quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A gramática da crise

«… e no fim disto, esperemos ao menos que vamos ter um país bem melhor.»
Ricardo Costa, a comentar as medidas contra a crise, presumo que seguindo já o acordo ortográfico
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Revista «human» de Outubro

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Nas bancas desde hoje, dia 30. É o número 22, de Outubro de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Os exemplos do desporto
Alto rendimento. É o grande destaque desta edição, num trabalho protagonizado por quatro nomes de topo do desporto português, nomes que nos habituámos a ver nos palcos onde se apresentam os melhores atletas do mundo. Em pequenas entrevistas, Elisabete Jacinto, João Garcia, Telma Monteiro e Frederico Gil falam-nos das suas experiências em competições onde o alto rendimento e a necessidade contínua de superação se apresentam como essenciais. Com eles, tentámos perceber como nas empresas se pode aprender com o desporto, sobretudo com os maiores talentos.
De muitas coisas que nos foram dizendo estes quatro atletas de excelência, destaco aqui uma de João Garcia, o alpinista que escalou as maiores montanhas do planeta. Quando lhe perguntámos, partindo do título do seu primeiro livro, qual poderia ser a mais alta solidão, por exemplo de um líder de uma multinacional, em vez de tentar adivinhá-la, ele respondeu de outra forma, salientando que quem lidera pelo exemplo e preza valores nobres nunca terá de lidar com a mais alta solidão.
Outros temas que quero destacar na edição: a secção «O Dia na Empresa», desta vez com a visita a uma adega de Trás-os-Montes; reflexões sobre temas como a responsabilidade social, a liderança ou o futuro da sociedade portuguesa; o tema dos planos de pensões – tão importante quando cada vez se torna mais certa a incerteza sobre o futuro das reformas do Estado –; e a entrevista com uma mulher com enormes responsabilidades comerciais mas que pelo facto de gerir uma equipa de centena e meia de pessoas vê as suas responsabilidades colocarem-se também ao nível da gestão de recursos humanos.

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As minhas histórias do José Eduardo Agualusa

Hoje é o dia da apresentação em Lisboa do novo romance do José Eduardo Agualusa, «Milagrário Pessoal». Tentarei ir, obviamente, pelo autor e pela ligação que tenho àquilo que escreve. Acompanho a escrita do José Eduardo desde a segunda metade da década de oitenta do século passado, quase vinte e cinco anos. Era os tempos do «DN Jovem», ainda antes de ele conseguir publicar o primeiro livro («A Conjura»). Em 2007 foi o José Eduardo que apresentou o meu romance «O que Entra nos Livros», uma espécie de continuação do livro que mais gostei de escrever, «O Medo Longe de Ti». Foi na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, e a foto é da altura em que o José Eduardo falava, ainda às voltas com o cansaço da viagem que acabava de fazer do Brasil. O meu filho mais velho tinha na altura quase três anos. No final da apresentação, chamou-me de parte e perguntou-me quem era o senhor que tinha ido comigo para a mesa, para falar do livro. Disse-lhe que era o Agualusa. Claro que a seguir veio logo uma pergunta: «Quem é o Agualusa?» Pensei um pouco e acabei por responder que era um senhor que tinha muitas histórias. A partir daí, durante quase um ano, noite após noite, o meu filho pediu-me que lhe contasse uma das histórias do Agualusa. E eu contei. As minhas histórias do José Eduardo Agualusa, uma nova a cada dia, inventada por mim exactamente na altura em que a contava. Talvez umas trezentas histórias, ou mais. Grandes aventuras as dessas noites, à espera que o sono do meu filho chegasse…
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Personagens de «O Medo Longe de Ti» – 3

Sophie, a observadora de escritores
«E o Jaime, lembras-te do Jaime? A Sophie, da amostra que tinha de nós, enfim, para ela tudo bem... Mais um, deve ter pensado. O Jaime, que nem os postais para a namorada que tinha deixado em Espanha conseguia encher. Mas a Sophie achou que sim, que ele também escrevia. Quando descobriu tudo, telefonou-me para a cabana a perguntar-me se todos os homens eram mesmo uns porcos, se eram mesmo todos assim ou se havia algum que se aproveitasse. E eu sem saber de que estava ela a falar. – Sophie, mas o que é que eu te fiz? – perguntei-lhe.
E ela insistia na pergunta, se todos os homens eram uns porcos, até que me contou que o Jaime a tinha convencido a ir observá-lo.
– O Jaime?! – estranhei. – Mas observá-lo a fazer o quê?!
– A escrever!! – gritou a Sophie. – Aquele porco espanhol!!! Diz-me, tu, jovem escritor, os homens são todos uns porcos, não são?!!
E a seguir desligou-me o telefone, sem esperar resposta.»

