nisto. Agora o meu medo é que esta falta de profissionalismo seja «forever».
Foto: «A Bola»
. Às tantas
«Às tantas não se sabe quem são os corruptos bons e quem são os corruptos maus.»
Francisco Moita Flores
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Corrupção,
Francisco Moita Flores
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
As capas dos livros (6)
Do romance «O Medo Longe de Ti», de 2003 (edição Temas e Debates).
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Agarrei um dos ferros da ponte, agarrei-o com firmeza, com a mão esquerda, talvez a procurar alguma coisa que justificasse o facto de não me virar, alguma coisa que me prendesse. Como é que eu poderia virar-me depois de estar agarrado ao ferro? Naquele momento, já tinha esperanças até numa desculpa assim, que haveria de funcionar. Eu, que tinha olhado fixamente para ti durante longos minutos, no jantar de boas-vindas, antes de me aproximar para te perguntar o nome e tantas outras coisas. Eu, que te tinha olhado com tanta força, nas escadas, ao encontrar-te pela primeira vez. E agora estava ali, na ponte onde os dois rios se uniam, sem me virar para ti, só porque tinha medo de, ao virar-me, não te encontrar a sorrir. Que faria eu se não estivesses a sorrir? Se estivesses parada a olhar-me, e se calhar já a perder a paciência com as minhas coisas? Tu, parada, talvez até de braços cruzados e a bater o pé direito, e com alguns dos gnomos maus de um lado para o outro, a conterem risinhos sarcásticos sabe-se lá com que sacrifícios, a dobrarem-se para ver se aguentavam aquele divertimento em surdina. E lá atrás, já bem no escuro das primeiras árvores, no sopé da colina da Universität, uma bruxa das más a desaparecer enquanto podia, toda manhosa, como se fosse dali para bem longe toda descansadinha da vida por ter cumprido mais um serviço. Como se regressasse ao cercado.
Sim, eu agarrava-me a um dos ferros da ponte, com quantas forças tinha, com as duas mãos. De repente, dei por mim já com as duas mãos no ferro, como se me preparasse para saltar para junto dos peixes. Já nem sabia o que podias pensar, se é que não te tinhas ido mesmo embora, depois de duas perguntas sem resposta minha. «Por que é que não olhas para mim?», «Por que é que não olhas para mim?» E eu, parvo, não olhava. Mas espreitava, conseguia espreitar, por me ter virado um pouco ao agarrar o ferro da ponte também com a mão direita. Só que não te via bem, nem sequer via um dos gnomos maus, tão-pouco uma bruxa capaz de acompanhá-lo em maldade. Não conseguia vislumbrar-te um sorriso, uma lágrima, um olhar de desdém, nada, porque tu já não estavas no mesmo lugar.
Agarrei um dos ferros da ponte, agarrei-o com firmeza, com a mão esquerda, talvez a procurar alguma coisa que justificasse o facto de não me virar, alguma coisa que me prendesse. Como é que eu poderia virar-me depois de estar agarrado ao ferro? Naquele momento, já tinha esperanças até numa desculpa assim, que haveria de funcionar. Eu, que tinha olhado fixamente para ti durante longos minutos, no jantar de boas-vindas, antes de me aproximar para te perguntar o nome e tantas outras coisas. Eu, que te tinha olhado com tanta força, nas escadas, ao encontrar-te pela primeira vez. E agora estava ali, na ponte onde os dois rios se uniam, sem me virar para ti, só porque tinha medo de, ao virar-me, não te encontrar a sorrir. Que faria eu se não estivesses a sorrir? Se estivesses parada a olhar-me, e se calhar já a perder a paciência com as minhas coisas? Tu, parada, talvez até de braços cruzados e a bater o pé direito, e com alguns dos gnomos maus de um lado para o outro, a conterem risinhos sarcásticos sabe-se lá com que sacrifícios, a dobrarem-se para ver se aguentavam aquele divertimento em surdina. E lá atrás, já bem no escuro das primeiras árvores, no sopé da colina da Universität, uma bruxa das más a desaparecer enquanto podia, toda manhosa, como se fosse dali para bem longe toda descansadinha da vida por ter cumprido mais um serviço. Como se regressasse ao cercado.
Sim, eu agarrava-me a um dos ferros da ponte, com quantas forças tinha, com as duas mãos. De repente, dei por mim já com as duas mãos no ferro, como se me preparasse para saltar para junto dos peixes. Já nem sabia o que podias pensar, se é que não te tinhas ido mesmo embora, depois de duas perguntas sem resposta minha. «Por que é que não olhas para mim?», «Por que é que não olhas para mim?» E eu, parvo, não olhava. Mas espreitava, conseguia espreitar, por me ter virado um pouco ao agarrar o ferro da ponte também com a mão direita. Só que não te via bem, nem sequer via um dos gnomos maus, tão-pouco uma bruxa capaz de acompanhá-lo em maldade. Não conseguia vislumbrar-te um sorriso, uma lágrima, um olhar de desdém, nada, porque tu já não estavas no mesmo lugar.
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Romance «O Medo Longe de Ti»
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Agora é que é mesmo para acabar a noite
«Meu caro, você se tem alguma coisa séria diga.»
Henrique Medina Carreira para José Gomes Ferreira, na entrevista que está a dar
na SIC Notícias e na qual diz que «Portugal hoje é um grande BPN»
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Para acabar a noite
«Ó Gomes Ferreira, não faça confusões.»
Henrique Medina Carreira para José Gomes Ferreira, na entrevista que está a dar
na SIC Notícias e na qual diz que «Portugal hoje é um grande BPN»
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Ainda esta noite
«Essas perguntas que você está a fazer é à maneira de um papagaio.»
