A mania de Pedro Passos Coelho querer privatizar a Caixa Geral de Depósitos já chateia. Quer dizer, a mim já me chateia há algum tempo, não é de agora. Um dia entrevistei-o, pouco antes de ele ter ganho as eleições para líder do PSD, e ele foi capa da revista com essa entrevista. Uma conversa muito simpática, e lembro-me do título que pus na entrevista, uma frase dele, «Não podemos deixar enraizar a ideia de que quem faz a marosca é recompensado». Demasiado tarde, já estava bem enraizada… Mas mesmo assim a frase deu em título, e foi para a capa. Lembro-me das perguntas que levava para fazer, mais incómodas, menos incómodas, algumas que nem uma coisa nem outra. Levava também uma da privatização da Caixa Geral de Depósitos, ainda por cima numa altura em que estava bem quente a confusão no sector financeiro. Quando cheguei a essa pergunta, em vez de colocar uma pequena cruz à frente e fazê-la, não, nada disso; fiz um risco por cima e passei à pergunta seguinte. E por momentos, breves momentos, disse para comigo, em pensamento, era só o que faltava numa entrevista minha ter de falar desta porcaria. Passei à parte de José Sócrates e foi aí que arranjei o título.
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 28 de março de 2011
Tomada de posse
Conforme se pode ver aqui, os números parecem não bater certo. Depois de «afinada a contagem», segundo o presidente em exercício da Assembleia Geral, de quem não fixei o nome, o escolhido Godinho Lopes tomou posse assim do meu clube, ou antes, como presidente do meu clube. Tenho esperança de que o Sporting, depois do desastre dos últimos 15 anos, possa mudar um dia, se possível já amanhã.
António Souto – Crónica (34)
É claro que há coisas piores na vida da humanidade. O quê? Sei lá, um sismo, um tsunami, uma catástrofe nuclear, um conflito armado contra um líder que quer ser líder à força, uma crise política e económica e social aqui mesmo ao lado sem fim anunciado, sei lá…
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Polémica à parte
Há não muito tempo, a imprensa deu conta da anulação de uma tese de doutoramento de uma professora de uma escola superior por, espante-se, plágio. Uma professora-plagiadora, portanto. Reconhecida a inadmissível patranha, fez-se o que deveria ser feito. Há escassas semanas, também, um ministro da Defesa alemão, agora ex-ministro, foi desmascarado pela mesma intrujice. Num caso como noutro, e para além da perda do título, não sabemos das demais consequências, se porventura as houve. No caso português, pelo menos, havendo um compromisso de honra que garante a originalidade dos trabalhos de investigação, os casos de fraude detectados são encaminhados para o Ministério Público para eventual procedimento criminal. O que é grave é que quem tem a obrigação de contrariar estas atitudes – sendo professor ou figura publicamente reconhecida – seja autor destas mesmas atitudes recriminatórias.
Uma das muitas questões que se podem colocar, para além da questão ética, é a de saber quantos pretensos trabalhos científicos não andarão por aí a repetir-se uns aos outros. O delírio de mestrados e doutoramentos é hoje tal, na diversidade como na quantidade, que dificilmente se poderão delimitar as balizas da originalidade e do seu verdadeiro cunho científico. O importante é o título: a emissão do título pelas instituições ‘competentes’, a obtenção do título pelos ‘competentes’ candidatos. Uns e outros em luta pela sobrevivência.
O mal, para quem vê nisto algum mal, parece vir da base, parece medrar de pequenino, de quando se deveria torcer o pepino, de quando se deveria começar a aprender a ser gente e a ser cidadão, de quando se deveria saber o valor dos valores. Porém, do básico ao secundário, e do secundário à universidade, os alunos são discretamente orientados para o facilitismo de um trabalho pouco esforçado, sublinhando-se metodicamente a dimensão lúdica da aprendizagem sem olhar a idades, como se o acto de aprender no decurso do ensino formal se regesse pelos mesmos princípios pedagógicos e pelas mesmas regras da pré-primária aos bancos das universidades. E nisto, a nossa era de novíssimas tecnologias não é alheia à voracidade de querer chegar cada vez mais longe e mais depressa, fazendo-se tábua rasa do proverbial saber de que «depressa e bem não há quem».
