Ainda a propósito do jogo de quarta à noite, referência para uma asneira capaz de fazer figura ao lado dos remates daquele trambolho que actuou no centro do ataque de Portugal. Cheguei a casa com o jogo já a decorrer, depois de ouvir o hino nacional – verdadeiramente arrepiante, pela forma como foi cantado no estádio – mesmo no meio do montado, fora do carro, pois nessa altura estava a abrir o portão que impede a fuga do gado que anda aqui pelas redondezas. Devo ter perdido uns três ou quatro minutos do jogo. Mas antes da paragem que me permitiu ouvir o hino, no meio do escuro, no mesmo sítio onde um destes dias, pela manhã, ao sair para Lisboa, encontrei cinco javalis todos malucos a regressarem aos esconderijos depois de uma noitada mais prolongada, antes da paragem ouvi o que iam dizendo os comentadores. Um deles era um comentador político, Pedro Marques Lopes (na foto), que de repente decidiu meter a literatura nos palpites futebolísticos. Disse que a caminho do estúdio, por causa do jogo com a Albânia, se tinha lembrado de um romance de Mario Vargas Llosa, escrito há muitos anos, «A Tia Julia e o Escrevedor». Disse maravilhas sobre o livro, e com razão, e disse também que o queria oferecer ao Fernando Correia, que era quem conduzia a emissão. Pedro Marques Lopes tinha-se lembrado do romance porque, conforme assinalou, uma das personagens odiava albaneses. Nada mais errado. A personagem a que ele se referia, um escritor (ou «escrevedor») de radionovelas de Lima (Peru) chamado Pedro Camacho, odiava era argentinos (no fim do romance há uma surpresa em relação a esse ódio). Já numa adaptação para o cinema, num filme a anos-luz do livro, chamado «A Paixão de Júlia», a personagem (interpretada por Peter Falk, o famoso Columbo) não odeia argentinos, aí creio que já odeia albaneses (ou até talvez seja húngaros, não estou absolutamente certo, pois vi o filme há muito tempo, ainda andava na faculdade). Também mudaram o apelido da personagem, de Camacho para Carmichel, além de milhentas coisas mais.
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2 comentários:
Pá, eu gostei do filme, que vi no saudoso Quarteto.
António:
Este Pedro Marques Lopes é um tipo inconcebível. O Eixo do mal, com a entrada dele, tornou-se uma confusão. Júdice era, por vezes, controverso mas tinha uma ironia inteligente.
Um abraço.
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