Henrique Medina Carreira para José Gomes Ferreira, na entrevista que está a dar
na SIC Notícias e na qual diz que «Portugal hoje é um grande BPN»
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Esta noite
«Você gosta desta conversa fiada.»
Henrique Medina Carreira para José Gomes Ferreira, na entrevista que está a dar
na SIC Notícias e na qual diz que «Portugal hoje é um grande BPN»
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Em 2050, Pedro Granger, já de cabelos brancos e presidente do Sporting, elogia o Benfica
Esta capa do jornal «Record» poderia ser do ano 2050. O presidente do Sporting nessa altura, Pedro Gangrer, já de cabelos brancos e retirado da carreira artística, dedicava-se em exclusivo ao seu (e meu) clube, aproveitando a reforma (ou seja, nem precisava de ser remunerado). Falava do que fazia o Benfica e do que ele próprio não conseguia fazer no Sporting, o que levava a que houvesse entusiasmo na Luz e descrença em Alvalade.
Podia mesmo ser uma coisa de 2050, mas não, é dos tempos de agora, da capa de ontem do «Record». A José Eduardo Bettencourt não lhe fazia mal nenhum ser mais contido a falar dos adversários para evitar armadilhas assim. Depois dos elogios ao modelo de gestão do Porto, deu-lhe agora para os elogios ao entusiasmo que vai pelo Benfica (e que costuma manifestar-se sempre nestas alturas da época). Cada vez mais dou comigo a pensar se este presidente não terá sido uma contratação falhada.
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Podia mesmo ser uma coisa de 2050, mas não, é dos tempos de agora, da capa de ontem do «Record». A José Eduardo Bettencourt não lhe fazia mal nenhum ser mais contido a falar dos adversários para evitar armadilhas assim. Depois dos elogios ao modelo de gestão do Porto, deu-lhe agora para os elogios ao entusiasmo que vai pelo Benfica (e que costuma manifestar-se sempre nestas alturas da época). Cada vez mais dou comigo a pensar se este presidente não terá sido uma contratação falhada.
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Pedro Granger,
Sporting
terça-feira, 11 de agosto de 2009
As capas dos livros (5)
Do romance «Os Sonhos e Outras Perigosas Embirrações», de 2000 (edição Temas e Debates).
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Às vezes, carinho, consigo ver-te no mar. As ondas costumam ser pequeninas, quase imperceptíveis, e por isso só te mexes quando os barcos se aproximam. Alguns, de certeza, são apenas a minha imaginação a fazer ondular o teu cabelo caído pelo rosto, mas há muitos que passam por ti como se nem sequer existisses. Esses são bem reais e a velha Luzia dos Engreneiros, do alto da rocha onde pesca ao fim da tarde, não se cansa de os amaldiçoar.
- Deve ser porque lhe espantam os peixes.
- Ou então, amigo, é mesmo por ruindade.
A velha Luzia dos Engreneiros já não tem nariz. E tudo porque um dia, ainda em rapariga, lhe explodiu o caldeirão dos preparos enquanto estava a tomar-lhes o cheiro. Só que isso nunca lhe deu grandes aborrecimentos.
- Ela nem se foi abaixo, até porque não era criatura para isso, amezinhou-se sozinha e ao fim de dois ou três meses apareceu com um nariz novo. Claro que se tratava de um nariz dos de carnaval, daqueles com uns óculos pretos por cima, mas como já uma vez ouvi dizer, minha boa e apreciada amiga, não se pode ter tudo nesta vida.
- É capaz. O mais certo é nem na outra vida se conseguir ter tudo.
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Às vezes, carinho, consigo ver-te no mar. As ondas costumam ser pequeninas, quase imperceptíveis, e por isso só te mexes quando os barcos se aproximam. Alguns, de certeza, são apenas a minha imaginação a fazer ondular o teu cabelo caído pelo rosto, mas há muitos que passam por ti como se nem sequer existisses. Esses são bem reais e a velha Luzia dos Engreneiros, do alto da rocha onde pesca ao fim da tarde, não se cansa de os amaldiçoar.
- Deve ser porque lhe espantam os peixes.
- Ou então, amigo, é mesmo por ruindade.
A velha Luzia dos Engreneiros já não tem nariz. E tudo porque um dia, ainda em rapariga, lhe explodiu o caldeirão dos preparos enquanto estava a tomar-lhes o cheiro. Só que isso nunca lhe deu grandes aborrecimentos.
- Ela nem se foi abaixo, até porque não era criatura para isso, amezinhou-se sozinha e ao fim de dois ou três meses apareceu com um nariz novo. Claro que se tratava de um nariz dos de carnaval, daqueles com uns óculos pretos por cima, mas como já uma vez ouvi dizer, minha boa e apreciada amiga, não se pode ter tudo nesta vida.
- É capaz. O mais certo é nem na outra vida se conseguir ter tudo.
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009
As capas dos livros (4)
Do livro de contos «O Velho que Esperava por D. Sebastião», de 1999 (edição Pergaminho).
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Eu continuava a falar com o filho dela. À quarta-feira. O miúdo tinha-me dito que esse era o dia em que a mãe dava aulas até tarde, e que por isso ele vinha para casa no autocarro do colégio.
- Nos outros dias a minha mãe vai-me sempre buscar.
Contava tudo ao seu amigo coleccionador, e lamentava que só lhe ligasse uma vez por semana e que lhe pedisse para não falar nele à mãe.
- E o motorista do colégio fica a ver até eu entrar em casa e fechar a porta.
