Não é mesmo nada fácil a tarefa de escolher os livros do ano de 2007. Falo da ficção. O ano foi mau, não me atrevo a dizer para a literatura mas para mim. Explico… Passei o ano a ver se encontrava alguma coisa de jeito para ler e a verdade é que não tive lá muita sorte. Não me lembro de um ano assim desde há muito tempo. Por isso é que é difícil meter-me em escolhas. Por ter de confessar esta desilusão com a generalidade do que por cá se publicou. Faço um esforço, tento recordar-me do que me interessou mês após mês e o panorama é assustador. Tirando umas poucas excepções, mesmo alguns romances que li com interesse acabam por ter problemas que me levam a não contar com eles, por exemplo traduções descuidadas ou revisões igualmente descuidadas; para não utilizar adjectivos piores.
Este fim-de-semana estava a ver listas do «Expresso», com não sei quantos críticos a apontarem títulos; descobri, meio assustado, que pouco daquilo que referiram poderei eu aqui referir. E descobri, desta vez espantado, que dois livros que considero fabulosos foram simplesmente ignorados, por todos. Noutros balanços que vi, a mesma coisa. São, para mim, os dois livros do ano. Enfim, o problema talvez seja meu. Refiro a seguir os livros, dois romances, um de um autor português e outro de um autor estrangeiro.
Primeiro o português… «O Expresso de Berlim», de António Andrade Albuquerque (editado pela ASA). Falo do livro aqui. O autor é o conhecido escritor de romances policiais assinados com o pseudónimo Dick Haskins. A acção decorre em plena Segunda Guerra Mundial, começando em Lisboa, em Agosto de 1943. Um jovem professor universitário, filho de um português e de uma alemã, vai viver uma aventura extraordinária, em Portugal, em Inglaterra, em França e principalmente na Alemanha nazi. A história é empolgante, consegue sempre agarrar o leitor, e a escrita é simplesmente notável. Ou seja, o romance junta duas coisas que cada vez mais vão faltando à literatura portuguesa, uma boa história e o domínio da língua – em muitos casos, por cá, há histórias interessantes que chegam na escrita ao cúmulo de aparecerem com erros de meia-noite e imagens que chegam lá perto ou até vão até mais tarde; e há histórias bem escritas que se não são impenetráveis acabam mais página menos página por dar cabo da paciência a muito boa gente.
Quanto ao autor estrangeiro… De longe, como no caso português, Santiago Gamboa e o romance «A Síndrome de Ulisses» (também da ASA). Não escrevi sobre esse romance (mas escrevi, por exemplo, sobre o anterior, o inesquecível «Os Impostores» - ver aqui). Santiago Gamboa é um escritor extraordinário, que integra um pequeno grupo de, digamos assim, heróis que tenho na literatura (Javier Cercas, Roberto Ampuero…), heróis dos quais posso comprar qualquer livro de olhos fechados porque tenho sempre uma inabalável confiança de que se trata de algo muito bom. Este «A Síndrome de Ulisses», que tem como pano de fundo a vida terrível de muitos dos imigrantes ilegais de Paris e volta a ter uma personagem principal que imaginamos ser o próprio Santiago Gamboa, confirma tal confiança. Com a vantagem de a tradução ter sido feita por um escritor muito bom, José Riço Direitinho, que infelizmente não publicou nenhum livro em 2007.
Este fim-de-semana estava a ver listas do «Expresso», com não sei quantos críticos a apontarem títulos; descobri, meio assustado, que pouco daquilo que referiram poderei eu aqui referir. E descobri, desta vez espantado, que dois livros que considero fabulosos foram simplesmente ignorados, por todos. Noutros balanços que vi, a mesma coisa. São, para mim, os dois livros do ano. Enfim, o problema talvez seja meu. Refiro a seguir os livros, dois romances, um de um autor português e outro de um autor estrangeiro.
Primeiro o português… «O Expresso de Berlim», de António Andrade Albuquerque (editado pela ASA). Falo do livro aqui. O autor é o conhecido escritor de romances policiais assinados com o pseudónimo Dick Haskins. A acção decorre em plena Segunda Guerra Mundial, começando em Lisboa, em Agosto de 1943. Um jovem professor universitário, filho de um português e de uma alemã, vai viver uma aventura extraordinária, em Portugal, em Inglaterra, em França e principalmente na Alemanha nazi. A história é empolgante, consegue sempre agarrar o leitor, e a escrita é simplesmente notável. Ou seja, o romance junta duas coisas que cada vez mais vão faltando à literatura portuguesa, uma boa história e o domínio da língua – em muitos casos, por cá, há histórias interessantes que chegam na escrita ao cúmulo de aparecerem com erros de meia-noite e imagens que chegam lá perto ou até vão até mais tarde; e há histórias bem escritas que se não são impenetráveis acabam mais página menos página por dar cabo da paciência a muito boa gente.
Quanto ao autor estrangeiro… De longe, como no caso português, Santiago Gamboa e o romance «A Síndrome de Ulisses» (também da ASA). Não escrevi sobre esse romance (mas escrevi, por exemplo, sobre o anterior, o inesquecível «Os Impostores» - ver aqui). Santiago Gamboa é um escritor extraordinário, que integra um pequeno grupo de, digamos assim, heróis que tenho na literatura (Javier Cercas, Roberto Ampuero…), heróis dos quais posso comprar qualquer livro de olhos fechados porque tenho sempre uma inabalável confiança de que se trata de algo muito bom. Este «A Síndrome de Ulisses», que tem como pano de fundo a vida terrível de muitos dos imigrantes ilegais de Paris e volta a ter uma personagem principal que imaginamos ser o próprio Santiago Gamboa, confirma tal confiança. Com a vantagem de a tradução ter sido feita por um escritor muito bom, José Riço Direitinho, que infelizmente não publicou nenhum livro em 2007.
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