Este Sábado, estarei em duas sessões de autógrafos do meu romance «Uma Noite com o Fogo», ambas no Algarve, em feiras do livro. Às 17H00 em Faro, no Fórum Algarve; às 21H30 em Portimão, na zona ribeirinha da cidade.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Fim da tarde
Esta quinta-feira, ao fim da tarde, por aqui. À espera do jantar. A Tecla, à porta da arrecadação; e em cima da mesa, indiferentes aos meninos do caramanchão, o Lito (amarelo) e a Palhinha. O quarto gato, o Punkinho (lê-se panquinho), anda de viagem pelo montado e por isso vai-se safando com uns ratos, umas cobras, umas lagartixas, com sorte até com alguma perdiz menos despachada.
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O Sporting, ao contrário dos adversários, apostou menos na contratação de jogadores e mais na contratação de um presidente
Mesmo não querendo pensar nisso, a verdade é que eu esperava o resultado do jogo de ontem à noite (Sporting 0, Twente 0). Por um lado, devido às indicações dadas pelo Sporting nos jogos de preparação; por outro, pelo valor (pouco) da equipa holandesa. Não era difícil acertar, a menos que à custa do génio de Liedson ou até de Matias Fernández as coisas se resolvessem. Talvez na Holanda o Sporting consiga um resultado que lhe permita passar à fase seguinte da competição, mas no ponto em que estão as coisas já nem digo nada…
Pelo andar da carruagem, Paulo Bento pode tornar-se num case study. O treinador-espectador. Por vezes, dá mesma a ideia de que se tornou em mais um espectador dos jogos, e daqueles desinteressados. Lá está, a ver, descansado da vida, como podia estar no cinema, num restaurante ou inclusive a passear um cão. Nem o facto de ter em campo jogadores como Polga ou Caneira (do pior que Alvalade conheceu nos últimos anos, embora sem chegar, qualquer deles, ao caso-limite de Purovic), nem isso parece preocupá-lo.
O Sporting pode estar mesmo metido num grande problema. Depois da lógica ilógica dos tempos de Filipe Soares Franco – que dizia que era melhor o clube ficar em segundo do que em primeiro –, vive uma fase de apatia em que só o que destoa é o entusiasmo de José Eduardo Bettencourt. Que apostou menos na contratação de jogadores (ao contrário dos adversários) e mais na contratação de um presidente (ele próprio). Podia ser uma boa solução, se ele fosse mais novo e tivesse sido formado na academia.
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Pelo andar da carruagem, Paulo Bento pode tornar-se num case study. O treinador-espectador. Por vezes, dá mesma a ideia de que se tornou em mais um espectador dos jogos, e daqueles desinteressados. Lá está, a ver, descansado da vida, como podia estar no cinema, num restaurante ou inclusive a passear um cão. Nem o facto de ter em campo jogadores como Polga ou Caneira (do pior que Alvalade conheceu nos últimos anos, embora sem chegar, qualquer deles, ao caso-limite de Purovic), nem isso parece preocupá-lo.
O Sporting pode estar mesmo metido num grande problema. Depois da lógica ilógica dos tempos de Filipe Soares Franco – que dizia que era melhor o clube ficar em segundo do que em primeiro –, vive uma fase de apatia em que só o que destoa é o entusiasmo de José Eduardo Bettencourt. Que apostou menos na contratação de jogadores (ao contrário dos adversários) e mais na contratação de um presidente (ele próprio). Podia ser uma boa solução, se ele fosse mais novo e tivesse sido formado na academia.
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segunda-feira, 27 de julho de 2009
Estranha mistura
A propósito disto, de o lobo mau ter sido rasteirado num jogo de futebol em «Os Maias», lembrei-me do que me dizia por vezes a professora de português no tempo em que no secundário eu estudava o romance de Eça, numa escola de Portimão. Se eu falhava alguma coisa, lá vinham as frases inevitáveis: «Os teus Maias não são iguais aos meus. Onde é que os compraste? Em Monchique?!» Claro que isto era uma coisa menor, comparado com outras que fazia aquele ser ignóbil, que era uma estranha mistura de psicopata, cobra e monstro-de-gila. Tornou as minhas aulas de português do décimo e do décimo primeiro ano (tive o azar de a apanhar durante dois anos seguidos) num verdadeiro inferno, e cada obra recomendada, por causa dela, tornava-se uma leitura penosa. Até com «Os Maias», com ela sempre a assombrar a mente dos alunos, era assim. Passado um ano, já no décimo segundo e livre daquele pesadelo, li o livro com um imenso fascínio e sempre com uma profunda admiração pelo autor. Voltei a reler agora, com a mesma admiração e ainda com mais fascínio.
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Aulas de português,
Romance «Os Maias»
domingo, 26 de julho de 2009
O lobo mau de «Os Maias»
«O lobo mau estava a jogar à bola e de repente passaram-lhe uma rasteira.» É um «excerto» de «Os Maias», de Eça de Queirós, pelo menos a julgar pelo que o meu filho, de quatro anos, «leu» à irmã, de dois, logo a seguir a tirar-me o livro da mão. Foi há três ou quatro dias, quando eu ia naquela parte do romance em que o Ega visita a redacção do jornal «A Tarde».
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sexta-feira, 24 de julho de 2009
Revista «human» de Agosto
Nas bancas a partir desta sexta-feira, 24. Na capa, a directora da SIC Mulher, Sofia Carvalho. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Clichés, o inglês, as férias
Se algo me surpreendeu na entrevista de Sofia Carvalho, a directora do canal televisivo «SIC Mulher», que publicamos nesta edição, foi a recusa de clichés como por exemplo «gestão no feminino». A certa altura ela diz: «As características de liderança não estão relacionadas com o sexo, mas sim com pessoas. Já encontrei homens muito emocionais e reconheço uma grande racionalidade nas mulheres que lideram. A questão de os homens serem mais racionais nas decisões e as mulheres mais emocionais é, na minha opinião, um mito.» Nunca tinha pensado muito nisto, mas mesmo assim o assunto já me passou pela cabeça várias vezes, ao ler afirmações sempre em sentido contrário. É frequente no mundo da gestão. Por isso a surpresa de agora dar com uma opinião bem diferente de toda essa corrente. Talvez um dia eu venha a pensar a sério no assunto, mas mesmo assim não me parece que vá chegar a conclusões definitivas.