Quanto aos pernilongos, o miúdo queria saber sempre mais. E assim o assunto atingiu um ponto tal que uma vez eu acabei por sugerir que falássemos antes de lenços de assoar. Mas ele não queria saber disso, de maneira nenhuma, o que lhe interessava era os pernilongos. E um dia, completamente envolvido nas minhas invenções sobre os desgraçados dos bichos de sete patas compridas, eu acabei por me esquecer das horas. Foi por isso que a certa altura notei o bater de uma porta e ouvi de novo a voz dela. O filho, meio atrapalhado, não conseguiu mentir-lhe e disse que estava a falar com D. Sebastião, o coleccionador. Reparei que ele lhe passava o telefone, mas não pude desligar. Fiquei a olhar as pessoas na rua, do outro lado do vidro da janela, e quase no mesmo instante ouvi-a perguntar quem era. Uma, duas, tantas vezes, até que reconheceu o meu silêncio e disse que chegara a pensar que me tinha acontecido alguma coisa.
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Eu continuava a falar com o filho dela. À quarta-feira. O miúdo tinha-me dito que esse era o dia em que a mãe dava aulas até tarde, e que por isso ele vinha para casa no autocarro do colégio.
- Nos outros dias a minha mãe vai-me sempre buscar.
Contava tudo ao seu amigo coleccionador, e lamentava que só lhe ligasse uma vez por semana e que lhe pedisse para não falar nele à mãe.
- E o motorista do colégio fica a ver até eu entrar em casa e fechar a porta.
Quanto aos pernilongos, o miúdo queria saber sempre mais. E assim o assunto atingiu um ponto tal que uma vez eu acabei por sugerir que falássemos antes de lenços de assoar. Mas ele não queria saber disso, de maneira nenhuma, o que lhe interessava era os pernilongos. E um dia, completamente envolvido nas minhas invenções sobre os desgraçados dos bichos de sete patas compridas, eu acabei por me esquecer das horas. Foi por isso que a certa altura notei o bater de uma porta e ouvi de novo a voz dela. O filho, meio atrapalhado, não conseguiu mentir-lhe e disse que estava a falar com D. Sebastião, o coleccionador. Reparei que ele lhe passava o telefone, mas não pude desligar. Fiquei a olhar as pessoas na rua, do outro lado do vidro da janela, e quase no mesmo instante ouvi-a perguntar quem era. Uma, duas, tantas vezes, até que reconheceu o meu silêncio e disse que chegara a pensar que me tinha acontecido alguma coisa.
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A funcionária que os aviava todos
«Há por aí uma funcionária que os avia todos, jogadores e tudo. Tem sempre relações próximas com quem lhe interessa. Usa o belo corpinho que tem e consegue tudo o que quer. Mas não a podemos mandar embora. Sei lá o que ela sabe e o que tem. Deve ter em casa fotocópias de toda a documentação do Benfica. Até deve ter vídeos e fotografias com quem dormiu. De qualquer forma, a Polícia Judiciária está a investigar.»
Manuel Vilarinho, nos primeiros tempos enquanto presidente do Benfica,
em conversa com Luís Nazaré (citado por António Pragal Colaço no livro «A Vida de Vale e Azevedo – Do Benfica a Londres, toda a história de um condenado procurado pela justiça», ed. Presselivre)
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domingo, 9 de agosto de 2009
Tal pai, tal filha
As capas dos livros (3)
Do romance «Até Acabar com o Diabo», de 1998 (edição Pergaminho).
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Dizem que há pessoas que não fazem falta nenhuma ao mundo, que costuma haver pelo menos uma pessoa dessas em cada terra. E quando não há, dizem também, logo o destino se encarrega de a fazer chegar, por uma razão qualquer, ou até sem razão nenhuma. O Diabo era uma dessas pessoas, é o que quase toda a gente pensa, e se não fosse o mau-cheiro que lhe começou a sair da boca algumas horas depois de o burro ter entrado no café do Compadre Sabiniano, se não fosse por isso, nem teria valido a pena perderem tempo a enterrá-lo.
– Exactamente, senhora Domingas!
Um dia, logo pelo começo da manhã, Francisco fez-lhe uma espera em cima de um sobreiro. E quando ele passou montado no burro saltou-lhe para as costas e espetou-lhe uma faca de matar porcos na cabeça.
– Espetei-lha muitas vezes, senhor doutor, pelo menos umas dez vezes. Fui-lhe furando a cabeça sem ligar aos gritos que faziam levantar das árvores a passarada toda. E fiquei naquilo até o burro me atirar ao chão e desaparecer pelo caminho abaixo, com o filho da puta de rojo agarrado ao rabo.
Dizem que há pessoas que não fazem falta nenhuma ao mundo, que costuma haver pelo menos uma pessoa dessas em cada terra. E quando não há, dizem também, logo o destino se encarrega de a fazer chegar, por uma razão qualquer, ou até sem razão nenhuma. O Diabo era uma dessas pessoas, é o que quase toda a gente pensa, e se não fosse o mau-cheiro que lhe começou a sair da boca algumas horas depois de o burro ter entrado no café do Compadre Sabiniano, se não fosse por isso, nem teria valido a pena perderem tempo a enterrá-lo.
– Exactamente, senhora Domingas!
Um dia, logo pelo começo da manhã, Francisco fez-lhe uma espera em cima de um sobreiro. E quando ele passou montado no burro saltou-lhe para as costas e espetou-lhe uma faca de matar porcos na cabeça.
