Enquanto Pedro Passos Coelho anunciava mais medidas de
austeridade, eu estava a trabalhar (mais umas duas horas e não a meia hora da
treta que ele anunciou). Só o ouvi depois no carro, de regresso a casa. Foi poucos
minutos a seguir a ter parado no meio do campo por causa dos javalis pequenos,
que parece que escolheram esta noite para uma saída geral (tentei apanhar
alguns com o telemóvel, mas não saiu grande coisa porque uma mão tinha de estar
sempre no volante para direccionar a luzes). Depois, já mesmo a chegar, ainda
dei com o texugo gordo do montado (que não via há meses), mas esse até ao
telemóvel conseguiu escapar, correndo de forma atabalhoada e com as banhas aos
saltos. E ao estacionar o carro, não sei por quê, liguei o rádio. Lá estava o
tipo a anunciar as medidas, pesaroso. É melhor ser pesaroso do que ser
mentiroso, acho eu. Nos primeiros anúncios, mal chegou ao governo, passou por
mentiroso, depois do que tinha apregoado na campanha, onde até uma adolescente
de uma escola teve a lata de enganar. Agora é diferente. Já não se trata de
mentiras. Anunciou, está anunciado. Presume-se que não tinha feito promessas
para 2012 ou para 2013, apenas para 2011. E portanto, agora, anunciou. Apareceu
então pesaroso, apenas isso. Deve ter percebido que um primeiro-ministro não
deve mentir, até deve ter percebido – arrisco – que qualquer pessoa não deve
mentir. Fico agora a aguardar pelos novos modelos de carros que os membros do
governo e outros parecidos vão passar a usar. Não creio que no estado em que o
país se encontra possam continuar com Mercedes e BMWs de alta cilindrada, como
os que hoje vi de um lado para o outro junto à Presidência do Conselho de
Ministros. Certamente irão trocar por outros, e nalguns casos abolir o direito
a carro. Os que mantiverem esse direito, espero que não usem mais do que
utilitários. Um Fiat Punto para secretário de Estado, uma coisa um bocadinho
acima para ministro. Não vai cair a ninguém nenhum parente na lama, quase de
certeza. Se cair, enfim, que se levante.
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