Nas bancas desde a passada sexta-feira. Ver aqui.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Domingo à tarde
Domingo à tarde. Arranjar as valas por aqui, por causa das
chuvadas do Inverno. É um trabalho um bocado complicado, mas vale a pena. Como
o trabalho na empresa, que tem alturas em que também é complicado, duro mesmo,
especialmente os fechos de edições pela noite dentro, seja de que projecto for
- dos nossos ou dos de clientes. Nessas alturas, pelos exemplos que vejo em
Portugal, já tive momentos de me passar pela cabeça a ideia de que se tivesse,
há muito tempo, ido roubar para a política levaria agora uma vida descansada.
Procuro sempre afastar essa ideia com todas as minhas forças. Pela vergonha que
seria, obviamente.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
sábado, 22 de outubro de 2011
António Souto – Crónica (41)
Por falar em apardalado, deixo-me levar nas asas do
adjectivo para o quintal e para a quinta e para os campos próximos da minha
infância onde, com uma atiradeira (uma fisga, para os putos da cidade), o meu
irmão e eu caçávamos uns pardais-ladrões…
Em abono da verdade
Um dia destes, de regresso às crónicas de Lobo Antunes,
deliciei-me com uma antiga, uma que levou em cima com o título «Crónica escrita
depois de ter bebido dois copos de vinho tinto ao almoço». Uma crónica a valer
e a condizer com a profusão do enredo, rio sinuoso que não avista nunca a foz,
que a crónica tem destas alforrias.
(Convém sublinhar que me regalo sempre com as crónicas de
Lobo Antunes, com as primeiras, mais de memórias, com as outras que a seguir
são mais de noite nostálgica, com as mais recentes que vão aportando,
fotográficas e precisas, e trazem dentro o verdadeiro «sentido íntimo das
coisas». Enfim, com todas me contento.)
Mas com esta antiga muito em particular. Porque esta me fez
exactamente pensar, pelo desvario, na insânia etilizada que nos invadiu neste
treze de Outubro. O sol não cirandou, baixou literalmente ao horizonte e
desapareceu, e com ele se sumiram os horizontes de quem ainda acreditava em
milagres. Afinal de contas, um prodígio bem ao jeito de uma crónica de uma
morte lenta que levará à agonia milhares ou milhões de criaturas, gente séria,
cidadãos deste tempo e de tempos vindouros, que o flagelo veio para perdurar.
E há nisto ironia, num destempero que vem de longe, que
atravessou séculos, justificou mitos e nos mantém bichos da terra suspensos
numa chama toldada que só «a mão do vento» poderá erguer. Poderá?
Porque manda quem pode e obedece quem deve, e toda a gente
sabe que é sempre o povo quem deve, o povo todo, não vale a pena o povo
lamentar-se (nem lamentar-se o povo), nem esmorecer, nem deprimir, mas dar-se
por feliz por ter um país em crise. Um país em crise que pode finalmente
desobrigar-se de subsídios de férias e de subsídios de Natal, benefícios
completamente desajustados de um calendário de doze meses. Se alguém quisesse
que o ano civil tivesse catorze meses a sério teria inventado mais dois nomes a
sério para os excedentes, o que não foi o caso. Sempre aprendemos em casa e na
escola que o ano vai de Janeiro a Dezembro, e ponto final.
Só que quem pode parece não querer poder a valer, que isto
no meu humilde entendimento ou se faz tudo a eito ou fica um travo na boca que
arrelia. Bem sei que quem manda não precisa de sugestões alheias, mas não seria
mais sensato acabar-se igualmente com as férias e o Natal? É que a fazer fé (e
em questões de fé até nem somos maus) no ditado de que quem não tem dinheiro
não tem vícios, de uma assentada se abatia mais dois coelhos, e com singeleza
se limpava do mapa as férias, agora desnecessárias, e se mandava o Natal de
Dezembro às urtigas. De resto, já quase ninguém dá valor às prendas avaras das
lojas dos trezentos, isto por um lado, e por outro, que piada tem haver Natal
sem iluminação nas ruas ou Natal com bolos-reis sem brinde?
