Leio na comunicação social excertos de um comunicado da pianista Maria João Pires. As referências a Portugal, «que se comporta sem qualquer interesse pelas gerações futuras ou por projectos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, respeito e amizade», fazem-me recordar um episódio de há dois ou três anos. Passou-se comigo. A biblioteca municipal da minha terra, Monchique, no Algarve, convidou-me para uma das sessões de conversas com escritores que promovia com os leitores. Aceitei e alguns dias depois recebi um exemplar do convite que estava a ser enviado para divulgar a iniciativa. Mais uns dias, já com a data a aproximar-se, telefonaram-me a pedir muita desculpa mas que a sessão ficava sem efeito; tudo porque o vereador da câmara responsável pela cultura tinha mandado cancelar todos os eventos culturais em Monchique durante uma semana (precisamente a que incluia o dia da sessão em causa). Pediram-me também para devolver o exemplar do convite que me tinham dado, mas eu recusei. Ainda hoje o guardo comigo.
sábado, 29 de julho de 2006
sexta-feira, 28 de julho de 2006
Isto promete
Depois da estreia do Sporting ontem à noite em Vila Real de Santo António (Benfica - 0, Sporting - 3), fiquei com a ideia de que isto promete para o lado dos leões. Os golos do Yannick, as tabelas do Rui Costa, os remates de longe do Katsouranis...
Uma curiosidade… A câmara de Vila Real de Santo António tem um vereador – ainda por cima o vice-presidente – que é poeta, além de ser muito sensível às questões do ambiente (foi director do Parque Natural da Ria Formosa, por exemplo); chama-se José Carlos Barros e pode ser lido no blog Casa de Cacela (http://casa-de-cacela.blogspot.com/).
Uma curiosidade… A câmara de Vila Real de Santo António tem um vereador – ainda por cima o vice-presidente – que é poeta, além de ser muito sensível às questões do ambiente (foi director do Parque Natural da Ria Formosa, por exemplo); chama-se José Carlos Barros e pode ser lido no blog Casa de Cacela (http://casa-de-cacela.blogspot.com/).
Deve ser castigo
Há uns dias, escrevi aqui que o abandono da selecção nacional de futebol por parte do Pauleta era uma boa notícia (em muitos jogos de Portugal eu costumava dizer, só para mim, «isto não vai com pauletas» – e nunca foi mesmo, apesar dos quarenta e tal golos, a maior parte deles quase sempre quando não era preciso). E agora, o meu clube, o Sporting, anuncia a contratação de um avançado uruguaio que jogava no Paris Saint Germain, um avançado que na época passada não marcou nenhum golo porque estava tapado, imagine-se, pelo Pauleta. Ou seja, o meu clube acaba de contratar o suplente do Pauleta em França. Deve ser castigo… O que eu devia era ter ficado bem caladinho quando o Pauleta disse que ia lá à vida dele e que deixava a selecção em paz.
Mas pode até ser que o uruguaio – Carlos Bueno, assim se chama, mas na América do Sul é conhecido por «El Loco» –, pode ser, dizia, que acabe por fazer boa figura no Sporting. O Nuno Gomes também se fartou de ser suplente do Pauleta na selecção e nem por isso deixa de ser um jogador muito, mas mesmo muito melhor. Isso viu-se bem nos bocadinhos em que jogou neste último campeonato do mundo, na Alemanha, e no Euro 2004, sem esquecer a campanha brilhante que fez no Euro 2000 (depois de ser titular frente à Inglaterra por impedimento do Pauleta, que depois só entrou em campo naquele jogo com a Alemanha que não contava para nada – se não fosse o impedimento do açoriano no jogo com os ingleses, que deu a Nuno Gomes a oportunidade de se afirmar, não sei como é que teria sido aquele campeonato).
Mas pode até ser que o uruguaio – Carlos Bueno, assim se chama, mas na América do Sul é conhecido por «El Loco» –, pode ser, dizia, que acabe por fazer boa figura no Sporting. O Nuno Gomes também se fartou de ser suplente do Pauleta na selecção e nem por isso deixa de ser um jogador muito, mas mesmo muito melhor. Isso viu-se bem nos bocadinhos em que jogou neste último campeonato do mundo, na Alemanha, e no Euro 2004, sem esquecer a campanha brilhante que fez no Euro 2000 (depois de ser titular frente à Inglaterra por impedimento do Pauleta, que depois só entrou em campo naquele jogo com a Alemanha que não contava para nada – se não fosse o impedimento do açoriano no jogo com os ingleses, que deu a Nuno Gomes a oportunidade de se afirmar, não sei como é que teria sido aquele campeonato).
terça-feira, 18 de julho de 2006
«Liedson resolve» problema de Scolari
«Liedson está disponível para vir a obter a dupla nacionalidade que lhe possa permitir a sua integração na selecção portuguesa, seguindo exemplos de outros seus compatriotas, caso concreto de Deco, o mais mediático./ ‘Se algum dia for convidado a fazê-lo, não hesitarei em fazê-lo, sinto-me bem em Portugal’, disse o avançado do Sporting ao final desta manhã em conferência de imprensa na Academia.» (tirado esta tarde do site do jornal «A Bola»)
Será que vai ser Liedson a «resolver» o problema de Scolari? A ideia, confesso, não me desagrada.