Não se leia nestas palavras, contudo, algum conservadorismo nostálgico, nada disso, mas a urgência de cuidar do uso que se faz das insubmissas tecnologias, com a Internet à cabeça. O conhecimento, tão útil à ventura da humanidade, deve ser partilhado e colocado ao serviço de todos, mas não é seguramente aceitável fazer um uso indiscriminado e abusivo da Internet como ferramenta para a apropriação de propriedade intelectual e/ ou artística. O que quero reafirmar é que a escola deve estar na primeira linha na prevenção deste apetite que se inicia na escola e se prolonga fora dela. Primeiro um título, depois uma sinopse, depois uma impressão de leitura, depois uma recensão, depois a obra inteira, depois excertos sobre a obra inteira, depois os excertos todos que interessam sobre todas as obras e todas as reflexões. De um plágio que ainda o não é ao plágio puro que se disfarça vai um pequenino salto, mas um salto que, sendo tolerado, conduzirá a uma única partilha, a do embuste globalizado.
Resta-nos a esperança de que a Internet, hoje utensílio infelizmente facilitador destas tentações por parte de utilizadores despudorados, possa concorrer, também ela, para os desmascarar sem dó nem piedade. Uma esperança.
É claro que há coisas piores na vida da humanidade. O quê? Sei lá, um sismo, um tsunami, uma catástrofe nuclear, um conflito armado contra um líder que quer ser líder à força, uma crise política e económica e social aqui mesmo ao lado sem fim anunciado, sei lá, coisas um bocadinho piores…
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domingo, 27 de março de 2011
Esta noite, como tantas vezes acontece, a realidade ultrapassou a ficção
Nem num romance de intriga e mistério se imaginaria possível. Mas aconteceu. Foram eleitos no Sporting, à segunda contagem, muitos dos rostos do desastre do clube nos últimos quinze anos. E ao mesmo tempo foi aproveitado para a Assembleia Geral, da lista de ruptura, um dos defensores mais empenhados até há uns meses desse mesmo desastre.
quinta-feira, 24 de março de 2011
Assustador
Ontem, no parlamento, foi demasiado mau para ser verdade. Sócrates a fugir logo em primeiro lugar e discretamente, as asneiras que foram ditas, o auto-elogio do ministro das Finanças (será que a Faculdade de Economia do Porto o aceita de volta como professor?), a palha dos discursos... Foi mesmo demasiado mau para ser verdade. E, no entanto, foi verdade. Mas o pior de tudo, o que achei tão inesperado quanto assustador, foi o momento em que começou a intervenção do PSD: eu esperava um dos habituais dos últimos tempos, mas de repente vi Manuela Ferreira Leite; péssimas recordações, tremendamente assustador. Se vai ser assim, lá terei novamente de esquecer que os dois cargos políticos que desempenhei foram pelo PSD e votar em branco.
terça-feira, 22 de março de 2011
Contar a história
A história que dá o título ao livro «O Sorriso Enigmático do Javali». Contei-a hoje na Biblioteca Municipal Almeida Faria, em Montemor-o-Novo, a alunos de duas turmas de uma das escolas da cidade, alunos de sete, oito, nove anos, leitores muitos deles das aventuras de um rato intelectual chamado Geronimo Stilton. Uma experiência, como sempre, fascinante. Daqui por uns dias também contarei a história numa escola de Portimão e num colégio de Vilamoura.
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«Até que de repente esse sorriso desapareceu, o sorriso enigmático e silencioso, não porque o javali deixasse de sorrir, não, nada disso, apenas porque ele deu meia volta e desatou a correr pelo montado, em direcção à parte alta, onde o mato era maior e tinha zonas que até engoliam os sobreiros mais novos…»
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«Até que de repente esse sorriso desapareceu, o sorriso enigmático e silencioso, não porque o javali deixasse de sorrir, não, nada disso, apenas porque ele deu meia volta e desatou a correr pelo montado, em direcção à parte alta, onde o mato era maior e tinha zonas que até engoliam os sobreiros mais novos…»
segunda-feira, 21 de março de 2011
Com ou sem dinheiro
Agora que a tropa que tem governado o país pode estar na iminência de se ir embora, não falta quem acredite que vai substituí-la, e inclusive já há ministros, ou pelo menos diz-se que há. «Ali o senhor engenheiro foi indicado em Belém para ministro das Obras Públicas», dizia-me alguém um destes dias, não sei se a sério se a brincar. Ainda estive para perguntar «Mas que obras?», só que rapidamente achei melhor não alimentar o assunto. Logo se vê se é verdade, quando forem anunciados os nomes do novo governo. Não me admirava nada que fosse, pois o que é certo é que esse engenheiro, na noite das presidenciais, estava muito atento a assistir ao discurso de vitória e de rancor do candidato BPN. E numa das filas de maior visibilidade. Por mim, que vá para ministro à vontade, com ou sem obras para fazer, ou antes, com ou sem dinheiro para pagar as obras, se houver mesmo obras para fazer. Que vá à vontade, e que vão os outros também. Só espero, evidentemente, que depois dos submarinos não se lembrem de comprar naves espaciais. Com ou sem dinheiro para as pagar.
