quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os Dias do Blog – 1

Durante algum tempo, tive uma crónica mensal sobre blogs numa revista. Começo agora a publicar aqui a série que fiz. Esta é a crónica de Dezembro de 2003.

Nem sempre a abrir
Sonhar, desejar e ambicionar no «país relativo», e para acabar ne varietur
(Dezembro de 2003)
E se uma cara bem conhecida, de repente, logo a abrir um telejornal, lhe oferecesse… um livro? Oferecesse, enfim, não seria bem o caso, antes sim, se a dita cara, bem conhecida, já se vê, a abrir, lhe falasse de um livro. Às oito da noite, ou até faltando um minuto para as oito, a ver se se antecipava à concorrência, por causa de expressões agora tão familiares como o estrangeiríssimo share ou os bem portugueses níveis de audiências.
De coisas assim fala Francisco José Viegas (
http://www.aviz.blogspot.com/, 4 de Novembro), não a lançar ideias, mas a comentar as de alguém, precisamente Nelson de Matos, que «sonha com um dia em que os telejornais abram com a notícia da publicação de um romance de autor português». Refere-se Francisco José Viegas a um desabafo do editor da Dom Quixote, atirado para a rede uns dias antes (http://textosdecontracapa.blogspot.com/, 3 de Novembro), acabando por acrescentar que «há coisas mais importantes», embora compreenda «o desejo do Nelson».
Com misturas de sonhos e desejos, há sempre o risco de às tantas surgir a confusão. Ora nem mais... A 6 de Novembro, lá apareceu um reparo de Nelson de Matos: «Eu não disse que ‘sonho com’; disse que ‘ambiciono que’. Parece a mesma coisa, mas não é. A segunda expressão tem uma determinação que não gostaria de pôr de lado. Ou seja, precisamos de insistir, precisamos de continuar a chamar a atenção para o logro que representam os actuais alinhamentos dos telejornais. Logro, mentira, oportunismo, manipulação – não sei bem que palavra usar.»
Sem notícia de que no «Aviz» tenha aparecido resposta, fica pelo menos uma reflexão de entre os comentários ao reparo de Nelson de Matos. JPN, um dos três internautas a deixar mensagem, fala de ser «subtil a diferença entre sonhar e ambicionar», contudo «preciosa». E defende que «devemos manter essa determinação, para que conste que não é em nosso nome que falam aqueles que dizem que constroem estes alinhamentos porque tantos por cento de tantos por cento de gente assim o exigem».
Coisas do «país relativo» de O’Neill, o mesmo país a que Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu dezasseis valores (de zero a vinte), o que levou Pedro Machado (
http://www.paisrelativo.blogspot.com/, 9 de Novembro) a escrever: «Uma avaliação dos últimos trinta anos. Julgada com dezasseis valores. Com esta média, Portugal pode apresentar-se directamente a doutoramento. Deixaremos de bastar-nos com pelintrices honoris causa. Finalmente, Portugal doutor! Obrigado, professor.» E Pedro Machado remete para uma notícia do «Público» (http://jornal.publico.pt/2003/11/07/Nacional/P31.html), onde a certa altura é revelado que o professor avisou que «o actual estado de espírito da sociedade portuguesa ficou de fora desta avaliação».
Mas voltemos às coisas dos alinhamentos. Já no dia 4 de Novembro, Francisco José Viegas referia que o «problema é que os telejornais são muitas vezes ‘alinhados’ (estou a falar do alinhamento editorial) por gente com a sensibilidade de um elefante e convenhamos que os romances portugueses não são lá muito apelativos». Viegas que, mesmo assim, revelava o seguinte: «Um dia destes, no entanto, fiquei espantado com o rodapé de um telejornal, onde se anunciavam os prémios Fémina e Medicis – para língua francesa. O texto do rodapé indicava títulos, autores, etc.. Uma boa notícia? Não. Uma péssima notícia; esses textos são geralmente de uma indigência ideológica devastadora e de uma gramática a rondar o absurdo. Mas um telejornal (já não sei em que canal era) que anuncia os quatro livros franceses premiados e ignora edições de livros ao pé da porta dá que pensar. Nada de ‘nacionalismos’ – um ‘bom romance’ seja em que língua for (inclusive a nossa) é sempre superior a um ‘romance português’, evidentemente. Simplesmente, ao dar a informação pormenorizada sobre os Fémina e Médicis, a televisão dizia: ‘Estão a ver como nos interessamos pela informação literária? Estão a ver?’ A gente já os conhece.»
Tão bem os conhecemos que não se pode dizer à confiança se a abrir apresentariam ou não o texto seguinte, da autoria de José Mário Silva (
http://www.blogdeesquerda/, 13 de Novembro), que classifica como «uma notícia importante». Título: «Ne Varietur». Miolo: «Em breve, o Blog de Esquerda vai ter os seus textos fixados por especialistas (pausa para exclamar ‘Oh!’). Desculpem a imodéstia, mas é mesmo assim. Como não somos menos que o autor de ‘A Ordem Natural das Coisas’, também queremos correcções e emendas ratificadas por um comité, também queremos rigor na exegese e também queremos dizer em voz alta, num latim sonoro, as palavras mágicas: ne varietur.» O que se pode dizer à confiança é que eu coloco o texto a fechar. E nem é por causa das coisas, perdão, da ordem natural das coisas, sejam lá elas quais forem.

Blogs consultados
http://www.aviz.blogspot.com/, mantido por Francisco José Viegas
http://textosdecontracapa.blogspot.com/, mantido por Nelson de Matos
http://www.paisrelativo.blogspot.com/, mantido por Filipe Nunes, Mariana Vieira da Silva, Mark Kirkby, Miguel Cabrita, Pedro Adão e Silva, Pedro Machado, Rui Branco e Sílvia Sousa
http://www.blogdeesquerda/, mantido por José Mário Silva e Manuel Deniz Silva
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3 comentários:

Anónimo disse...

Podes dizer o nome da revista que eu não me importo! Ou deixa, eu digo: Magazine Artes. Abraço.

Anónimo disse...

Fica feito o reparo então

Abraço

António

Anónimo disse...

Your blog keeps getting better and better! Your older articles are not as good as newer ones you have a lot more creativity and originality now keep it up!