Não vi com muita atenção o Beira-Mar – 3, Sporting – 3 (Alecsandro, Yannick e Liedson), e não vi porque estava num jantar com colegas de trabalho. Mas deu para perceber que mais uma vez algumas das embirrações de Paulo Bento acabaram por trazer dissabores à equipa. No jogo de Aveiro, de início apenas dois dos quatro jogadores-problema (o triste Ricardo e o quase inclassificável Polga, com Caneira e Custódio a descansarem para o Bayern, contra o qual são bem capazes de arranjar confusão). Os golos que a equipa sofreu não lembram a ninguém (num deles, Ricardo, como sempre à maluca, chegou a atirar-se para dentro da baliza bem antes de a bola entrar, enquanto Polga andava aos papéis, como se não percebesse para que é que tinha sido posto a jogar). E no fim Paulo Bento (de quem tenho boa impressão como treinador, apesar da incompreensível insistência nos quatro jogadores-problema que não têm nem de longe valor para integrar o plantel de uma equipa como a do Sporting), Paulo Bento, dizia, meteu-se a fazer de Fernando Santos, dizendo na conferência de imprensa que os jogadores tinham sido ingénuos. Fez mal, porque não foi isso que aconteceu. Ele é que foi ingénuo ao ter ido falar aos jornalistas num tom que facilmente se confunde com o que utilizaria numa ida ao psicólogo, e mais ingénuo ainda foi por insistir em fazer o Sporting entrar em campo com um guarda-redes que em cada jogo que faz pode enterrar uma equipa (ou até uma selecção) e com um defesa – Polga – que julga muito bom mas que na verdade devia tentar outro desporto, bem diferente do futebol (ténis, xadrez, halterofilia…). Espero que Paulo Bento tire ensinamentos deste jogo com o Beira-Mar, perca esta estranha ingenuidade e cresça um pouco como treinador e até como líder de uma equipa do topo. Uma última nota: apesar de estarem do outro lado, não pude deixar de sentir alguma emoção com as presenças de Inácio no banco do Beira-Mar e de Jardel no ataque dessa equipa, no caso na parte final do jogo; ao ver Inácio de pé junto ao banco durante quase todo o jogo e a movimentação de Jardel no lance em que Ricardo deu o frango do segundo golo do Beira-Mar, lembrei-me dos últimos dois campeonatos conquistados pelo Sporting – bons tempos, bons mesmo muito bons!
sábado, 28 de outubro de 2006
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
Textos sobre livros - 5
Agora com um novo romance de José Rodrigues dos Santos nas livrarias («A Fórmula de Deus»), deixo aqui o texto que escrevi sobre o anterior («O Codex 632»), cujo protagonista é o mesmo.
Livro: «O Codex 632», de José Rodrigues dos Santos (Gradiva, 550 pp.)
Colombo, uma reportagem
Não é nova a tese de uma nacionalidade portuguesa para o navegador «genovês» Cristóvão Colombo. A novidade é a sua apresentação sob a forma romance. José Rodrigues dos Santos conta uma história fascinante em «O Codex 632», como se fosse uma grande reportagem.
No dia 20 de Maio de 2006 serão comemorados os 500 anos da morte de Cristóvão Colombo. A uns meses da efeméride [texto escrito no início deste ano], nada melhor do que um romance para relançar uma polémica que se arrasta desde há muito, sobretudo nos meios académicos, em relação à verdadeira origem do navegador «genovês», que até é dado por alguns especialistas, imagine-se, como sendo natural da Ucrânia. Por mais que se fale, a verdade é que do homem que ficou com a glória de ter descoberto a América – nem que tenha sido apenas por engano –, nada se sabe ao certo, nem sobre a origem, nem sobre a data de nascimento. Talvez lhe tivessem feito uma festa no dia em que passaram 500 anos sobre aquele em que veio ao mundo (um dia qualquer de 1951, por exemplo, cinco séculos depois do ano em que nasceu, a fazer fé em «provas» como o famoso Documento Asseretto – em 1904, um jornal académico italiano noticiou que um coronel genovês, chamado Ugo Asseretto, encontrou uma acta notarial de 25 de Agosto de 1479 que regista a partida de Colombo para Lisboa no dia seguinte, e nela ele, Colombo, declarou ter «etatis annorum viginti septem vel circa», ou seja declarou ter então 27 anos). Assim comemora-se a morte, coisa que a mim sempre me fez confusão – veja-se a febre das comemorações dos 100 anos da morte de Eça, ainda não há muito tempo…
A história de Cristóvão Colombo parece ter muito que se lhe diga. E esmiuçando os inúmeros documentos que existem sobre ele o que mais se pode é desconfiar das suas origens genovesas. Tudo parece levar a que o famoso navegar tenha sido, como se costuma dizer, um português de gema, lá do meio dos alentejos, a quem as voltas da vida tenham obrigado a esconder as suas origens a partir de uma certa altura. E depois muito parece ter sido construído para preencher esse passado tão minuciosamente dissimulado, pelo menos para a História.
