«A Tia Julia e o Escrevedor», de Mario Vargas Llosa (Publicações Dom Quixote, 342 pp.)
A história de Varguitas
Um dos grandes romances de Mario Vargas Llosa, na volta talvez o mais fascinante. O jovem Varguitas em grandes confusões com uma tia e também com a literatura.
Pus ali acima a referência ao número de páginas, que fui espreitar a um site de venda de livros, da edição da Dom Quixote. A que li (tenho-a há quase vinte anos) é do Círculo de Leitores.
Bom, o que no livro se conta é a história de um rapaz – o próprio Vargas Llosa adolescente, o Varguitas – e da sua relação amorosa com uma tia por afinidade (que pouco antes se tinha divorciada de um tio do jovem). Estamos nos anos cinquenta do século passado, quando a televisão ainda não tinha chegado ao Peru. À rádio cabia por isso entreter, informar e divertir as famílias. Eram os tempos áureos das radionovelas.
Varguitas estudava Direito, embora sem grande interesse (aliás, Vargas Llosa viria a formar-se em Letras), e ganhava a vida a trabalhar na Rádio Pan-Americana. É ele quem conta… «Tinha um trabalho de título pomposo, salário modesto, apropriações ilícitas e horário elástico: director de informação (...) Consistia em recortar as notícias interessantes que apareciam nos jornais e maquilhá-las um pouco para que fossem lidas nos noticiários. A redacção, sob as minhas ordens, era um rapaz de cabelo empastado e amante de catástrofes chamado Pascual.»
A par do romance com Julia, o jovem Varguitas toma contacto com um sujeito fascinante, um tal Pedro Camacho. Trata-se de um autor e intérprete de folhetins radiofónicos, boliviano, contratado para encantar as gentes de Lima e fazer aumentar os níveis de audiência. As radionovelas de Pedro Camacho aparecem como capítulos do próprio livro, alternando com os da história que vai sendo contada na primeira pessoa pelo próprio Varguitas.
Duas notas... Este romance foi passado ao cinema de uma forma, na minha opinião, bastante infeliz. O filme, cujo título é «A Paixão de Júlia», não tem praticamente nada a ver com o que Vargas Llosa escreveu, inclusive ao nível dos espaços em que a acção decorre. O próprio Pedro Camacho, que no livro odeia argentinos, no filme odeia albaneses; e chama-se Pedro Carmichel. É interpretado por Peter Falk, o actor que fazia de Inspector Columbo. Esta é a primeira nota. A segunda… Muitas personagens da radionovelas de Pedro Camacho são no romance caracterizadas da seguinte forma (e isto em redacção livre, apenas da minha responsabilidade): «tinha chegado aos cinquenta e as suas características particulares, fronte larga, nariz aquilino, olhar penetrante, rectidão e bondade de espírito...» Não ficam dúvidas de que o boliviano era um fraco amante da variedade. Mas tinha piada, muita, muita piada.
Um romance para ler ou reler em qualquer altura.
Nota: a foto é de Mario Vargas Llosa, há muitos, mesmo muitos anos; o artista quando jovem Varguitas.
A história de Varguitas
Um dos grandes romances de Mario Vargas Llosa, na volta talvez o mais fascinante. O jovem Varguitas em grandes confusões com uma tia e também com a literatura.
Pus ali acima a referência ao número de páginas, que fui espreitar a um site de venda de livros, da edição da Dom Quixote. A que li (tenho-a há quase vinte anos) é do Círculo de Leitores.
Bom, o que no livro se conta é a história de um rapaz – o próprio Vargas Llosa adolescente, o Varguitas – e da sua relação amorosa com uma tia por afinidade (que pouco antes se tinha divorciada de um tio do jovem). Estamos nos anos cinquenta do século passado, quando a televisão ainda não tinha chegado ao Peru. À rádio cabia por isso entreter, informar e divertir as famílias. Eram os tempos áureos das radionovelas.
Varguitas estudava Direito, embora sem grande interesse (aliás, Vargas Llosa viria a formar-se em Letras), e ganhava a vida a trabalhar na Rádio Pan-Americana. É ele quem conta… «Tinha um trabalho de título pomposo, salário modesto, apropriações ilícitas e horário elástico: director de informação (...) Consistia em recortar as notícias interessantes que apareciam nos jornais e maquilhá-las um pouco para que fossem lidas nos noticiários. A redacção, sob as minhas ordens, era um rapaz de cabelo empastado e amante de catástrofes chamado Pascual.»
A par do romance com Julia, o jovem Varguitas toma contacto com um sujeito fascinante, um tal Pedro Camacho. Trata-se de um autor e intérprete de folhetins radiofónicos, boliviano, contratado para encantar as gentes de Lima e fazer aumentar os níveis de audiência. As radionovelas de Pedro Camacho aparecem como capítulos do próprio livro, alternando com os da história que vai sendo contada na primeira pessoa pelo próprio Varguitas.
Duas notas... Este romance foi passado ao cinema de uma forma, na minha opinião, bastante infeliz. O filme, cujo título é «A Paixão de Júlia», não tem praticamente nada a ver com o que Vargas Llosa escreveu, inclusive ao nível dos espaços em que a acção decorre. O próprio Pedro Camacho, que no livro odeia argentinos, no filme odeia albaneses; e chama-se Pedro Carmichel. É interpretado por Peter Falk, o actor que fazia de Inspector Columbo. Esta é a primeira nota. A segunda… Muitas personagens da radionovelas de Pedro Camacho são no romance caracterizadas da seguinte forma (e isto em redacção livre, apenas da minha responsabilidade): «tinha chegado aos cinquenta e as suas características particulares, fronte larga, nariz aquilino, olhar penetrante, rectidão e bondade de espírito...» Não ficam dúvidas de que o boliviano era um fraco amante da variedade. Mas tinha piada, muita, muita piada.
Um romance para ler ou reler em qualquer altura.
Nota: a foto é de Mario Vargas Llosa, há muitos, mesmo muitos anos; o artista quando jovem Varguitas.
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