– Espetei-lha muitas vezes, senhor doutor, pelo menos umas dez vezes. Fui-lhe furando a cabeça sem ligar aos gritos que faziam levantar das árvores a passarada toda. E fiquei naquilo até o burro me atirar ao chão e desaparecer pelo caminho abaixo, com o filho da puta de rojo agarrado ao rabo.
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Romance «Até Acabar com o Diabo»
Uma rotunda no Coiro da Burra
Não é o título de um romance (há muitos que seguem esta lógica, por exemplo «Uma Casa no Fim do Mundo», de Michael Cunningham); é antes um dos pontos do programa eleitoral de Macário Correia para a autarquia de Faro. Pode-se ler aqui. Eça iria certamente gostar (descontando, já se vê, os erros de português).
.Nota: na foto, pormenor da capa da edição portuguesa do romance de Cunningham (ed. Gradiva)
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Para que serve votar?
Vale mesmo a pena ler, e reflectir. Um texto de Henrique Raposo, no «Expresso»... «Votar num regime sem Estado de Direito serve para quê? Para legitimar o saque do Estado pelos partidos?»
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Uma aposta
Coloco a seguir um texto que escrevi para a revista «Os Meus Livros» (edição de Julho passado, rubrica «Aposta»).
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Rute Mota
A escritora que cita Holly Cole
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Foi no final de 2002. Eu publicava mensalmente um conto numa revista que dirigia. Era assim desde o número um, para o qual tinha pedido a colaboração a um escritor muito talentoso, que conhecia desde os anos oitenta, de ler os seus contos no «DN Jovem»: José Riço Direitinho. Ele tinha-me mandado um conto absolutamente notável, chamado «Amor num aroma intenso a jasmim» (que acabaria por ser incluído em 2005 no seu livro «Um Sorriso Inesperado»). Nos números seguintes da revista tinha publicado contos de outros escritores conhecidos, como por exemplo Possidónio Cachapa, Fernando Sobral ou Maria João Cantinho. Um dia, um dia daquele final de 2002, quando preparávamos a primeira edição do ano seguinte, chegou-me um conto de uma jovem ainda sem obra publicada. O nome dessa jovem, Rute Mota. Eu poderia nessa altura ter feito a mesma aposta que faço agora aqui neste texto. Com as primeiras linhas que li. Um conto com um título tão simples quanto inesquecível: «Mais uma história de amor». Era acompanhado por uma citação, «Please don't blame it on my hearth/ Blame it on my youth» – dois versos de uma canção de Holly Cole, uma cantora que depois percebi ser uma espécie de obsessão da autora do conto; uma boa obsessão.
O conto começava assim: «Havia uma casa ao fundo da rua. Lembras-te? Há quanto tempo estaria ela lá? Não o sabíamos. Não importava. De uma coisa tínhamos a certeza, estava lá desde muito antes de nós. Era mesmo o que se podia considerar uma casa antiga... Ou será que a víamos assim apenas por ser anterior a nós? Uma casa pequena, simples. Porta e janelas sempre fechadas. As paredes tinham aquela cor indistinta que fica quando a cal começa a estalar pelo calor forte do Verão e pela chuva agreste do Inverno. Nunca conhecêramos alguém que lá tivesse morado. As paredes... As paredes eram mesmo feitas de pedra, ou serei eu a querer diferenciar a casa ainda mais das construções de hoje?»
Pareceu-me uma voz diferente, um mundo diferente, o que sempre procuro nos livros e é tão raro encontrar. Uma descoberta como outras feitas antes, e outras que fiz depois, de vozes tão diferentes quanto fascinantes. De escritores como Santiago Gamboa, Javier Cercas, Camilo José Cela, Elly Welt, Roberto Ampuero, o já referido José Riço Direitinho, Alicia Giménez Bartlett, José Eduardo Agualusa, Naguib Mahfouz, Juan Eslava Galán ou Carlos María Domínguez.
Avancei pelo conto, até ao parágrafo final: «A mesma rapariga de há pouco... Está de volta. Senta-se no outro banco de madeira. Há um gato que a acompanha e lhe roça o pêlo lânguido pelas pernas. É o fim da tarde, arrefece ainda mais... A noite não tarda a cair. Há um rapaz que se aproxima, tem mais ou menos a mesma idade que a rapariga, ou talvez seja um pouco mais velho. Senta-se ao lado dela. Estão os dois sentados. Está frio. Têm as mãos dadas. Parecem não me ver. Os pássaros, agora, estão de regresso às árvores, barulhentos. Continuo a não saber que árvores são estas, mas não me surpreenderia se fossem ciprestes.»
Foi o primeiro de muitos contos que li da Rute, a escritora que desde essa altura sei que está ao nível do que de melhor temos em Portugal. Mas que me parece ter uma enorme tendência para o recato. A escritora que não põe em livros as histórias que escreve não sei por quê. Mesmo assim, pode-se espreitar um pouco do seu trabalho num blog chamado «Bicho do Mato por Aí», um blog que em tempos teve outro nome, «Esta Distância que nos Une». Há muita poesia, mais do que ficção, mas sobre poesia não me atrevo a dar opiniões ou a fazer apostas.
Há pouco tempo, a Rute surpreendeu-me, mesmo com a sua tendência para o recato. Soube que tinha ganho um prémio literário com um conjunto de alguns dos seus contos. Não sei o que a terá levado a concorrer. Mas o importante é que concorreu; e que ganhou. Gostava de um dia, depressa, ver publicado esse conjunto de contos. Um pequeno livro. O primeiro de muitos livros da Rute na ficção.
