sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma entrevista

Entrevista sobre o livro «O Sorriso Enigmático do Javali», ao «Jornal de Letras», aqui.
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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Uma história

O cão cinzento

Foi logo de manhã, quando ia no carro; ultrapassei um ciclista e um cão cinzento. Pareceu-me estranho que o ciclista estivesse a passear o cão numa estrada cujo trânsito aconselha alguns cuidados. E também me pareceu estranho a ausência de capacete, não no cão, já se vê, mas no ciclista. Talvez por isso, pela ausência de capacete, ao fazer a dupla ultrapassagem tive a sensação de que se tratava de um conhecido político (o ciclista), e ainda por cima a revelar-se bem esforçado naquele momento. Pedalava com afinco, como se estivesse a terminar, nem sei, a escrita de um discurso, ou as contas de um orçamento de estado, ou umas papeladas para se reformar ao fim de dois anos de um instituto qualquer. O cão, uns metros atrás dele, fazia o que podia para conseguir acompanhá-lo.

Fui-os observando pelo espelho retrovisor, diminuindo um pouco a marcha do carro. Acabei por confirmar que era mesmo o conhecido político. E notei que o cão ladrava. Claro que eu não ouvia, por causa do barulho do rádio, mas dava para ver os movimentos da boca do cão no espelho retrovisor.

«Ladra de contente», foi o que pensei.

Uns segundos, não mais do que isso, até perceber como o cão tinha o focinho muito franzido. E que o político pedalava com afinco porque, afinal, fugia do cão. Alguma coisa ele teria feito ao cão, de certeza.

Ao fim nem de um quilómetro, o político meteu-se por uma estrada secundária, que começava do lado esquerdo. Uma manobra perigosíssima, e sem fazer sinal com o braço nem nada. Não sei por quê, travei. O cão, sempre a ladrar, foi apanhado de surpresa. Pelo desvio do político e pela minha travagem. Acabou por bater-me no carro, com estrondo. E ainda por cima era um cão grande.

Levei o carro para a berma e saí. Dei logo com o cão estendido no alcatrão. Já não ladrava, nem sequer tinha o focinho franzido. Mas estava de olhos abertos, e respirava. Aproximei-me devagar. Ele olhou para mim, parecendo querer ajuda. Achei estranho, pois se estava assim era por causa da minha travagem. Talvez devesse ladrar-me. E perseguir-me como fazia antes ao político ciclista. Mas não. Queria ajuda. Pedia-a com o olhar.

Agarrei-o junto às patas da frente, para levá-lo para a berma. Enquanto fazia isso, percebi que ele começava a levantar-se, tentando apoiar-se nas quatro patas. Já na berma, pareceu recuperado, mas ainda confuso, sem saber para aonde ir. Olhei para a estrada, num e noutro sentido. Não vinha nada. Então atravessei para o outro lado, batendo com as mãos nas pernas, um pouco acima dos joelhos. O cão percebeu e seguiu-me.

Quando cheguei à estrada secundária, apontei lá bem para o fundo, para onde o político em fuga não era mais do que um pequeno ponto de referência. O cão pareceu entusiasmar-se. Até que começou a correr, de forma atabalhoada. Ao fim de uns vinte ou trinta metros já dava para ver que recuperava o ritmo normal. A pancada não devia ser coisa séria. Até porque ele já ladrava outra vez. Desejei-lhe sorte e fui ver se o carro tinha alguma amolgadela. .

«Tal qual te conheci»

Pedro Barroso fala do seu amigo e antigo colega Carlos Queiroz. Aqui.
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«As tuas equipas, Carlos, tornam-se um pouco aquilo que tu és. Se queres transmitir que não sofrer toques no gilet já é triunfo; se achas que defender, para não sofrer humilhação, é uma forma de vitória; se admites que é preferível empatar a zero a arriscar a estocada que nos expõe; se queres ganhar sem risco, através de alguma cartomancia ocasional; se preferes convocar 18 jogadores com características médio/ defensivas em cada 23, muito bem. Isso és tu. Tal qual te conheci.»
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Revista «human» de Agosto

