segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um incompreensível desejo de perder

O jogo do Sporting ontem em Setúbal (Setúbal 1, Sporting 0) teve uma coisa curiosa. Ou melhor, nem foi bem o jogo. Foi uma coisa que aconteceu comigo quando me preparava para ver o jogo... Às sete e um quarto, estava eu ainda a ver um noticiário noutro canal que não aquele em que ia dar o jogo, de repente dei pelas horas e mudei para a TVI; foi um choque, um verdadeiro choque, já estavam em directo de Setúbal e no ecrã a primeira coisa que vi foi um grande plano de um rosto assim nem muito conhecido, mas que eu acabei por identificar imediatamente: era o rosto de Purovic. Não sei por quê, mas senti que ele ia jogar, que não estavam a filmar um suplente que andasse a correr de um lado para ao outro. Não, pelos movimentos que fazia ele ia estar na equipa escolhida para o jogo. Depois do choque, tentei pensar no que poderia estar a acontecer, mas o máximo que consegui foi ficar extremamente confuso. Nos últimos jogos, depois da integração de Tiuí, Paulo Bento parecia ter posto Purovic de lado, quem sabe – pensava eu – por ter num qualquer momento de lucidez, digamos assim, plena percebido que Purovic representa a indigência futebolística na sua versão mais completa. Mas não, o homem afinal não tinha percebido nada disso e zás, toca a meter o infeliz jogador (?) no onze titular. E eu, para não estar com coisas, para não me pôr a perguntar mentalmente «mas o que é que é isto?», pouco depois levei com mais um choque, ao perceber que além de Purovic também Farnerud (ciclismo, badminton, canoagem…) estava escolhido para entrar de início. Se com a primeira imagem, a do rosto de Purovic, eu senti que poderíamos perder o jogo, então com a informação sobre a titularidade de Farnerud tive mesmo a certeza.
O que terá levado Paulo Bento a entrar assim de peito aberto, apenas com nove verdadeiros jogadores, contra o Vitória de Setúbal? Foi isso que me perguntei, lembrando-me do que em tempos escrevi sobre a questão do QI. Eu sempre tenho vindo a defender a continuidade de Paulo Bento, mas depois acontecem coisas como estas e dou comigo a pensar se deverá ser mesmo assim. Nota-se, desde há muito, que não é propriamente o mais inteligente dos treinadores do nosso futebol, mas por outro lado teve alturas em que mostrou uma grande capacidade de liderança e um tremendo espírito de conquista. Agora – enfim, já nem é de agora –, parece que tudo isso se perdeu. A ambição foi-se (embora isso me pareça que tem mais a ver com a birra de Filipe Soares Franco em colocar o clube – a sade? – apenas a lutar por segundos lugares) e as decisões completamente irracionais acontecem cada vez mais vezes. Eu pensei… Qual a razão para não colocar Tiuí ao lado de Liedson? Ou, se Tiuí estivesse cansado por causa do último jogo, na Suiça, colocar um qualquer dos avançados dos juniores? Ou pedir a outro jogador do plantel (dos que sabem jogar futebol, obviamente) que fizesse o sacrifício de alinhar a avançado? Ou então jogar com dez, uma opção que me parece que as leis do futebol não proíbem. Isto no caso de Purovic. Aliás, jogando com dez o golo anulado a Tonel teria contado, porque só foi anulado (mesmo assim mal) porque Purovic, alheio a tudo o resto, estava em fora-de-jogo (uma situação que creio também aconteceu em Manchester, sendo nessa altura Liedson o prejudicado). E quanto a Farnerud, a mesma coisa, embora o problema do sueco pareça ser mais a falta de aplicação.
Depois, no decorrer do jogo, quando se foi comprovando que a derrota era algo provável, de repente Paulo Bento parece que percebeu os problemas que tinha arranjado; lentamente, mas percebeu. Tirou Purovic para meter Tiuí (tarde de mais), tirou Pedro Silva (um desastre a defesa direito), fazendo recuar para aí o jovem Pereirinha, e tirou Farnerud (tardíssimo). Na parte final a equipa até deu mostras de começar a aproximar-se de algum acerto, mas acabou por cair completamente nos últimos minutos, aceitando uma derrota que tinha sido construída em grande parte pelas opções incompreensíveis do treinador. Como se durante a tomada de decisões em relação à equipa a apresentar a ideia principal tivesse sido perder.
Quanto ao golo, resultado de um enorme falhanço do guarda-redes em que o Sporting e Scolari apostam, não sei bem o que dizer. O guarda-redes é jovem e tem alguma qualidade, daí a aposta ser em certa medida compreensível. De qualquer maneira, não sei até que ponto a opção não deverá ser repensada, pelas falhas que Rui Patrício tem tido, intercaladas com bons desempenhos (exactamente o problema de Ricardo, que tanto salvava o Sporting como logo a seguir enterrava o Sporting). No final do jogo o guarda-redes apareceu a prestar declarações, dando a ideia de que o tinham mandado ir falar. Disse com um ar superior que assumia as responsabilidades, como se tivesse sido a coisa mais natural do mundo o que tinha acontecido. Fez-me lembrar alguns políticos e por isso não gostei. Teria preferido vê-lo a dizer que lamentava o erro, que já aconteceu com muitos guarda-redes, inclusive grandes guarda-redes. De qualquer maneira a situação é difícil, por tudo o que envolveria, por exemplo, colocar agora o jovem Rui Patrício a suplente. O pior é se falhas como esta se repetirem muitas vezes.

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