quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Os meus diálogos - 10

(do livro «O Amor por entre os Dedos», 2005; conto «Gagueline, o gagueloso)
(…)
- Esperem aí! Quanto é que mede esse tal francês gagueloso?
Não houve resposta. Até que uma criança disse:
- Oito metros!
Zifardo estrebuchou, quase largando o machado.
- Que exagero!... - apressou-se o presidente da junta de freguesia a dizer. - Oito metros nem nas histórias esquisitas daquele rapazito escritor ali de Santo Estêvão
- Qual escritor? - perguntou Zifardo.
Um velho, que estava mesmo atrás do presidente da junta de freguesia, gritou:
- É um escritor de histórias esquisitas mas que também escreve histórias de amor a falar de uma bela rapariga que se chama Kate! E já deu origem a não sei quantos bustos ali em Santo Estêvão, de tudo o que é personalidade e não só! A partir do dele a coisa não há meio de parar, de maneira que!..
- Bom, adiante que isto não é hora para literaturas nem para homenagens! - interrompeu o presidente da junta de freguesia. - Oito metros de tamanho para aquela criatura é um exagero! Estas crianças vêem mas é tudo a dobrar!...
- A dobrar!! - protestou Zifardo. - Se o gagueloso medir quatro metros, acha que é pouco?!
O presidente da junta de freguesia calou-se. E a mulher que tinha sorrido para Zifardo disse:
- Senhor Zifardo, independentemente do tamanho, rache-o ao meio.
(…)

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