(clicar na imagem para aumentar)
Nas bancas a partir desta quarta-feira, dia 28. É o número 20, de Agosto de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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12 anos de Google
O universo fascinante da Google é o grande destaque desta edição de Agosto. Uma empresa que começou há 12 anos nos Estados Unidos, numa garagem onde dois estudantes da Universidade de Stanford deram asas aos seus espíritos visionários e começaram o projecto que se tornaria num fenómeno verdadeiramente global. A história é conhecida, mas mesmo assim muito há para descobrir no universo que começou com o famoso motor de pesquisa – o Google, no masculino, o que até causa alguma estranheza quando depois, ao falarmos da empresa, usamos o feminino e dizemos «a Google». Pelo menos comigo aconteceu, na edição da entrevista do líder deste projecto no nosso país. Paulo Barreto, 42 anos, é o country manager da Google Portugal desde Março de 2008. Apaixonado pela Google, resolveu contactar a empresa e perguntar por que é que não abriam um escritório em Portugal. Os contactos prolongaram-se por quase dois anos. Conforme ele próprio explica… «Portugal não está no radar da Google. Ainda hoje Portugal não conta, somos um mercado ridículo de 10 milhões de pessoas para seis biliões do mundo inteiro. Mas em Madrid precisavam de uma pessoa que começasse a olhar para o mercado português e resolveram contratar-me. Eu concorri a 12 entrevistas, em Espanha, França e Inglaterra, e oito meses depois comecei a trabalhar na Google, em Madrid, para o escritório português. Já lá vão cinco anos. A certa altura resolveu-se que Portugal tinha uma dimensão que justificava abrir um escritório e aí tive de me candidatar à posição de country manager, que felizmente ganhei.»
Mas nem só da Google é feita esta edição. Um especial sobre outsourcing (com duas partes, uma sobre recursos humanos e outra sobre serviços), o outplacement e a sua utilização nas empresas ou o projecto da Optimus na responsabilidade social são outros temas em destaque. Com as secções habituais e com o prometido regresso de Jorge Araújo, que durante alguns meses assinou na «human» o espaço de reflexão «O Treinador na Empresa»; é a vez agora de «O Treinador e a Política», a explorar temas bem adequados aos tempos que vamos vivendo.
Uma nota, muito triste. Faleceu o jurista Albino Mendes Baptista, de quem neste percurso de quase dois anos o projecto «human» sempre teve um apoio incondicional. Partiu muito novo e com tanto ainda para dar a uma área onde era uma figura muito respeitada. E com tanto para dar à própria vida. Um dos colaboradores da «human», Luís Bento, lembra-o na sua crónica habitual, onde lembra também Miguel Pinheiro, um profissional de recursos humanos, bastante jovem, que perdeu a vida num acidente em Moçambique, onde exercia a sua actividade.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Talvez um golfinho

Já na parte final de uma aventura literária em Vila Real de Santo António acontece isto: «Aproximei-me, ficando mesmo por cima de onde ele estava, talvez um metro acima, a distância para o nível da água. Impressionou-me as fuças bem diferentes das dos humanos actuais, ainda por cima arreganhadas, de dentes cerrados, como se tivesse recebido a morte completamente em fúria. Não percebi onde o tinham atingido, mas na cabeça não parecia ter sido. Estava a olhar para o rosto do romano, sem saber bem o que fazer, quando todo o corpo se afundou. Logo a seguir, dei com muito movimento nas águas, que ficaram vermelhas de sangue. Um peixe, algum peixe dos grandes tinha abocanhado o romano. Pensei nos filmes com tubarões. Pensei também se seria correcto dizer peixe no caso de um tubarão. Na volta nem tinha sido um tubarão. Lembro-me de que pensei também num atum.»
É uma história de romanos, que atacam Vila Real de Santo António numa tarde de Verão, a mesma em que eu participo numa sessão literária num dos espaços culturais da cidade. Agora, vendo esta foto, admito a hipótese de não ter sido um tubarão, nem um atum. Talvez um golfinho.
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quinta-feira, 22 de julho de 2010

António Souto – Crónica (26)

