De repente a emissão falhou. Refiro-me à da televisão. Uma noite destas. O canal era a RTP N. Eu pensei logo em mudar de canal para ver se o problema era só naquele. Mas não tive tempo, a emissão voltou ao normal antes que eu chegasse ao comando. Acabei por dar comigo a pensar que é normal, porque a emissão da TV Cabo, ao contrário do que o nome indica, chega mas é por satélite. E o satélite pode ter momentos em que fique sem forças para passar os ramos aqui dos sobreiros. Nunca se sabe. Ou se calhar eu é que nunca sei. Na volta, se a emissão viesse mesmo por cabo era pior, algum bicho ainda se punha a roer o cabo e depois havia de ser o bom e o bonito para dar com o sítio. Mas adiante… O que eu queria contar é que por momentos, durante a falha da emissão da RTP N, pensei numa outra hipótese. O jornalista João Adelino Faria entrevistava dois políticos: nos estúdios do Porto estava um autarca chamado Marco António, que por vezes também é apresentado como Marco António Costa; já em Lisboa, mesmo em frente do entrevistador, estava o conhecido deputado Ricardo Rodrigues. E eu, assim que falhou a emissão, não consegui deixar de pensar na possibilidade de o deputado – por alguma questão embaraçosa em que eu nem tenha reparado – ter tomado posse não da câmara, não do microfone, não do computador do apresentador… Não. O que eu pensei foi que o deputado tinha tomado posse do emissor. Tinha-o metido na algibeira. E foi assim que a emissão se foi (passe a repetição, é claro). Pensei nisto. Coisa de uns segundos. Um emissor na algibeira. Quem sabe… Os desenvolvimentos tecnológicos… Um emissor se calhar já não mede mais do que dez centímetros. Ou uns doze. Se for dos de última geração, evidentemente. Foi o que pensei. Mas a verdade é que não percebo muito de emissores. Depois a emissão voltou e eu pensei noutras coisas. Deve ter sido mesmo falta de força do satélite. Uma indisposição momentânea. Algo assim. Lá em cima uma pessoa nunca sabe.
.
.
1 comentário:
António:
Belíssimo "post": Imaginação, sentido crítico e um toque de humor britânico.
Enquanto o lia, lembrei-me - veja bem - do blogue do já saudoso Saramago. E com toda a frontalidade lhe deixo uma sugestão: Pegar em dois ou três temas semanais que lhe pareçam mais significativos (políticos, literários, artísticos, desportivos...) para os tratar num registo semelhante a este. Mais sugiro que, no fim de cada período anual, proceda à sua publicação, sob o título "O meu Caderno" ou "O Caderno de Venda", por exemplo.
São algumas ideias que lhe deixo juntamente com o meu registo de interesses, cujo é, tão simplesmente, o prazer de ler uma opinião lúcida, escrita num tom de que francamente gosto.
Um abraço e desculpe qualquer inconveniência.
Enviar um comentário