Três notas de uma visita ao blog «Abrupto», de José Pacheco Pereira.
Primeira nota…
Li isto, do autor do blog, junto de reproduções de uma capa do Diário de Notícias» e de outra do «Público»: «Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de ‘destaque’ do ‘Público’ (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de ‘opinião’ do ‘Correio da Manhã’ (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem./ Entretanto, não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...), na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.»
Bom, eu estive fora, de férias (por isso não tenho escrito aqui, e se calhar nem se perde grande coisa). Lembro-me de que no dia da saída de Freitas do Amaral alguém me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido na política, e eu disse que sim, que sabia, que havia troca de ministros. Tinha ligado o rádio do carro e estavam uns tipos a discutir o assunto na Antena 1, e eu só queria era saber o resultado dos penalties da Alemanha com a Argentina, para ver qual das selecções ainda se poderia atravessar no caminho da nossa – e os tipos a insistirem com o caso do governo, e naquela zona não dava para apanhar mais nenhuma estação que pudesse dar notícias dos penalties. Nos jornais do dia seguinte, também não liguei à troca de ministros; claro que me interessei mais pelo que tinha a ver o jogo da selecção frente à Inglaterra. Assistir ao jogo foi para mim (como acredito que foi para a esmagadora maioria dos portugueses) uma experiência inesquecível. Eu pensava que ganharíamos com alguma dificuldade, sem prolongamento nem penalties. Mas não, teve de ser até à última mesmo. Foi uma tarde inesquecível, não mudou a minha vida, mas foi uma tarde inesquecível. E a troca de ministros? Poderá ela mudar a minha vida? E poderá mudar a vida da esmagadora maioria dos portugueses? Deixo-vos adivinhar.
Segunda nota…
Um «bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida», chamado Jorge Lopes, escreve o seguinte: «Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos hábitos de leitura e nas práticas culturais! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!» Pois, eu acho que sim, que era bom. Mas estou muito contente por pelo menos estarmos nas meias-finais do campeonato do mundo de futebol, e tenho esperança de que a coisa não fique por aqui. Quanto aos outros campeonatos, eles na verdade não existem, com excepção daquele dos dirigentes políticos (sem meter as elites ao barulho); para esse campeonato, nem da fase de qualificação conseguimos passar (ainda por cima, jogamo-la em grupos europeus, como no futebol). É deste campeonato que dependem as outras áreas, e para ele a selecção que podemos enviar é inevitavelmente constituída por gente que envergonha o país.
Terceira nota (por falar em gente que envergonha o país)…
Vi de relance um texto (assinado por Filipe Charters de Azevedo) sobre o ex-ministro Campos e Cunha, que no seu tempo de governante protagonizou uma das mais vergonhosas e chocantes situações da política portuguesa do pós-25 de Abril. Mesmo vendo de relance, deu para perceber o chorrilho de elogios. Fugi o mais depressa que pude.
Primeira nota…
Li isto, do autor do blog, junto de reproduções de uma capa do Diário de Notícias» e de outra do «Público»: «Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de ‘destaque’ do ‘Público’ (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de ‘opinião’ do ‘Correio da Manhã’ (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem./ Entretanto, não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...), na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.»
Bom, eu estive fora, de férias (por isso não tenho escrito aqui, e se calhar nem se perde grande coisa). Lembro-me de que no dia da saída de Freitas do Amaral alguém me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido na política, e eu disse que sim, que sabia, que havia troca de ministros. Tinha ligado o rádio do carro e estavam uns tipos a discutir o assunto na Antena 1, e eu só queria era saber o resultado dos penalties da Alemanha com a Argentina, para ver qual das selecções ainda se poderia atravessar no caminho da nossa – e os tipos a insistirem com o caso do governo, e naquela zona não dava para apanhar mais nenhuma estação que pudesse dar notícias dos penalties. Nos jornais do dia seguinte, também não liguei à troca de ministros; claro que me interessei mais pelo que tinha a ver o jogo da selecção frente à Inglaterra. Assistir ao jogo foi para mim (como acredito que foi para a esmagadora maioria dos portugueses) uma experiência inesquecível. Eu pensava que ganharíamos com alguma dificuldade, sem prolongamento nem penalties. Mas não, teve de ser até à última mesmo. Foi uma tarde inesquecível, não mudou a minha vida, mas foi uma tarde inesquecível. E a troca de ministros? Poderá ela mudar a minha vida? E poderá mudar a vida da esmagadora maioria dos portugueses? Deixo-vos adivinhar.
Segunda nota…
Um «bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida», chamado Jorge Lopes, escreve o seguinte: «Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos hábitos de leitura e nas práticas culturais! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!» Pois, eu acho que sim, que era bom. Mas estou muito contente por pelo menos estarmos nas meias-finais do campeonato do mundo de futebol, e tenho esperança de que a coisa não fique por aqui. Quanto aos outros campeonatos, eles na verdade não existem, com excepção daquele dos dirigentes políticos (sem meter as elites ao barulho); para esse campeonato, nem da fase de qualificação conseguimos passar (ainda por cima, jogamo-la em grupos europeus, como no futebol). É deste campeonato que dependem as outras áreas, e para ele a selecção que podemos enviar é inevitavelmente constituída por gente que envergonha o país.
Terceira nota (por falar em gente que envergonha o país)…
Vi de relance um texto (assinado por Filipe Charters de Azevedo) sobre o ex-ministro Campos e Cunha, que no seu tempo de governante protagonizou uma das mais vergonhosas e chocantes situações da política portuguesa do pós-25 de Abril. Mesmo vendo de relance, deu para perceber o chorrilho de elogios. Fugi o mais depressa que pude.
2 comentários:
Excellent, love it!
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Best regards from NY! »
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