O meu gira-discos
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E eis que de repente, com esta minha nostalgia, descubro agora o regresso das velhas rodelas de vinil e dos velhos-novos-gira-discos numa espécie de revivalismo que trará consigo os ídolos dos meus anos oitenta vestidos de calças à boca-de-sino. Como se a evolução tecnológica e a globalização tivessem destas contradições. Assim às arrecuas.
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Tive há muitos anos um gira-discos que comprei em segunda mão. Não era propriamente um especialista em música nem sequer tinha um género musical de eleição. Tinha um gosto assaz eclético, como era muito habitual em jovens da minha idade e do meu meio, assim a balançar entre o saber rural e a ciência urbana. Ouvia, portanto, um pouco de tudo, sobretudo coisas da ocasião e da moda.
Por aquele gira-discos passaram sons portugueses tão diversos como os da Brigada Víctor Jara, dos Trovante, do Paulo de Carvalho e do Sérgio Godinho, do Jorge Palma, do Luís Cília e do Fausto, dos irmãos Salomé. Também muito Zeca e Adriano, e Xutos & Pontapés, Rui Veloso, Adelaide Ferreira, Lena D’Água e Salada de Frutas, Júlio Pereira, Cid e Variações, Trabalhadores do Comércio e Doutores e Engenheiros, GNR, Táxi e Go Graal Blues Band, Heróis do Mar e UHF, Jáfumega e até mesmo o Grupo de Baile em 75 rotações…
Vindos das estranjas, rodaram Pink Floyd, Ómega e Triumvirato, AC/DC, Rolling Stones, Scorpions, Queen, Supertramp e Santana, Vangelis, Dire Straits e os Beatles, Doors, Begees, Barbra Streisand, Abba e Joan Baez, Genesis, Peter Tosh e Bob Marley, e com sonoridade francesa também Piaf e Moustaki, Mireille Mathieu e Aznavour, Brel e Joe Dassin, eu sei lá, e tantos outros brasileiros à mistura, tantos, tantos…
Por aquele gira-discos passaram largas dezenas de LP e de singles, muitas horas de música saudosa, música pisada por outra música que entretanto foi surgindo e conquistando e renovando gostos e paixões. Tanta agulha mudada para que o som não perdesse qualidade e o vinil se não riscasse…
Já não sei o que é feito do meu gira-discos. Acho que o dei a um amigo quando já havia dificuldade em encontrar agulhas adequadas à cabeça do braço daquele modelo, acho que o dei porque era muito grande e pesado, acho que o dei porque os discos eram muito grandes e pesados e empenavam-se facilmente. O meu gira-discos, afinal, tinha os dias contados, tinha os discos contados, e por isso desfiz-me dele e perdi-lhe o destino. Deixei de saber dele. Substituí-o por outro que não precisava de agulhas nem de braços nem de discos grandes e pesados. E troquei os discos grandes e pesados por outros mais maneirinhos e mais leves, por outros que não se riscam tão facilmente e não se empenam.
Confesso que também me converti a outras vozes e a outras novidades, deixei que o tempo – que tudo muda – me invadisse e mudasse igualmente, sem resistência. Rendi-me ao tempo. E à idade. Mas agora, nem sei bem porquê, tem-me dado uma certa nostalgia, e lembrando uma música ou uma voz há logo outra voz e outra música que acena, e por arrasto vêm músicas e vozes que julgava perdidas e mortas, como o meu velho gira-discos de outrora. Como os velhos gira-discos do século passado. E eis que de repente, com esta minha nostalgia, descubro agora o regresso das velhas rodelas de vinil e dos velhos-novos-gira-discos numa espécie de revivalismo que trará consigo os ídolos dos meus anos oitenta vestidos de calças à boca-de-sino. Como se a evolução tecnológica e a globalização tivessem destas contradições. Assim às arrecuas.
Há já quem diga que tudo isto pode até vir a ser muito mais do que isto, a gente avança, avança e quando menos se espera o petróleo definha, o seu custo dispara, os carros deixam de andar à toa, os aviões voam menos porque mais vazios, as pessoas ficam mais presas ao seu território, as mercadorias ficam mais presas às pessoas, os países têm de se tornar à força mais independentes uns dos outros, tudo terá de ser menos descartável, a agricultura terá de ser uma aposta forte, o mundo, o nosso mundo, tornar-se-á aos poucos mais pequeno. Muito mais pequeno, afirmou há dias um economista norte-americano, e os economistas norte-americanos parece que sabem bem do que falam.
E no fim de contas, com tanta música que nos invade a alma, só tenho pena de ter perdido o rasto ao gira-discos da minha juventude.