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Rute Mota
A escritora que cita Holly Cole
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Foi no final de 2002. Eu publicava mensalmente um conto numa revista que dirigia. Era assim desde o número um, para o qual tinha pedido a colaboração a um escritor muito talentoso, que conhecia desde os anos oitenta, de ler os seus contos no «DN Jovem»: José Riço Direitinho. Ele tinha-me mandado um conto absolutamente notável, chamado «Amor num aroma intenso a jasmim» (que acabaria por ser incluído em 2005 no seu livro «Um Sorriso Inesperado»). Nos números seguintes da revista tinha publicado contos de outros escritores conhecidos, como por exemplo Possidónio Cachapa, Fernando Sobral ou Maria João Cantinho. Um dia, um dia daquele final de 2002, quando preparávamos a primeira edição do ano seguinte, chegou-me um conto de uma jovem ainda sem obra publicada. O nome dessa jovem, Rute Mota. Eu poderia nessa altura ter feito a mesma aposta que faço agora aqui neste texto. Com as primeiras linhas que li. Um conto com um título tão simples quanto inesquecível: «Mais uma história de amor». Era acompanhado por uma citação, «Please don't blame it on my hearth/ Blame it on my youth» – dois versos de uma canção de Holly Cole, uma cantora que depois percebi ser uma espécie de obsessão da autora do conto; uma boa obsessão.
O conto começava assim: «Havia uma casa ao fundo da rua. Lembras-te? Há quanto tempo estaria ela lá? Não o sabíamos. Não importava. De uma coisa tínhamos a certeza, estava lá desde muito antes de nós. Era mesmo o que se podia considerar uma casa antiga... Ou será que a víamos assim apenas por ser anterior a nós? Uma casa pequena, simples. Porta e janelas sempre fechadas. As paredes tinham aquela cor indistinta que fica quando a cal começa a estalar pelo calor forte do Verão e pela chuva agreste do Inverno. Nunca conhecêramos alguém que lá tivesse morado. As paredes... As paredes eram mesmo feitas de pedra, ou serei eu a querer diferenciar a casa ainda mais das construções de hoje?»
Pareceu-me uma voz diferente, um mundo diferente, o que sempre procuro nos livros e é tão raro encontrar. Uma descoberta como outras feitas antes, e outras que fiz depois, de vozes tão diferentes quanto fascinantes. De escritores como Santiago Gamboa, Javier Cercas, Camilo José Cela, Elly Welt, Roberto Ampuero, o já referido José Riço Direitinho, Alicia Giménez Bartlett, José Eduardo Agualusa, Naguib Mahfouz, Juan Eslava Galán ou Carlos María Domínguez.
Avancei pelo conto, até ao parágrafo final: «A mesma rapariga de há pouco... Está de volta. Senta-se no outro banco de madeira. Há um gato que a acompanha e lhe roça o pêlo lânguido pelas pernas. É o fim da tarde, arrefece ainda mais... A noite não tarda a cair. Há um rapaz que se aproxima, tem mais ou menos a mesma idade que a rapariga, ou talvez seja um pouco mais velho. Senta-se ao lado dela. Estão os dois sentados. Está frio. Têm as mãos dadas. Parecem não me ver. Os pássaros, agora, estão de regresso às árvores, barulhentos. Continuo a não saber que árvores são estas, mas não me surpreenderia se fossem ciprestes.»
Foi o primeiro de muitos contos que li da Rute, a escritora que desde essa altura sei que está ao nível do que de melhor temos em Portugal. Mas que me parece ter uma enorme tendência para o recato. A escritora que não põe em livros as histórias que escreve não sei por quê. Mesmo assim, pode-se espreitar um pouco do seu trabalho num blog chamado «Bicho do Mato por Aí», um blog que em tempos teve outro nome, «Esta Distância que nos Une». Há muita poesia, mais do que ficção, mas sobre poesia não me atrevo a dar opiniões ou a fazer apostas.
Há pouco tempo, a Rute surpreendeu-me, mesmo com a sua tendência para o recato. Soube que tinha ganho um prémio literário com um conjunto de alguns dos seus contos. Não sei o que a terá levado a concorrer. Mas o importante é que concorreu; e que ganhou. Gostava de um dia, depressa, ver publicado esse conjunto de contos. Um pequeno livro. O primeiro de muitos livros da Rute na ficção.
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Rute Mota
sábado, 8 de agosto de 2009
Agora escolha
Manuela Ferreira Leite escolheu para as suas listas um homem que foi pronunciado pelos crimes de fraude fiscal e falsificação de documentos ou um homem que foi nomeado relator da comissão para a transposição da directiva europeia de combate ao branqueamento de capitais?
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As capas dos livros (2)
Da novela «Os Abençoados Fiéis do Senhor S. Romão», de 1997 (edição Pergaminho).
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O Senhor S. Romão foi encontrado na Umbria, dentro de uma sementeira de favas. É um achado tão velho que até a mulher que o fez já morreu e agora ninguém se lembra de como se chamava ou de como era a sua figura. Diz o povo que a ela Deus se encarregou de lhe arranjar um lugar bom para a alma, e isso deve ser certo, porque os sacrifícios em favor do divino têm fama de vir a receber compensações depois da morte. O Céu, como apregoa o senhor abade Simão Agostinho, é só para quem o merece, e da mulher que um dia deu com o Senhor S. Romão pode-se dizer à confiança que está nessa conta.
