terça-feira, 10 de julho de 2007

A Padeira - III

Terceiro capítulo de «Brites e as Gaivotas» (início aqui).

Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota – Cap. III

E os anos foram passando, uns atrás dos outros, desenfreadamente, como se tivessem pressa de ver Brites fazer-se mulher. Só que não tiveram muita sorte.
- Mulher é que aquilo não é!
Na verdade, Brites não ia nada bem encaminhada para ser rainha de beleza. Era grande como um boi, mal encarada como um lagarto e tinha uma cabeleira que parecia um molho de tojos secos. E diziam que era de bom osso constituída, pois saía sempre inteira das zaragatas de pancadaria em que o seu mau génio invariavelmente a levava a meter-se.
- É uma grande jogadora do pau, melhor até do que alguns homens que eu já tenho visto.
- Sim, maneja o cacete como ninguém.
A Brites nada metia medo. Era o que se podia dizer uma criatura valente.
- Um homem autêntico!
As pessoas assim pensavam. E Brites sem ter culpa nenhuma. Afinal, qual seria o problema de, sendo mulher, ter uma força capaz de levantar acima da cabeça um porco dos gordos, daqueles já prontos para a matança, e ter gosto pela pancadaria? Não poderia uma mulher ser assim? Mal se descuidava e chamavam-lhe logo homem, já era preciso ter azar.
- Grandes machistas, diriam na confraria feminista, se já existisse alguma.

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