… promovendo uns quantos cursos inovadores assentes em
cadeiras, e agora somos nós a alvitrar, que determinadas universidades dão por
bem sucedidas, como «Zombies» (Universidade de Edimburgo); «David Beckham»
(Universidade de Staffordshire); «Harry Potter» (Universidade de Durham); «Star
Trek» (Universidade de Georgetown); «Símbolos fálicos» (Colégio Ocidental); «Xarope
de Ácer» (Alfred University, Nova Iorque); «Renda [de bilros ou outra]»
(Universidade de Glasgow); «Star Wars» (Queen's University Belfast); «Robin dos
Bosques» (Universidade de Nottingham) ou «Caça-fantasmas» (Universidade de
Coventry).
À espera de Setembro
Está praticamente tudo fechado para férias neste lindo mês
de Agosto. E bem podem fazer questão de nos tirar as férias e aquilo que as
subsidia que elas são sagradas, e penando uns mais outros menos lá se vai cada
um de nós desempeçando com os cêntimos sobrantes. Isto de fechado para férias é
como quem diz, que há fechaduras que tão cedo não voltarão a rodar por serem as
férias inevitavelmente estendidas, mas disto não discorreremos, que assaz se
tem perorado, disto, dos incêndios e de outras acrimónias do Verão.
Por isso, poderíamos igualmente confessar que também nos
continuamos mantendo em regime de ócio e, assim, arranjarmos desculpa decorosa
para nos esquivarmos ao encargo da crónica mensal, mas ficaríamos por certo de
mal com a nossa consciência. Não aprontaremos pretextos, portanto, mas a
verdade é que os assuntos merecedores de atenção acabam por falhar e ficamos
para aqui à deriva a ver se chegamos à costa, isto é, ao final da página, sem
que o leitor dê pelo vazio da substância. É claro que há sempre forma de
contornar as vagas.
Por exemplo, fazermos como fez Luiz Fagundes Duarte numa
crónica recente, que à falta de matéria e ou de inspiração se decidiu por
discorrer sobre as placas toponímicas «inauguratórias», sobre o pouco que dizem
e, sobretudo, do muito que fica por dizer. Coloca-se uma primeira pedra num
descampado ou inaugura-se uma qualquer obra, feita ou não, e lá fica uma lápide
com o registo da Excelência que a descerrou (ou não, às vezes, que conhecemos
pelo menos uma pedra com o nome de um «descerrante» que no acto se encontrava a
léguas) e, quando calha, ainda de uns quantos insignes que assistiram
protocolarmente ao evento, mas nunca se entalham os nomes daqueles que deram o
corpo e o coiro ao manifesto. Foi por estas e por outras que Saramago,
narrando-nos a edificação do Convento de Mafra, decidiu nomear vinte e três
operários, de A a Z, edificando-os também, porque deles foi a maior parte da
criação.
Ou, por exemplo, chamarmos à colação conteúdo mais
contundente, como a efusiva sugestão do presidente do Comité Olímpico Português
de, «sem conotações políticas», ser reactivada a Mocidade Portuguesa. Uma
proposta virtuosa para pôr os atletas de alta competição na linha, que isto de
ir uma vastíssima delegação para o estrangeiro malbaratar uma fortuna e, no
regresso, trazer duas míseras medalhas não é exemplo para ninguém, muito menos
para a Pátria, e é de nobres exemplos que a Pátria necessita, bem como de
elevados encorajamentos como este, ou como aqueloutro que, coincidentemente,
pretendia a suspensão da democracia por uns meses.
Ou, por exemplo, imergirmos até nos faltar o ar por
insignificâncias que têm preocupado gente folgada a propósito do desaparecimento
de documentos relativos aos famigerados contratos dos submarinos que tanto têm
dado que falar por cá como por águas alemãs e que um ex-ministro da Defesa já
esclareceu não saber de nada e muito menos os ditos terem vindo acidentalmente
misturados com as 61.893 páginas que fotocopiou nos idos de 2007 e que um
Expresso de Novembro desse ano muito bem elucidou.
Ou, por exemplo, e isto seria bem mais sério, sublinharmos o
desafio reformador de o Ministério da Educação atingir a curto prazo uma oferta
de 50% de cursos profissionais nas escolas portuguesas, o mesmo objectivo de há
uns quatro ou cinco anos, promovendo uns quantos cursos inovadores assentes em
cadeiras, e agora somos nós a alvitrar, que determinadas universidades dão por
bem sucedidas, como «Zombies» (Universidade de Edimburgo); «David Beckham»
(Universidade de Staffordshire); «Harry Potter» (Universidade de Durham); «Star
Trek» (Universidade de Georgetown); «Símbolos fálicos» (Colégio Ocidental); «Xarope
de Ácer» (Alfred University, Nova Iorque); «Renda [de bilros ou outra]»
(Universidade de Glasgow); «Star Wars» (Queen's University Belfast); «Robin dos
Bosques» (Universidade de Nottingham) ou «Caça-fantasmas» (Universidade de
Coventry). Era só uma questão de alguns poucos ajustamentos e de alguma pouca
imaginação.
Mas não, não nos apetece encher chouriços, empatar, para
sermos mais elegantes, não vá o leitor enfadar-se, e com razão, de maneira que
nos ficamos por aqui, sem cronicarmos nada, nadinha, esperando apenas por
Setembro.
Crónica de Agosto de 2012 de António Souto para o blog
«Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34; 35; 36;
35; 37;
38;
39; 40; 41; 42; 43; 44; 45; 46; 47; 48; 49; 50.
2 comentários:
DUAS medalhas?
Está bem, Manuel, foi só uma na canoagem, mas como os atletas eram dois sempre vieram ambos cada um com a sua!!!
Enviar um comentário