Sempre tem sido muito falado o que ela passou com o santo, depois de o ter trazido aqui para a igreja do Alferce e de o ter colocado no altar maior. Ele desapareceu em menos de nada, e isso foi uma coisa que deixou toda a gente de boca aberta e sem saber o que pensar. Mas passado um tempo a mulher voltou a encontrá-lo nas ditas favas e tudo voltou ao princípio. De novo o levou para a igreja, de novo ele fugiu, e assim foi de novo em novo até que um belo dia assilhou. Da igreja não mais saiu, descansou a mulher, comeram-se as favas e o povo orou.
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O Senhor S. Romão foi encontrado na Umbria, dentro de uma sementeira de favas. É um achado tão velho que até a mulher que o fez já morreu e agora ninguém se lembra de como se chamava ou de como era a sua figura. Diz o povo que a ela Deus se encarregou de lhe arranjar um lugar bom para a alma, e isso deve ser certo, porque os sacrifícios em favor do divino têm fama de vir a receber compensações depois da morte. O Céu, como apregoa o senhor abade Simão Agostinho, é só para quem o merece, e da mulher que um dia deu com o Senhor S. Romão pode-se dizer à confiança que está nessa conta.
Sempre tem sido muito falado o que ela passou com o santo, depois de o ter trazido aqui para a igreja do Alferce e de o ter colocado no altar maior. Ele desapareceu em menos de nada, e isso foi uma coisa que deixou toda a gente de boca aberta e sem saber o que pensar. Mas passado um tempo a mulher voltou a encontrá-lo nas ditas favas e tudo voltou ao princípio. De novo o levou para a igreja, de novo ele fugiu, e assim foi de novo em novo até que um belo dia assilhou. Da igreja não mais saiu, descansou a mulher, comeram-se as favas e o povo orou.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2009
O imperador
Acontece neste livro.
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Era melhor não provocar o perigoso imperador, ainda por cima estando ele ali à porta de casa, sem se anunciar, como se o monte fosse dele, todo o montado, o país, o próprio mundo. Uma atitude, quase de certeza, de desafio. O maléfico imperador Ming.
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Era melhor não provocar o perigoso imperador, ainda por cima estando ele ali à porta de casa, sem se anunciar, como se o monte fosse dele, todo o montado, o país, o próprio mundo. Uma atitude, quase de certeza, de desafio. O maléfico imperador Ming.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009
As capas dos livros (1)
Já velhinha, quase com 13 anos, a do livro de contos «Quando o Presidente da República Visitou Monchique por Mera Curiosidade» (edição Pergaminho).
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Pedro Aquilino chegou a Monchique a meio de uma tarde cálida de Agosto. Nem o calor nem o mau-cheiro do cadáver do elefante, que continuava abandonado à entrada da vila, o fizeram retroceder. E assim foi recebido nos paços do concelho pelo novo presidente da câmara. O antigo, de quem já ninguém se lembrava, resolveu dar sinal de si e voltou a mandar papelinhos por baixo da porta, desta vez com saudações democráticas.
– Ah, têm dois presidentes da câmara! – comentou Pedro Aquilino. – E nem assim arranjaram tempo para mandar enterrar o desgraçado do elefante!
– Ah, têm dois presidentes da câmara! – comentou Pedro Aquilino. – E nem assim arranjaram tempo para mandar enterrar o desgraçado do elefante!
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O indecente «Allgarve»
Duas sessões de autógrafos no Algarve, em Faro e em Portimão. Já estava atrasado na viagem e a certa altura percebi que mais atrasado ainda poderia ficar, com o trânsito para férias do primeiro dia de Agosto. Nas estações de serviço nem lugar para os carros havia, e a auto-estrada parecia uma avenida de Lisboa em dia de semana. Imaginei que na portagem para entrar no Algarve teria de esperar um bom bocado, com as filas que estariam a formar-se. Decidi sair uns quilómetros antes, em Messines, onde quase tive de acordar a rapariga da cabina para pagar a portagem. E lá segui pela estrada nacional para apanhar de novo a confusão na Via do Infante.
Saí em Messines para evitar a espera mais adiante, mas tenho de confessar que o fiz também por uma outra razão. Foi para evitar ver mais uma vez aquela porcaria que puseram numa das barrocas laterais, ainda por cima com uns holofotes para à noite se ver bem: o Algarve mal escrito, o indecente «Allgarve», com umas letras enormes, marca deixada para a minha terra por Manuel Pinho, ministro de tristes figuras e de ideias mais tristes ainda. Quando vejo aquilo apetece-me parar o carro e ir lá deitar as letras abaixo, mas já pensei que deve ser preciso uma picareta ou algo assim. Acho que vou passar a andar com uma no carro.
Saí em Messines para evitar a espera mais adiante, mas tenho de confessar que o fiz também por uma outra razão. Foi para evitar ver mais uma vez aquela porcaria que puseram numa das barrocas laterais, ainda por cima com uns holofotes para à noite se ver bem: o Algarve mal escrito, o indecente «Allgarve», com umas letras enormes, marca deixada para a minha terra por Manuel Pinho, ministro de tristes figuras e de ideias mais tristes ainda. Quando vejo aquilo apetece-me parar o carro e ir lá deitar as letras abaixo, mas já pensei que deve ser preciso uma picareta ou algo assim. Acho que vou passar a andar com uma no carro.
