Brites e as Gaivotas
Uma história da Padeira de Aljubarrota
»»» Cap. IX
Os piratas árabes, ao chegarem a Ceuta, encontraram logo um parvo para ficar com Brites. Não era mercador, mas também não importava. Era um rico senhor que logo viu em tão entroncada escrava uma boa serviçal para o seu palácio.
- Chamo-me Brites de Almeida!
O senhor não percebeu nada, mas mesmo assim levou-a de bom grado para servir no palácio. E nessa mesma noite disse adeus ao mundo, enquanto dormia, sem ter tempo de abrir os olhos para ver o rosto de Brites enquanto ela lhe apertava o pescoço.
- Pelos vistos era um senhor descuidado, este mouro rico.
- Novo rico?!
- Não, mouro rico! Cada vez ouves pior o meu grasnar.
As gaivotas não queriam perder nada.
- O melhor é irmos embora daqui, senão ainda somos detidas como suspeitas.
- O quê?! Duas gaivotas suspeitas de um crime assim?!
- Pois, além disso a danada da Brites já vai a caminho do porto. Ainda a perdemos de vista.
- Quer dizer que regressamos a Portugal.
- Sim, se a Brites para lá voltar.
- Se calhar estamos a ser demasiado curiosas?
- Não, nem a curiosidade tem mal algum. O mesmo já não se poderá dizer de uma idade curiosa.
- Deves ler muitas enciclopédias, para teres tão altos pensamentos e fazeres um trocadilho desses.
- Talvez o melhor fosse ires para o trocadalho!...
- ...
- E a puta da Brites?! Com este grasnar todo já a perdemos!
- Não, vai ali mesmo abaixo, a correr que nem uma desalmada.
»»» Cap. X
No porto, mesmo de noite, Brites desenrascou-se. Aliás, de noite é que lhe convinha negociar. Arranjou um barqueiro e, a troco de alguns pertences que roubara ao assassinado senhor, convenceu-o a levá-la ao seu destino.
- Portugal!
O barqueiro percebeu-a bem, e ainda a percebeu melhor quando a viu levantar a saia bem acima do joelho.
- Este barqueiro, para ele serve-lhe tudo.
- Ora, gostos não se discutem.
Só que o barqueiro nem teve tempo de contar os pertences que Brites lhe entregara. Nem tão pouco de se assenhorar dos esconderijos da roupa com que ela se insinuava. Com um golpe, dos muitos que sempre tinha de reserva, a antiga feirante fê-lo dar uma volta por cima da pequena vela. E depois ficou a vê-lo afundar-se nas águas iluminadas pelo luar.
- Não achas que todos os barqueiros deviam de saber nadar?
- Eu acho! Já viste se nós, gaivotas, não soubéssemos utilizar as asas?!
Uma história da Padeira de Aljubarrota
»»» Cap. IX
Os piratas árabes, ao chegarem a Ceuta, encontraram logo um parvo para ficar com Brites. Não era mercador, mas também não importava. Era um rico senhor que logo viu em tão entroncada escrava uma boa serviçal para o seu palácio.
- Chamo-me Brites de Almeida!
O senhor não percebeu nada, mas mesmo assim levou-a de bom grado para servir no palácio. E nessa mesma noite disse adeus ao mundo, enquanto dormia, sem ter tempo de abrir os olhos para ver o rosto de Brites enquanto ela lhe apertava o pescoço.
- Pelos vistos era um senhor descuidado, este mouro rico.
- Novo rico?!
- Não, mouro rico! Cada vez ouves pior o meu grasnar.
As gaivotas não queriam perder nada.
- O melhor é irmos embora daqui, senão ainda somos detidas como suspeitas.
- O quê?! Duas gaivotas suspeitas de um crime assim?!
- Pois, além disso a danada da Brites já vai a caminho do porto. Ainda a perdemos de vista.
- Quer dizer que regressamos a Portugal.
- Sim, se a Brites para lá voltar.
- Se calhar estamos a ser demasiado curiosas?
- Não, nem a curiosidade tem mal algum. O mesmo já não se poderá dizer de uma idade curiosa.
- Deves ler muitas enciclopédias, para teres tão altos pensamentos e fazeres um trocadilho desses.
- Talvez o melhor fosse ires para o trocadalho!...
- ...
- E a puta da Brites?! Com este grasnar todo já a perdemos!
- Não, vai ali mesmo abaixo, a correr que nem uma desalmada.
»»» Cap. X
No porto, mesmo de noite, Brites desenrascou-se. Aliás, de noite é que lhe convinha negociar. Arranjou um barqueiro e, a troco de alguns pertences que roubara ao assassinado senhor, convenceu-o a levá-la ao seu destino.
- Portugal!
O barqueiro percebeu-a bem, e ainda a percebeu melhor quando a viu levantar a saia bem acima do joelho.
- Este barqueiro, para ele serve-lhe tudo.
- Ora, gostos não se discutem.
Só que o barqueiro nem teve tempo de contar os pertences que Brites lhe entregara. Nem tão pouco de se assenhorar dos esconderijos da roupa com que ela se insinuava. Com um golpe, dos muitos que sempre tinha de reserva, a antiga feirante fê-lo dar uma volta por cima da pequena vela. E depois ficou a vê-lo afundar-se nas águas iluminadas pelo luar.
- Não achas que todos os barqueiros deviam de saber nadar?
- Eu acho! Já viste se nós, gaivotas, não soubéssemos utilizar as asas?!
1 comentário:
Com que então gaivotas?!?
(Safei-me em Vale do Lobo, no ténis dos veteranos. Não havia gaivotas)
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