Foi a figura de Sofia Carvalho que puxámos para a capa desta edição, a de Agosto, que é um bocadinho mais curta mas mesmo assim mantém a maior parte das secções habituais. Outros destaques são os temas do outplacement e do executive search, denominações em inglês que vejo sempre com alguma desconfiança mas que não me atrevo a substituir por uma tradução, de tão disseminadas que estão assim. Como os clichés de que falava no início, também o inglês se apoderou de muito do vocabulário do mundo da gestão e das empresas.
É a edição do mês que associamos a férias. Até por isso acabámos por decidir colocar nos habituais «múltiplos olhares» uma pergunta sobre se faz sentido que as empresas, e até o próprio país, quase parem em Agosto. Na próxima edição voltaremos à dimensão habitual.
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Clichés, o inglês, as férias
Se algo me surpreendeu na entrevista de Sofia Carvalho, a directora do canal televisivo «SIC Mulher», que publicamos nesta edição, foi a recusa de clichés como por exemplo «gestão no feminino». A certa altura ela diz: «As características de liderança não estão relacionadas com o sexo, mas sim com pessoas. Já encontrei homens muito emocionais e reconheço uma grande racionalidade nas mulheres que lideram. A questão de os homens serem mais racionais nas decisões e as mulheres mais emocionais é, na minha opinião, um mito.» Nunca tinha pensado muito nisto, mas mesmo assim o assunto já me passou pela cabeça várias vezes, ao ler afirmações sempre em sentido contrário. É frequente no mundo da gestão. Por isso a surpresa de agora dar com uma opinião bem diferente de toda essa corrente. Talvez um dia eu venha a pensar a sério no assunto, mas mesmo assim não me parece que vá chegar a conclusões definitivas.
Foi a figura de Sofia Carvalho que puxámos para a capa desta edição, a de Agosto, que é um bocadinho mais curta mas mesmo assim mantém a maior parte das secções habituais. Outros destaques são os temas do outplacement e do executive search, denominações em inglês que vejo sempre com alguma desconfiança mas que não me atrevo a substituir por uma tradução, de tão disseminadas que estão assim. Como os clichés de que falava no início, também o inglês se apoderou de muito do vocabulário do mundo da gestão e das empresas.
É a edição do mês que associamos a férias. Até por isso acabámos por decidir colocar nos habituais «múltiplos olhares» uma pergunta sobre se faz sentido que as empresas, e até o próprio país, quase parem em Agosto. Na próxima edição voltaremos à dimensão habitual.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009
Assustador
Assustador, o jogo de preparação do Sporting em Guimarães – Guimarães 2, Sporting 2 (Matías Fernández, Hélder Postiga) . Além das tão esperadas quanto incompreensíveis insistências em fazer jogar o disparatado Polga e o limitadíssimo Caneira, para já não falar de Rui Patrício e de Rochemback, ainda por cima o jogo mostrou uma equipa sem capacidade de luta (deixou-se empatar depois de estar a ganhar por dois a zero) e um treinador a parecer alheado das suas funções, o que aliás já não é novidade. Alguma coisa estranha se passa com a equipa do Sporting e sobretudo com Paulo Bento. O treinador dá a ideia de que apenas faz figura de corpo presente, aparecendo na conferência de imprensa a seguir a cada jogo a descrever (com notórias dificuldades) o que se passou e a procurar nos jornalistas algum apoio psicológico, desabafando que as coisas vão mal, e que tem jogadores que não se aplicam e por aí adiante. E depois, outra coisa, ainda mais estranha: nos jornais, o que se vê é referências a dias de folga, de cada vez que se abre um jornal desportivo nas páginas do Sporting é dia de folga para aqui, dia de folga para ali; por exemplo, li que a seguir a este jogo de Guimarães Paulo Bento deu um dia de folga aos jogadores e que para o dia a seguir a essa folga marcou um treino para as seis da tarde, e isto fez-me lembrar uma equipa das competições amadoras, dos campeonatos distritais, com jogadores que têm o seu trabalho e vão treinar ao fim da tarde e mesmo assim não o fazem todos os dias. Ainda mais duas coisas sobre o jogo de Guimarães: com toda a polémica que tem havido com Miguel Veloso e a posição de defesa esquerdo, é de mau gosto e até perigoso (veja-se o segundo golo do Guimarães) de repente mandar esse jogador para defesa esquerdo, é mesmo atirar lenha para a fogueira, andar à procura de problemas; e uma frase um bocado parva de Paulo Bento na conferência de imprensa, «quando estamos no deserto não podemos dar água ao adversário» (será que para ele o Sporting está no deserto?).
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Preparação da época 2009/ 2010
quarta-feira, 22 de julho de 2009
sábado, 18 de julho de 2009
A apresentação
Preocupante a apresentação do Sporting esta noite – Sporting 1 (Hélder Postiga), Feyenoord 2. Como se esperava, a equipa entrou com alguns jogadores medíocres em campo (sobretudo Polga e Caneira), jogadores tidos como estrelas e que vão jogar a maior parte dos jogos. A inteligência de Paulo Bento parece mesmo que não descola; dá até a ideia de que no Sporting é cada vez mais um empregado e não um líder. Mau também foi o ambiente, com as cadeiras coloridas a fazerem de espectadores. É notório o afastamento dos sportinguistas, que o actual presidente tenta contrariar depois dos anos vergonhosos de Filipe Soares Franco (que pode ter tido no Sporting um efeito parecido ao que João Vale e Azevedo teve no Benfica).
