quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Quase todos os nomes

Li há dias uma entrevista de Isabel da Nóbrega (revista «Tabu», do «Sol»). Gostei muito da entrevista, e recomendo a sua leitura. Mas não é esta recomendação que agora me leva a escrever isto. Não, escrevo por causa de uma das respostas da escritora e cronista, que durante muitos anos foi companheira de José Saramago.
Há dois romances de Saramago que para mim são inesquecíveis: o «Levantado do Chão» e o «Memorial do Convento». Os outros, falha minha, certamente, nunca me prenderam por aí além, apesar das tentativas com vários deles. Nessas tentativas ganhei uma aversão especial a um, «O Ano da Morte de Ricardo Reis», tantas vezes falado, por tantas pessoas; inclusive creio que Saramago conheceu a actual mulher por causa desse romance, que a levou a viajar até Lisboa para lhe fazer uma entrevista. A história, lembro-me da leitura das primeiras páginas, chateava-me, mas na volta nem era bem a história, era o nome escolhido para uma personagem: Marcenda. Como tantas das personagens de Saramago, aquela tinha um nome que me parecia uma escolha pouco feliz.
Agora, na entrevista de Isabel da Nóbrega, lembrei-me do meu problema com os nomes de Saramago. Na resposta fica-se a saber como ela salvou o Nobel de mais um estampanço. Deixo aqui um excerto… «Quanto à Blimunda [protagonista de ‘Memorial do Convento’]: ele escreveu o livro, eu disse que não queria lê-lo senão no fim e, quando comecei a ler, o que vi? O nome [Baltasar]» Sete-Sóis e ela era Mariana Amália. E eu: ‘Mariana Amália?! Mas ele endoideceu! Não há direito de pôr Mariana Amália na figura desta mulher.’ Chamei-o: ‘Está lindo, está tudo certo menos uma coisa que tens de emendar – Mariana Amália. Tem paciência, quando foste à biblioteca e recolheste nomes de época, hás-de ter encontrado um que se possa ver’. Ele voltou para a secretária – isto para aí à uma da manhã –, e daí a um bocado apareceu e começou a dizer nomes. Ouvi ‘Blimunda’, pedi-lhe que voltasse atrás e, quando repetiu o nome: Ó Zé, parece impossível! Como é que tinhas este nome na tua lista e não viste que aquela mulher é exactamente Blimunda?’. Pegou no manuscrito, que era enorme, e foi emendar tudo, tirar Mariana Amália e pôr Blimunda.»
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