domingo, 14 de janeiro de 2007

Pergunta

A que é que se pode comparar a atribuição de um doutoramento em Literatura (ainda que honoris causa) a Cavaco Silva?

(responder, por favor, no espaço de «comentários»)

12 comentários:

Anónimo disse...

Cavaco Silva: Doutor em Literatura??? Primeiro, não queria acreditar. Depois, não faço a mínima ideia a que se pode dever esse «feito». O que fez Cavaco na área da literatura? O que sabe ele?
Assim, à primeira vista, só me ocorre que era ele o Chefe do Governo de Sousa Lara, o triste Secretário de Estado que censurou o «Evangelho» de Saramago.
Respondendo à pergunta: Seria o mesmo que dar um Doutoramento em Finanças a António Lobo Antunes... Um absoluto disparate.
Estes indianos estão loucos!
NC

Anónimo disse...

Sabe-se como são estas coisas das visitas de Estado. É preciso obsequiar as visitas. E lembraram-se de um doutoramento honoris causa em Literatura.

Também Mário Soares já dispunha de um doutoramento honoris causa em Literatura.
Portanto, é uma coisa que fica sempre bem a um presidente.

Nunca votei em Cavaco Silva. Nunca votei em Mário Soares.
Estou perfeitamente consciente dos defeitos de um e de outro, enquanto políticos e homens.

O doutoramento honoris causa em Literatura é mais merecido no caso de Mário Soares, que é um homem que ama os livros. Isso é indiscutível. Mas ainda assim dispunha de uma biblioteca reduzida para a dimensão da sua Fundação, quando lá fui assistir a um belíssimo ciclo de cinema russo, há ano e meio, a celebrar a vitória contra os alemães na II Guerra Mundial.

Essencialmente, eram volumes de ciência política. Sem desprezar esta área, um doutoramento honoris causa em Literatura deverá assentar melhor a quem disponha de outro tipo de livros na sua Fundação. E creio bem que o doutoramento honoris causa de Soares é anterior à existência da Fundação.

Muito menos me chocaria um doutoramento honoris causa a Manuel Alegre. Poderia muito bem ser uma dádiva política, mas Manuel Alegre é bom poeta e fabuloso declamador. É um homem que está "por dentro" dos livros.

Convém não banalizar os doutoramentos honoris causa. Um Lobo Antunes, um Saramago, têm dimensão literária mundial para justificar doutoramentos honoris causa. E não estou a discutir méritos literários de um e de outro. Por acaso até sou mais Pro-Nobel para Lobo Antunes.

Quanto a Cavaco Silva, o doutoramento é tanto mais injustificado quanto se sabe que no seu "reinado" de dez anos no Poder um dos capítulos que ficou mais para trás foi a Educação. Investiu-se em infra-estruturas (aproveitando o bodo aos pobres da Europa), conviveu-se com a corrupção, estimulou-se o mito do "somos tão bons ou melhores que os outros", fomentou-se o individualismo e o consumismo, esqueceu-se a solidariedade.

Deu no que deu. Perdeu-se a Batalha da Educação.

Cavaco é um tecnocrata. É capaz de achar mais interessante um orçamento de Estado do que o D.Quixote de Cervantes.

Mas certamente apreciará um doutoramento honoris causa em Literatura. Por motivos de vaidade. Um questionário de 50 perguntas sobre Literatura a Cavaco Silva seria arrasador quanto à sua ignorância na matéria.

Algumas questões a que ele não saberia responder, na base da minha fé:

--- Sabe qual o livro mais famoso de Elias Canetti?
--- Qual a mensagem principal de "O princepezinho", de Saint-Exupéry?
--- De que cor eram os olhos de Joaninha, em "Viagens da minha terra" ? (Esta poderia acertar por sorte. Não há assim tantas cores nos olhos dos humanos)
--- "O Primeiro Homem de Roma" põe em confronto duas personagens da história de Roma. Quais?
--- "Félix Krull, um cavalheiro da indústria" é uma série televisiva adaptada de um romance de um Prémio Nobel da Literatura. Qual o seu nome?
--- A figura estilística literária correspondente ao "flashback" cinematográfico como se chama?
--- António Manuel Venda é um escritor português. Cite três títulos da sua obra e diga-nos em que séculos viveu o escritor.

António Luís Catarino disse...