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Crónica de Julho de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25.
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Uma carta

A minha filha, tal como os irmãos, nasceu em Évora. Se tivesse ido nascer a Badajoz, talvez por estes dias nos chegasse uma carta de felicitações do governo.
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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um emissor na algibeira

De repente a emissão falhou. Refiro-me à da televisão. Uma noite destas. O canal era a RTP N. Eu pensei logo em mudar de canal para ver se o problema era só naquele. Mas não tive tempo, a emissão voltou ao normal antes que eu chegasse ao comando. Acabei por dar comigo a pensar que é normal, porque a emissão da TV Cabo, ao contrário do que o nome indica, chega mas é por satélite. E o satélite pode ter momentos em que fique sem forças para passar os ramos aqui dos sobreiros. Nunca se sabe. Ou se calhar eu é que nunca sei. Na volta, se a emissão viesse mesmo por cabo era pior, algum bicho ainda se punha a roer o cabo e depois havia de ser o bom e o bonito para dar com o sítio. Mas adiante… O que eu queria contar é que por momentos, durante a falha da emissão da RTP N, pensei numa outra hipótese. O jornalista João Adelino Faria entrevistava dois políticos: nos estúdios do Porto estava um autarca chamado Marco António, que por vezes também é apresentado como Marco António Costa; já em Lisboa, mesmo em frente do entrevistador, estava o conhecido deputado Ricardo Rodrigues. E eu, assim que falhou a emissão, não consegui deixar de pensar na possibilidade de o deputado – por alguma questão embaraçosa em que eu nem tenha reparado – ter tomado posse não da câmara, não do microfone, não do computador do apresentador… Não. O que eu pensei foi que o deputado tinha tomado posse do emissor. Tinha-o metido na algibeira. E foi assim que a emissão se foi (passe a repetição, é claro). Pensei nisto. Coisa de uns segundos. Um emissor na algibeira. Quem sabe… Os desenvolvimentos tecnológicos… Um emissor se calhar já não mede mais do que dez centímetros. Ou uns doze. Se for dos de última geração, evidentemente. Foi o que pensei. Mas a verdade é que não percebo muito de emissores. Depois a emissão voltou e eu pensei noutras coisas. Deve ter sido mesmo falta de força do satélite. Uma indisposição momentânea. Algo assim. Lá em cima uma pessoa nunca sabe.
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Política

Continuo convencido de que uma parte bem significativa da nossa política é feita por bandidos.
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Duas surpresas

Depois de ter feito o seu último jogo no mundial de futebol, o capitão da selecção espanhola, campeã do mundo, surpreendeu a namorada com um beijo. Já o capitão da selecção portuguesa, também depois de ter feito o seu último jogo no mundial de futebol, surpreendeu a namorada com um filho (de outra mulher).
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sábado, 10 de julho de 2010

Um dos mais bonitos animais do montado

As ginetas. Esta não é a que entra em «O Sorriso Enigmático do Javali» (na altura não me lembrei de fotografá-la, com fiz, por exemplo, com o ouriço-cacheiro, com o lagarto da clave-de-sol ou com a borboleta do imperador Ming); esta é uma que encontrei na Internet. Por aqui existem muitas ginetas, muitas mesmo. Ontem fiquei triste. Depois da estrada de terra pelo montado, logo nos primeiros metros da estrada de alcatrão, dei com uma morta. Tinham-na atropelado. Uns dez quilómetros depois, já a chegar à cidade, mais uma, também atropelada. Nem deu para confundir com gatos domésticos, ou com outros gatos-bravos (escalavardos, por exemplo). Em ambos os casos, notava-se logo a cauda no alcatrão. Como um sinal: aqui morreu um dos mais bonitos animais do montado.
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Sem título

A nossa política agora não vai muito além de impostos e de impostores. Basicamente.
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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Personagens

No blog do livro «O Sorriso Enigmático do Javali» (ver aqui), já estão fotos de cinco personagens. Ainda vou colocar mais algumas.
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terça-feira, 6 de julho de 2010

O Sporting nunca desceu tão baixo

Nunca o meu clube desceu tão baixo como com José Eduardo Bettencourt. Sim, agora tenho a certeza de que ao pé dele Jorge Gonçalves merecia não direi uma estátua mas pelo menos um pequeno busto.
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Sobre prémios