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Outras personagens: 1, 2.
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António Souto – Crónica (28)

… à mesa, num encontro breve, a amizade voltou a saltar os muros da escola, contrariando quem nela teima em ver apenas números em lugar de pessoas.
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Os muros da escola
Todos os anos lectivos têm um início e um fim, como os anos civis, embora não coincidentes com estes.
O ano lectivo no secundário inaugura-se, para os caloiros, um dia antes das aulas a sério. Ocasião para conhecer os novos colegas, os novos espaços e as novas regras.
O grande encontro faz-se às dez, no Auditório, para ouvirem todos palavras de recepção e de acolhimento. Antes disso, porém, já muitos deles tinham recebido o baptismo de chegada a este ciclo de ensino: bastou transporem os portões da escola, e logo os mais velhos os acoitaram com esguichos de água, farinha de trigo e ovos, e muitos grafitos pelas partes desnudadas.
Às dez e meia, os directores de turma dirigem-se para uma sala pré-determinada. Os alunos seguem também cada um para a sua. Alguns, circunspectos, perguntam onde fica, outros, mais afoitos, aventuram-se com um plano nas mãos. Depois, lá dentro, a turma vai-se formando aos poucos num amontoado de seres atarantados entre o curioso e o displicente. São agora jovens, todos iguais e todos diferentes.
Professores e alunos apresentam-se. Já ninguém desconhece a história, sempre a mesma, só não se conhecem uns aos outros, mas não tardará. Um pouco de conversa e o ambiente de retraimento inicial começa a descontrair-se e a dissipar-se.
Um professor comunica umas quantas informações. Transmite algumas normas de comportamento e de civilidade. Distribui os cartões de estudante. Deseja um bom ano e uma boa empatia.
Antes disso, no entanto, e volvidos parcos minutos, já a primeira criatura se revelara. Enfastia-se, como se em cativeiro. Olha para o relógio e não esconde a inquietude. Assim uma espécie de vontade fisiológica contida. Não, esclarece, nada que a casa de banho mais próxima resolva. Não, o problema era a pressa. Tinha pressa de se ir embora. O professor pede-lhe um pouco de paciência, que faltava fazer ainda, e só, uma aligeirada visita pela escola, só para no dia seguinte se orientarem sem perdas de tempo. Não, tinha mesmo pressa, e a impaciência principia a molestar. Pois então que fosse (os seus colegas viram, ouviram e sentiram o nervosismo no ar). E foi, decidido a ir e a só voltar no dia seguinte. A visita pelos pátios cumpre-se, agora com um aluno a menos que ninguém nota. Pelos vistos, houve quem quisesse marcar o desapego e a insolência de véspera, e deste modo dizer ao que vinha.
O professor sabe disso.
No dia seguinte, como determina o calendário escolar, arrancam as aulas a sério. No dia seguinte, como repetidamente acontece, haverá sempre um parvalhão a mais a marcar presença e a marcar o passo.
O professor sabe disso. O professor sabe que o dia seguinte será sempre um novo dia, com ou sem Estatuto, velho ou novo. O professor também sabe que nem todos os alunos são obtusos e grosseiros.
Por isso é que o professor é convidado duas vezes por ano para jantar com ex-alunos de há quatro anos, jovens crescidos e quase formados. Por isso é que o professor foi jantar hoje com ex-alunos que deixaram este ano a escola e que pela primeira vez experimentam a universidade, jovens crescidos que aprenderam de crianças que a estultícia não dá frutos.
Hoje, à mesa, num encontro breve, a amizade voltou a saltar os muros da escola, contrariando quem nela teima em ver apenas números em lugar de pessoas.
Todos os anos lectivos têm um início.
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Crónica de Setembro de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27.
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sábado, 25 de setembro de 2010

Personagens de «O Medo Longe de Ti» – 2

Catarina, a rapariga mais bonita do mundo
«Ali estava ele a conferir se tinha todos os estudantes presentes, como se não se visse logo que não, como se não desse para ver que na primeira fila, na nossa, a minha e a da rapariga mais bonita do mundo, faltava gente. Três mesas sem livros nem cadernos, três cadeiras vazias. Alguma coisa se passava.»
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Primeira personagem aqui.

Contos inesquecíveis (5)

«Lá dentro frigiam carne. Ouvia bem o chorriscar da gordura na sertã. Dantes, seria o bastante para lhe correr a baba pelas barbelas abaixo.»
«Nero», de Miguel Torga (do livro «Bichos»)
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Um céu

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma personagem

Fugiu-me uma personagem. Por onde andará agora?
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Personagens de «O Medo Longe de Ti» – 1

O jovem escritor
– Sophie, ou a chamada está sob escuta ou então estás a ranger os dentes de raiva!
– Raiva, jovem escritor, eu?! A ranger os dentes, talvez. Mas isso é dos nervos. Estou nervosa, nervosinha como uma raposa da floresta a aproximar-se da cidade em busca de alguma entrada para o novo aviário que agora fizeram junto à ligação com a auto-estrada para Stuttgart...



