sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Contos inesquecíveis (3)

«Só quando parámos o jipe é que os vi. Estavam ali, à beira da estrada, meio escondidos pelo fragor do crepúsculo – o velho e os seus lagartos. Eram lagartos enormes e tinham o pescoço enrugado como o do velho e os mesmos olhos miúdos e misteriosos.»
«Dos perigos do riso», de José Eduardo Agualusa (do livro «Fronteiras Perdidas»)
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Yannick

Um golo de Yannick qualificou o Sporting para a «Liga Europa». Curiosamente, o mesmo jogador que José Eduardo Bettencourt tentou esta semana oferecer ao Benfica. Anda o meu clube a pagar principescamente a um presidente para isto...
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Uma entrevista

Diria que alcançou um estilo literário próprio e facilmente identificável por quem o lê?
Acho que dá para perceber que os meus livros são realmente meus. Não sei. Mas foi uma coisa a que desde o início me habituei, porque logo quando saiu o primeiro livro alguém escreveu num jornal que era mais fácil falsificar um quadro de Dali do que assinar um livro meu com outro nome. Talvez pelo exagero que tinha, a frase acabou por ser citada várias vezes e isso ajudou a que, de vez em quando, eu fosse confrontado com essa história do estilo próprio. Depois há outra coisa, eu entro nalguns dos meus livros. Quem, além de mim, iria colocar-me num livro?

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Toda a entrevista, feita por Lurdes Breda para o site «Livros & Leituras», aqui.
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pelo fim da tarde

Um destes dias, pelo fim da tarde, por aqui.
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Contos inesquecíveis (2)

«Um juiz aposentado, que nesse outono se encontrava em tratamento de águas numas termas, frente ao mar, viu passar no horizonte do pôr-do-sol um bando de porcos-voadores. Um juiz no outono é sempre muito prevenido, e se estiver aposentado pior.»
«Ascensão e queda dos porcos-voadores», de José Cardoso Pires (do livro «A República dos Corvos»)
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António Souto – Crónica (27)