A recusa de um prémio por parte de Paulo Nozolino trouxe-me à memória um outro, da Comissão dos Descobrimentos, que acabei por não receber. Depois de me ter sido atribuído, nunca o entregaram. Acabei por recusá-lo passados uns anos, por telefone. Deram-me uma resposta que me deixou verdadeiramente surpreendido: só aceitavam recusas por escrito (qualquer coisa como «precisamos de ficar aqui com um papel»). Eu então disse que era só o que faltava era estar a perder mais tempo com eles a escrever uma carta. Presumo que por isso fiquei para sempre como premiado. Presumo também que agora, com a moda das escutas, já é possível recusar prémios por telefone.
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Ainda não foi desta

O Sporting promoveu ontem uma conferência de imprensa absolutamente deplorável sobre a cedência ao desbarato do capitão da equipa de futebol a um dos seus maiores rivais. Nessa conferência de imprensa, como se esperava, o presidente perdeu as estribeiras (apesar de tentar falar de forma pausada, enquanto olhava por cima dos óculos). Ainda não foi desta que o meu clube se viu livre das suas maçãs podres.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Estranhas personagens

(na foto, Roberto Bolaño)
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Um texto que escrevi para a edição de Junho da revista «Ler», para a secção «Listas». Optei por uma pequena lista de personagens que me pareceram muito estranhas.
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Algumas personagens que me surpreenderam
Se um dia, por qualquer razão, eu tivesse de fazer uma entrevista a Dan Brown, pelo menos já sabia por onde começar. Antes do que quer que fosse, do novo livro (se ele tivesse um novo livro), antes eu haveria de lhe perguntar por que é que pôs num romance («Fortaleza Digital») um português, natural de Lisboa, chamado Hulohot. Quer dizer, a pergunta não seria sobre a razão de ter optado por um português, mas sim sobre o facto de este se chamar Hulohot. É uma das personagens mais estranhas que encontrei num livro.
Mercenário de profissão, com 42 anos e muito considerado por uma agência governamental norte-americana, Hulohot (não sei se o nome é tipo Joaquim Hulohot ou se é tipo Hulohot da Silva) tem segundo Brown um único senão, é surdo, o que lhe dificulta as comunicações. Talvez para compensar, vê através de uns óculos cujas lentes são, do lado de dentro, o ecrã do computador que usa adaptado ao peito, sendo que nas pontas dos dedos tem o teclado (que funciona tocando com as pontas umas nas outras). Tudo tecnologia de certeza norte-americana, implantada em mão-de-obra portuguesa. E assim anda este Hulohot pelo livro, sem dizer nada, fazendo até com que o leitor desconfie de que além de surdo é também mudo. Mas não, a certa altura ele fala: «Hola, soy Hulohot!»
Sem ofensa, passo directamente para Roberto Bolaño. Não por causa de uma personagem do genial escritor chileno, mas por causa do próprio Bolaño. Bolaño personagem, isso não pôde deixar de me surpreender. Ele aparece num romance de um dos meus escritores favoritos (Javier Cercas), o inesquecível «Soldados de Salamina». O próprio Cercas entrevista-o nesse romance e ele diz-lhe que tinha já lido dois livros seus, um de contos e um pequeno romance («O Inquilino», de que existe uma edição portuguesa, da ASA). Bolaño acaba por insistir para que voltem a encontrar-se e nesse encontro, durante um almoço, quase que se transforma ele próprio no narrador de «Soldados de Salamina». E acaba por ser a chave para o desfecho do romance.
Outra descoberta aconteceu-me com José Rodrigues dos Santos. Ele tem um romance («A Fórmula de Deus») em que, surpreendentemente, as personagens dizem «uh». O protagonista, Tomás, diz «uh», tal como um iraniano que está feito com a CIA, um físico da Universidade de Coimbra, o pai de Tomás, o «adido cultural» (exactamente assim, entre aspas) da embaixada norte-americana em Lisboa e um coronel do exército iraniano. E tal como a mãe de Tomás, um alto responsável da CIA que umas vezes diz «you’re a fucking genius» e outras «você é um fucking génio», o médico do pai de Tomás, uma aluna da Universidade de Coimbra, a iraniana com quem Tomás se envolve, mais um aluno de Coimbra, um iraniano que faz de motorista e por aí adiante. Três exemplos… O coronel iraniano a certa altura pergunta: «Vai queixar-se a quem? Uh? À sua mãezinha?» Quanto ao responsável da CIA, faz uma espécie de comentário: «Hmm… sensível, uh? Já vi que está apaixonado…» A paixão de Tomás é a iraniana, que diz : «Eu… uh… sou um caso especial.»

