Eu podia muito bem ter ido ver o Sporting com um bilhete do Scolari. Aconteceu no dia dezoito de Maio do ano passado, na final da «Taça UEFA». José Peseiro ainda era o treinador, mas mesmo assim eu tinha esperanças de que o Sporting conseguisse ganhar. Conhecia de ginjeira a falta de jeito de Peseiro, não me cansava de apregoá-la desde o dia em que tinha ouvido o anúncio da sua contratação para o meu clube, mas mesmo assim acreditava. As coisas acabaram na desgraça que se sabe…
Eu não pensava em ir ver o jogo ao estádio, mas acabei por decidir-me quando à última hora surgiu uma oportunidade de comprar dois bilhetes. E então, com o dinheiro transferido de véspera, no dia dezoito de manhã eu tinha a promessa de os bilhetes estarem à minha espera dentro de um envelope. Era só ir buscá-los a um hotel do centro de Lisboa, no qual a UEFA se tinha instalado.
Lá fui. Entrei no hotel, com polícias de sobra na entrada e uns tipos à paisana com cara de poucos amigos no interior, e depois de algumas indagações na recepção do próprio hotel e numa outra toda especial montada pela UEFA lá cheguei a uma sala onde se podia levantar bilhetes. Aí, obrigado a falar inglês para anunciar ao que ia, não tive muita sorte. A senhora da UEFA, de dimensões consideráveis, muito a contragosto levantou os olhos da papelada que tinha numa secretária improvisada e disse, num inglês nitidamente vestefálico, que o nome que eu dava não correspondia a nenhuns bilhetes dos da lista dela. Quando tive a infeliz ideia de perguntar se por acaso a UEFA não tinha em Lisboa ninguém que atendesse as pessoas em português, ela então levantou mesmo os olhos bem alto e mudou de idioma; ainda pensei que poderia ir dizer alguma coisa na nossa língua, mas ela berrou-me um estridente «ciao» e voltou a enfiar os olhos na secretária.
Bom, como naquela sala também estava instalada a Federação Portuguesa de Futebol, resolvi pedir ajuda a uma das pessoas que a representavam, uma rapariga que me pareceu um pouco embaraçada com a situação a que tinha assistido. Tentando ser simpática, disse-me que ali se levantam bilhetes mas que não podia fazer nada, que era coisas que sé mesmo com a UEFA. Vendo que aquilo não atava nem desatava, e pensando que me podiam ter voado assim sem mais nem menos 120 euros nem eu sabia para onde, sentei-me numa cadeira que estava por perto, junto a uma mesa com uma pilha de envelopes, enquanto pensava no que fazer. Foi então que reparei no que estava escrito no envelope de cima: «Senhor Luís Filipe Scolari». De imediato me chegou a ideia de pegar no envelope do homem e em mais uns quantos e ir-me embora sem dizer nada. Mas depois pensei que se calhar iria arranjar um grande problema, não sei se à Federação Portuguesa de Futebol se à UEFA, quando o Scolari chegasse e descobrisse que não tinha bilhete.
Só que acabei por não pegar no envelope. E como não aparecia mais ninguém da UEFA e a mastodonta do «ciao» continuava lá nas papeladas dela, resolvi ir tentar a sorte noutras zonas do hotel. Pelo caminho, encontrei uma cara conhecida, conhecida não por ser de um amigo mas por ser de uma figura pública. Perguntou-me se sabia onde se levantava os bilhetes e eu disse-lhe que tinha comprado dois e que andava à procura deles. A cara conhecida (não, não era o Scolari) disse-me: «Não, eu venho é buscar convites!» Compreendi logo e indiquei-lhe como chegar até à pilha onde estava o envelope do Scolari, junto da rapariga da Federação Portuguesa de Futebol. E acrescentei: «Aí deve-se desenrascar!»
Meia-hora depois, já fora do hotel e com os bilhetes no bolso do casaco, depois de voltas e mais voltas pelo hotel até dar com eles na recepção (a do hotel, não a especial montada pela UEFA), enquanto caminhava para o carro, tocou o telemóvel. Mais um conhecido, mas desta vez uma amigo, não uma figura pública. Era para me contar que o contacto que eu lhe tinha arranjado numa editora já lhe tinha respondido a dizer que estavam interessados em ver os contos dele. Mas de repente mudou de assunto e perguntou-me: «Olha lá, não me digas que tens galinhas aí no monte?» Respondi-lhe que não estava em casa, que estava em Lisboa, que ia a passar junto à Estufa Fria a caminho do parque de estacionamento e que andavam uns pavões a fazer uma barulheira desgraçada mesmo à beira da vedação. E depois contei-lhe a história da UEFA e da mastodonta do «ciao». Mas ele disse-me que eu se calhar estava a exagerar.