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
Mau começo
Pareceu-me um mau começo o do Sporting no jogo do Troféu da Cidade de Albufeira (Sporting 0, Nottingham Forest 1); primeiro jogo mais a sério depois do «treino» contra o Atlético do Cacém. Estou na expectativa sobre o que poderá dar esta época, com o Porto mais fraco e o Benfica ainda sem se perceber se vai ser a confusão do costume ou se poderá formar uma equipa de jeito. Em relação à época passada, a diferença é que temos um jogador que promete (Matias) e um presidente que se nota que é mesmo sportinguista (enquanto Filipe Soares Franco preferia clientes a adeptos e torcia para que não ficássemos em primeiro para poupar nos prémios aos jogadores). Mas os perigos continuam, quer na equipa (principalmente o desastre Polga, o medíocre Caneira, o débil Rochemback e o inseguro Rui Patrício), quer nos dirigentes (onde tirando o presidente tudo parece na mesma). Vamos ver o que isto dá…
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Há mais de dois anos
Foi há mais de dois anos. Publiquei neste blog um post intitulado «Alarve», a propósito da campanha insultuosa que o infeliz Manuel Pinho arranjou para a minha terra, a que mandou chamar «Allgarve», acrescentado uma letra ao nome da região. Na altura recomendei o nome da região para o próprio Pinho no estrangeiro, só que em vez de acrescentos retirava-se uma letra, o g, para ficar «Alarve»; talvez assim fosse possível exportá-lo. Daí para cá, ele teimou em fazer figuras tristes, sendo a mais recente a de colocar dois dos seus dedos na própria cabeça, simulando que tinha um par de cornos. Pouco depois desse gesto animalesco, recebi o texto que publico a seguir, do meu amigo José Vilhena Mesquita, professor da Universidade do Algarve. Foi escrito na altura em que surgiu o insulto do «Allgarve».
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Allgarve, um caso de dislexia política
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Allgarve, um caso de dislexia política
Por José Carlos Vilhena Mesquita
Nos últimos anos temos vindo, infelizmente, a assistir a diversos indícios de dislexia intelectual e de idiotice política por parte de altas figuras da governação nacional. Os políticos, essa iluminada fauna da sandice nacional, desconfio que têm sido recrutados nas listas de espera dos nossos hospícios mentais. Porém, o mais grave é que, sem qualquer pejo ou o mais ténue constrangimento, têm-se apoderado das cadeiras do poder político-administrativo.
Não há politicastro, por mais imbecil ou menos cretino que seja, que não tenha já sido nomeado director-geral, assessor, chefe de gabinete, secretário de Estado ou até mesmo ministro duma pasta qualquer. Desde que tenha o cartão do partido, qualquer um serve. E quanto mais néscio e mais obtuso, tanto melhor.
Lamentavelmente é assim que parece funcionar a lógica do recrutamento partidário para a formulação dos grandes poderes de decisão nacional. Tudo indica que para ser político não interessa possuir grandes dotes de inteligência e de erudição, de habilitações académicas ou de competência profissional, de idoneidade cívica ou de honradez moral. A coisa funciona precisamente ao contrário. O que verdadeiramente interessa é que não tenha opinião discordante, sobretudo que apoie a inépcia e corrobore da improficiência do seu chefe político.
Perante isto não admira que a iliteracia intelectual e a dislexia mental dos nossos políticos tenham enriquecido abundantemente o hilariante anedotário nacional. Quem não se lembra dos concertos para violino de Chopin, de que Santana Lopes tanto gostava, ou das contas do PIB que engasgaram António Guterres; ou de Freitas do Amaral a criticar a liberdade dos povos europeus por publicarem caricaturas de Maomé; ou das inúmeras gafes de Mário Soares, a quem já nem se liga, e de que já ninguém se lembra, porque a sua boa disposição e o seu sentido de humor tudo faziam esquecer em benefício de umas boas e sonoras gargalhadas.
Todavia, há um ministro que insiste em fazer alarde da sua confrangedora inépcia mental através de monumentais gafes políticas. Refiro-me ao ministro da Economia e da Inovação (esta da «Inovação» é de cabo de esquadra), Manuel Pinho, que chegou ao governo com aquele sorriso de felicidade muito peculiar nas pessoas que na televisão ganham o concurso do «preço certo». Dizem que é pessoa culta, mas que não gosta nada de Almeida Garrett. Mas isso é outra conversa.
As suas gafes políticas são verdadeiras pérolas da laracha popular. Diz-se que está em acesa compita com vários outros ministros para ser laureado com a medalha de cortiça do «Grande Prémio Nacional do Ridículo». Para atingir esse galardão, a votação entre os principais competidores no colégio governativo ficou recentemente muito mais equilibrada, por causa da visita de Sócrates à China. Na comitiva oficial o ministro Pinho tentou convencer os empresários do capitalismo comunista a investirem em Portugal, assegurando-lhes que a nossa competitividade no seio da Europa resulta dos baixos salários que auferem os nossos trabalhadores. Os privilegiados da nomenclatura chinesa ficaram muito impressionados com as palavras do ministro. Porém sentiram-se desiludidos, talvez porque investir em Portugal pareceu-lhes o mesmo que reinvestir na China, onde o povo é pobre por causa dos baixos salários, e, tal como os portugueses, também é triste por causa da política vigente.
Mas o que os chineses não sabiam é que, poucos dias antes, o ministro Pinho havia escoiceado os sindicatos portugueses, acusando-os de instigarem a falta de competitividade do país no seio da Europa por causa dos altos salários que os nossos trabalhadores auferiam. Isto é, o ministro muda de opinião conforme as circunstâncias e as conveniências. Creio que como político e como pessoa está claramente definido...
Depois de asnear a torto e a direito, só falta saber quem foi a azémola que meteu na cabeça do ministro a ideia de criar a marca «Allgarve», alterando de forma abusiva a honrada designação de um território, e de um ancestral reino, muito mais antigo do que o próprio espaço nacional. Parece que o ministro foi na conversa dum criativo de marketing a soldo duma empresa inglesa. Mas o que o homem fez foi espetar dois ll na cabeça do ministro, convencendo-o de que assim ficava mais bonito, porque convinha que o Algarve fosse literalmente todo inglês («all» significa tudo).
