quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Literatura comparada

A revista «Sábado» manda-me todas as quintas-feiras, por e-mail, uma divulgação do número que está a colocar nas bancas. O que chegou hoje refere que «o livro que sucede a ‘Equador’ sai já na próxima quinta-feira»; depois coloca um título (da peça), «A nova saga de Sousa Tavares», e três tópicos, «como ele descobriu por acaso num voo da TAP a história verdadeira que inspirou o romance», «só seis pessoas tiveram autorização para ler as 700 páginas de ‘Rio das Flores’» e «nos últimos quatro anos, fez várias viagens de pesquisa ao Brasil e escreveu entre Lisboa e o Alentejo». É uma boa notícia, depois do excelente «Equador», ter um novo romance de Miguel Sousa Tavares para ler. Lembro-me de que a leitura de «Equador» constituiu uma enorme satisfação para mim, capaz até de me fazer não ligar muito a alguns descuidos com o português e também a alguns erros factuais, como a confusão logo a abrir com o senhor Lesseps e o canal de Suez. Espero que com o novo romance se repita a satisfação, e se o português for cuidado, tanto melhor. Para já, fica-me alguma desilusão no título: não parece lá muito empolgante (mas também não é nenhum desastre).
Quanto aos tópicos da «Sábado», dei por mim a pensar no que aconteceu com o meu último romance, «O que Entra nos Livros»… Primeiro tópico, a descoberta da história, por acaso, num voo da TAP: a minha foi descoberta, pelo menos a maneira de contar a história em que tanto pensava, uma noite, tardíssimo, quando parei num sinal vermelho em Pegões, no habitual regresso de Lisboa, do trabalho, para Montemor. Segundo tópico, só seis pessoas tiveram autorização para ler as 700 páginas: no meu caso são cerca de 200 páginas e só uma pessoa leu (eu próprio), além da revisora. Terceiro tópico, quatro anos, com viagens ao Brasil e escrita entre Lisboa e o Alentejo: eu escrevi durante cerca de um ano, sem viagens ao Brasil – apenas uma série delas a Évora –, e escrevi sempre no Alentejo (tirando umas páginas numa esplanada da Praia do Barril, em Tavira), na altura em que a selecção portuguesa andava a dar cartas no mundial da Alemanha.

3 comentários:

aviador disse...

Isto é que é verdadeira literatura light! ( não estou a ser dpreciativo, é um dado de facto ).

Anónimo disse...

Este livro ("Rio das Flores") nunca devia ter sido escrito.
É uma vergonha que Miguel Sousa Tavares não tenha consciência disso.

Se escreveu 700 páginas entre Lisboa e o Alentejo isso quer dizer que o escreveu enquanto conduzia.

Ora, se não podemos falar ao telemóvel enquanto conduzimos, por maioria de razão será lógico concluir que não se pode escrever enquanto se conduz.

Por isso mesmo, não será surpresa para mim que o romance apresente solavancos na narrativa, curvas e contracurvas na verdade história, poços de ar na sintaxe (influência das descobertas em pleno voo), travagens bruscas nos diálogos, excesso de velocidade na caracterização de personagens, cheiro a óleo na capa e desvios acentuados nas badanas.

Anónimo disse...

Luís, não sejas injusto, na volta o MST usou um kit mãos-livres dos especiais para romancistas.

Abraço,

António