Será que vai ser Liedson a «resolver» o problema de Scolari? A ideia, confesso, não me desagrada.
quarta-feira, 12 de julho de 2006
Não devia contar isto
Eu andava para ir ao médico. Tinha-me aparecido uma borbulha que me parecia estranha e que nunca mais passava. Dias e dias e cada vez pior, até a formar um pequeno volume que me doía se fizesse pressão. A coisa preocupava-me. Tinha de ir mesmo ao médico, provavelmente a uma clínica a que por vezes recorria. Mas para algo assim eu não sabia a que especialidade ir. Então, talvez ir o médico de família fosse o melhor… Mas isso devia demorar um ror de tempo, era o que eu pensava.
Um destes dias, a meio da tarde, uma tarde de calor, mesmo de muito calor, eu ia a conduzir pelas ruas de Montemor-o-Novo. E lembrei-me de ir ao centro de saúde, em tempos hospital, marcar uma consulta. A ver o que dava. Entrei e só vi dois funcionários, cada um no seu cubículo. Uma senhora e um rapaz. A senhora disse-me para falar com o rapaz. Eu disse que era para marcar uma consulta e acrescentei o nome do médico de família (que não conhecia, por ter recentemente transferido o processo de Lisboa).
O rapaz lá teclou umas coisas no computador e depois disse-me que era três euros e meio. Perguntei por quê, se estava apenas a marcar a consulta. E ele esclareceu-me que aquele era o dia em que o meu médico de família estava na urgência e que eu podia ser atendido (assim como poderia ser por outro médico se o dia fosse outro). Tinha consulta para a urgência.
Eu precisava de ir com o meu filho a Évora daí a duas horas. À pediatra (consulta privada, já se vê). O rapaz disse que dava tempo, e ainda me informou que para consultas normais poderia fazer a marcação num sítio que ficava na outra ponta do centro de saúde. Depois mandou-me para a sala de espera.
Mesmo com o aviso do rapaz de que dava tempo, eu disse para comigo que se não fosse atendido na hora seguinte desistia, mesmo tendo pago os três euros e meio. Na sala de espera estava uma pessoa, que foi chamada quando eu ia a entrar. Levava uns papéis na mão, provavelmente para mostrar ao médico, pois saiu daí a uns cinco minutos. Fui chamado a seguir e conheci finalmente o meu médico de família. Disse-lhe ao que ia e ele não demorou muito a tranquilizar-me. Não era nada preocupante o que eu tinha; receitou-me um antibiótico e disse para tomar durante dez dias.
Eu não devia contar isto, porque se algum espertalhão armado em ministro da Saúde sabe ainda manda encerrar o centro de saúde de Montemor-o-Novo e para a próxima tenho de ir a Évora, ou quem sabe a Badajoz.
Um destes dias, a meio da tarde, uma tarde de calor, mesmo de muito calor, eu ia a conduzir pelas ruas de Montemor-o-Novo. E lembrei-me de ir ao centro de saúde, em tempos hospital, marcar uma consulta. A ver o que dava. Entrei e só vi dois funcionários, cada um no seu cubículo. Uma senhora e um rapaz. A senhora disse-me para falar com o rapaz. Eu disse que era para marcar uma consulta e acrescentei o nome do médico de família (que não conhecia, por ter recentemente transferido o processo de Lisboa).
O rapaz lá teclou umas coisas no computador e depois disse-me que era três euros e meio. Perguntei por quê, se estava apenas a marcar a consulta. E ele esclareceu-me que aquele era o dia em que o meu médico de família estava na urgência e que eu podia ser atendido (assim como poderia ser por outro médico se o dia fosse outro). Tinha consulta para a urgência.
Eu precisava de ir com o meu filho a Évora daí a duas horas. À pediatra (consulta privada, já se vê). O rapaz disse que dava tempo, e ainda me informou que para consultas normais poderia fazer a marcação num sítio que ficava na outra ponta do centro de saúde. Depois mandou-me para a sala de espera.
Mesmo com o aviso do rapaz de que dava tempo, eu disse para comigo que se não fosse atendido na hora seguinte desistia, mesmo tendo pago os três euros e meio. Na sala de espera estava uma pessoa, que foi chamada quando eu ia a entrar. Levava uns papéis na mão, provavelmente para mostrar ao médico, pois saiu daí a uns cinco minutos. Fui chamado a seguir e conheci finalmente o meu médico de família. Disse-lhe ao que ia e ele não demorou muito a tranquilizar-me. Não era nada preocupante o que eu tinha; receitou-me um antibiótico e disse para tomar durante dez dias.
