segunda-feira, 27 de julho de 2009

Estranha mistura

A propósito disto, de o lobo mau ter sido rasteirado num jogo de futebol em «Os Maias», lembrei-me do que me dizia por vezes a professora de português no tempo em que no secundário eu estudava o romance de Eça, numa escola de Portimão. Se eu falhava alguma coisa, lá vinham as frases inevitáveis: «Os teus Maias não são iguais aos meus. Onde é que os compraste? Em Monchique?!» Claro que isto era uma coisa menor, comparado com outras que fazia aquele ser ignóbil, que era uma estranha mistura de psicopata, cobra e monstro-de-gila. Tornou as minhas aulas de português do décimo e do décimo primeiro ano (tive o azar de a apanhar durante dois anos seguidos) num verdadeiro inferno, e cada obra recomendada, por causa dela, tornava-se uma leitura penosa. Até com «Os Maias», com ela sempre a assombrar a mente dos alunos, era assim. Passado um ano, já no décimo segundo e livre daquele pesadelo, li o livro com um imenso fascínio e sempre com uma profunda admiração pelo autor. Voltei a reler agora, com a mesma admiração e ainda com mais fascínio.
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2 comentários:

Jade disse...

Adorei ler "Os Maias" e tive a sorte de ter uma professora de Português execelente que não só nos ensinou a olhar a obra de forma intensa e crítica, como também, nos ensinou o prazer da leitura dos grandes clássicos.Tenho uma história engraçada com esta obra específica e a minha professora de Português. Num teste, ela perguntou quem era Dom Bonifácio. Dei voltas à cabeça mas não me recordava de tal personagem. Então, tal como a minha professora me havia ensinado, recorri à criatividade e respondi: "um assíduo frequentador da casa". Obtive cotação máxima pois a professora achou imensa piada à minha resposta embora o meu "assíduo frequentador da casa" fosse o gato...

Manuel Ramalhete disse...

António:

Foi exactamente isso o que me aconteceu com os Lusíadas, no Liceu Camões,em resultado daquela tortura medieval que consistia em "dividir as orações". Só depois de me libertar dessas torturas é que li os Lusíadas com imenso prazer. E, de vez em quando, ainda releio determinadas passagens e fico sempre admirado como se consegue fazer poesia, daquele gabarito, com a História de um povo.

Um abraço.