O romance de José Rodrigues dos Santos pode ler-se como uma «grande reportagem», o trabalho de um jornalista experiente e prestigiado, que ao mesmo tempo domina as técnicas mais elementares da narrativa. A saga do investigador que em «O Codex 632» investiga a investigação do velho investigador que morreu no Brasil não é mais do que uma viagem pelo mundo fascinante dos documentos e das histórias relacionadas com Cristóvão Colombo. Um mundo de dúvidas, mistérios, contradições, falsificações e o mais que se possa imaginar, tudo coisas capazes de lançarem a confusão a cada passo.
Quanto à escrita, a de «O Codex 632» não é de forma nenhuma elaborada (por exemplo, logo a abrir, a filha que ignora «olimpicamente» a irritação do pai). Percebe-se que José Rodrigues dos Santos pensou mais na descrição da segunda investigação sobre a primeira do que no texto propriamente dito, embora lá de vez em quando alguma elaboração surja (ainda que não muito feliz e acabe por cair num tom repetitivo, por exemplo com a descrição de paisagens a meias com o estado do tempo: «as nuvens altas ameaçavam cobrir o sol, emergindo com vagar, como um manto longínquo…», ou «as águas tranquilas do Mediterrâneo brilhavam, cristalinas, sob o reflexos encandeantes do sol matinal…»; isto para não referir o ridículo em que cai quando se arma em Henry Miller para apimentar os enrolanços entre o protagonista e uma suposta estudante sueca do Erasmus). Mas a história é óptima, o assunto também, e lê-se de um fôlego, apesar do tamanho. Acaba por ser uma escrita muito colada à jornalística, o que em mais de 500 páginas não deve ser fácil de conseguir. Tirando algumas descrições, diz-se apenas o essencial.
E do que se diz, do que se conta, vai ficando a certeza de que Colombo era mesmo português. Porque muitos dos documentos foram ao longo dos anos adulterados, de forma a fazer com que Colombo, que nem teria esse nome, ficasse genovês. E isso para, utilizando as palavras do editor genovês que publicou a biografia do almirante escrita pelo filho espanhol («Vida del Almirante»), «glória de Génova», nunca para glória, por exemplo, da vila alentejana de Cuba. Com tanta falsificação, seria difícil que José Rodrigues dos Santos escapasse ao vício: ele próprio acaba por adulterar um documento (todos os que cita existem mesmo), precisamente o «Codex 632» para resolver a história. «Uma habilidade para dar consistência narrativa», como confessou numa entrevista; mas a ele desculpa-se.
Algo irritante é a sucessão de erros gramaticais do tipo «eles conseguiram iram», em vez do óbvio «eles conseguiram ir» (este exemplo é inventado, mas existem várias construções do género ao longo do livro). Contudo, «O Codex 632» lê-se bem, com fascínio, chegando por vezes a ser tocante (no caso da história pessoal do investigador); e tem passagens extremamente divertidas, como um diálogo que em Tomar o protagonista mantém com um estranho cavaleiro que parece saído de outros tempos.
Livro: «O Codex 632», de José Rodrigues dos Santos (Gradiva, 550 pp.)
Colombo, uma reportagem
Não é nova a tese de uma nacionalidade portuguesa para o navegador «genovês» Cristóvão Colombo. A novidade é a sua apresentação sob a forma romance. José Rodrigues dos Santos conta uma história fascinante em «O Codex 632», como se fosse uma grande reportagem.