Eu não devia contar isto, porque se algum espertalhão armado em ministro da Saúde sabe ainda manda encerrar o centro de saúde de Montemor-o-Novo e para a próxima tenho de ir a Évora, ou quem sabe a Badajoz.
domingo, 9 de julho de 2006
Acabou o mundial
E pronto, o campeonato mundial de futebol acabou. Ontem à noite, uns minutos depois do golo de Nuno Gomes naquele jogo de consolação (?) cuja existência não tem nenhum sentido. Scolari, mais uma vez, errou em muitas das opções que tomou, mas é dele todo o mérito do que se conseguiu. Só uma liderança como a dele conseguia chegar tão longe. Espero que se mantenha como seleccionador, mesmo havendo por cá muitos treinadores que percebem muito mais de futebol do que ele.
Duas referências, uma para um jogador, outra para um espectador.
O jogador, Pauleta, que anunciou o abandono da selecção. Não tenho feito comentários a escolhas ou a desempenhos, mas neste caso abro uma excepção. O abandono de Pauleta é uma boa notícia. Se ele não abandonasse, Scolari continuaria a convocá-lo e a metê-lo sempre a titular, e a selecção continuaria sem ataque. Pauleta de certeza que iria marcar mais golos aos luxemburgos do futebol e uma vez por outra a alguma holanda momentaneamente distraída; talvez, quem sabe, até duplicasse a marca de Eusébio. Mas abandonou.
O espectador, Cavaco, que há uns anos dizia aos seus «ajudantes» para não se meterem com as gentes do futebol. Foi a Estugarda mais a filha, à pala, e não se lembrou de estar calado para evitar aquelas referências à «energia positiva» que é preciso mobilizar para «reforço do nosso desenvolvimento e das nossas capacidades». Francisco José Viegas escreveu hoje no seu blog «A Origem das Espécies», a propósito disso, que «há gente que não devia ir ao futebol». Não concordo. Deve ir quem quer. Mas para se pôr com umas coisas assim, que compre bilhete (e passagem aérea) e vá para a bancada.
A Itália e a França ainda vão fazer um jogo. Recomendo a consulta do resultado nalgum livro que saia por alturas do próximo mundial.
Duas referências, uma para um jogador, outra para um espectador.
O jogador, Pauleta, que anunciou o abandono da selecção. Não tenho feito comentários a escolhas ou a desempenhos, mas neste caso abro uma excepção. O abandono de Pauleta é uma boa notícia. Se ele não abandonasse, Scolari continuaria a convocá-lo e a metê-lo sempre a titular, e a selecção continuaria sem ataque. Pauleta de certeza que iria marcar mais golos aos luxemburgos do futebol e uma vez por outra a alguma holanda momentaneamente distraída; talvez, quem sabe, até duplicasse a marca de Eusébio. Mas abandonou.
O espectador, Cavaco, que há uns anos dizia aos seus «ajudantes» para não se meterem com as gentes do futebol. Foi a Estugarda mais a filha, à pala, e não se lembrou de estar calado para evitar aquelas referências à «energia positiva» que é preciso mobilizar para «reforço do nosso desenvolvimento e das nossas capacidades». Francisco José Viegas escreveu hoje no seu blog «A Origem das Espécies», a propósito disso, que «há gente que não devia ir ao futebol». Não concordo. Deve ir quem quer. Mas para se pôr com umas coisas assim, que compre bilhete (e passagem aérea) e vá para a bancada.
A Itália e a França ainda vão fazer um jogo. Recomendo a consulta do resultado nalgum livro que saia por alturas do próximo mundial.
terça-feira, 4 de julho de 2006
Uma visita ao blog de Pacheco Pereira
Três notas de uma visita ao blog «Abrupto», de José Pacheco Pereira.
Primeira nota…
Li isto, do autor do blog, junto de reproduções de uma capa do Diário de Notícias» e de outra do «Público»: «Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de ‘destaque’ do ‘Público’ (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de ‘opinião’ do ‘Correio da Manhã’ (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem./ Entretanto, não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...), na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.»