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Despropósitos de verão
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O apresentador de serviço, agora noutra localidade, pergunta a um apicultor se «o mel se apanha na Primavera».
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Numa espécie de cobardia inconsciente, fugi para o Algarve quando todo o resto do país ardia. Todo o resto, que é como quem diz, mais o norte e o centro, que o sul, ardendo embora de sol, não ardia de chamas. Ardia de calor, de muito calor, de uma temperatura abrasadora tanto de dia como de noite. E nem o mar, ali tão aos pés, aliviava a canícula, que o arejo de África soprava tão quente como as labaredas de verdade. Lembro-me de há uns anos largos ter passado assim por este inferno em Madrid, fazendo jus ao dito de que por ali se passam, ao longo do ano, nove meses de inverno e três de inferno. Levanta-se uma criatura alagada em suor, e o suor persiste durante o dia e a noite inteiros intervalado apenas por duches recorrentes. O ar sufoca de tão parado e aceso, com brisa ou sem ela.
A RTP, num verão total, deu-lhe para andar pelos quatro cantos do país publicitando lugares, gentes e costumes. O serviço público fez-se à estrada, e há sempre boas surpresas para descobrir, maravilhas e pérolas, também como estas: um médico veterinário de Alfândega da Fé, fervoroso defensor da raça asinina, justifica uma iniciativa ali levada a cabo afirmando que se tratava de «ir de encontro ao burro»; também o apresentador de serviço – Francisco Mendes, nesse dia em parceria com Serenela Andrade –, agora noutra localidade, pergunta a um apicultor se «o mel se apanha na Primavera». Caso para se dizer que o calor, quando se não protege a moleirinha, tem destes efeitos!
Sempre tive para mim que os pássaros, como a demais bicharada, eram seres menos vaidosos do que os humanos, mas um dia destes, enquanto tomava um café gostoso e demorado, atentei no pacotinho de açúcar que o acompanhava. Os dizeres, de uma das faces, eram estes: «Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território/ Ajude-nos a proteger o Ambiente/ Dulce Álvaro Pássaro/ Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território». Confesso que, entre o atónito e o envergonhado, não soube o que pensar. Tive, de resto, dificuldade na interpretação da mensagem. Não na mensagem do curto enunciado imperativo-directivo («Ajude-nos a proteger o Ambiente» – que bem poderia levar um ponto exclamativo), mas na mensagem global. O que faria ali o nome da senhora ministra? Terá sido ela, porventura, a autora daquele original enunciado? E porquê a referência à sua função? Houve receio de que os leitores não associassem a pessoa ao cargo ou o cargo à pessoa? Desconfio que ali houve malvadez. Como não acredito que a afectação tenha destes assomos, só pode ter sido seguramente o excesso de zelo de algum assessor ou o cândido oportunismo da marca de cafés. Nem outra coisa me ocorreria!
Na capital, a assistência social proporcionada às camadas mais carenciadas é assegurada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Por isso não é de estranhar que seja esta instituição, com mais de cinco séculos de existência, a garantir um funeral digno àqueles que «partem» sozinhos, sem família. Referem os números que, no ano passado, a SCML tratou de oitenta e dois funerais de pessoas nestas condições. Porém, não deixa de ser inquietante que este ano, só até Junho, se tenham já realizado sessenta e dois enterros de «sem-família». Como se a família se deixasse aos poucos substituir pela solidariedade institucional. Como se a família fosse cada vez menos família. Como se estas fossem cada vez mais as marcas do nosso tempo…
O Centenário da República ainda se comemora. De norte a sul, os acontecimentos decorrem com mais ou menos visibilidade. Umas celebrações modestas, mas mesmo assim diversificadas e em consonância com as imprescindíveis contenções. Em Lisboa, à parte a grande exposição na Cordoaria Nacional, ainda outras duas recomendáveis, ambas no Terreiro do Paço: uma, sobre «Corpo – Estado, Medicina e Sociedade no Tempo da I República»; outra, sobre «Viajar – Viajantes e Turistas à Descoberta de Portugal no Tempo da I República». Memórias de um tempo que nos trazem memórias. Memórias que nos dão o testemunho da celeridade do tempo e nos revelam a evolução da ciência, da tecnologia e da sociedade. Ainda no âmbito das celebrações, a leitura proveitosa de «1910 – Uma Antologia Literária» (com seis contos inéditos de Luísa Costa Gomes, Mário Cláudio, Mário de Carvalho, Miguel Real, Teolinda Gersão e Urbano Tavares Rodrigues), numa edição da D. Quixote.
Angeja é um lugar, um espaço substantivo, próprio, definido e concreto, porém um topos a mais a juntar a todos os outros que se encontram no mapa. Mas, quando terra natal, é também um porto de ancoragem e de abrigo. Um sítio que se guarda e que se revisita. São assim todos os lugares que são nossos, nem que a eles regressemos apenas uma ou duas vezes por ano. Como neste. Benditas sejam as férias!
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Crónica de Agosto de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26.
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Dúvidas de jogo

Com esta coisa do acordo ortográfico, uma pessoa já não sabe se deve escrever snooker ou sinuca.
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domingo, 22 de agosto de 2010

Uma questão de balizas

O Benfica poderia ter evitado o problema do guarda-redes se alguém tivesse explicado a Jorge Jesus que tipo de balizas Roberto estava habituado a defender em Espanha.
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Contos inesquecíveis (1)

«A sua única virtude sobrenatural parecia ser a paciência. Sobretudo nos primeiros tempos, quando o espiolhavam as galinhas em busca dos parasitas estelares que proliferavam nas suas asas…»
«Um senhor muito velho com umas asas muito grandes», de Gabriel García Márquez (do livro «A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada»
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sábado, 21 de agosto de 2010

O pior sportinguista de sempre

Os resultados de mais de um ano de desvario, desleixo, desinteresse e incompetência não deixam dúvidas. Este é o pior sportinguista de sempre, com a agravante, ou a ironia, de ser o que custa mais dinheiro todos os meses ao meu clube.
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mudança

Vive aqui pelas redondezas, mas raramente se mostra. Um dia destes surpreendi-a a apanhar sol, mesmo à saída de casa. Lá rastejou o mais depressa que podia, para longe de mim, à procura de um esconderijo. Vinte metros, ter-se-á afastado vinte metros em direcção a um muro de pedra solta. Mas ao chegar lá não conseguiu abrigo. Então voltou na minha direcção, ainda a rastejar depressa mas parecendo um pouco cansada. Por momentos pensei que queria atacar-me, mas depois, quando a vi passar-me junto aos pés toda aflita, aí percebi. Queria ir para um arbusto enorme que estava do outro lado. Um bom sítio. Dessa vez pareceu-me que poderia ter mais de um metro. Agora medi-lhe a pele (na foto) que entretanto largou e deu um metro e trinta e cinco. Isto se não for a pele de outra cobra. Parece-me que não. Fiquei com curiosidade de vê-la com a nova pele. Há-de aparecer.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eça, 25 de Novembro de 1845 – 16 de Agosto de 1900