No dia 20 de Maio de 2006 serão comemorados os 500 anos da morte de Cristóvão Colombo. A uns meses da efeméride [texto escrito no início deste ano], nada melhor do que um romance para relançar uma polémica que se arrasta desde há muito, sobretudo nos meios académicos, em relação à verdadeira origem do navegador «genovês», que até é dado por alguns especialistas, imagine-se, como sendo natural da Ucrânia. Por mais que se fale, a verdade é que do homem que ficou com a glória de ter descoberto a América – nem que tenha sido apenas por engano –, nada se sabe ao certo, nem sobre a origem, nem sobre a data de nascimento. Talvez lhe tivessem feito uma festa no dia em que passaram 500 anos sobre aquele em que veio ao mundo (um dia qualquer de 1951, por exemplo, cinco séculos depois do ano em que nasceu, a fazer fé em «provas» como o famoso Documento Asseretto – em 1904, um jornal académico italiano noticiou que um coronel genovês, chamado Ugo Asseretto, encontrou uma acta notarial de 25 de Agosto de 1479 que regista a partida de Colombo para Lisboa no dia seguinte, e nela ele, Colombo, declarou ter «etatis annorum viginti septem vel circa», ou seja declarou ter então 27 anos). Assim comemora-se a morte, coisa que a mim sempre me fez confusão – veja-se a febre das comemorações dos 100 anos da morte de Eça, ainda não há muito tempo…
A história de Cristóvão Colombo parece ter muito que se lhe diga. E esmiuçando os inúmeros documentos que existem sobre ele o que mais se pode é desconfiar das suas origens genovesas. Tudo parece levar a que o famoso navegar tenha sido, como se costuma dizer, um português de gema, lá do meio dos alentejos, a quem as voltas da vida tenham obrigado a esconder as suas origens a partir de uma certa altura. E depois muito parece ter sido construído para preencher esse passado tão minuciosamente dissimulado, pelo menos para a História.
O romance de José Rodrigues dos Santos pode ler-se como uma «grande reportagem», o trabalho de um jornalista experiente e prestigiado, que ao mesmo tempo domina as técnicas mais elementares da narrativa. A saga do investigador que em «O Codex 632» investiga a investigação do velho investigador que morreu no Brasil não é mais do que uma viagem pelo mundo fascinante dos documentos e das histórias relacionadas com Cristóvão Colombo. Um mundo de dúvidas, mistérios, contradições, falsificações e o mais que se possa imaginar, tudo coisas capazes de lançarem a confusão a cada passo.
Quanto à escrita, a de «O Codex 632» não é de forma nenhuma elaborada (por exemplo, logo a abrir, a filha que ignora «olimpicamente» a irritação do pai). Percebe-se que José Rodrigues dos Santos pensou mais na descrição da segunda investigação sobre a primeira do que no texto propriamente dito, embora lá de vez em quando alguma elaboração surja (ainda que não muito feliz e acabe por cair num tom repetitivo, por exemplo com a descrição de paisagens a meias com o estado do tempo: «as nuvens altas ameaçavam cobrir o sol, emergindo com vagar, como um manto longínquo…», ou «as águas tranquilas do Mediterrâneo brilhavam, cristalinas, sob o reflexos encandeantes do sol matinal…»; isto para não referir o ridículo em que cai quando se arma em Henry Miller para apimentar os enrolanços entre o protagonista e uma suposta estudante sueca do Erasmus). Mas a história é óptima, o assunto também, e lê-se de um fôlego, apesar do tamanho. Acaba por ser uma escrita muito colada à jornalística, o que em mais de 500 páginas não deve ser fácil de conseguir. Tirando algumas descrições, diz-se apenas o essencial.
E do que se diz, do que se conta, vai ficando a certeza de que Colombo era mesmo português. Porque muitos dos documentos foram ao longo dos anos adulterados, de forma a fazer com que Colombo, que nem teria esse nome, ficasse genovês. E isso para, utilizando as palavras do editor genovês que publicou a biografia do almirante escrita pelo filho espanhol («Vida del Almirante»), «glória de Génova», nunca para glória, por exemplo, da vila alentejana de Cuba. Com tanta falsificação, seria difícil que José Rodrigues dos Santos escapasse ao vício: ele próprio acaba por adulterar um documento (todos os que cita existem mesmo), precisamente o «Codex 632» para resolver a história. «Uma habilidade para dar consistência narrativa», como confessou numa entrevista; mas a ele desculpa-se.