Imaginemos um Presidente da República que não soube distinguir um Mann de um More ou não fosse ele que um dia disse que tinha gostado muito da Utopia de Thomas Mann!! Ganhou um doutoramento em literatura? Coitada da Universidade quando souber de muitas coisas deste triste Presidente que um dia permitiu a censura a Saramago. Triste sina esta de Goa, de ser igual a Lisboa...

me disse...

comparar-se-ia ao Obikwelu receber medalha de ouro em curling.
:)

Anónimo disse...

Acho bem! Cavaco é um homem dado às letras, livranças e outras formas avançadas de literatura. Não nos esqueçamos que foi o professor, enquanto primeiro-ministro, que reviu de forma magistral a História da Literatura Universal ao descobrir que o romancista Thomas Mann, prémio Nobel em 1929, afinal,era o autor da Utopia, obra que Thomas More, decapitado em 1535, reclamava como sua.Não admira por isso que More tenha perdido a cabeça que os estudantes goeses pedem, agora,do nosso presidente, apenas por ser estrangeiro e parente remoto de marafados imperialistas. Concordo com os estudantes - façam-se rolar, em todo o mundo, as cabeças de todos os estrangeiros que andam fora da pátria! Talvez a humanidade comece a pensar melhor... pela própria cabeça. Já que é difícil pendurá-las todas como apressadamente se está a tentar fazer no Iraque.

Anónimo disse...

Se Camões fosse vivo, ao saber de tamanha enormidade, cegaria por completo e emigraria para Goa, convencido de que iria receber tratamento idêntico! Mas não. Ao nosso insigne Camões seria, por certo, atribuido o doutoramente em astrofisica. E bem, uma vez que aquele nosso poeta também escrevia sobre estrelas e assim...

Anónimo disse...

Os doutoramentos Honoris Causa não são forçosamente relacionados com a área de "know how" do laureado.

São títulos honorificos ...

A reacção dos estudantes indianos pode essa sim ser comparada à mesma que outros estudantes (e não só) teriam por cá em situações simétricas a esta.

Anónimo disse...

É lamentável. Mesmo que sendo "apenas" honorífico, é a mesma coisa que confundir o olho do cu com a feira de Borba. Assim vai o desmando cultural neste país onde todos também cogitam que podem escrever um livro. Agora qualquer macaco mais empoleirado pode achar que tal benesse um dia lhe chega às mãos, independentemente das suas leituras e das suas causas em prol da literatura. Repare-se como ultimamente e principalmente neste mandato, Cavaco Silva se tem colado a eventos culturais. Esteve na sessão de entrega do prémio Fernando Namora a Miguel Real, esteve no prémio entregue a António Ramos Rosa, esteve nas comemorações do Martinho da Arcada... Humm, o seu staff já devia saber que andavam aí olheiros das distantes terras dos marajás... ou marabús...

António Luís Catarino disse...

O Manuel António Pina, hoje, no JN, lembra que a diplomacia fez uma troca muito oportuna: o «master» fala de economia na Índia, a Índia retribui-lhe com um honoris causa em literatura...tudo muito diplomático, portanto. Ah...e lembra que Cavaco não sabia quantos cantos tinham Os Lusíadas. Já nos esquecíamos que são tudo pormenores.

Anónimo disse...

Uma vez fiquei mesmo atrás do Cavaco numa sessão da Casa Fernando Pessoa. Creio que foi numa sessão em que Vasco Graça Moura estava na mesa.
Justiça seja feita a Cavaco, que seguiu toda a sessão muito atentamente. Ao seu lado, a sua esposa deu alguns sinais de visível enfado. Mas eu posso ter interpretado mal.

Anónimo disse...

Apesar de não ter procuração do Professor Cavaco Silva, convém desmistificar alguns alegados equívocos que lhe atribuíram.
Cavaco não disse que a "Utopia" era de Thomas Mann. Cavaco estava a tratar o seu interlocutor de forma informal. O que ele disse foi:
--- A "Utopia", do Tomás, man...
Também existe uma outra versão. Cavaco estava a falar em sentido metafórico,descobrindo uma utopia de Thomas Mann em "A montanha mágica".

Quanto aos dez cantos de "Os Lusíadas", o professor Cavaco estava a ser irónico, pois partilha da opinião de muitos adeptos: "Os Lusíadas" foram tão gamados que ele nem sabe quantos cantos teve a partida. Uma coisa é certa: o canto do Morais deu golo e a Taça das Taças.

Anónimo disse...

Não há comparação possível, só a política transcende a ficção. Maior delírio só o Idi Amin Dada ter-se doutorado em arte Dada com especialização em "cadavres exquis"