Foi há pouco mais de um ano. Eu lia «Os Maias». Era a terceira vez, depois do Verão de 1986 e depois de um outro Verão nos tempos finais da faculdade, 1990, ou talvez 1991. Ouvi esta frase: «O lobo mau estava a jogar à bola e de repente passaram-lhe uma rasteira.» Um «excerto» da obra-prima de Eça de Queirós, pelo menos a julgar pelo que o meu filho, então com quatro anos, «leu» a uma das irmãs, então com dois. Isto logo a seguir a tirar-me o livro da mão. Lembro-me de que ia naquela parte em que Ega visita a redacção do jornal «A Tarde».
Claro que quando falo em três leituras do romance não conto com uma outra, dos tempos da Escola Manuel Teixeira Gomes, em Portimão. As aulas de Maria Amélia Saraiva, oficialmente professora de português mas na prática uma psicopata que atormentava os alunos aula após aula, ano após ano (e já levava então, de certeza, mais de cinquenta a «ensinar»). «Os Maias», naquelas aulas, não passava de um livro detestável, como qualquer livro que tivéssemos de ler com o acompanhamento de tão sinistra figura. De muitas coisas que poderia recordar desses tempos, deixo uma, a frase que ouvia se não acertava numa resposta sobre o romance: «Os teus Maias não são iguais aos meus. De certeza que os compraste em Monchique.»
Quando no Verão passado ouvi o meu filho falar no lobo mau enquanto olhava para as páginas de «Os Maias», lembrei-me de novo da sinistra professora e da frase que por vezes me era dirigida. E por momentos passou por mim a tentação, mesmo o meu filho não sabendo ler, de ir verificar se naquela edição havia algum problema. E não era a que eu usava nos tempos da Escola Manuel Teixeira Gomes, de capa dura, vermelha, da Livros do Brasil, e que tinha mesmo comprado na livraria de Monchique. Era outra, que muitos anos depois me tinham oferecido.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma ideia perigosa

Bastaram umas horas para o ministro da Agricultura, António Serrano, recuar na ideia perigosa que lançou, a de expropriação de propriedades rurais que não estivessem cuidadas de forma a evitar os incêndios. Esqueceu-se, já se vê, dos milhares de propriedades que o Estado que ele próprio representa deixa ao abandono ano após ano. E de como é ineficaz todo o sistema de combate aos incêndios.
Tenho muita dificuldade em perceber como determinadas pessoas chegam a cargos de grande responsabilidade. No Verão, com os incêndios que ano após ano repetem uma história de desleixo, desinteresse, incompetência e até más intenções, essa dificuldade ainda é maior. Pior que António Serrano só mesmo os inconcebíveis ministros da Administração Interna dos incêndios de há seis e sete anos na minha terra, um dos quais tive ao menos o gosto de no romance «Uma Noite com o Fogo» derrubar à pedrada.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Cem vezes por dia

Eu gostei do resultado do Porto – Benfica. Mas não é isso que interessa, obviamente. Mais importante seria arranjar uma maneira de obrigar os tristes dirigentes do meu clube a verem cem vezes por dia durante um ano a jogada que deu o segundo golo ao Porto, feita por um jogador que ofereceram ao adversário. Como, na prática, ofereceram João Moutinho (porque com o dinheiro que receberam e com o fardo de terem de ficar com Nuno André Coelho o saldo deve ser próximo de zero).
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Por dentro dos livros