Algo irritante é a sucessão de erros gramaticais do tipo «eles conseguiram iram», em vez do óbvio «eles conseguiram ir» (este exemplo é inventado, mas existem várias construções do género ao longo do livro). Contudo, «O Codex 632» lê-se bem, com fascínio, chegando por vezes a ser tocante (no caso da história pessoal do investigador); e tem passagens extremamente divertidas, como um diálogo que em Tomar o protagonista mantém com um estranho cavaleiro que parece saído de outros tempos.
domingo, 22 de outubro de 2006
Os quatro medíocres
Sporting – 1 (Yannick), Porto – 1. Para um adepto do Sporting, é muito triste ver fugir uma vitória que aparentemente era fácil. O Sporting costuma começar os jogos com três jogadores medíocres (Paulo Bento insiste em Ricardo, Polga e Caneira e não há meio de mudar), mas agora com a recuperação de Custódio de uma lesão a conta subiu para quatro. Neste jogo, o capitão (???) Custódio fez a habitual figura de espectador (com a agravante de estar dentro do campo a ocupar um lugar em que poderia estar um jogador já não digo muito bom mas pelo menos assim-assim, nem que fosse algum dos juniores que Paulo Bento de vez em quando põe a treinar com a equipa principal). E depois o golo do empate do Porto… Polga fez que não era nada com ele, Caneira encolheu-se e com os braços ainda fez uns gestos tipo não me chateiem e Ricardo, o incomparável Ricardo dos frangos cirúrgicos para tramarem o Sporting, lá arranjou maneira de passar a bola a um jogador do Porto que só teve de fazer o golo. Sendo assim, nada a fazer. E creio que poderão surgir mais dissabores destes, como não me canso de referir; Paulo Bento, muito provavelmente, vai continuar a apostar nestes quatro jogadores absolutamente medíocres.
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
A derrota com o Bayern
Sporting – 0, Bayern – 1. Talvez pudesse ter sido outro o resultado, mas este também não é de estranhar para quem viu o jogo. Pode parecer pela equipa inicial que Paulo Bento não teve medo da equipa alemã, mas teve um bocadinho. E por isso não dominou o jogo logo de início, como tinha condições para fazer com as soluções que tem no plantel. Custou-me ver Caneira a queimar um lugar a defesa direito, ou seja, a equipa a atacar jogou com menos um e as coisas só ficaram equilibradas na segunda parte, quando o autor do golo foi expulso (ainda Caneira… abriu a sessão da asneira logo no início do jogo com um penalty que o árbitro não viu, ou fez que não viu, ou se calhar decidiu não marcar porque depois de agarrado o avançado do Bayern atirou-se para o chão). Também me custou ouvir um comentador classificar a actuação de Polga como «imperial», Polga esse que mesmo assim ia marcando um golo (ao menos uma vez na vida enquanto jogador do Sporting…); quase que se repetia o que aconteceu com o Inter, com os craques a não conseguirem marcar e os azelhas, sem saberem bem como, a conseguirem, e quanto àquilo do «imperial», só se for por causa de alguma ligação com a cerveja, talvez chegada à memória do comentador de forma rebuscada pelo facto de estar a ver jogar uma equipa de Munique. O golo do Bayern, marcado pelo jogador dos dois frangos de Ricardo contra a Alemanha no último mundial, enfim, desta vez não foi tão escandaloso, mas pedia-se mais atenção num remate de tão longe, que permite dar um passo e só depois atirar-se para defender; agora assim a atirar-se à maluca… Por vezes é um problema aquilo do «torcer para que Ricardo não dê barraca», porque torcer, isso com ele nem sempre resulta. O Sporting, calmamente (porque Ricardo sempre defende alguns remates e se a defesa estiver segura pode nem se notar durante uma série de jogos), devia começar a preparar um guarda-redes jovem para daqui a uns meses entrar na equipa, isto no caso de ter algum em condições nos juniores, ou então contratar um de jeito. Uma última nota, sobre aquilo de haver uma defesa segura à frente de Ricardo… Aí o Sporting tem graves problemas: para a direita há um excelente jogador (Abel, que contra o Bayern tinha dado muito jeito) e um mediano (Miguel Garcia); para o centro há Tonel (cumpre, e além disso é muito inteligente a jogar e marca golos); para a esquerda há Ronny (muito bom) e Rodrigo Tello (cumpre e por vezes até consegue desempenhos assinaláveis); só que depois de tudo isto há a questão da insistência de Paulo Bento em Caneira (é um mau jogador) para a direita ou para a esquerda e o recurso (não há mais nenhum, mas se houvesse acho que Paulo Bento continuaria a apostar nele) a Polga, que é um jogador medíocre, talvez ao nível de Luisão, do Benfica; ou seja, o Sporting deveria ter mais dois centrais, um muito bom e outro pelo menos ao nível de Tonel; Miguel Veloso nessa posição já mostrou que dá garantias, mas seria um desperdício tirá-lo do meio campo – além de que se deixasse o meio-campo havia o risco de sair na rifa aos sportinguistas o capitão (?) Custódio.