A apresentação deste aborto publicitário, ou mais propriamente deste ultraje ao povo algarvio, fez-se com pompa e circunstância, e só não deu grande celeuma porque o ministro prometeu gastar vários milhões de euros na campanha de promoção do «Allgarve». Os empresários dos mais diversos quadrantes esfregaram as mãos de contentes, os apaniguados da política vigente escaldaram as mãos com frenéticos aplausos, enquanto outros escondiam as mãos em concha por detrás das costas, à espera do deles, como fazia o Abreu… Por isso é que a celeuma morreu à nascença, já que os acostumados oportunistas esperam encher os bolsos com mais esta cretinice dos nossos políticos. Tem sido sempre assim. É por isso que estamos na cauda da Europa.
Dizem que a próxima pérola do ministro é estender a graçola à designação do próprio país, que passará a escrever-se «Portugall», para agradar aos ingleses e aos americanos, que assim ficam cada vez mais com a certeza de que somos uma nação subserviente, um país de chapados imbecis.
Resta-me sugerir ao ministro que dê também o exemplo e passe a grafar o seu nome à espanhola, Piño, pois que grande parte da nossa economia já está nas mãos de nuestros hermanos.
Perante o despautério governativo e as constantes calinadas políticas, creio que já todos adivinharam que o «Grande Prémio Nacional do Ridículo» vai para... el ministro Piño.
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Não há politicastro, por mais imbecil ou menos cretino que seja, que não tenha já sido nomeado director-geral, assessor, chefe de gabinete, secretário de Estado ou até mesmo ministro duma pasta qualquer. Desde que tenha o cartão do partido, qualquer um serve. E quanto mais néscio e mais obtuso, tanto melhor.
Lamentavelmente é assim que parece funcionar a lógica do recrutamento partidário para a formulação dos grandes poderes de decisão nacional. Tudo indica que para ser político não interessa possuir grandes dotes de inteligência e de erudição, de habilitações académicas ou de competência profissional, de idoneidade cívica ou de honradez moral. A coisa funciona precisamente ao contrário. O que verdadeiramente interessa é que não tenha opinião discordante, sobretudo que apoie a inépcia e corrobore da improficiência do seu chefe político.
Perante isto não admira que a iliteracia intelectual e a dislexia mental dos nossos políticos tenham enriquecido abundantemente o hilariante anedotário nacional. Quem não se lembra dos concertos para violino de Chopin, de que Santana Lopes tanto gostava, ou das contas do PIB que engasgaram António Guterres; ou de Freitas do Amaral a criticar a liberdade dos povos europeus por publicarem caricaturas de Maomé; ou das inúmeras gafes de Mário Soares, a quem já nem se liga, e de que já ninguém se lembra, porque a sua boa disposição e o seu sentido de humor tudo faziam esquecer em benefício de umas boas e sonoras gargalhadas.
Todavia, há um ministro que insiste em fazer alarde da sua confrangedora inépcia mental através de monumentais gafes políticas. Refiro-me ao ministro da Economia e da Inovação (esta da «Inovação» é de cabo de esquadra), Manuel Pinho, que chegou ao governo com aquele sorriso de felicidade muito peculiar nas pessoas que na televisão ganham o concurso do «preço certo». Dizem que é pessoa culta, mas que não gosta nada de Almeida Garrett. Mas isso é outra conversa.
As suas gafes políticas são verdadeiras pérolas da laracha popular. Diz-se que está em acesa compita com vários outros ministros para ser laureado com a medalha de cortiça do «Grande Prémio Nacional do Ridículo». Para atingir esse galardão, a votação entre os principais competidores no colégio governativo ficou recentemente muito mais equilibrada, por causa da visita de Sócrates à China. Na comitiva oficial o ministro Pinho tentou convencer os empresários do capitalismo comunista a investirem em Portugal, assegurando-lhes que a nossa competitividade no seio da Europa resulta dos baixos salários que auferem os nossos trabalhadores. Os privilegiados da nomenclatura chinesa ficaram muito impressionados com as palavras do ministro. Porém sentiram-se desiludidos, talvez porque investir em Portugal pareceu-lhes o mesmo que reinvestir na China, onde o povo é pobre por causa dos baixos salários, e, tal como os portugueses, também é triste por causa da política vigente.
Mas o que os chineses não sabiam é que, poucos dias antes, o ministro Pinho havia escoiceado os sindicatos portugueses, acusando-os de instigarem a falta de competitividade do país no seio da Europa por causa dos altos salários que os nossos trabalhadores auferiam. Isto é, o ministro muda de opinião conforme as circunstâncias e as conveniências. Creio que como político e como pessoa está claramente definido...
Depois de asnear a torto e a direito, só falta saber quem foi a azémola que meteu na cabeça do ministro a ideia de criar a marca «Allgarve», alterando de forma abusiva a honrada designação de um território, e de um ancestral reino, muito mais antigo do que o próprio espaço nacional. Parece que o ministro foi na conversa dum criativo de marketing a soldo duma empresa inglesa. Mas o que o homem fez foi espetar dois ll na cabeça do ministro, convencendo-o de que assim ficava mais bonito, porque convinha que o Algarve fosse literalmente todo inglês («all» significa tudo).
A apresentação deste aborto publicitário, ou mais propriamente deste ultraje ao povo algarvio, fez-se com pompa e circunstância, e só não deu grande celeuma porque o ministro prometeu gastar vários milhões de euros na campanha de promoção do «Allgarve». Os empresários dos mais diversos quadrantes esfregaram as mãos de contentes, os apaniguados da política vigente escaldaram as mãos com frenéticos aplausos, enquanto outros escondiam as mãos em concha por detrás das costas, à espera do deles, como fazia o Abreu… Por isso é que a celeuma morreu à nascença, já que os acostumados oportunistas esperam encher os bolsos com mais esta cretinice dos nossos políticos. Tem sido sempre assim. É por isso que estamos na cauda da Europa.
Dizem que a próxima pérola do ministro é estender a graçola à designação do próprio país, que passará a escrever-se «Portugall», para agradar aos ingleses e aos americanos, que assim ficam cada vez mais com a certeza de que somos uma nação subserviente, um país de chapados imbecis.