É claro que o povo, o povo todo, é capaz de demorar algum
tempo a habituar-se à ideia, e até é capaz de ficar um bocadinho apardalado,
mas a crise também não tem pressa e as tristezas, como é público, nunca pagaram
dívidas, muito menos as nossas.
Por falar em apardalado, deixo-me levar nas asas do
adjectivo para o quintal e para a quinta e para os campos próximos da minha
infância onde, com uma atiradeira (uma fisga, para os putos da cidade), o meu
irmão e eu caçávamos uns pardais-ladrões que depois, com a cumplicidade da
minha avó, assávamos na lareira ou fritávamos no fogão a gás em momentos de
gula e de festa.
Saliente-se, em abono da verdade, que na altura não havia
dois copos de vinho tinto a acompanhar. Como agora não há, que me mantenho
abstémio, mas é como se.
Finalmente
Finalmente, uma frase de jeito do Jorge Jesus: «Os
nossos políticos, se fossem treinadores, estavam pouco tempo a governar o país.»
domingo, 16 de outubro de 2011
Duas dúvidas
Estive fora hoje. Foi criado entretanto mais algum imposto? E a respeito de roubos, há novidades?
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Os javalis pequenos saíram à noite
Enquanto Pedro Passos Coelho anunciava mais medidas de
austeridade, eu estava a trabalhar (mais umas duas horas e não a meia hora da
treta que ele anunciou). Só o ouvi depois no carro, de regresso a casa. Foi poucos
minutos a seguir a ter parado no meio do campo por causa dos javalis pequenos,
que parece que escolheram esta noite para uma saída geral (tentei apanhar
alguns com o telemóvel, mas não saiu grande coisa porque uma mão tinha de estar
sempre no volante para direccionar a luzes). Depois, já mesmo a chegar, ainda
dei com o texugo gordo do montado (que não via há meses), mas esse até ao
telemóvel conseguiu escapar, correndo de forma atabalhoada e com as banhas aos
saltos. E ao estacionar o carro, não sei por quê, liguei o rádio. Lá estava o
tipo a anunciar as medidas, pesaroso. É melhor ser pesaroso do que ser
mentiroso, acho eu. Nos primeiros anúncios, mal chegou ao governo, passou por
mentiroso, depois do que tinha apregoado na campanha, onde até uma adolescente
de uma escola teve a lata de enganar. Agora é diferente. Já não se trata de
mentiras. Anunciou, está anunciado. Presume-se que não tinha feito promessas
para 2012 ou para 2013, apenas para 2011. E portanto, agora, anunciou. Apareceu
então pesaroso, apenas isso. Deve ter percebido que um primeiro-ministro não
deve mentir, até deve ter percebido – arrisco – que qualquer pessoa não deve
mentir. Fico agora a aguardar pelos novos modelos de carros que os membros do
governo e outros parecidos vão passar a usar. Não creio que no estado em que o
país se encontra possam continuar com Mercedes e BMWs de alta cilindrada, como
os que hoje vi de um lado para o outro junto à Presidência do Conselho de
Ministros. Certamente irão trocar por outros, e nalguns casos abolir o direito
a carro. Os que mantiverem esse direito, espero que não usem mais do que
utilitários. Um Fiat Punto para secretário de Estado, uma coisa um bocadinho
acima para ministro. Não vai cair a ninguém nenhum parente na lama, quase de
certeza. Se cair, enfim, que se levante.
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terça-feira, 11 de outubro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
Figura triste
Que figura mais triste fez ontem à tarde no Parlamento o ministro da Economia e de mais uma data de coisas, Álvaro Santos Pereira!... O antigo professor universitário mais parecia um aluno cábula a ter de repente de fazer um prova oral. Aonde ir buscar as respostas que devia dar?, parecia perguntar a si próprio, com um olhar assustado, nalguns momentos a caminho do pânico. A certa altura já me fazia tanta pena que desliguei a televisão.