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Sem comentários
Sem comentários o Estrela da Amadora – 0, Sporting – 1 (Tonel). Foi como se não tivesse havido este jogo no campo do Estoril e o Sporting acabasse por ganhar na secretaria por causa de o Estrela não ter as instalações disponíveis. A verdade é que nada se viu, nem de um lado (Sporting), nem do outro (Estrela, coisa que aliás era esperada). Uma nota apenas para um momento perto dos setenta minutos: Paulo Bento resolveu fazer entrar dois dos suplentes (Caneira e Custódio); quando entra na equipa um jogador tremendamente limitado já dá que pensar, mas logo dois ao mesmo tempo…
sábado, 14 de outubro de 2006
Fidel Pinho
O ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou o fim da crise em Portugal; foi ontem, de modo que tudo deve ter mesmo melhorado de um dia para o outro. Lembro-me de que há poucos anos, em Cuba, através de um diploma do governo, foi decretada a alegria em toda a ilha a partir do dia da sua publicação (e o diploma obrigava toda a gente a ficar alegre, senão…)
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
sábado, 7 de outubro de 2006
O futebol e os seus mistérios
O futebol tem muitos mistérios. Um dos que mais me intrigam é o dos jogadores que a vários níveis têm grandes limitações (ou pior do que isso) mas que conseguem época após época manter-se no topo. Vou juntar aqui alguns, com várias adaptações para conseguir formar uma equipa de onze. Vejamos então? Ricardo; Ricardo Rocha, Polga, Luisão e Caneira; Custódio, Quaresma, Sá Pinto e Luís Boa Morte; Pauleta e Peter Crouch. Até onde chegaria esta equipa? Quanto ao treinador? Obviamente, José Peseiro, embora Fernando Santos não envergonhasse.
quinta-feira, 5 de outubro de 2006
Textos sobre livros - 4
Mais um texto sobre um livro. Desta vez, sobre o belíssimo romance «El-Rei no Porto», de Fernando Venâncio (saiu no suplemento «Mil Folhas», do jornal «Público», em meados de Setembro de 2001).
Livro: «El-Rei no Porto», de Fernando Venâncio (Edições Asa, 171 pp.)
Portugal cortado ao meio
O segundo romance de Fernando Venâncio tem Santa Maria da Feira como capital política de uma jovem monarquia, o Reino de Portugal. Nas terras do sul fica a república do costume, mais pequena, mas a do costume.
Não tem sido fértil a ficção portuguesa na exploração de cenários de grandes convulsões sociais ou políticas. Talvez porque a própria pacatez do nosso país não leve a que se pense muito no tema. Daí alguma surpresa quando se entra na leitura de «El-Rei no Porto», o segundo romance de Fernando Venâncio, que conta uma história de amor num Portugal que acaba por dividir-se em dois países. A ideia não era nova, o autor já a tinha anunciado aos quatro ventos em 1988, numa crónica publicada no «Jornal de Letras». Aí, oferecia-a a quem a quisesse aproveitar, não para fazer uma revolução, mas para escrever um livro, ou fazer um filme ou uma série de televisão. «Mas ninguém reagiu» – lamenta-se numa nota final a «El-Rei no Porto». Acrescentando depois: «Doze anos não bastaram para que alguém chamasse seu a tamanho tesouro...»
Admite-se a Fernando Venâncio a expressão «tamanho tesouro», porque de facto a trama de um romance que corte Portugal ao meio é sem dúvida uma boa ideia, muito boa mesmo, embora talvez não deva ser levada muito a sério fora da ficção. Quanto à sua concretização, ainda na ficção, já se vê, que é o que para aqui interessa, isso será outra história. E difícil, bem difícil, o que por certo explica o facto de ninguém se ter metido em aventuras depois da crónica de 1988. Lá teve assim o próprio Fernando Venâncio de arregaçar as mangas e pôr mãos à obra noutras circunstâncias, por certo bem diferentes das que lhe permitiram chegar à ideia.
