Desempenhei dois cargos políticos em representação do PSD,
por isso me choca tanto a situação actual. Com José Sócrates, em que mesmo no
tempo em que havia quem lhe chamasse «menino de ouro» dava para perceber que a
coisa não ia acabar bem, era diferente. Eu via os desmandos, criticava-os, mas
sabia que nunca ninguém me haveria de confrontar com o que ia acontecendo.
Agora não, por mais que critique a loucura que nos vai sendo preparada dia após
dia não me livro, de vez em quando, de ouvir coisas do género de o partido em
cujas listas já participei estar a dar cabo do país. Por mais que o outro tenha
dado, e muito, ainda ficou por cá alguma coisa para Pedro Passos Coelho mostrar
serviço. E como tem mostrado...
Claro que eu ainda fui a tempo de não votar em Pedro Passos
Coelho. A princípio, antes da sua chegada à liderança do PSD, ainda tinha
alguma expectativa, mas depois comecei a ouvir um ou outro disparate e fui
desconfiando. Quase em cima das eleições para o partido fui entrevistá-lo – uma
conversa muito simpática, devo assinalar –, mas eu saí de lá (dos escritórios
da empresa onde ele estava na altura) espantado, ou talvez deva dizer
assustado. Ainda comentei algumas das respostas com uma jornalista que me
acompanhou, mas ela limitou-se a perguntar do que é que eu estava à espera.
Não votei, como disse, mas estava longe de esperar esta
calamidade. De qualquer maneira, logo após as eleições comecei a perceber
aquilo com que poderíamos vir a confrontar-nos. A quebra da palavra chocou-me
verdadeiramente. Já estava habituado a isso com muitos políticos, mas com Pedro
Passos Coelho ultrapassou-se tudo o que era conhecido em Portugal. Diga ele o
que disser, depois do histórico como primeiro-ministro, sei que a sua palavra
não vale absolutamente nada.
Por isso não vejo agora grandes hipóteses a não ser um
governo de iniciativa presidencial – embora essa opção não esteja isenta de
problemas. É dramático constatar a situação a que chegámos e ter como
alternativa o partido que mais contribuiu para levar o país à bancarrota, e
pior, saber que um dos ministros – nem que fosse da pasta dos automóveis de
alta cilindrada – seria Carlos Zorrinho, o velho comprador da bomba de Pedro
Mota Soares e agora reincidente nas compras.
Independentemente do que venha a acontecer – governo de
iniciativa presidencial, eleições ou a continuidade da loucura actual –, o PSD
tem de começar a pensar em livrar-se mesmo de Pedro Passos Coelho. Nem é só a
questão de ganhar ou não eleições (e as dos Açores já mostraram muito), é antes
de tudo não permitir que o país seja arrastado para um poço já não digo sem
fundo mas com um fundo, passe o pleonasmo, muito mas mesmo muito fundo; e por
um governo que em grande parte o representa. Quanto a eleições, para o PSD, o
melhor será pensar a médio ou mesmo a longo prazo, porque as próximas é para
perder, e por muitos.
Acho que se numa eleição nacional o PSD, depois de tudo o
que um governo em grande parte seu tem feito ao país, tiver mais de dez por
cento dos votos, será caso para dizer que se caiu na loucura total. Mas se
calhar até se aproximará dos vinte e cinco ou trinta, e para isso eu nem
quererei pensar em explicações (sei que nunca as encontrarei). Falo em dez por
cento para não falar em menos, ou até para não falar inclusive em zero, porque
a sabedoria do Corvo, onde agora nas eleições açorianas ninguém votou neste
PSD, dificilmente chegará ao país.
Uma nota: no Corvo o PSD fez um acordo com o PPM tendo em vista a eleição de um deputado monárquico em vez de dois socialistas; não deixa no entanto de ser simbólica a imagem de zero votos.
2 comentários:
gostei muito de te ler, António.
é mesmo isso.
uma grande lição de uma pequena ilha, perdida no meio do Atlântico.
António:
Pelo que conheço de si, sei que a sua "sabedoria do Corvo" é sincera. E, apesar de deixar aqui a pergunta retórica - quem sou eu para perdoar? -, não vacilo na hora de dizer que, por mim, está perdoado.
Um abraço!
P.S. Para quando o próximo livro?
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