Quarta crónica sobre blogs da série que fiz mensalmente entre finais de 2003 e meados de 2007. Esta é a crónica de Março de 2004. Início aqui.
A nossa responsabilidade social
A nossa responsabilidade social
(Março de 2004)
Dia 8 de Março, depois da polémica relacionada com a Mcdonald’s e com as crianças deficientes, o blog «Acanto» (http://acanto.weblog.com.pt/) apresenta a defesa da multinacional norte-americana. «Anda p'raí um conjunto de pessoas sedenta de que algo corra mal no Euro 2004 para bater no ceguinho... É impressionante vê-las na televisão a salivar ansiosas pela chegada de tão maravilhoso evento, que pela sua grandiosidade certamente lhes dará razão. Desta vez foi a McDonald’s que impede crianças deficientes de participar numa das suas actividades. Críticas e mais críticas da brigada dos críticos. Só que cometeram vários erros: 1. A crítica deixa de fazer sentido a partir do momento que se diz que as crianças terão ‘de passar mais de cinco horas no estádio em actividades físicas exigentes que implicam corridas, aprendizagem das coreografias, participação no ensaio, actividades lúdicas, etc. Não há nada pior do que desiludir uma criança, que chegada a hora de participação sente que não tem condições para concretizar as actividades deste dia, dia que se pretende que seja de sonho e não de desilusão!’ 2. A McDonalds é das poucas empresas em Portugal que se pode orgulhar de ter nos seus quadros pessoas com deficiência. Já agora, quantos deputados estão na Assembleia da República que possuem algum nível de deficiência? Ou nos jornais? Ou que são pivots de informação? 3. A McDonald’s é uma empresa à escala mundial. Como tal já está largamente habituada a este tipo de hipocrisias. Daí apoiar várias instituições e tendo a sua própria (Ronald McDonald). Pena que não haja mais empresas que tenham a mesma política para com os deficientes que a McDonald’s.»
Pelo que se viu durante a polémica, pouca gente estará disposta a concordar com o que aqui se escreveu (relembre-se a pressa com que Pedro Santana Lopes se distanciou da iniciativa – a que inicialmente aderiu a Câmara de Lisboa –, depois de perceber que a coisa podia chamuscá-lo, ou a recusa imediata da Câmara do Porto, inclusive associando aos propósitos da McDonald’s o adjectivo «nazista»). Já nos comentários, a coisa fica equilibrada; em três, um parece alinhar pela McDonald’s («A esquerda anti-globalização tudo faz para atingir os seus fins. Até contra-informação...»), outro é contra («Se a McDonalds fosse ‘amiga’ das crianças deficientes tinha agendado em paralelo um programa para estas crianças. Aí, sim, seria tratá-las igualmente. Não o fez, porque não quer saber delas para nada.»), e outro vai por uma terceira via, descomprometida, com os deputados ao barulho («Já agora, quantos deputados estão na Assembleia da República que possuem algum nível de deficiência? Esses números devem sempre ficar em segredo…»).
Outro blog, o «Santa Ignorância» (http://santaignorancia.blogspot.com)/, aborda o assunto na mesma perspectiva do anterior. Carla Soares escreve o seguinte: «Gostaria de saber o que acontecia se a McDonald's levasse as crianças deficientes às actividades do Euro 2004 em questão. Imagino que logo a acusariam de falta de senso, de irresponsabilidade em reconhecer as diferenças que as crianças menos capazes possuem que as impedem de participar de modo adequado nas actividades lúdico-desportivas. Qual é o medo de dar o nome à realidade e encará-la como ela é? Não me pareceu que neste caso se descriminasse as crianças pela deficiência, antes se procura dar as melhores condições aos participantes. Uma criança com dificuldades físicas e/ ou mentais teria dificuldades em participar, muito provavelmente ser-lhe-ia prejudicial, e traria problemas ao natural desenrolar do programa. A integração e aceitação das pessoas deficientes também passa por aceitar as suas limitações, e não querer que façam e participem em tudo o que uma pessoa saudável faz e participa. É aceitá-las como pessoas, não como coitadinhos.»
Casos como este, ou outros de outro âmbito, relacionados com empresas e demais tipos de organizações (por exemplo, o recente escândalo da Parmalat), colocam na ordem do dia uma questão que por vezes é esquecida em Portugal: a responsabilidade social das organizações (RSO). Interessantes contributos sobre o tema podem ser encontrados um pouco por todo o mundo da web, fazendo uma busca dessa expressão (ou da equivalente inglesa, Corporate Social Responsability – CSI). Veja-se, por exemplo, o que se diz no blog «Responsabilidade Social» (http://rso.blogs.sapo.pt/) a certa altura: «É um conceito segundo o qual empresas e instituições decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo, ou seja, a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das organizações, nas suas operações correntes e na sua interacção com todas as partes interessadas (accionistas, colaboradores, fornecedores, parceiros sociais, parceiros locais, administração pública e autoridades, subcontratados, filiais, etc).» O autor do blog, Luís Bento, o único português membro do Grupo de Paris em Responsabilidade Social, pergunta mesmo: «Porque será que não se abordam em Portugal, de forma integrada, estas dimensões [Ética, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentado]? Será que a Carta de Lisboa é mais conhecida internacionalmente do que em Portugal, onde foi aprovada e adoptada?» Sobre a Carta de Lisboa, um excerto de um texto do blog… «Em 1993, assolada por uma taxa de desemprego sem precedentes, a Europa, através do Conselho Europeu, adoptou o Livro Branco sobre a Competitividade e o Emprego, que constituiu um ponto de partida extremamente importante para a evolução da política estrutural da União Europeia a longo prazo, culminada com a adopção, em 2000, da chamada Carta de Lisboa e, em 2001, do Livro Verde para Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas.»