Resta-me sugerir ao ministro que dê também o exemplo e passe a grafar o seu nome à espanhola, Piño, pois que grande parte da nossa economia já está nas mãos de nuestros hermanos.
Perante o despautério governativo e as constantes calinadas políticas, creio que já todos adivinharam que o «Grande Prémio Nacional do Ridículo» vai para... el ministro Piño.
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O insultuoso «Allgarve»
sábado, 11 de julho de 2009
Amor com amor se paga
Uma casa (dos bicos) e trinta mil euros depois, José Saramago apoia a recandidatura de António Costa à presidência da Câmara Municipal de Lisboa.
Na minha terra (na foto, do blog «Monscicus»), onde na passagem que tive pela câmara tentei entre outras coisas vender um dos carros que o presidente tinha para seu uso exclusivo, fui uma vez convidado pela biblioteca para uma conversa com leitores; aceitei, a biblioteca mandou imprimir convites, mas já próximo do dia marcado teve tudo de ser anulado porque a câmara mandou suspender todas as actividades culturais no concelho durante uma semana (precisamente a que incluía o dia da conversa).
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Na minha terra (na foto, do blog «Monscicus»), onde na passagem que tive pela câmara tentei entre outras coisas vender um dos carros que o presidente tinha para seu uso exclusivo, fui uma vez convidado pela biblioteca para uma conversa com leitores; aceitei, a biblioteca mandou imprimir convites, mas já próximo do dia marcado teve tudo de ser anulado porque a câmara mandou suspender todas as actividades culturais no concelho durante uma semana (precisamente a que incluía o dia da conversa).
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sexta-feira, 10 de julho de 2009
Com dois torrões de terra na boca
Acontece neste livro.
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Nem de noite, diziam as pessoas de então, as da vizinhança, nem de noite a Perdizinha parava, ao contrário da Pata Larga, que quando a lua ganhava brilho se sentia estafada de tanto se equilibrar no chão com os pés enormes, e de tanto falar com os dois torrões de terra na boca. E depois o marido da Pata Larga punha-se com uma cara toda enxofrada à janela do quarto, já altas horas, e se alguém passava e lhe dizia alguma coisa ele ameaçava logo ir buscar a caçadeira, mas a verdade é que nunca ia.
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Nem de noite, diziam as pessoas de então, as da vizinhança, nem de noite a Perdizinha parava, ao contrário da Pata Larga, que quando a lua ganhava brilho se sentia estafada de tanto se equilibrar no chão com os pés enormes, e de tanto falar com os dois torrões de terra na boca. E depois o marido da Pata Larga punha-se com uma cara toda enxofrada à janela do quarto, já altas horas, e se alguém passava e lhe dizia alguma coisa ele ameaçava logo ir buscar a caçadeira, mas a verdade é que nunca ia.
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quinta-feira, 9 de julho de 2009
Só agora...
Atrasadíssimo, só agora agradeço à Ana Paula por este prémio. Muito obrigado.
Quanto às minhas sete escolhas, deixo a seguir:
- Crónicas do Rochedo;
- Ciberescritas;
- Hoje Há Conquilhas;
- Blogtailors;
- Bibliotecário de Babel;
- Casa de Cacela;
- Crónicas de Francisco José Viegas.
Quanto às minhas sete escolhas, deixo a seguir:
- Crónicas do Rochedo;
- Ciberescritas;
- Hoje Há Conquilhas;
- Blogtailors;
- Bibliotecário de Babel;
- Casa de Cacela;
- Crónicas de Francisco José Viegas.
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quarta-feira, 8 de julho de 2009
segunda-feira, 6 de julho de 2009
domingo, 5 de julho de 2009
O primeiro jogo
O primeiro jogo do Sporting na nova época – Sporting 3 (Hélder Postiga, Matías Fernández, auto-golo), Atlético do Cacém 0. Para já, como se esperava, excelentes indicações de Matías Fernández. De lamentar, a continuação (como se esperava) de Polga e, sobretudo, de Caneira.
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Sporting - Atlético do Cacém
Maias - 2
Avanço na releitura de «Os Maias». Uma tarde, no Ramalhete, Ega fala do Conde de Gouvarinho…
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– Tem todas as condições para ser ministro: tem voz sonora, leu Maurício Block, está encalacrado, e é um asno!...
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– Tem todas as condições para ser ministro: tem voz sonora, leu Maurício Block, está encalacrado, e é um asno!...
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Política
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Sobre touros e ministros
Em tempos escrevi uma crónica inspirada num ministro com nome de futebolista que por cá havia, o Fernando Gomes. Tinha a ver com touros. Estava longe de imaginar que alguns anos depois um outro ministro iria fazer-me lembrar de touros. Deixo a crónica a seguir.
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Ministros de morte em Barrancos
Eu vi, mas não vi tudo. Foi num noticiário televisivo das oito da noite, coisa de há uns anos. Lembro-me de que o canal era a TVI e o apresentador um relativamente conhecido mas talvez não o suficiente para se tornar romancista, José Carlos Castro. O que passava era imagens de gente eufórica num cercado de Barrancos. Noutros canais, na volta, a coisa era parecida. A certa altura mostraram um touro, enorme, ainda com alguma altivez, mas já com as forças a fugirem-lhe. Parecia ter a vida presa eu nem conseguia imaginar a quê; talvez a umas gotas de sangue, as que teimavam em não sair pelos buracos que antes lhe tinham feito. O touro fazia um barulho horrível, de arrepiar. De repente, aproximou-se um homem; um cobarde que meia-hora antes o mais certo era estar empoleirado nalgum sítio seguro do cercado. Começou a fazer mais buracos no touro, desta vez na cabeça. Não percebi se o fazia com uma faca se era com um pau afiado, ou um ferro; fosse lá com o que fosse. A multidão estava em delírio. Parecia que tinha saído a lotaria a toda a gente, ou que para todos, de repente, tinham anunciado um subsídio bem nutrido da União Europeia. As imagens tremiam; lembro-me de que pensei que o operador de câmara não estava a gostar do serviço que o tinham mandado fazer. Quem poderia gostar de sair de Lisboa e fazer mais de duzentos quilómetros para se meter em filmagens em pleno inferno?
