sexta-feira, 12 de junho de 2009

Uma cobra tenta hipnotizar um escritor

Acontece neste livro.
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Meio metro, era a distância que os separava. Meio metro, ou talvez um pouco mais, uns centímetros mais.
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Outros acontecimentos aqui.
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1 comentário:

Miguel Mendes disse...

Igual a todas as outras cobras que sepenteam o montado, esquivando-se de bufos e corujas-do-mato, esta cobra tinha o desejo de ser cobra maior, erguer-se a metade do corpo e, de capelo aberto, desviar a marcha de manadas inteiras.
O escritor parou de escrever quando sentiu no pés um corpo gelado. Curvou-se a olhar a relva por baixo do tampo da mesa. Ali estava, disposta em espiral, brilhante, fazendo lembrar os caracóis de pastelaria com passas e tudo.
A cobra pediu para ali ficar, argumentando que o sol da tarde a tornava amarela e áspera. Mais uma vaidosa, pensou, e continuou a escrever sobre ministros minúsculos perseguidos por lebres gigantes.
Quieta de frio, a cobra mirava o pátio aquecido e os bufos de asas abertas procurando caracóis de cobra com passas.

Um abraço