O regresso de Nelson de Matos
É o regresso à actividade do mais carismático editor português, Nelson de Matos, que durante mais de duas décadas esteve à frente das Publicações Dom Quixote, de que foi proprietário. Com passagens ainda por outras casas de referência do meio editorial português, Nelson de Matos arranca agora com um projecto muito pessoal, as Edições Nelson de Matos, uma chancela que assenta no seu próprio nome, segundo diz para «dar um rosto e uma assinatura ao trabalho» que vai fazer. Os três títulos de lançamento da nova editora, previstos para finais de Fevereiro, revelam um editor atento e com enorme sentido de oportunidade; trata-se de um inédito de José Cardoso Pires, um trabalho sobre as relações entre a Igreja Católica e o Estado Novo e uma colectânea de textos sobre a infância, de personalidades bem conhecidas da vida portuguesa.
«infância – quando eles eram pequeninos», o primeiro título, são relatos de infâncias portuguesas do século XX, infâncias tocadas por acontecimentos como a guerra civil de Espanha, a segunda guerra mundial, a guerra fria, o aparecimento da televisão, a guerra colonial, a chegada do ser humano à Lua, o fim da ditadura em Portugal ou o advento das novas tecnologias. Os textos são de nomes tão diversos como António Mega Ferreira, António Vitorino d’Almeida, Armando Baptista Bastos, Carlos do Carmo, Carlos Vaz Marques, Inês de Medeiros, Jorge Silva Melo, Marcelo Rebelo de Sousa, Mário de Carvalho, Raul Solnado, Rui Reininho, Vicente Jorge Silva ou Zé Pedro. É um trabalho da jornalista Sarah Adamopoulos. António Barreto escreve o prefácio, um texto onde considera o resultado final do livro como «atraente e estranho».Segundo título, «A Oposição Católica ao Estado Novo – 1958/ 1974». O período que se seguiu à campanha para as eleições presidenciais de 1958, em que Humberto Delgado se candidatou pela oposição, com as relações entre o Estado Novo e os católicos portugueses a mudarem na aparência e no ser. Desde essa altura e até ao 25 de Abril de 1974 o Estado Novo enfrentou a contestação às suas instituições e às suas políticas por parte de alguns católicos portugueses. O autor, João Miguel Almeida, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, apresenta homens e mulheres que protagonizaram essa contestação. O prefácio é de Fernando Rosas.
Finalmente, o título que promete causar maior sensação no mercado editorial português… «Lavagante – encontro desabitado», um texto de José Cardoso Pires nunca publicado em livro e que teve aquela que terá sido a sua primeira versão, muito reduzida, em Dezembro de 1963, no número 11 da revista «O Tempo e o Modo», na altura com o título «Um Lavagante e Outros Exemplares»; a acompanhar essa versão, havia uma «nota de redacção» a avisar de que se tratava de «um capítulo do seu próximo romance, ainda provisoriamente sem título». Deste texto, segundo as Edições Nelson de Matos, existem outras versões, manuscritas, sem data, uma delas com o título «O Lavagante e a Mulher do Próximo». Existem também algumas versões dactilografadas, igualmente sem datas. Ainda segundo a nova editora, todas indiciam, pelas emendas, que são posteriores ao texto publicado em 1963, sendo também possível perceber que se trata de um texto anterior ao romance «O Delfim», publicado pela primeira vez em 1968, pela Moraes Editores. A fixação do texto que agora é publicado, e a revisão, esteve a cargo de Ana Cardoso Pires, uma das filhas do escritor.
Sarah Adamopoulos, «infância – quando eles eram pequeninos», 232 pp.
João Miguel Almeida, «A Oposição Católica ao Estado Novo», 340 pp.
José Cardoso Pires, «Lavagante – encontro desabitado», 92 pp.
Mais informações e capas dos três livros no site da editora.
1 comentário:
É um grande acontecimento, sem dúvida, de novo Nelson de Matos na edição. E logo com este inédito de Cardoso Pires...
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