Há alguns meses, o suplemento «Mil Folhas» do jornal «Público» convidou-me (e a mais uma série de pessoas) para escolher os cinco melhores livros do ano passado. Não interessa agora falar de todos os cinco livros que indiquei, apenas do primeiro, um admirável romance do escritor colombiano Santiago Gamboa, intitulado «Os Impostores» (ASA, 2005, 272 págs.).
Um novo romance de Santiago Gamboa é sempre um acontecimento. Isto porque quando se fala de Santiago Gamboa, fala-se não de mais um escritor de talento, mas provavelmente do mais genial escritor latino-americano da geração que acaba por suceder a nomes como Gabriel García Márquez ou Mario Vargas Llosa. «Os Impostores» confirmam claramente esta ideia, com uma história soberba, narrada com uma mestria e um humor que cada vez mais vão rareando no mundo das letras. E essa mestria, sobretudo essa mestria, está bem explícita nas homenagens que Santiago Gamboa presta a pessoas e obras que ajudaram a construir a história da literatura – veja-se, por exemplo, o início do romance que uma das personagens planeia escrever, decalcado de «Pedro Páramo», de Juan Rulfo – e também na maneira como conta as aventuras de cada um dos impostores, que o destino há-de juntar num barracão escuro de Pequim.
São três os impostores, um jornalista colombiano radicado em Paris (e como não imaginar o próprio Santiago Gamboa na pele desse jornalista) e dois professores universitários, um alemão e um peruano que é ao mesmo tempo um escritor, digamos assim, estranhíssimo (embora não seja difícil encontrar candidatos na vida real para lhe corresponderem). Estes três impostores viajam para Pequim, um de Paris, outro de Frankfurt e outro ainda de Austin, nos Estados Unidos; cada um leva o seu objectivo, desconhecendo que se tratam, afinal, do mesmo objectivo. A história é contada em parte pelo jornalista e em parte por alguém que acaba por revelar-se num acrescento final, surpreendente, leve, de uma enorme simplicidade, capaz de justificar como terá sido possível que estivessem olhos atentos a ver determinadas cenas; para que o leitor delas tivesse conhecimento. Um acrescento que surge já depois da conclusão das histórias dos três impostores, também essa surpreendente, tão surpreendente que se percebe, passado um pouco, que teria de ser mesmo assim, simples; ainda aqui a simplicidade, como um puzzle que depois de completo parece não encerrar nenhum mistério, mas que nos fica na memória, desejando que possa haver outro assim, bem depressa.
Santiago Gamboa tem mais dois títulos publicados em Portugal: «Perder É uma Questão de Método» e «A Vida Feliz do Jovem Esteban» (ambos da ASA). Falta cá o seu primeiro livro, «Páginas de Vuelta». De qualquer forma, para compensar, há mais qualquer coisa na colectânea «Contos Apátridas» (também da ASA), precisamente uma história intitulada «Tragédia do Homem que Amava nos Aeroportos», que bem se destaca entre outras assinadas por nomes como o espanhol José Manuel Fajardo ou o chileno Luis Sepúlveda. Como em «Os Impostores», imagina-se Santiago Gamboa na pele da personagem central de «A Vida Feliz do Jovem Esteban» (o narrador Esteban) e também na do jornalista que conta como amava nos aeroportos um pouco por todo o mundo, resignado. Sempre um espanto, cada história que este colombiano nascido em Bogotá nos oferece.
Um novo romance de Santiago Gamboa é sempre um acontecimento. Isto porque quando se fala de Santiago Gamboa, fala-se não de mais um escritor de talento, mas provavelmente do mais genial escritor latino-americano da geração que acaba por suceder a nomes como Gabriel García Márquez ou Mario Vargas Llosa. «Os Impostores» confirmam claramente esta ideia, com uma história soberba, narrada com uma mestria e um humor que cada vez mais vão rareando no mundo das letras. E essa mestria, sobretudo essa mestria, está bem explícita nas homenagens que Santiago Gamboa presta a pessoas e obras que ajudaram a construir a história da literatura – veja-se, por exemplo, o início do romance que uma das personagens planeia escrever, decalcado de «Pedro Páramo», de Juan Rulfo – e também na maneira como conta as aventuras de cada um dos impostores, que o destino há-de juntar num barracão escuro de Pequim.
São três os impostores, um jornalista colombiano radicado em Paris (e como não imaginar o próprio Santiago Gamboa na pele desse jornalista) e dois professores universitários, um alemão e um peruano que é ao mesmo tempo um escritor, digamos assim, estranhíssimo (embora não seja difícil encontrar candidatos na vida real para lhe corresponderem). Estes três impostores viajam para Pequim, um de Paris, outro de Frankfurt e outro ainda de Austin, nos Estados Unidos; cada um leva o seu objectivo, desconhecendo que se tratam, afinal, do mesmo objectivo. A história é contada em parte pelo jornalista e em parte por alguém que acaba por revelar-se num acrescento final, surpreendente, leve, de uma enorme simplicidade, capaz de justificar como terá sido possível que estivessem olhos atentos a ver determinadas cenas; para que o leitor delas tivesse conhecimento. Um acrescento que surge já depois da conclusão das histórias dos três impostores, também essa surpreendente, tão surpreendente que se percebe, passado um pouco, que teria de ser mesmo assim, simples; ainda aqui a simplicidade, como um puzzle que depois de completo parece não encerrar nenhum mistério, mas que nos fica na memória, desejando que possa haver outro assim, bem depressa.
Santiago Gamboa tem mais dois títulos publicados em Portugal: «Perder É uma Questão de Método» e «A Vida Feliz do Jovem Esteban» (ambos da ASA). Falta cá o seu primeiro livro, «Páginas de Vuelta». De qualquer forma, para compensar, há mais qualquer coisa na colectânea «Contos Apátridas» (também da ASA), precisamente uma história intitulada «Tragédia do Homem que Amava nos Aeroportos», que bem se destaca entre outras assinadas por nomes como o espanhol José Manuel Fajardo ou o chileno Luis Sepúlveda. Como em «Os Impostores», imagina-se Santiago Gamboa na pele da personagem central de «A Vida Feliz do Jovem Esteban» (o narrador Esteban) e também na do jornalista que conta como amava nos aeroportos um pouco por todo o mundo, resignado. Sempre um espanto, cada história que este colombiano nascido em Bogotá nos oferece.
5 comentários:
Conheci o Santiago durante o lançamento de "Perder é uma questão de método", na Casa da América Latina, numa sessão (mais uma apenas) com pouquíssima gente.
Não ia com o propósito de comprar o livro. Mas fiquei cativado pelo discurso e pela falta de pretensiosismo do Santiago. Quando saí, senti que conhecia um pouco do autor.
Li o romance vorazmente. Saboreando-o. Porque as duas coisas se completam. E as descrições gastronómicas fizeram-me mais fome que em todos os livros que lera anteriormente.
Depois reencontrei o Santiago na Casa Fernando Pessoa.
O que dizes não me espanta. Apenas confirma o que já sabia do Santiago.
mas custa muito, sabes.
Cool blog, interesting information... Keep it UP »
comecei ontem a ler, também eu fechado num contentor, de certa forma. :)
intiresno muito, obrigado
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