E então apareceu o romance que corta Portugal ao meio, arranjando uma monarquia a norte e uma república a sul. O Reino de Portugal, com o coração no Porto e a capital política em Santa Maria da Feira, e Portugal, ainda e sempre com tudo concentrado em Lisboa. A trama passa-se no século XXI, presume-se que nos primeiros anos. O narrador é Ricardo Gralho, um jornalista desportivo de Lisboa que tem no Porto a sua namorada, a jovem Márcia. Ricardo conta a certa altura: «A 10 de Abril, na noite das eleições, foi o terror. Matilde Laborim ganhava por 54% dos votos. Só que nove décimos deles vinham de a sul do Mondego. Os 46% que Rodrigo Penhas reuniu, couberam-lhe praticamente só na metade norte. Tudo graças a uma formidável mobilização no Sul, e a uma suficiente, mas ainda hoje inexplicada, falta de comparência a Norte.» Talvez não tenha sido inocente essa falta de comparência, capaz de deixar o nortenho Rodrigo Penhas fora do palácio de Belém. Os autarcas do norte, um verdadeiro poder, não pareciam muito afeitos à ideia de um presidente a mandar neles, mesmo que enviado do Porto para Lisboa. Um rei feito apenas à sua medida haveria de servi-los melhor.
Quando a nova presidente visita o Porto, na véspera de um Boavista – Sporting ainda para o campeonato do país unido, a cidade do derrotado Rodrigo recebe-a com «os rostos fechados, as figas à socapa, e por isso tão decepcionantes...» Chamam-lhe «a Moura». O mal-estar não é mais do que o prenúncio da guerra, que não tardará a rebentar. «As imagens precipitam-se, amontoam-se, repetem-se, estão lá todos, a RTP, a CNN, outros vão chegando. Por Madrid, por Rabat. Há uma guerra, outra guerra, na Europa? Poça, há uma guerra no meu país. Os americanos e a SIC arranjaram cada um seu helicóptero...»
Conta ainda Ricardo Gralho: «A coisa estragou-se, se bem percebi, numa saída da auto-estrada, junto a Pombal, quando os tanques do Norte ensaiavam um envolvimento, um romper das linhas, onde é que a gente já ouviu tais termos. Uma coluna dos nossos tentou fazer-lhes alto, diz-se que a bem, 'numa tentativa de chamar à razão o inimigo', estamos a tornar-nos eloquentes. Foi pior. Fomos mal percebidos. Alguém do outro lado fez fogo, talvez por pânico, com a razão à deriva. Eram seis e quarenta da tarde, estava eu a tentar falar à Márcia, de cinco em cinco minutos, contra toda a sanidade.»
Percebe-se na narrativa do protagonista a segurança de Fernando Venâncio, não apenas na condução da trama, revelando factos muito antes do que o leitor poderia sequer esperar – sem que com isso quebre o interesse pela história –, mas sobretudo na maneira como vai tendo mão nas próprias palavras. Fica-se com a ideia, não poucas vezes, de que a insistência numa certa coloquialidade na narrativa de Ricardo, mais linha menos linha, conduzirá a atropelos irremediáveis. Mas não, o jornalista desportivo lá avança pelo livro, a toda a hora descobrindo maneira de se livrar de algum embaraço.
Já com Márcia, Ricardo não parece ter tanta sorte. Nem o telemóvel nem o e-mail lhe valem. As suas dúvidas são as do leitor, que inevitavelmente torce por ele. Ricardo procura a sua amada, e o livro até parece prometer melhor leitura se ele a encontrar. O jornalista vai ao novo reino do norte através de Espanha, como toda a gente, como se torna uso nas viagens de sul para norte e de norte para sul. Mas de Márcia nem sinal. No Reino de Portugal, Rodrigo Penhas é mesmo feito Dom Rodrigo, chegando ao trono. E Márcia, a namorada portuense de Ricardo Gralho? Até onde chegará ela? Descobre-se isso a meio de «El-Rei no Porto», sem que nada apele a que se pare por aí a leitura. Mas a desilusão dessa descoberta, a grande desilusão de Ricardo, não há-de derrotar tão cedo a esperança de que o amor talvez possa triunfar. Afinal, ainda faltará muito livro nessa altura. E os dois países terão de entender-se. Ironicamente, será o futebol o pretexto para o primeiro reencontro entre o norte e o sul.
