Os dois pequenos textos que referi no post anterior, sobre dois livros. São incluídos na edição de Fevereiro da revista «Pessoal». O novo volume de poesia de Francisco José Viegas e um livro polémico de Christopher Hitchens.
A poesia de Francisco José Viegas
Um dos mais notáveis autores portugueses, tanto na ficção como na poesia. É o seu título mais recente, «Se me Comovesse o Amor», poesia trazida a público como habitualmente pela Quasi Edições. Na apresentação do livro, o crítico literário Pedro Mexia realçou uma característica do autor, a de fazer muitas coisas diferentes e ser capaz de fazê-las todas bem feitas. Sobre poesia não será muito de ir por aí, mal feita, bem feita; por isso, desta recolha de poemas, o melhor talvez seja confessar como se lê, ou melhor, a sensação que fica quando se lê: a sensação de que somos nós que estamos em muitos dos versos, como se Viegas nos confrontasse com a nossa própria vida, como se a sua poesia fosse um retrato nosso, dos nossos sonhos, dos nossos medos, a redacção quase fiel das nossas interrogações. «Envelheces tanto de cada vez que o dia termina/ e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,/ das tardes de domingo…»
Francisco José Viegas, «Se me Comovesse o Amor», Quasi Edições, 56 pp.
Para uma visão laica da vida
Um livro que redefine o debate sobre a religião na vida pública. O autor, o norte-americano Christopher Hitchens, considerado pelo «London Observer» como «um dos jornalistas mais brilhantes do nosso tempo», explica que a religião é «uma distorção das nossas origens, da nossa natureza e do cosmos», descrevendo a sua viagem intelectual para uma visão laica da vida. «Persistem quatro abjecções irredutíveis à fé religiosa: falseia completamente a origem do homem e do cosmos; devido a este erro original consegue combinar o máximo de subserviência com o máximo de solipsismo; é, simultaneamente, o resultado e uma causa de uma perigosa repressão sexual; e, em última análise, fundamenta-se em pensamento ilusório.»
Christopher Hitchens, «deus não é Grande», Publicações Dom Quixote, 358 pp.
2 comentários:
António:
Hesitei se deveria comentar este "post". Não é fácil, principalmente quando do outro lado está um escritor.
Mas, é isso mesmo. É essa sensação "de que somos nós que estamos em muitos dos versos", que para mim define uma obra conseguida. É a universalidade da obra poética, onde o autor despe todas as roupagens, deixando só o "tutano" da vida. O que fica, é mais comum a todos nós, do que pode parecer à primeira vista. É essa capacidade de nos transmitir emoções e de nos confrontar com nós próprios, que eu mais aprecio na poesia e, afinal, na literatura em geral. Tal como, aliás, nas artes plásticas.
Tive a sorte de me cair nas mãos, aos 17 anos, um livro de Fernando Pessoa. Que mais poderia desejar?
Eu não consigo fazer grandes análises. Posso apenas falar do que sinto ao ler um livro. Foi o que aconteceu neste, que recomendo, já se vê.
António
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