Mudei de canal antes do final da reportagem, e ainda com o touro a aguentar-se nas patas. Mas com o cobarde cada vez mais atrevido. Quando regressei ao noticiário, uns cinco minutos depois, o cenário era bem diferente. Como se tivessem pensado em amenizar as coisas, tinham metido um ministro. Talvez já pouca gente se lembre dele, pelo menos como ministro; era um dos de António Guterres, com nome de jogador de futebol. Pensei que o assunto era outro, com um ministro em vez de um touro massacrado, mas não, continuava tudo na mesma. Talvez os responsáveis do noticiário tivessem achado que um ministro ficava bem a seguir a um touro de morte – ou a seguir à morte de um touro, para ser exacto. Poderiam assim acabar a reportagem, nem sei se devo usar a expressão, em beleza.
Na altura tinham tomado decisões para Barrancos, para os touros e para as gentes das redondezas. Eu cada vez ligava menos ao caso, porque para mim estava mais do que visto que dali nunca haveria de sair nada de jeito, e por isso fui apanhado de surpresa com a presença do ministro a seguir ao touro e ao cobardolas. O ministro trocou-se todo, falou de multas, de excepções, de valores até oitenta mil contos, de cinquenta mil escudos (estava quase a chegar o euro), de leis e o país isto e mais aquilo. Estava na televisão, afinal, por causa do touro. E eu pensava que era por causa do «Euro 2000», o campeonato da Europa de futebol, que estava para começar e onde ele já tinha feito saber – como outros cromos da governação – que haveria de marcar presença. Era na Bélgica, e também na Holanda, terra conhecida igualmente por Países Baixos, mas baixos só de topografia, porque o adjectivo, com coisas como aquelas do touro no cercado, se calhar justificava-se mais cá para as nossas bandas.
O ministro acabou por sair do noticiário. De repente, como o touro deveria ter saído – só que o ministro saiu vivo, enquanto o touro muito provavelmente morto e já sem uma pinga de sangue, quem sabe arrastado por algum tractor. O apresentador, com um ar de escandalizado que qualquer pessoa abaixo de secretário de Estado haveria de fazer, ou talvez abaixo de chefe de gabinete, o apresentador explicou tudo. Mesmo assim eu não compreendi. O ministro tinha acabado de anunciar que aquelas selvajarias se fossem praticadas em Portugal podiam dar multas até aos oitenta mil contos, exceptuado se acontecessem em Barrancos, onde ficariam só pela «módica quantia» de cinquenta mil escudos. De euros, nessa altura ainda nem sinal.
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Ministros de morte em Barrancos
Eu vi, mas não vi tudo. Foi num noticiário televisivo das oito da noite, coisa de há uns anos. Lembro-me de que o canal era a TVI e o apresentador um relativamente conhecido mas talvez não o suficiente para se tornar romancista, José Carlos Castro. O que passava era imagens de gente eufórica num cercado de Barrancos. Noutros canais, na volta, a coisa era parecida. A certa altura mostraram um touro, enorme, ainda com alguma altivez, mas já com as forças a fugirem-lhe. Parecia ter a vida presa eu nem conseguia imaginar a quê; talvez a umas gotas de sangue, as que teimavam em não sair pelos buracos que antes lhe tinham feito. O touro fazia um barulho horrível, de arrepiar. De repente, aproximou-se um homem; um cobarde que meia-hora antes o mais certo era estar empoleirado nalgum sítio seguro do cercado. Começou a fazer mais buracos no touro, desta vez na cabeça. Não percebi se o fazia com uma faca se era com um pau afiado, ou um ferro; fosse lá com o que fosse. A multidão estava em delírio. Parecia que tinha saído a lotaria a toda a gente, ou que para todos, de repente, tinham anunciado um subsídio bem nutrido da União Europeia. As imagens tremiam; lembro-me de que pensei que o operador de câmara não estava a gostar do serviço que o tinham mandado fazer. Quem poderia gostar de sair de Lisboa e fazer mais de duzentos quilómetros para se meter em filmagens em pleno inferno?
Mudei de canal antes do final da reportagem, e ainda com o touro a aguentar-se nas patas. Mas com o cobarde cada vez mais atrevido. Quando regressei ao noticiário, uns cinco minutos depois, o cenário era bem diferente. Como se tivessem pensado em amenizar as coisas, tinham metido um ministro. Talvez já pouca gente se lembre dele, pelo menos como ministro; era um dos de António Guterres, com nome de jogador de futebol. Pensei que o assunto era outro, com um ministro em vez de um touro massacrado, mas não, continuava tudo na mesma. Talvez os responsáveis do noticiário tivessem achado que um ministro ficava bem a seguir a um touro de morte – ou a seguir à morte de um touro, para ser exacto. Poderiam assim acabar a reportagem, nem sei se devo usar a expressão, em beleza.
Na altura tinham tomado decisões para Barrancos, para os touros e para as gentes das redondezas. Eu cada vez ligava menos ao caso, porque para mim estava mais do que visto que dali nunca haveria de sair nada de jeito, e por isso fui apanhado de surpresa com a presença do ministro a seguir ao touro e ao cobardolas. O ministro trocou-se todo, falou de multas, de excepções, de valores até oitenta mil contos, de cinquenta mil escudos (estava quase a chegar o euro), de leis e o país isto e mais aquilo. Estava na televisão, afinal, por causa do touro. E eu pensava que era por causa do «Euro 2000», o campeonato da Europa de futebol, que estava para começar e onde ele já tinha feito saber – como outros cromos da governação – que haveria de marcar presença. Era na Bélgica, e também na Holanda, terra conhecida igualmente por Países Baixos, mas baixos só de topografia, porque o adjectivo, com coisas como aquelas do touro no cercado, se calhar justificava-se mais cá para as nossas bandas.
