… a quinze, foi a festa de portas abertas na Gulbenkian com «Pedro e o Lobo», de Sergei Prokofiev, no Grande Auditório (do outro Pedro, uivado em coro às portas de Sete Rios, a festa foi desigual)
Ilusões de presente
Esperei Setembro e deixei-o escapar, tão depressa como se foi o Verão das férias, das manhãs preguiçadas e dos fins de tarde estendidos.
Por norma meio de ressaca e meio de recomeço, este mês foi, como na gíria futebolística, de desmotivação profissional, não que o plantel não estivesse solidário, o problema é que continuou faltando uma palavrinha de apoio de um mister ou de um special qualquer, e se o CR, que é quem é, se sente triste por tão pouco, que dizer de um vulgar pregador de sermões aos peixes quando o novo ano lectivo se anuncia quebrantado e muito pouco venturoso…
Parodiando Cesário, houve neste mês, porém, duas coisas simplesmente belas que atenuaram o advento do Outono e me distraíram do desarrimo. A primeira delas, a quinze, foi a festa de portas abertas na Gulbenkian com «Pedro e o Lobo», de Sergei Prokofiev, no Grande Auditório (do outro Pedro, uivado em coro às portas de Sete Rios, a festa foi desigual). A outra, a vinte e dois, foi a festa de Brasil e Portugal (ou de Portugal e Brasil) unidos no Terreiro do Paço: Zé Ricardo, Carminho, Zeca Baleiro, Boss AC, Paulo Gonzo e Martinho da Vila. Momentos únicos de distinção e gáudio a custo zero, suspensões da crise, ilusões de presente.
E mais não houve no mês que foi, senão acasos de anedotário que registei na nossa imprensa e reproduzo para remanso da austeridade.
1) Foi descoberta uma nova Gioconda, de rosto mais novo, mais liso, aparentemente pintada a par com a outra, a de rosto agora mais envelhecido. Mas o mais importante da revelação não foi a pintura, mas o facto relevante de este quadro ser da autoria mais que provável do amante de Leonardo Da Vinci. Isto, sim, é de ficar com duas monas!
2) Foi lançado mais um livro infantil, o que, convenhamos, não é grande novidade, novidade mesmo, e relevante, é ter sido escrito pela mão de Cinha Jardim, figura da nossa socialite e da nossa memória colectiva. Quer dizer, importante, mesmo importante, foi ela ter-se inspirado no neto e na cadela para a trama. A imprensa é mesmo tramada!
3) Foi apanhado em flagrante uma criatura de meia-idade algures numa rua dos Estados Unidos a fazer sexo com… um sofá! A polícia deteve-o por atentado ao pudor. E fez-se notícia.
4) Foi detido mais um norte-americano. Coisa rara. Este, também pouco mais velho que o anterior, por ter desatado ao tiros a um vizinho seu, acusando-o de lhe ter violado a mulher. Coisa rara. Raro, sobretudo, e grave, porque a violação terá sido por telepatia. Como o repórter estava lá, tomou notas e divulgou o caso. E não era para menos, que coisa tão estranha não ocorre por aí além.
5) Foi eleita «a cadela mais mimada do mundo». Dá pelo nome de Lola e dorme numa cama de seis mil euros. Saracoteando-se com uma modesta coleira de platina e diamantes no valor de 32 mil euros, não consta que esta milionária Yorshire Terrier seja ainda perseguida pelo fisco por manifestos sinais exteriores de riqueza, embora haja fortes suspeitas de que tenha contas abertas na Suazilândia, na Ilha Tristão da Cunha e nas Ilhas Palau.
6) Foi tornado público o último relatório do SIS. A matéria é séria e impõe cuidados redobrados. O nível de ameaça contra os ministros subiu para três, e para quem não lida de perto com estas informações, este nível intermédio, e a subir, é crítico e não deixa ninguém em paz, que um qualquer cidadão pode ser chamado um dia destes a estas altas funções e, se isto se mantém, ninguém quererá aceitar o cargo. Sim, que o seguro morreu de velho.
7) Foi finalmente publicitado o que muita gente pensava há muito e acreditava ser verdade, que em Marte já houve água. Crê-se que a água se terá evaporado, mas as fotos não mentem e a morfologia marciana comprova a circunstância. E como onde há água há vida, não espantará que os ET andem pelo meio de nós.
Serão acasos do anedotário, é certo, mas casos assim tão circunspectos e inquietantes como estes não se encontram todos os dias nem em todas as conjunturas, nem mesmo na actual, de hipocrisia e impudência.
E se, havendo mais vida para além da Terra, fôssemos todos para Marte?!
1 comentário:
1."Uma palavrinha de apoio" até pode ser um presente envenenado!
2. Para compensar, o anedotário é precioso para quem anda distraído. A Cinha Jardim ainda acaba por integrar o Plano Nacional de Leitura!
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