Bom, eu estive fora, de férias (por isso não tenho escrito aqui, e se calhar nem se perde grande coisa). Lembro-me de que no dia da saída de Freitas do Amaral alguém me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido na política, e eu disse que sim, que sabia, que havia troca de ministros. Tinha ligado o rádio do carro e estavam uns tipos a discutir o assunto na Antena 1, e eu só queria era saber o resultado dos penalties da Alemanha com a Argentina, para ver qual das selecções ainda se poderia atravessar no caminho da nossa – e os tipos a insistirem com o caso do governo, e naquela zona não dava para apanhar mais nenhuma estação que pudesse dar notícias dos penalties. Nos jornais do dia seguinte, também não liguei à troca de ministros; claro que me interessei mais pelo que tinha a ver o jogo da selecção frente à Inglaterra. Assistir ao jogo foi para mim (como acredito que foi para a esmagadora maioria dos portugueses) uma experiência inesquecível. Eu pensava que ganharíamos com alguma dificuldade, sem prolongamento nem penalties. Mas não, teve de ser até à última mesmo. Foi uma tarde inesquecível, não mudou a minha vida, mas foi uma tarde inesquecível. E a troca de ministros? Poderá ela mudar a minha vida? E poderá mudar a vida da esmagadora maioria dos portugueses? Deixo-vos adivinhar.
Segunda nota…
Um «bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida», chamado Jorge Lopes, escreve o seguinte: «Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos hábitos de leitura e nas práticas culturais! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!» Pois, eu acho que sim, que era bom. Mas estou muito contente por pelo menos estarmos nas meias-finais do campeonato do mundo de futebol, e tenho esperança de que a coisa não fique por aqui. Quanto aos outros campeonatos, eles na verdade não existem, com excepção daquele dos dirigentes políticos (sem meter as elites ao barulho); para esse campeonato, nem da fase de qualificação conseguimos passar (ainda por cima, jogamo-la em grupos europeus, como no futebol). É deste campeonato que dependem as outras áreas, e para ele a selecção que podemos enviar é inevitavelmente constituída por gente que envergonha o país.
Terceira nota (por falar em gente que envergonha o país)…
Vi de relance um texto (assinado por Filipe Charters de Azevedo) sobre o ex-ministro Campos e Cunha, que no seu tempo de governante protagonizou uma das mais vergonhosas e chocantes situações da política portuguesa do pós-25 de Abril. Mesmo vendo de relance, deu para perceber o chorrilho de elogios. Fugi o mais depressa que pude.
Primeira nota…
Li isto, do autor do blog, junto de reproduções de uma capa do Diário de Notícias» e de outra do «Público»: «Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de ‘destaque’ do ‘Público’ (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de ‘opinião’ do ‘Correio da Manhã’ (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem./ Entretanto, não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...), na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.»
Bom, eu estive fora, de férias (por isso não tenho escrito aqui, e se calhar nem se perde grande coisa). Lembro-me de que no dia da saída de Freitas do Amaral alguém me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido na política, e eu disse que sim, que sabia, que havia troca de ministros. Tinha ligado o rádio do carro e estavam uns tipos a discutir o assunto na Antena 1, e eu só queria era saber o resultado dos penalties da Alemanha com a Argentina, para ver qual das selecções ainda se poderia atravessar no caminho da nossa – e os tipos a insistirem com o caso do governo, e naquela zona não dava para apanhar mais nenhuma estação que pudesse dar notícias dos penalties. Nos jornais do dia seguinte, também não liguei à troca de ministros; claro que me interessei mais pelo que tinha a ver o jogo da selecção frente à Inglaterra. Assistir ao jogo foi para mim (como acredito que foi para a esmagadora maioria dos portugueses) uma experiência inesquecível. Eu pensava que ganharíamos com alguma dificuldade, sem prolongamento nem penalties. Mas não, teve de ser até à última mesmo. Foi uma tarde inesquecível, não mudou a minha vida, mas foi uma tarde inesquecível. E a troca de ministros? Poderá ela mudar a minha vida? E poderá mudar a vida da esmagadora maioria dos portugueses? Deixo-vos adivinhar.
Segunda nota…
Um «bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida», chamado Jorge Lopes, escreve o seguinte: «Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos hábitos de leitura e nas práticas culturais! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!» Pois, eu acho que sim, que era bom. Mas estou muito contente por pelo menos estarmos nas meias-finais do campeonato do mundo de futebol, e tenho esperança de que a coisa não fique por aqui. Quanto aos outros campeonatos, eles na verdade não existem, com excepção daquele dos dirigentes políticos (sem meter as elites ao barulho); para esse campeonato, nem da fase de qualificação conseguimos passar (ainda por cima, jogamo-la em grupos europeus, como no futebol). É deste campeonato que dependem as outras áreas, e para ele a selecção que podemos enviar é inevitavelmente constituída por gente que envergonha o país.
Terceira nota (por falar em gente que envergonha o país)…
Vi de relance um texto (assinado por Filipe Charters de Azevedo) sobre o ex-ministro Campos e Cunha, que no seu tempo de governante protagonizou uma das mais vergonhosas e chocantes situações da política portuguesa do pós-25 de Abril. Mesmo vendo de relance, deu para perceber o chorrilho de elogios. Fugi o mais depressa que pude.
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