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Um êxito patético
Um êxito patético, mas um êxito, é o que se pode dizer do que o Sporting conseguiu na Holanda – Twente 1, Sporting 1 (auto-golo) , na segunda mão da pré-eliminatória da Liga dos Campeões. É preciso procurar com algum cuidado na história do Sporting para encontrar uma exibição tão vergonhosa, assim como é preciso procurar com algum cuidado para encontrar um início de época tão assustador. A mistura entre jogadores medíocres (Polga, por exemplo) e jogadores de categoria mas estranhamente apáticos está a tornar-se explosiva para o Sporting. E o mais grave é que isso acontece perante a indiferença do treinador e do presidente (que depois de estar entusiasmado sem que ninguém percebesse por quê agora confessou-se emocionado). Presidente que inclusive tinha avisado de que a eliminação da equipa (que só não aconteceu por milagre) não era problema, um pouco na linha de coisas ditas em tempos, por exemplo, por Filipe Soares Franco (o segundo lugar é melhor do que o primeiro porque se paga menos prémios aos jogadores) ou por Ernesto Ferreira da Silva (perder em casa por cinco a dois com o Barcelona é aceitável).
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Em branco
Fui vereador na câmara municipal da minha terra (Monchique, no Algarve) e ainda sou deputado municipal, depois de eleito em listas do PSD. Para as eleições legislativas já tinha alguma inclinação para ir votar em branco (Manuela Ferreira Leite), mas ainda não estava decidido; a decisão tomei-a agora, ao saber que no Conselho Nacional do PSD escolheram para cabeça de lista pelo Algarve Jorge Bacelar Gouveia, de Lisboa.
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009
António Souto – Crónica (14)
Décima quarta crónica de António Souto, depois desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta e desta. O António mantém uma crónica («Ex-abrupto») no jornal da sua terra («Jornal D’Angeja»). Esta é a da edição de Julho de 2009.
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Vagares
Já se iniciaram as férias. O tempo agora é de vagares, mas só por um tempo, sempre curto no final, sempre mais curto que o próprio Verão. Aproveitamos agora para fazer o que em período de ganha-pão não nos dá jeito, como descansar, por exemplo, e para descansar, muitas vezes, basta fazermos aquilo que nos apetece e nos dá mais gozo, sem pavores de perdermos o transporte, sem as estafas das filas massacrantes, sem o nefando rigor dos horários ou sem os olhares punitivos de quem comanda e ordena.
E ainda vai o ócio no adro e já se acabou a leitura do primeiro livro de desocupação: Os Passos da Cruz (de Nuno Júdice). Conheço o autor, como conheço o ensaísta e o poeta que se encantam nele. Nunca o experimentara na ficção, e a descoberta fez-se com agrado. Nesta novela emaranham-se com mestria tempos e personagens, confunde-se o leitor com um narrador habilidoso, enleia-se uma certa realidade com uma certa ficção: «Com efeito, o meu objectivo naquele momento deixara de ser arranjar gasolina para voltar para a cidade, preferindo explorar a situação em que me encontrava, recolhendo o maior número possível de elementos para o meu livro que, a partir destes factos reais, poderia deixar de ser uma biografia, que dificilmente evitaria o que se costuma designar por ‘biografia romanceada’, para se transformar num relato construído a partir da minha própria experiência.» Em última análise, sublinha-se a complexidade do Ser, a demanda das raízes de um ser múltiplo. Uma leitura recomendável que se articula com uma outra (feita por ocasião da Feira do Livro), igualmente aconselhável: A Divina Miséria (de João de Melo). Também novela, nela se expandem dez capítulos, como «passos» ou «estações» (que há aqui muito de simbologia mística), cujos eixos acentuam, para além da descrença na Igreja solidária e num americanismo globalizante, uma sedutora preocupação com a frágil existência humana, um pessimismo anunciado: «As gerações de agora, as pessoas em si, uma a uma, perderam os sonhos, os segredos, o dia seguinte, o horizonte do olhar. Hoje em dia, ninguém é de ninguém. Não há nada a dar nem a receber. Que é feito do sentimento de gratidão? Onde a arte de ouvir, de escutar o coração desamparado do tempo e das pessoas que nele vivem e morrem? Não se agradece a idade, o saber, a experiência, a vontade, o ser. Ninguém aqui faz nada por ninguém.»
Estive em Avanca, entre Estarreja e Ovar, melhor, estive no Avanca’09, isto é, nos «Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia» que, entre 22 e 26 de Julho, fizeram nesta vila, à semelhança de edições anteriores, a «festa do cinema». Aceitei, pela terceira vez, o honroso convite para participar no júri de uma das competições. No folheto de apresentação, podia ler-se: «80 filmes em exibição»; «12 filmes em estreia mundial»; «48 filmes em estreia nacional»; «71 países inscreveram cerca de 2000 filmes»; «7 workshops internacionais»; «11 individualidades no trabalho»; «12 anos de festival». A isto, poderíamos ainda acrescentar as largas dezenas de participantes nos workshops, os muitos espectadores que assistiram às exibições programadas, os muitos elementos do júri que visionaram os filmes em competição, bem como os muitos voluntários que com entusiasmo diariamente fizeram com que o festival decorresse como previsto. Porém, para um evento com esta dimensão, que envolve parceiros locais e institucionais (empresas, organismos e autarquias locais, Escola Egas Moniz, ICAM, IPJ, Direcção Regional de Cultura) e que, pela qualidade e pela longevidade, adquiriu uma inequívoca projecção internacional, persiste, sobretudo por parte dos meios de comunicação social, um silêncio e um alheamento estranhamente redutores. O Cineclube de Avanca (tal como o seu responsável, António Costa Valente) merecia uma maior e melhor atenção. Para o ano, voltando lá, voltaremos à carga!
