terça-feira, 4 de julho de 2006

Uma visita ao blog de Pacheco Pereira

Três notas de uma visita ao blog «Abrupto», de José Pacheco Pereira.
Primeira nota…
Li isto, do autor do blog, junto de reproduções de uma capa do Diário de Notícias» e de outra do «Público»: «Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de ‘destaque’ do ‘Público’ (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de ‘opinião’ do ‘Correio da Manhã’ (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem./ Entretanto, não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...), na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.»
Bom, eu estive fora, de férias (por isso não tenho escrito aqui, e se calhar nem se perde grande coisa). Lembro-me de que no dia da saída de Freitas do Amaral alguém me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido na política, e eu disse que sim, que sabia, que havia troca de ministros. Tinha ligado o rádio do carro e estavam uns tipos a discutir o assunto na Antena 1, e eu só queria era saber o resultado dos penalties da Alemanha com a Argentina, para ver qual das selecções ainda se poderia atravessar no caminho da nossa – e os tipos a insistirem com o caso do governo, e naquela zona não dava para apanhar mais nenhuma estação que pudesse dar notícias dos penalties. Nos jornais do dia seguinte, também não liguei à troca de ministros; claro que me interessei mais pelo que tinha a ver o jogo da selecção frente à Inglaterra. Assistir ao jogo foi para mim (como acredito que foi para a esmagadora maioria dos portugueses) uma experiência inesquecível. Eu pensava que ganharíamos com alguma dificuldade, sem prolongamento nem penalties. Mas não, teve de ser até à última mesmo. Foi uma tarde inesquecível, não mudou a minha vida, mas foi uma tarde inesquecível. E a troca de ministros? Poderá ela mudar a minha vida? E poderá mudar a vida da esmagadora maioria dos portugueses? Deixo-vos adivinhar.
Segunda nota…
Um «bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida», chamado Jorge Lopes, escreve o seguinte: «Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos hábitos de leitura e nas práticas culturais! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites! Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!» Pois, eu acho que sim, que era bom. Mas estou muito contente por pelo menos estarmos nas meias-finais do campeonato do mundo de futebol, e tenho esperança de que a coisa não fique por aqui. Quanto aos outros campeonatos, eles na verdade não existem, com excepção daquele dos dirigentes políticos (sem meter as elites ao barulho); para esse campeonato, nem da fase de qualificação conseguimos passar (ainda por cima, jogamo-la em grupos europeus, como no futebol). É deste campeonato que dependem as outras áreas, e para ele a selecção que podemos enviar é inevitavelmente constituída por gente que envergonha o país.
Terceira nota (por falar em gente que envergonha o país)…
Vi de relance um texto (assinado por Filipe Charters de Azevedo) sobre o ex-ministro Campos e Cunha, que no seu tempo de governante protagonizou uma das mais vergonhosas e chocantes situações da política portuguesa do pós-25 de Abril. Mesmo vendo de relance, deu para perceber o chorrilho de elogios. Fugi o mais depressa que pude.

2 comentários:

Anónimo disse...

Excellent, love it!
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Anónimo disse...

Best regards from NY! »