Blogs consultados
http://acanto.weblog.com.pt/, com textos assinados por «cparis»;
http://santaignorancia.blogspot.com/, mantido por Adeodato Pinto, Bruno Costa, Carla Soares, Nelson Antunes e Sérgio Alves;
Pelo que se viu durante a polémica, pouca gente estará disposta a concordar com o que aqui se escreveu (relembre-se a pressa com que Pedro Santana Lopes se distanciou da iniciativa – a que inicialmente aderiu a Câmara de Lisboa –, depois de perceber que a coisa podia chamuscá-lo, ou a recusa imediata da Câmara do Porto, inclusive associando aos propósitos da McDonald’s o adjectivo «nazista»). Já nos comentários, a coisa fica equilibrada; em três, um parece alinhar pela McDonald’s («A esquerda anti-globalização tudo faz para atingir os seus fins. Até contra-informação...»), outro é contra («Se a McDonalds fosse ‘amiga’ das crianças deficientes tinha agendado em paralelo um programa para estas crianças. Aí, sim, seria tratá-las igualmente. Não o fez, porque não quer saber delas para nada.»), e outro vai por uma terceira via, descomprometida, com os deputados ao barulho («Já agora, quantos deputados estão na Assembleia da República que possuem algum nível de deficiência? Esses números devem sempre ficar em segredo…»).
Outro blog, o «Santa Ignorância» (http://santaignorancia.blogspot.com)/, aborda o assunto na mesma perspectiva do anterior. Carla Soares escreve o seguinte: «Gostaria de saber o que acontecia se a McDonald's levasse as crianças deficientes às actividades do Euro 2004 em questão. Imagino que logo a acusariam de falta de senso, de irresponsabilidade em reconhecer as diferenças que as crianças menos capazes possuem que as impedem de participar de modo adequado nas actividades lúdico-desportivas. Qual é o medo de dar o nome à realidade e encará-la como ela é? Não me pareceu que neste caso se descriminasse as crianças pela deficiência, antes se procura dar as melhores condições aos participantes. Uma criança com dificuldades físicas e/ ou mentais teria dificuldades em participar, muito provavelmente ser-lhe-ia prejudicial, e traria problemas ao natural desenrolar do programa. A integração e aceitação das pessoas deficientes também passa por aceitar as suas limitações, e não querer que façam e participem em tudo o que uma pessoa saudável faz e participa. É aceitá-las como pessoas, não como coitadinhos.»
Casos como este, ou outros de outro âmbito, relacionados com empresas e demais tipos de organizações (por exemplo, o recente escândalo da Parmalat), colocam na ordem do dia uma questão que por vezes é esquecida em Portugal: a responsabilidade social das organizações (RSO). Interessantes contributos sobre o tema podem ser encontrados um pouco por todo o mundo da web, fazendo uma busca dessa expressão (ou da equivalente inglesa, Corporate Social Responsability – CSI). Veja-se, por exemplo, o que se diz no blog «Responsabilidade Social» (http://rso.blogs.sapo.pt/) a certa altura: «É um conceito segundo o qual empresas e instituições decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo, ou seja, a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das organizações, nas suas operações correntes e na sua interacção com todas as partes interessadas (accionistas, colaboradores, fornecedores, parceiros sociais, parceiros locais, administração pública e autoridades, subcontratados, filiais, etc).» O autor do blog, Luís Bento, o único português membro do Grupo de Paris em Responsabilidade Social, pergunta mesmo: «Porque será que não se abordam em Portugal, de forma integrada, estas dimensões [Ética, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentado]? Será que a Carta de Lisboa é mais conhecida internacionalmente do que em Portugal, onde foi aprovada e adoptada?» Sobre a Carta de Lisboa, um excerto de um texto do blog… «Em 1993, assolada por uma taxa de desemprego sem precedentes, a Europa, através do Conselho Europeu, adoptou o Livro Branco sobre a Competitividade e o Emprego, que constituiu um ponto de partida extremamente importante para a evolução da política estrutural da União Europeia a longo prazo, culminada com a adopção, em 2000, da chamada Carta de Lisboa e, em 2001, do Livro Verde para Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas.»
Blogs consultados
http://acanto.weblog.com.pt/, com textos assinados por «cparis»;
http://santaignorancia.blogspot.com/, mantido por Adeodato Pinto, Bruno Costa, Carla Soares, Nelson Antunes e Sérgio Alves;
http://rso.blogs.sapo.pt/, mantido por Luís Bento.
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