Entrei no Titanic, na estação do Rossio, em Lisboa, por entre destroços e memórias, objectos «recuperados com enorme esforço dos escombros da área circundante do naufrágio». Uma viagem iniciada em 10 de Abril de 1912, no Reino Unido, terminaria abruptamente dois dias depois no Atlântico Norte, com o embate deste monstro a vapor num iceberg. Com 2.206 pessoas a bordo (1.314 passageiros e 892 elementos da tripulação), ali faleceram nas águas geladas 1.497 seres humanos, entre ricos e pobres, entre gente de primeira classe e gente anónima de terceira classe. A exposição, embora interessante e capaz de transportar o visitante ao ambiente trágico do sucedido, não parece justificar os 13 euros (por adulto) cobrados à entrada. Nem mesmo para visitantes de primeira classe, com os pés assentes em terra.
De regresso a férias, vamos a férias, com outras impressões e outros vagares.
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Vagares
Já se iniciaram as férias. O tempo agora é de vagares, mas só por um tempo, sempre curto no final, sempre mais curto que o próprio Verão. Aproveitamos agora para fazer o que em período de ganha-pão não nos dá jeito, como descansar, por exemplo, e para descansar, muitas vezes, basta fazermos aquilo que nos apetece e nos dá mais gozo, sem pavores de perdermos o transporte, sem as estafas das filas massacrantes, sem o nefando rigor dos horários ou sem os olhares punitivos de quem comanda e ordena.
E ainda vai o ócio no adro e já se acabou a leitura do primeiro livro de desocupação: Os Passos da Cruz (de Nuno Júdice). Conheço o autor, como conheço o ensaísta e o poeta que se encantam nele. Nunca o experimentara na ficção, e a descoberta fez-se com agrado. Nesta novela emaranham-se com mestria tempos e personagens, confunde-se o leitor com um narrador habilidoso, enleia-se uma certa realidade com uma certa ficção: «Com efeito, o meu objectivo naquele momento deixara de ser arranjar gasolina para voltar para a cidade, preferindo explorar a situação em que me encontrava, recolhendo o maior número possível de elementos para o meu livro que, a partir destes factos reais, poderia deixar de ser uma biografia, que dificilmente evitaria o que se costuma designar por ‘biografia romanceada’, para se transformar num relato construído a partir da minha própria experiência.» Em última análise, sublinha-se a complexidade do Ser, a demanda das raízes de um ser múltiplo. Uma leitura recomendável que se articula com uma outra (feita por ocasião da Feira do Livro), igualmente aconselhável: A Divina Miséria (de João de Melo). Também novela, nela se expandem dez capítulos, como «passos» ou «estações» (que há aqui muito de simbologia mística), cujos eixos acentuam, para além da descrença na Igreja solidária e num americanismo globalizante, uma sedutora preocupação com a frágil existência humana, um pessimismo anunciado: «As gerações de agora, as pessoas em si, uma a uma, perderam os sonhos, os segredos, o dia seguinte, o horizonte do olhar. Hoje em dia, ninguém é de ninguém. Não há nada a dar nem a receber. Que é feito do sentimento de gratidão? Onde a arte de ouvir, de escutar o coração desamparado do tempo e das pessoas que nele vivem e morrem? Não se agradece a idade, o saber, a experiência, a vontade, o ser. Ninguém aqui faz nada por ninguém.»
Estive em Avanca, entre Estarreja e Ovar, melhor, estive no Avanca’09, isto é, nos «Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia» que, entre 22 e 26 de Julho, fizeram nesta vila, à semelhança de edições anteriores, a «festa do cinema». Aceitei, pela terceira vez, o honroso convite para participar no júri de uma das competições. No folheto de apresentação, podia ler-se: «80 filmes em exibição»; «12 filmes em estreia mundial»; «48 filmes em estreia nacional»; «71 países inscreveram cerca de 2000 filmes»; «7 workshops internacionais»; «11 individualidades no trabalho»; «12 anos de festival». A isto, poderíamos ainda acrescentar as largas dezenas de participantes nos workshops, os muitos espectadores que assistiram às exibições programadas, os muitos elementos do júri que visionaram os filmes em competição, bem como os muitos voluntários que com entusiasmo diariamente fizeram com que o festival decorresse como previsto. Porém, para um evento com esta dimensão, que envolve parceiros locais e institucionais (empresas, organismos e autarquias locais, Escola Egas Moniz, ICAM, IPJ, Direcção Regional de Cultura) e que, pela qualidade e pela longevidade, adquiriu uma inequívoca projecção internacional, persiste, sobretudo por parte dos meios de comunicação social, um silêncio e um alheamento estranhamente redutores. O Cineclube de Avanca (tal como o seu responsável, António Costa Valente) merecia uma maior e melhor atenção. Para o ano, voltando lá, voltaremos à carga!
Entrei no Titanic, na estação do Rossio, em Lisboa, por entre destroços e memórias, objectos «recuperados com enorme esforço dos escombros da área circundante do naufrágio». Uma viagem iniciada em 10 de Abril de 1912, no Reino Unido, terminaria abruptamente dois dias depois no Atlântico Norte, com o embate deste monstro a vapor num iceberg. Com 2.206 pessoas a bordo (1.314 passageiros e 892 elementos da tripulação), ali faleceram nas águas geladas 1.497 seres humanos, entre ricos e pobres, entre gente de primeira classe e gente anónima de terceira classe. A exposição, embora interessante e capaz de transportar o visitante ao ambiente trágico do sucedido, não parece justificar os 13 euros (por adulto) cobrados à entrada. Nem mesmo para visitantes de primeira classe, com os pés assentes em terra.
De regresso a férias, vamos a férias, com outras impressões e outros vagares.
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domingo, 2 de agosto de 2009
Whisky
Para descobrir aqui, o homem do copo de whisky.
Etiquetas:
Romance «Uma Noite com o Fogo»,
Whisky
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