quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Pepe

É mesmo ao Pepe, o futebolista, que me refiro. Não, por exemplo, ao «Pepe Saramago», como ontem ouvi o notável Francisco Umbral chamar ao nosso Nobel, numa entrevista que Carlos Vaz Marques em tempos lhe fez e que a TSF recordou depois de se saber da sua morte. Pepe, o futebolista, parece que vai mesmo para a nossa selecção. Tem valor para isso, embora não seja (nem por sombras) nenhum Ricardo Carvalho; mas eu não acho bem. Creio que só mesmo em casos excepcionais, como aconteceu com o Deco, ou como poderia acontecer se o Ricardo Carvalho fosse, sei lá, sul coreano, ou das Ilhas Salomão. Deco, aliás, é um caso estranho; nem deveria ter tido a hipótese de integrar a selecção portuguesa, porque eu ainda hoje não compreendo como é que os responsáveis pela selecção brasileira não perceberam que estavam a perder um jogador genial (dos responsáveis do Benfica nem vale a pena falar). Agora o Pepe na selecção portuguesa… Nem pensar.
Aliás, o Pepe, como central, e ainda por cima agora a jogar no Real Madrid, poderia alimentar esperanças de um dia ser chamado à selecção brasileira. Se jogadores como o disparatado Polga e o incompreensível Luisão conseguiram, decerto que o Pepe mais cedo ou mais tarde também poderia conseguir; pela sua qualidade, coisa que nos outros dois só a muito custo se consegue não digo ver, mas imaginar.
Depois de Deco, a excepção que eu admitiria para a selecção portuguesa seria Liedson. Com a história da falta de avançados (discutível), poderia ser uma hipótese a considerar. Agora o Pepe…

7 comentários:

Raul Henriques disse...

As considerações parecem centrar-se mais na competência futebolistica do que noutras. Prefiro centrar-me nestas, deixando aquelas para o seleccionador (certamente mais competente do que eu, o que não me impede de ter e manifestar opinião).
Ora o que acontece é que Pepe veio para Portugal com 17 anos, já como profissional de futebol. A sua aprendizagem humana, como homem adulto, foi praticamente toda feita em Portugal (como, aliás Deco, este tendo vindo com 18). E basta atentar no seu discurso para se perceber que Pepe adoptou Portugal como seu país. Ouvindo-o falar percebe-se bem isso, não só nas ideias como no próprio sotaque: no Brasil, se ele lá falar assim, dirão que é um português. Ao contrário de Liedson, este bem brasileiro, e que (ele próprio o diz) não se vê como português, Pepe é tão português como o AMV, como eu, como o Obikwelu (que afirma a sua escolha de nacionalidade portuguesa de uma forma por vezes comovente).
Acho que num mundo ideal, aquele que eu desejaria, as pessoas deveriam poder escolher a nacionalidade consoante o sítio em que, por isto ou por aquilo, se sentem melhor.

Anónimo disse...

Raul, totalmente de acordo. O mundo seria bem melhor se as pessoas pudessem escolher já não digo a nacionalidade que quisessem, mas pelo menos o país em que quisessem viver, com direitos iguais aos cidadãos desse país. Neste aspecto, Pepe, Deco e outros são até privilegiados. Quantos brasileiros, e de outros países, não gostariam de viver em Portugal, com plenos direiros? E portugueses,por exemplo nos Estados Unidos? E africanos na Europa? Mudança de nacionalidade, ou adquirir dupla nacioalidade, isso deveria ter apenas a ver com os sentimentos de cada pessoa.
Ir à selecção é uma coisa que me parece completamente diferente. E o Bruno Alves, o Tonel e outros como eles? Haverá assim tanta falta de centrais por cá? Ou seja, eu só gostaria de ver a selecção com portugueses de nascimento e um ou outro caso absolutamente excepcional, como Deco (um jogador fabuloso), ou eventualmente como Liedson (que é igualmente um jogador fabuloso e está cá a jogar há alguns anos e creio que já disse que gostaria de jogar na selecção portuguesa). Quanto ao Pepe, que está longe do nível destes dois, apesar de ser um jogador bastante bom, não me parece ser caso para quebrar a regra.
Isto, claro, é apenas uma opinião. Creio que a partir dos próximos dias terei de apoiar o Pepe como apoio o Ronaldo, o Deco, o Ricardo Carvalho ou, se o senhor Scolari não fizer das dele, o Nani.

Raul Henriques disse...

"eu só gostaria de ver a selecção com portugueses de nascimento e um ou outro caso absolutamente excepcional"
Parece-me que esta sua afirmação contraria o desejo de igualdade entre cidadãos que antes expressa.
Por mim, desejo ver os melhores portugueses na selecção independentemente do lugar onde nasceram.

amvenda@sapo.pt disse...

Raul, talvez contrarie, talvez não; depende da perspectiva. Eu por mim defendo a atribuição da nacionalidade a quem verdadeiramente queira ser português (a Pepe obviamente que sim) e acabaria com muitas da barreiras que existem à entrada de pessoas cá (inclusive, já defendi que a União Europeia devia alargar-se aos países do Magreb, isto numa ideia que me surgiu a partir de trabalhos em que participei a nível profissional com associações de recursos humanos do espaço do Mediterrânio). Quanto a irem depois a uma selecção, de qualquer modalidade, gostava que fossem apenas chamados casos escepcionais, e Pepe não me parece um caso desses (Deco, Obikwelu e outros de tão alto nível não podem estar a ser comparados com um jogador como Pepe).

CLeone disse...

já agra a questão deveria ser o que está a acontecer aos centrais que formamos. Issoé que justifica a adopção de estrangeiras, como tb no caso do Deco. A formação da FPF é só apra clubes estrangeiros? Mas o mal comça em clubes ocmo o SCP em que jogadores como MOutinho e Veloso jogam deslocados das suas posições para dar lugar a outros inferiores e depois vê-se o maior clube d eofrmação em Portugal com quase ninguém na selecção...
Ah, bom saber por onde anda o RH...

Raul Henriques disse...

Ainda sobre a questão dos seleccionados nascidos no país, penso que colhe o argumento de Scolari: Nani e Bosingwa, entre outros seleccionáveis não nasceram em Portugal. Daí que eu insista em que só deve haver dois critérios:
1- se tem nacionalidade portuguesa;
2- se tem qualidade futebolística.
O problema (se é que existe) só é colocável ao nível das exigências que se colocam para aquisição da nacionalidade; o que extravasa (precede) a competência de quem selecciona os jogadores.
Interessante, por outro lado, a questão levantada por Leone sobre a preterição de jogadores como Moutinho e Veloso, em favor de jogadores piores que eles; é um caso sobre o qual os responsáveis se deviam (pre)ocupar. E que, de certo modo, dá razão à convocação de Pepe: vindo jogar para Portugal com 17 anos, completou cá a sua formação.
Ainda para Leone: se ando por aqui a "culpa" é sua, que referiu este blogue no KL (várias vezes).

Anónimo disse...

Os casos do Moutinho e do Miguel Veloso são interessantes. Não me parece que o Scolari tenha sido até agora muito justo com os dois. Mas, mais uma vez isto é algo discutível. Por exemplo, eu já teria apostado no Miguel Veloso para a selecção há uns tempos. E o Raul Meireles, há uns dias, quando vi o nome dele na equipa inicial na Arménia até me assustei; mas depois foi ele que nos marcou o golo nas Antas (deve ter sido castigo) no livre que o espertalhão do Pedro Proença arranjou.