O ministro acabou por sair do noticiário. De repente, como o touro deveria ter saído – só que o ministro saiu vivo, enquanto o touro muito provavelmente morto e já sem uma pinga de sangue, quem sabe arrastado por algum tractor. O apresentador, com um ar de escandalizado que qualquer pessoa abaixo de secretário de Estado haveria de fazer, ou talvez abaixo de chefe de gabinete, o apresentador explicou tudo. Mesmo assim eu não compreendi. O ministro tinha acabado de anunciar que aquelas selvajarias se fossem praticadas em Portugal podiam dar multas até aos oitenta mil contos, exceptuado se acontecessem em Barrancos, onde ficariam só pela «módica quantia» de cinquenta mil escudos. De euros, nessa altura ainda nem sinal.
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Dias depois, na Holanda, a seguir à vitória da nossa selecção sobre a Inglaterra, o mesmo ministro com nome de jogador de futebol colocou-se à frente dos adeptos que estavam a ser filmados para um canal de televisão que não aquele do touro. Estava todo contente, o ministro, mas quando lhe puseram um barrete quase de campino na cabeça tirou-o logo, e ainda por cima pondo-se com ares de irritação. Onde é que já se tinha visto uma coisa assim, um barrete verde, vermelho e amarelo e com o escudo nacional com as cinco chagas de Cristo numa pessoa de fato e gravata, ainda por cima ministro da nação? Era a pergunta que parecia atravessar-lhe o pensamento.
Quanto a mim, o que me atravessou o pensamento ao ver aquilo foi ainda a diferença das multas para castigar as selvajarias. Mas por quê uma diferença tão disparatada? De cinquenta contos a oitenta mil, se não me falhavam as contas, ainda iam setenta e nove mil e novecentos e cinquenta (contos, que os euros estavam para chegar mas ainda não tinham chegado). Podia dizer-se que dava para comprar duas casas em Lisboa. Ou que dava para os administradores da Lazio de Roma pagarem três semanas do salário de Luís Figo, se o conseguissem contratar – e na altura bem que andavam a tentar.
O que teria Barrancos de tão especial? A cultura? A tradição? Era nisto que eu pensava. E a certa altura lembrei-me… E se o ministro lá fosse, a Barrancos, como tinha ido para as europas, ele mesmo, de fato e gravata e sem barrete com as cores de Portugal? Se fosse ele em pessoa multar os matadores de touros e toda a gente que participava naquelas selvajarias? E se algum mais destrambelhado o levasse para o meio do cercado e depois de umas voltas se lembrasse de afiambrá-lo com uma estocada? Sempre seria coisa, em casos normais, para dar uns vinte anos de prisão, nomeadamente se a estocada fosse fatal. Mas acontecendo a tragédia em Barrancos talvez com dois anos de pena suspensa tudo se resolvesse. «Além do mais», haveria de desculpar-se o artista, «o senhor ministro entrou na festa sem o barrete da selecção.»
.Quanto a mim, o que me atravessou o pensamento ao ver aquilo foi ainda a diferença das multas para castigar as selvajarias. Mas por quê uma diferença tão disparatada? De cinquenta contos a oitenta mil, se não me falhavam as contas, ainda iam setenta e nove mil e novecentos e cinquenta (contos, que os euros estavam para chegar mas ainda não tinham chegado). Podia dizer-se que dava para comprar duas casas em Lisboa. Ou que dava para os administradores da Lazio de Roma pagarem três semanas do salário de Luís Figo, se o conseguissem contratar – e na altura bem que andavam a tentar.
O que teria Barrancos de tão especial? A cultura? A tradição? Era nisto que eu pensava. E a certa altura lembrei-me… E se o ministro lá fosse, a Barrancos, como tinha ido para as europas, ele mesmo, de fato e gravata e sem barrete com as cores de Portugal? Se fosse ele em pessoa multar os matadores de touros e toda a gente que participava naquelas selvajarias? E se algum mais destrambelhado o levasse para o meio do cercado e depois de umas voltas se lembrasse de afiambrá-lo com uma estocada? Sempre seria coisa, em casos normais, para dar uns vinte anos de prisão, nomeadamente se a estocada fosse fatal. Mas acontecendo a tragédia em Barrancos talvez com dois anos de pena suspensa tudo se resolvesse. «Além do mais», haveria de desculpar-se o artista, «o senhor ministro entrou na festa sem o barrete da selecção.»
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quarta-feira, 1 de julho de 2009
António Souto – Crónica (13)
Décima terceira crónica de António Souto, depois desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta, desta e desta. O António mantém uma crónica («Ex-abrupto») no jornal da sua terra («Jornal D’Angeja»). Esta é a da edição de Junho de 2009.
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Agastamentos
1. Andam os portugueses, classe baixa e média, contando euros e cêntimos, cada vez menos euros e menos cêntimos, e liga a gente a televisão e o que ouve e vê? Vê e ouve gente especialista em economia e finanças a falar de milhões, dezenas de milhões, centenas de milhões, milhares de milhões, tudo euros, muitos euros, à grande, como se migalhas fossem.
Ele é BCP para cima, ele é BPN para baixo, e mais BPP para cima, ou melhor, eles são BCP, BPN e BPP todos para baixo, e Banco de Portugal nem para baixo nem para cima, e depois é a nossa Caixa Geral, cada vez menos de depósitos nossos, a inocular milhares de milhões para salvar milhões, e há até quem afirme que umas milionárias obrinhas de arte (coisa de pouca monta), património de um qualquer banco privado, debandaram a sete asas, levaram um sumiço dos diabos, quem sabe se para assim evitar a fúria de algum queixoso mais destrambelhado.
No mesmo dia em que se noticia este suposto descaminho, assistimos em debate acalorado, no Canal 1, o Bastonário da Ordem dos Advogados a revelar que os Conselhos Distritais reclamam mais e maiores subsídios para fazer face aos seus compromissos, mas que, curiosamente, apresentam alguns deles saldos finais de milhões, de milhões de euros, milhões de irritar tantos jovens advogados que, contribuindo para o levedar do bolo (com a legítima esperança de virem a ser advogados a sério), andam pelo país inteiro a penar numa canseira danada para desenrascarem umas oficiosas.