quarta-feira, 9 de março de 2011
O discurso
Gostei de algumas partes do discurso de Cavaco na tomada de posse. Sócrates é um bom destinatário, tal como muitos outros políticos que nos têm saído ao caminho (ele, Cavaco, incluído). Ou seja, Cavaco, em certo sentido, falou para si próprio; esperemos que saiba dar-se ouvidos.
sexta-feira, 4 de março de 2011
António Souto – Crónica (33)
E de novo Eça e Ramalho, em coro: «Vamos rir pois. O riso é um castigo; o riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. Na política constitucional o riso é uma opinião.» É este o meu riso de hoje, só para não chorar…
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O meu riso de hoje
Camilo Castelo Branco era um escritor do seu tempo, de alma e coração, mas atento, e não só de amores perdidos e de amores achados deu forma à criação, mas igualmente de muitas outras coisas do estômago e da cabeça. Sabia ele do que falava, e sabia também quanto urgia ouvir e mudar na sociedade do seu tempo.
Lembrei-me dele por mor de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado das terras de Miranda, que, eleito deputado, abala convicto para Lisboa. Defensor dos bons modos e dos bons costumes, começa por criticar os gastos supérfluos da nação, os vícios da capital e mais as mentes brilhantes que, aqui chegadas, dignas procuradoras da plebe, cedo se deixam inebriar e de deslumbramento se olvidam das suas origens e dos seus deveres. Mas o peso da urbe fala mais forte, o luxo e a notoriedade castram a singeleza e a honestidade da gente provinciana, e o ilustre parlamentar aos poucos cede e se torna igual aos demais, no trajar por fora como por dentro.
E por arrasto vem o Eça, e com ele Ramalho Ortigão, e as «Farpas» de ambos, como estas: «O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder, a burguesia… explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.»
E por que razão há-de vir isto assim à crónica, nem eu sei bem, ou talvez o saiba e me não apeteça dizê-lo por palavras de minha lavra. Porque outros o disseram e dizem melhor, ou porque assim se pode dizer o que se reclama mas com o prazer acrescido da memória. Da memória que me traz de supetão o lema do porco Napoleão – «Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.» – ou a longa «Parábola das tristes décadas» do Baptista Bastos de que aqui, por economia, transcrevo lascas: «Há trinta e cinco anos que vocês nos manipulam, nos dominam, nos mentem, nos omitem, nos desprezam./ Há trinta e cinco anos que nos roubam, não só os bens imediatos de que carecemos, como a esperança que alimenta as almas e favorece os sonhos./ (…)/ Há trinta e cinco anos que criam legiões e legiões de desempregados, de desesperados, de açoitados pelo azorrague da vossa indignidade./ (…)/ Há trinta e cinco anos que embalam as dores de duas gerações de jovens, e atiram-nos para as drogas, para o álcool, para uma existência sem rumo, sem direcção e sem sentido./ (…)/ Há trinta e cinco anos que se alternam no mando, e o mando é a distribuição de benesses, prebendas, privilégios entre vocês./ (…)/ Há trinta e cinco anos que vocês são sempre os mesmos, embora com rostos diferentes./ (…)/ Há trinta e cinco anos que, com minúcia e zelo, construíram um país só para vocês./ Há trinta e cinco anos que moldaram a exclusão social, que esculpiram as várias faces da miséria e, agora, sem recato e sem pejo, um de vocês faz o discurso da indignação./ (…)/ Há trinta e cinco anos que asfixiam o pensamento construtivo; que liquidaram as referências norteadoras; que escarneceram da nossa pessoal identidade; que a vossa ascensão não corresponde ao vosso mérito; que ignoram a conciliação entre semelhança e diferença; que condenam a norma imperativa do equilíbrio social./ Riam-se, riam-se. Vocês são uma gente que não presta para nada; que não vale nada./ Malditos sejam!»