Eu não pensava em ir ver o jogo ao estádio, mas acabei por decidir-me quando à última hora surgiu uma oportunidade de comprar dois bilhetes. E então, com o dinheiro transferido de véspera, no dia dezoito de manhã eu tinha a promessa de os bilhetes estarem à minha espera dentro de um envelope. Era só ir buscá-los a um hotel do centro de Lisboa, no qual a UEFA se tinha instalado.
Lá fui. Entrei no hotel, com polícias de sobra na entrada e uns tipos à paisana com cara de poucos amigos no interior, e depois de algumas indagações na recepção do próprio hotel e numa outra toda especial montada pela UEFA lá cheguei a uma sala onde se podia levantar bilhetes. Aí, obrigado a falar inglês para anunciar ao que ia, não tive muita sorte. A senhora da UEFA, de dimensões consideráveis, muito a contragosto levantou os olhos da papelada que tinha numa secretária improvisada e disse, num inglês nitidamente vestefálico, que o nome que eu dava não correspondia a nenhuns bilhetes dos da lista dela. Quando tive a infeliz ideia de perguntar se por acaso a UEFA não tinha em Lisboa ninguém que atendesse as pessoas em português, ela então levantou mesmo os olhos bem alto e mudou de idioma; ainda pensei que poderia ir dizer alguma coisa na nossa língua, mas ela berrou-me um estridente «ciao» e voltou a enfiar os olhos na secretária.
Bom, como naquela sala também estava instalada a Federação Portuguesa de Futebol, resolvi pedir ajuda a uma das pessoas que a representavam, uma rapariga que me pareceu um pouco embaraçada com a situação a que tinha assistido. Tentando ser simpática, disse-me que ali se levantam bilhetes mas que não podia fazer nada, que era coisas que sé mesmo com a UEFA. Vendo que aquilo não atava nem desatava, e pensando que me podiam ter voado assim sem mais nem menos 120 euros nem eu sabia para onde, sentei-me numa cadeira que estava por perto, junto a uma mesa com uma pilha de envelopes, enquanto pensava no que fazer. Foi então que reparei no que estava escrito no envelope de cima: «Senhor Luís Filipe Scolari». De imediato me chegou a ideia de pegar no envelope do homem e em mais uns quantos e ir-me embora sem dizer nada. Mas depois pensei que se calhar iria arranjar um grande problema, não sei se à Federação Portuguesa de Futebol se à UEFA, quando o Scolari chegasse e descobrisse que não tinha bilhete.
Só que acabei por não pegar no envelope. E como não aparecia mais ninguém da UEFA e a mastodonta do «ciao» continuava lá nas papeladas dela, resolvi ir tentar a sorte noutras zonas do hotel. Pelo caminho, encontrei uma cara conhecida, conhecida não por ser de um amigo mas por ser de uma figura pública. Perguntou-me se sabia onde se levantava os bilhetes e eu disse-lhe que tinha comprado dois e que andava à procura deles. A cara conhecida (não, não era o Scolari) disse-me: «Não, eu venho é buscar convites!» Compreendi logo e indiquei-lhe como chegar até à pilha onde estava o envelope do Scolari, junto da rapariga da Federação Portuguesa de Futebol. E acrescentei: «Aí deve-se desenrascar!»
Meia-hora depois, já fora do hotel e com os bilhetes no bolso do casaco, depois de voltas e mais voltas pelo hotel até dar com eles na recepção (a do hotel, não a especial montada pela UEFA), enquanto caminhava para o carro, tocou o telemóvel. Mais um conhecido, mas desta vez uma amigo, não uma figura pública. Era para me contar que o contacto que eu lhe tinha arranjado numa editora já lhe tinha respondido a dizer que estavam interessados em ver os contos dele. Mas de repente mudou de assunto e perguntou-me: «Olha lá, não me digas que tens galinhas aí no monte?» Respondi-lhe que não estava em casa, que estava em Lisboa, que ia a passar junto à Estufa Fria a caminho do parque de estacionamento e que andavam uns pavões a fazer uma barulheira desgraçada mesmo à beira da vedação. E depois contei-lhe a história da UEFA e da mastodonta do «ciao». Mas ele disse-me que eu se calhar estava a exagerar.