Livro: «El-Rei no Porto», de Fernando Venâncio (Edições Asa, 171 pp.)
Portugal cortado ao meio
O segundo romance de Fernando Venâncio tem Santa Maria da Feira como capital política de uma jovem monarquia, o Reino de Portugal. Nas terras do sul fica a república do costume, mais pequena, mas a do costume.
Não tem sido fértil a ficção portuguesa na exploração de cenários de grandes convulsões sociais ou políticas. Talvez porque a própria pacatez do nosso país não leve a que se pense muito no tema. Daí alguma surpresa quando se entra na leitura de «El-Rei no Porto», o segundo romance de Fernando Venâncio, que conta uma história de amor num Portugal que acaba por dividir-se em dois países. A ideia não era nova, o autor já a tinha anunciado aos quatro ventos em 1988, numa crónica publicada no «Jornal de Letras». Aí, oferecia-a a quem a quisesse aproveitar, não para fazer uma revolução, mas para escrever um livro, ou fazer um filme ou uma série de televisão. «Mas ninguém reagiu» – lamenta-se numa nota final a «El-Rei no Porto». Acrescentando depois: «Doze anos não bastaram para que alguém chamasse seu a tamanho tesouro...»
Admite-se a Fernando Venâncio a expressão «tamanho tesouro», porque de facto a trama de um romance que corte Portugal ao meio é sem dúvida uma boa ideia, muito boa mesmo, embora talvez não deva ser levada muito a sério fora da ficção. Quanto à sua concretização, ainda na ficção, já se vê, que é o que para aqui interessa, isso será outra história. E difícil, bem difícil, o que por certo explica o facto de ninguém se ter metido em aventuras depois da crónica de 1988. Lá teve assim o próprio Fernando Venâncio de arregaçar as mangas e pôr mãos à obra noutras circunstâncias, por certo bem diferentes das que lhe permitiram chegar à ideia.
E então apareceu o romance que corta Portugal ao meio, arranjando uma monarquia a norte e uma república a sul. O Reino de Portugal, com o coração no Porto e a capital política em Santa Maria da Feira, e Portugal, ainda e sempre com tudo concentrado em Lisboa. A trama passa-se no século XXI, presume-se que nos primeiros anos. O narrador é Ricardo Gralho, um jornalista desportivo de Lisboa que tem no Porto a sua namorada, a jovem Márcia. Ricardo conta a certa altura: «A 10 de Abril, na noite das eleições, foi o terror. Matilde Laborim ganhava por 54% dos votos. Só que nove décimos deles vinham de a sul do Mondego. Os 46% que Rodrigo Penhas reuniu, couberam-lhe praticamente só na metade norte. Tudo graças a uma formidável mobilização no Sul, e a uma suficiente, mas ainda hoje inexplicada, falta de comparência a Norte.» Talvez não tenha sido inocente essa falta de comparência, capaz de deixar o nortenho Rodrigo Penhas fora do palácio de Belém. Os autarcas do norte, um verdadeiro poder, não pareciam muito afeitos à ideia de um presidente a mandar neles, mesmo que enviado do Porto para Lisboa. Um rei feito apenas à sua medida haveria de servi-los melhor.
Quando a nova presidente visita o Porto, na véspera de um Boavista – Sporting ainda para o campeonato do país unido, a cidade do derrotado Rodrigo recebe-a com «os rostos fechados, as figas à socapa, e por isso tão decepcionantes...» Chamam-lhe «a Moura». O mal-estar não é mais do que o prenúncio da guerra, que não tardará a rebentar. «As imagens precipitam-se, amontoam-se, repetem-se, estão lá todos, a RTP, a CNN, outros vão chegando. Por Madrid, por Rabat. Há uma guerra, outra guerra, na Europa? Poça, há uma guerra no meu país. Os americanos e a SIC arranjaram cada um seu helicóptero...»
Conta ainda Ricardo Gralho: «A coisa estragou-se, se bem percebi, numa saída da auto-estrada, junto a Pombal, quando os tanques do Norte ensaiavam um envolvimento, um romper das linhas, onde é que a gente já ouviu tais termos. Uma coluna dos nossos tentou fazer-lhes alto, diz-se que a bem, 'numa tentativa de chamar à razão o inimigo', estamos a tornar-nos eloquentes. Foi pior. Fomos mal percebidos. Alguém do outro lado fez fogo, talvez por pânico, com a razão à deriva. Eram seis e quarenta da tarde, estava eu a tentar falar à Márcia, de cinco em cinco minutos, contra toda a sanidade.»