E de novo Eça e Ramalho, em coro: «Vamos rir pois. O riso é um castigo; o riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. Na política constitucional o riso é uma opinião.»
É este o meu riso de hoje, só para não chorar…
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Crónica de Fevereiro de 2011 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 29; 30; 31; 32.
O meu riso de hoje
Camilo Castelo Branco era um escritor do seu tempo, de alma e coração, mas atento, e não só de amores perdidos e de amores achados deu forma à criação, mas igualmente de muitas outras coisas do estômago e da cabeça. Sabia ele do que falava, e sabia também quanto urgia ouvir e mudar na sociedade do seu tempo.
Lembrei-me dele por mor de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado das terras de Miranda, que, eleito deputado, abala convicto para Lisboa. Defensor dos bons modos e dos bons costumes, começa por criticar os gastos supérfluos da nação, os vícios da capital e mais as mentes brilhantes que, aqui chegadas, dignas procuradoras da plebe, cedo se deixam inebriar e de deslumbramento se olvidam das suas origens e dos seus deveres. Mas o peso da urbe fala mais forte, o luxo e a notoriedade castram a singeleza e a honestidade da gente provinciana, e o ilustre parlamentar aos poucos cede e se torna igual aos demais, no trajar por fora como por dentro.
E por arrasto vem o Eça, e com ele Ramalho Ortigão, e as «Farpas» de ambos, como estas: «O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder, a burguesia… explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.»
E por que razão há-de vir isto assim à crónica, nem eu sei bem, ou talvez o saiba e me não apeteça dizê-lo por palavras de minha lavra. Porque outros o disseram e dizem melhor, ou porque assim se pode dizer o que se reclama mas com o prazer acrescido da memória. Da memória que me traz de supetão o lema do porco Napoleão – «Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.» – ou a longa «Parábola das tristes décadas» do Baptista Bastos de que aqui, por economia, transcrevo lascas: «Há trinta e cinco anos que vocês nos manipulam, nos dominam, nos mentem, nos omitem, nos desprezam./ Há trinta e cinco anos que nos roubam, não só os bens imediatos de que carecemos, como a esperança que alimenta as almas e favorece os sonhos./ (…)/ Há trinta e cinco anos que criam legiões e legiões de desempregados, de desesperados, de açoitados pelo azorrague da vossa indignidade./ (…)/ Há trinta e cinco anos que embalam as dores de duas gerações de jovens, e atiram-nos para as drogas, para o álcool, para uma existência sem rumo, sem direcção e sem sentido./ (…)/ Há trinta e cinco anos que se alternam no mando, e o mando é a distribuição de benesses, prebendas, privilégios entre vocês./ (…)/ Há trinta e cinco anos que vocês são sempre os mesmos, embora com rostos diferentes./ (…)/ Há trinta e cinco anos que, com minúcia e zelo, construíram um país só para vocês./ Há trinta e cinco anos que moldaram a exclusão social, que esculpiram as várias faces da miséria e, agora, sem recato e sem pejo, um de vocês faz o discurso da indignação./ (…)/ Há trinta e cinco anos que asfixiam o pensamento construtivo; que liquidaram as referências norteadoras; que escarneceram da nossa pessoal identidade; que a vossa ascensão não corresponde ao vosso mérito; que ignoram a conciliação entre semelhança e diferença; que condenam a norma imperativa do equilíbrio social./ Riam-se, riam-se. Vocês são uma gente que não presta para nada; que não vale nada./ Malditos sejam!»
E de novo Eça e Ramalho, em coro: «Vamos rir pois. O riso é um castigo; o riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. Na política constitucional o riso é uma opinião.»
É este o meu riso de hoje, só para não chorar…
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Crónica de Fevereiro de 2011 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28; 29; 30; 31; 32.
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