sábado, 21 de fevereiro de 2009

Foi há uns anos

Como cada vez ligo menos às notícias (a verdade é que já pouco passo das coisas da bola e dos livros), ainda nem percebi se aquilo que agora insinuam sobre José Sócrates e o apartamento tem a ver com alguma suposta fuga ao fisco ou se tem a ver com algum suposto suborno recebido em espécie. Mas esta nova confusão (com Sócrates é cada tiro cada melro) fez-me lembrar de uma asneira que fiz. Foi há uns anos. Comprei uma casa e a escritura foi feita pelo valor real, isto num tempo em que o próprio primeiro-ministro (o patético Guterres) dizia que em Portugal só os parvos é que pagavam impostos. Quando fui a uma repartição de finanças para pagar a sisa, o funcionário assim que se apercebeu do que eu ia lá fazer, agarrou na papelada e disse-me: «Então, vem pagar esta importanciazita?!» Nem olhei para ele, acabei de passar o cheque e a seguir comentei: «Zita, quer dizer…» Depois, fiz a asneira. Pedi uma folha de papel e ao fim de alguma insistência o homem lá me deu. Uma folha A4. Tinha acontecido havia pouco tempo a história de Murteira Nabo, ministro, ter burlado o próprio Estado que representava, ao comprar um apartamento, precisamente naquele imposto que eu estava a pagar. Eu não percebia como é que o tipo depois do que tinha feito saía de ministro para ir ganhar não sei quantas vezes mais na maior empresa pública portuguesa (a PT), pública ou pelo menos um bocadinho pública, pois nessa altura já tinha começado a ser vendida. Pensei nisso ao pagar o meu imposto, a «importanciazita», e então deixei uma carta para o ministro das finanças, o falecido Sousa Franco, que por esses tempos tinha aparecido num programa do Herman José com umas teorias para mim esquisitas sobre o pagamento de impostos. Deixei na carta aquilo que pensava do caso do ex-colega dele, premiado com a nomeação para a presidência da PT depois de conduta vergonhosa que tinha tido, e fiz o contraponto com o meu caso, ali a pagar a «importanciazita», mais um parvo, como dizia o primeiro-ministro. O funcionário confirmou a pessoa a quem era dirigida a carta e depois disse que ia «encaminhar». Não sei para onde a encaminhou. Sei apenas que nos três anos seguintes tive sempre as minhas contas com o fisco inspeccionadas. Ficou-me de emenda.
.

1 comentário:

Anónimo disse...

quem não deve não teme. Acho que fizeste bem. É que eu tenho feito o mesmo como cidadão responsável. Parvos (espertezas saloias) são todos quantos pensam que fugir ao fisco é o melhor caminho.