Percebe-se na narrativa do protagonista a segurança de Fernando Venâncio, não apenas na condução da trama, revelando factos muito antes do que o leitor poderia sequer esperar – sem que com isso quebre o interesse pela história –, mas sobretudo na maneira como vai tendo mão nas próprias palavras. Fica-se com a ideia, não poucas vezes, de que a insistência numa certa coloquialidade na narrativa de Ricardo, mais linha menos linha, conduzirá a atropelos irremediáveis. Mas não, o jornalista desportivo lá avança pelo livro, a toda a hora descobrindo maneira de se livrar de algum embaraço.
Já com Márcia, Ricardo não parece ter tanta sorte. Nem o telemóvel nem o e-mail lhe valem. As suas dúvidas são as do leitor, que inevitavelmente torce por ele. Ricardo procura a sua amada, e o livro até parece prometer melhor leitura se ele a encontrar. O jornalista vai ao novo reino do norte através de Espanha, como toda a gente, como se torna uso nas viagens de sul para norte e de norte para sul. Mas de Márcia nem sinal. No Reino de Portugal, Rodrigo Penhas é mesmo feito Dom Rodrigo, chegando ao trono. E Márcia, a namorada portuense de Ricardo Gralho? Até onde chegará ela? Descobre-se isso a meio de «El-Rei no Porto», sem que nada apele a que se pare por aí a leitura. Mas a desilusão dessa descoberta, a grande desilusão de Ricardo, não há-de derrotar tão cedo a esperança de que o amor talvez possa triunfar. Afinal, ainda faltará muito livro nessa altura. E os dois países terão de entender-se. Ironicamente, será o futebol o pretexto para o primeiro reencontro entre o norte e o sul.
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
O topo
Sporting – 2 (Nani, Liedson), Leiria – 0. De novo no topo da classificação, depois da segunda derrota do Porto, à boa maneira de Jesualdo, com o Arsenal, desta vez o de cá. Nada a dizer da equipa do Sporting (não adianta insistir nos problemas de Caneira e de Polga, até porque os outros jogadores disfarçam-nos bem, e além disso o árbitro deste jogo não ligou a uma entrada à maluca de Polga sobre um jogador do Leiria que poderia ter dado grande penalidade). Outra coisa: com a confirmação de Miguel Veloso, parece estar fora de hipótese o regresso do assustador Custódio à equipa; isso, é claro, só pode deixar os adeptos descansados.
Motorista de família
Já vem atrasado, mas só agora copiei do blog onde escreve um amigo meu. Chama-se «Portugal Descrente» e está aqui. É o despacho do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, publicado no Diário da República de 12 de Julho de 2006 (reproduzido no blog a 16). Reza (ou antes, diz, já que se trata de uma publicação de um estado laico) assim: «Louvor n.º 532/ 2006 – Louvo José Lopes Cardoso, motorista do meu Gabinete, especialmente encarregado do apoio automóvel à minha família directa, pelas suas excepcionais qualidades humanas, além de uma excelente educação, elevada competência profissional, capacidade de condução segura, pontualidade, aprumo pessoal e absoluta discrição. Senti-me sempre muito tranquilo por saber que estavam nas suas mãos os membros da minha família mais próxima que, por uma razão ou por outra, precisavam dos seus serviços, de que sempre muito gostaram./ 30 de Junho de 2006. – O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Diogo Pinto de Freitas do Amaral.»
Comenta logo a seguir o meu amigo (que assina CA): «Agora que o ministro Freitas do Amaral se foi embora, fica-se a saber por um despacho de louvor publicado no DR que tinha ao seu serviço, pago pelo Estado, um motorista para prestar apoio à ‘família directa’ e que por sinal gostava dos serviços do dito!!! E depois ainda querem que acreditemos em tudo isto!!!»
Comenta logo a seguir o meu amigo (que assina CA): «Agora que o ministro Freitas do Amaral se foi embora, fica-se a saber por um despacho de louvor publicado no DR que tinha ao seu serviço, pago pelo Estado, um motorista para prestar apoio à ‘família directa’ e que por sinal gostava dos serviços do dito!!! E depois ainda querem que acreditemos em tudo isto!!!»
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