E o estranho é que não há dia que passe em que se não desenterrem, sabe-se lá como e por obra e graça de quem, mais uns milhões para uma coisa e para outra e para outra ainda, e se não esfumem por incomuns malabarismos outros tantos milhões. Felizmente, no final do deve-haver, ao ritmo das legislaturas, tudo se controla, com mais ou menos sacrifício, com mais ou menos défice, com mais ou menos praia!
2. Carlos Candal faleceu. Com ele um pouco da história de um partido que ajudou a fundar. Com ele um pouco da história da intervenção política aveirense. Com ele uma personalidade intrépida e o culto de um estilo retórico. Com ele a marca singular de um charuto sempre atiçado, como um manifesto. PUM!
3. Faleceu José Calvário. Com ele um pouco da história da música que ajudou a criar. Com ele um pouco da história da canção e da Eurovisão. Com ele uma partitura de liberdade. Com ele um pouco das notas de Abril. E depois do Adeus?
4. Faleceu também Jorge de Sena, mas há três décadas (1919-1978). Ou terá morrido há cinquenta anos, quando partiu para o exílio? A nossa história tem destas coisas: tratamos mal ou maltratamos o que é nosso, enjeitamos quanto nos embaraça, para nos delambermos quando a fama faz subir a parada. Foi assim com Vieira da Silva; é assim (ou será ainda mais) com Saramago.
Ficcionista, poeta e dramaturgo, Sena foi igualmente um professor de mérito no Brasil e nos Estados Unidos da América. Nunca fez as pazes com a pátria, pelo menos em vida. Fê-las agora através da mulher e da filha que, cumprindo o seu desejo, doaram o seu espólio (ou parte dele) à Biblioteca Nacional de Portugal. Em Setembro, iniciado o Outono, e segundo consta, serão trasladados os seus restos mortais para chão luso, nos Prazeres, em Lisboa. Os portugueses agradecem e louvam o gesto. Sinais de Fogo… ou sinais do tempo?
5. Ah, já nos esquecíamos, houve europeias! E houve quem tivesse perdido, muito, mais do que devia. Há quem diga que é o preço das reformas, mas não creio. Cá para mim é o preço justo pelas sandices, sobretudo das formas. O problema maior é que a procissão ainda vai no adro, e a meio do Outono não creio que haja santos populares que nos assistam. E teria sido tudo tão mais simplex…
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Agastamentos
1. Andam os portugueses, classe baixa e média, contando euros e cêntimos, cada vez menos euros e menos cêntimos, e liga a gente a televisão e o que ouve e vê? Vê e ouve gente especialista em economia e finanças a falar de milhões, dezenas de milhões, centenas de milhões, milhares de milhões, tudo euros, muitos euros, à grande, como se migalhas fossem.
Ele é BCP para cima, ele é BPN para baixo, e mais BPP para cima, ou melhor, eles são BCP, BPN e BPP todos para baixo, e Banco de Portugal nem para baixo nem para cima, e depois é a nossa Caixa Geral, cada vez menos de depósitos nossos, a inocular milhares de milhões para salvar milhões, e há até quem afirme que umas milionárias obrinhas de arte (coisa de pouca monta), património de um qualquer banco privado, debandaram a sete asas, levaram um sumiço dos diabos, quem sabe se para assim evitar a fúria de algum queixoso mais destrambelhado.
No mesmo dia em que se noticia este suposto descaminho, assistimos em debate acalorado, no Canal 1, o Bastonário da Ordem dos Advogados a revelar que os Conselhos Distritais reclamam mais e maiores subsídios para fazer face aos seus compromissos, mas que, curiosamente, apresentam alguns deles saldos finais de milhões, de milhões de euros, milhões de irritar tantos jovens advogados que, contribuindo para o levedar do bolo (com a legítima esperança de virem a ser advogados a sério), andam pelo país inteiro a penar numa canseira danada para desenrascarem umas oficiosas.
E o estranho é que não há dia que passe em que se não desenterrem, sabe-se lá como e por obra e graça de quem, mais uns milhões para uma coisa e para outra e para outra ainda, e se não esfumem por incomuns malabarismos outros tantos milhões. Felizmente, no final do deve-haver, ao ritmo das legislaturas, tudo se controla, com mais ou menos sacrifício, com mais ou menos défice, com mais ou menos praia!
2. Carlos Candal faleceu. Com ele um pouco da história de um partido que ajudou a fundar. Com ele um pouco da história da intervenção política aveirense. Com ele uma personalidade intrépida e o culto de um estilo retórico. Com ele a marca singular de um charuto sempre atiçado, como um manifesto. PUM!
3. Faleceu José Calvário. Com ele um pouco da história da música que ajudou a criar. Com ele um pouco da história da canção e da Eurovisão. Com ele uma partitura de liberdade. Com ele um pouco das notas de Abril. E depois do Adeus?
4. Faleceu também Jorge de Sena, mas há três décadas (1919-1978). Ou terá morrido há cinquenta anos, quando partiu para o exílio? A nossa história tem destas coisas: tratamos mal ou maltratamos o que é nosso, enjeitamos quanto nos embaraça, para nos delambermos quando a fama faz subir a parada. Foi assim com Vieira da Silva; é assim (ou será ainda mais) com Saramago.
Ficcionista, poeta e dramaturgo, Sena foi igualmente um professor de mérito no Brasil e nos Estados Unidos da América. Nunca fez as pazes com a pátria, pelo menos em vida. Fê-las agora através da mulher e da filha que, cumprindo o seu desejo, doaram o seu espólio (ou parte dele) à Biblioteca Nacional de Portugal. Em Setembro, iniciado o Outono, e segundo consta, serão trasladados os seus restos mortais para chão luso, nos Prazeres, em Lisboa. Os portugueses agradecem e louvam o gesto. Sinais de Fogo… ou sinais do tempo?
5. Ah, já nos esquecíamos, houve europeias! E houve quem tivesse perdido, muito, mais do que devia. Há quem diga que é o preço das reformas, mas não creio. Cá para mim é o preço justo pelas sandices, sobretudo das formas. O problema maior é que a procissão ainda vai no adro, e a meio do Outono não creio que haja santos populares que nos assistam. E teria sido tudo tão mais simplex…
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