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quarta-feira, 5 de outubro de 2011
António Souto – Crónica (40)
Se ao menos, aproveitando as derradeiras réstias de sol, tivéssemos castanhas e as soubéssemos pilar para mais tarde dulcificarmos a ilusão de fortuna havida… Mas não cremos mais em nós nem em quem nos governa, de dentro como de fora, que a Europa continua jacente e sem mensagem, e os pessoas deste reino estão emudecidos.
Portugal a entristecer
Não sei se por ter partido José Niza, se por o seu passamento me ter trazido à memória uma vez mais Ary dos Santos, ou se por esta lembrança arrastar consigo a voz de Carlos do Carmo, dei comigo a cantarolar por dentro esta quadrinha-refrão: «Quem quer quentes e boas, quentinhas?/ A estalarem cinzentas, na brasa./ Quem quer quentes e boas, quentinhas?/ Quem compra leva mais calor pra casa.» Não sei. O que sei é que Setembro, que bem poderia ser o mês inaugural das costumeiras castanhas assadas, quando agora começa o tempo delas, será muito certamente o mês primeiro da austeridade a sério, o primeiro dos muitos meses de muitos ouriços e de poucos magustos.
Parece irónico que tenhamos de saber nos bolsos e nos palatos o verdadeiro valor e préstimo dos castanheiros. Num elogio que faz à árvore e ao fruto, ilustra Miguel Torga: «Assada, no S. Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua, engorda os porcos, com a vossa licença…».
E o S. Martinho, que não tarda está aí, vai ter de andar doravante por perto com a sua capa solidária para nos proteger do frio que vem para durar pelas estações adiante. E por muito que a parta e reparta, será sempre pouca para agasalhar os défices e as misérias da nossa circunstância. A lenda, como a boa ficção, acaba por superar esta nova realidade de agora, mais que o fogo-fátuo do Portugal pessoano a entristecer.
Se ao menos, aproveitando as derradeiras réstias de sol, tivéssemos castanhas e as soubéssemos pilar para mais tarde dulcificarmos a ilusão de fortuna havida… Mas não cremos mais em nós nem em quem nos governa, de dentro como de fora, que a Europa continua jacente e sem mensagem, e os pessoas deste reino estão emudecidos.
Abranda a economia, quebranta o investimento, adensa o desemprego, encolhem os salários, declina o poder de compra, afrouxa o consumo, abranda a economia, quebranta o investimento, adensa o desemprego, encolhe, declina e afrouxa tudo, só não afrouxa o eufemismo de quem vê poesia nas migalhas deixadas em fim de festa sobre a toalha de ninguém.
As migalhas que restam para os meninos de amanhã, e depois, ah!, Manuel da Fonseca, «Depois quando/ com o tempo/ a criança/ vem crescendo/ vai a esperança/ minguando./ E ao acabar-se de vez/ fica a exacta medida/ da vida/ de um português.».
Não que seja o mal apenas nosso, mas bem podemos nós com o mal alheio, e o nosso mal é também e sobretudo culpa nossa, que atirámos castanhas aos porcos, como pérolas, e os engordámos a tal ponto que desmesurados se cevaram igualmente de nós. E na caruma do magusto assamos em turba toldados de ouriços pelos Outonos adentro.
Pessimista, eu? Não, só como no «Só» de António Nobre: «Amigos,/ Que desgraça nascer em Portugal!»…
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
domingo, 2 de outubro de 2011
Os almoços para a internacionalização
«Incluiu vários almoços de trabalho, muito apreciados.»
Excerto do relatório sobre internacionalização da economia
portuguesa, encomendado pelo Governo a uma equipa coordenada pelo economista
Jorge Braga de Macedo - na parte em que se refere às instalações que usaram
para as reuniões de preparação do documento (citado pelo «Expresso»)
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