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O futuro

Depois de ler as notícias da rocambolesca venda ao desbarato de João Moutinho a um dos principais adversários, já não sei se no futuro não chegará aos dirigentes do meu clube, nomeadamente ao inclassificável presidente, a ideia de colocar os sócios no mercado.
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domingo, 4 de julho de 2010

Revista «human» de Julho

(clicar na imagem para aumentar)
Nas bancas desde a semana passada. É o número 19, de Julho de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Por uma cultura de solidariedade
A cada edição da «human», temos vindo a fazer alguma alternância entre várias das secções que criámos para o projecto. Por exemplo, raramente publicamos no mesmo mês a de responsabilidade social e aquela a que chamamos «Um Dia na Empresa». Agora, em Julho, é isso que acontece, com o «dia da empresa» a calhar a um hospital privado do norte do país e a secção de responsabilidade social sem aparecer. Mas só aparentemente. O trabalho que escolhemos para a capa, uma grande entrevista com Mercedes Balsemão, que lidera o projecto «SIC Esperança», em vez de aparecer sob a forma de pergunta/ resposta poderia muito bem ter dado origem a um texto na linha dos que já puLista numeradablicámos na secção de responsabilidade social.
O projecto «SIC Esperança», que leva seis anos de existência, já se associou a mais de 400 campanhas de cariz humanitário, angariou cerca de dois milhões de euros, desenvolveu parcerias com 37 empresas, trabalhou com 50 instituições e beneficiou cerca de 18 mil pessoas. É um projecto já bastante mediatizado, até pela importância do grupo empresarial em que se insere, mas vale bem a pena conhecê-lo mais em detalhe. E isso é possível nesta entrevista com a mulher que por ela dá a cara – e com quem fazemos a capa. Um projecto que nasceu de uma tragédia para levar esperança às pessoas, visando o bem-estar das que mais precisam, um projecto que, como assinala Mercedes Balsemão, pretende fazer com que a solidariedade se torne uma cultura.
Quanto a outros temas, a edição é bastante diversificada. Vão do apoio na mobilidade profissional (vulgo relocation) à avaliação de desempenho, dos benefícios extra-salariais à liderança, do coaching às tecnologias de informação para suporte da gestão de recursos humanos. Temas que têm a ver com a presença das pessoas nas organizações. Mas que não esgotam a edição. Mais lá para a frente nas páginas, por exemplo, sugere-se um destino capaz de fazer a felicidade de muita gente, e também se evoca José Saramago – uma frase que nos deixou, uma entre tantas, tantas frases: «se podes olhar vê, se podes ver repara».

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A explicação

Depois daquela pouca vergonha do Carlos Queiroz e do Ronaldo, ainda tive de explicar ao meu filho, de cinco anos, como tinha sido possível Portugal ser eliminado do mundial por causa de um golo marcado pelo Ervilha.
Imagem daqui.
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Portagem, quem sabe…

«A crise chegou em força aos dinheiros da cultura.» Li esta frase várias vezes nos últimos dias. Em não sei quantos sítios. Os dinheiros, já se vê, são os do Estado, ou antes, os nossos (mesmo que de nossos na prática tenham muito pouco). Agora, com mais este tentáculo da crise, nem sei o que me espera. Como a minha bolsa de criação literária é zero (sempre foi zero) e não pode ser mais reduzida, quem sabe se não quererão obrigar-me a pagar portagem a cada mil caracteres que escreva, ou cinco mil, nem sei. A minha esperança é de que como aqui não há rede de telemóvel provavelmente será impossível que o chipe, ou lá como se escreve em inglês técnico, não funcione. A menos que me obriguem a fazer carregamentos no multibanco. Ou então… Bom, o melhor é não dar mais ideias aos assaltantes.
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