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Dúvida

Já não sei se o melhor é chamar o FMI ou o FBI.
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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O pinheiro

Excerto de uma entrevista do nosso futebol.
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Jornalista «Mister, afinal o Sporting não conseguiu contratar o pinheiro que o senhor tanto queria...»
Paulo Sérgio «É verdade.»
Jornalista «A que é que se referia ao falar num pinheiro em que as bolas iriam bater para entrarem nas balizas dos adversários?»
Paulo Sérgio «Um avançado com mais de um metro e noventa.»
Jornalista «Mas para isso tinham o Purovic, que acabaram por emprestar ao Belenenses...»
Paulo Sérgio «Em parte é verdade.»
Jornalista «Não percebi.»
Paulo Sérgio «É que eu queria um pinheiro bravo.»
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domingo, 12 de setembro de 2010

Uma reportagem

Uma reportagem da jornalista Marisa Soares, hoje no «Público». Ver aqui.
(foto: Miriam Lago)
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Por curiosidade

Tirei a foto apenas por curiosidade. Já o tinha visto em tantos sítios por aqui, nos baloiços, no escorrega, em cima das cadeiras ou de uma mesa, num dos tapetes, nos muros, nas árvores. Mas nunca à baliza. Por isso tirei a foto. Apenas por curiosidade. Não por publicidade. No Benfica que não estejam já com ideias.
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Contos inesquecíveis (4)

«O trabalho de Big Bart consistia em levar a caravana a salvo até ao Oeste, engatar as senhoras todas, matar meia dúzia de homens e depois voltar para trás, para ir buscar outro carregamento.»
«Tira lá os olhos das mamas, ó manjerico!», de Charles Bukowski (do livro «A Sul de Nenhum Norte»)
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O clube

Nunca tinha reparado, mas agora, com o anúncio do despedimento de Carlos Queiroz, fiquei a saber que Gilberto Madail é mais um dos que integram o clube do «tem a haver». Antes de passar ao que tinha sido decidido na reunião da direcção da FPF, o presidente fez questão de revelar algumas coisas que tinham a «haver» já não me lembro bem com o quê. Não há-de ser por falta de sócios, simpatizantes ou mal-falantes que este clube um dia fechará as portas. Há sempre alguém que nos diz «tem a haver», independentemente de nos fazer ou não pensar um pouco. Os tipos do acordo ortográfico deviam ter pensado nisto também. Se é que não pensaram. A verdade é que não sei. Pouco apanhei do acordo, tirando algumas asneiras mais gritantes. Na volta meteram lá o «tem a haver» e eu é que ainda ando um bocado atrasado.
Resta saber se Carlos Queiroz tem a haver alguma coisa com isto. Sem aspas e com muitos zeros no cheque.
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Revista «human» de Setembro

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Nas bancas já desde o final do mês passado. É o número 21, de Setembro de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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A economia
Um trabalho sobre MBAs, pós-graduações e formação de executivos, com vários exemplos de bem sucedidas apostas no desenvolvimento de competências, e um outro sobre consultoria, nomeadamente explorando o apoio que esta actividade pode dar ao tecido empresarial, são dois dos destaques da edição de Setembro da «human». A mesma edição em que decidimos puxar para figura de capa um homem a quem em Portugal nos habituámos a ouvir falar de economia de uma forma simples e que toda a gente consegue perceber. Num tempo em que a economia se tornou um assunto do dia-a-dia, fica o convite para acompanhar as ideias de Camilo Lourenço, um jornalista que gosta de traduzir essa mesma economia na linguagem de aldeia que o pai lhe ensinou. Precisamente para que toda a gente perceba. E porque interessa a toda a gente, ou não estivesse o país – como ele assinala – a ver à sua frente «o dia do juízo final».
A propósito do tema desta entrevista, permitam-me mais um destaque. Uma das habituais crónicas, a de Carlos Antunes, intitulada «Os economistas do regime», de quem cada vez mais as pessoas se desligam, encolhendo os ombros em relação ao que dizem. O nosso colaborador encontra duas razões para isso, a fadiga e uma outra que dessa mesma fadiga deriva. Porque em geral – como explica Carlos Antunes – as pessoas «vêem esses economistas, ex-ministros das finanças, ex-banqueiros ou gestores, a somarem reformas, muitas delas de valores obscenos para a realidade portuguesa, adquiridas em escassos anos de trabalho e auferidas em acumulação com outras, a botarem discurso sobre a crise e a exigirem do alto do seu conforto milionário sacrifícios múltiplos a quem se sacrificou a vida inteira». O calendário deles, já se vê, não inclui «o dia do juízo final» de que fala Camilo Lourenço.

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