Estes bonecos são da série infantil «Super Why!». É uma das muitas que vou acompanhando, por causa dos meus filhos. Pelo que percebi os bonecos entram nos livros para viverem as histórias desses mesmos livros. E para entrarem põem estes fatos quase de super-heróis, e vão nuns aviões pequeninos que voam como abelhas. Nesta imagem estão numa prateleira, prontos para mais uma aventura, num dos livros atrás deles. Basta irem para os aviões, ligarem os motores e acelerarem. Enfim, mais ou menos, pode não ser exactamente como digo, porque não sou grande especialista na série. Nem sei o nome de todos os quatro, apenas do de verde, exactamente o Super Why.
A série, como não podia deixar de ser, faz-me lembrar o meu romance «O que Entra nos Livros» e as diabruras do mágico velhinho pelas estantes de uma livraria de Évora. Deixo um excerto a seguir.
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(…)
O senhor Sapinho Júnior desceu as escadas que davam da casa de habitação para o gabinete. Desceu-as agarrando-se ao corrimão com a mão direita e tocando nalgumas lombadas com a mão esquerda. Não conseguia dormir, como habitualmente, mas para isso tinha uma pilha de livros na mesinha-de-cabeceira. Só que naquela noite – seriam duas da manhã – quis ir buscar algo diferente. Não sabia se teria de chegar à livraria ou se no percurso até lá, pela biblioteca, pelas escadas, pelo gabinete, encontraria algo para ler até que lhe chegasse o sono. Évora dormia, sem que nada naquela altura interrompesse o silêncio; nem um grilo o senhor Sapinho Júnior ouvia. Desceu as escadas com a luz ligada, sempre de olhos nos livros para ver se algum título lhe despertava a atenção; mas nada. Passou pelo gabinete, e mais uma vez nada. Ainda se demorou aí um pouco, pegando nalguns livros, mas não se decidiu por nenhum. Na livraria haveria de ser mais óbvio encontrar leitura que pudesse interessar-lhe, talvez na mesa das novidades. Se calhar ia comprar um livro a si próprio a meio da noite… Agora que pensava nisso, lembrou-se de que provavelmente era ele o melhor cliente da livraria.
Preparou-se para abrir a porta que dava para a livraria. Foi nessa altura que ouviu um pequeno ruído, não muito forte, mas algo que o deixou um pouco inquieto. Teria o gato ficado na livraria? Não, não podia ser. O gato, ele tinha-o visto a dormir na cozinha antes de se ir deitar… O bicho, com as portas fechadas, não tinha por onde passar para a livraria; podia era sair pela janela da cozinha para a noite de cidade, saltando para o telhado do restaurante. O senhor Sapinho Júnior permitia-lhe essas liberdades, pelos telhados de Évora, ao contrário do que acontecia durante o dia, quando o deixava fechado nos pisos superiores do edifício, os de habitação, ou o prendia a uma trela à porta da livraria junto dos escritores de papelão que alguns vendedores das editoras sempre insistiam para que pusesse bem à vista. Nalguns casos não eram os seus preferidos; ele gostaria de ter outros, mas os que os vendedores levavam eram invariavelmente daqueles e por isso o livreiro não se metia com ilusões, nem com devaneios. A livraria era um negócio e se esses escritores tinham direito a reproduções em papelão alguma razão haveria que o justificasse. Tratava-se mesmo de um negócio, apesar de ser também um passatempo que o senhor Sapinho Júnior podia manter sob a cúpula protectora das propriedades que um dos filhos geria; e como negócio tinha de ser encarado assim, seriamente, e gerido de uma forma o mais profissional possível.
O ruído ia-se repetindo, espaçado, sem uma cadência definida. O gato não era, pensou o senhor Sapinho Júnior. Talvez um rato? O livreiro sentiu um arrepio subir-lhe pelo corpo. Um rato era um perigo para a livraria e para a biblioteca. O gato prevenia isso, quando ele o deixava percorrer toda a zona de livros, como se fosse um cão a farejar algum petisco. Um rato… Um autêntico desastre… E se fosse mais do que um? O livreiro estava a perguntar-se isso quando ouviu uma nova sequência de ruídos. Agora tinha a certeza. Pequenos ruídos, fugazes, mas que significavam que algo se passava na livraria. Entrou com muito cuidado, procurando tocar o chão com os pés de uma forma suave. Aproximou-se do interruptor da luz principal; esperou um pouco, sustendo a respiração, e depois fez pressão com o indicador direito, ficando com a livraria bem visível. Não viu nada de estranho, mas de repente, mesmo de repente, deu por um ruído do lado direito, no cimo das estantes, numa das prateleiras altas. O livreiro parecia uma águia, olhava com um olhar firme, para um lado e para outro, com mudanças repentinas. Foi numa dessas mudanças que detectou algo que não percebeu bem o que era, na tal prateleira alta do lado direito; a mesma de onde parecia saírem os ruídos.
(…)
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Pausa

Esta época, como já deve ter dado para ver, não há aqui grandes comentários sobre os jogos do Sporting, ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, sem que falhasse um jogo. O triste presidente que lá temos, confesso, esgotou-me a paciência. Direi alguma coisa, de vez em quando.
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